quarta-feira, 30 de novembro de 2022

BACTÉRIA XYLELLA DETETADA EM OLIVEIRAS DE ALVITES NO CONCELHO DE MIRANDELA

 DGAV JÁ EMITIU DESPACHO A ESTABELECER ZONA DEMARCADA QUE ABRANGE PARCIALMENTE OUTRAS FREGUESIAS DO CONCELHO DE MIRANDELA E MACEDO DE CAVALEIROS.


OLIVICULTORES PREOCUPADOS COM APARECIMENTO DESTA BACTÉRIA ALTAMENTE DESTRUIDORA EM PLENA ÉPOCA DE APANHA. APPITAD DIZ NÃO HAVER RAZÃO PARA ALARME.

Chegou ao concelho de Mirandela a Xylella fastidiosa, uma bactéria altamente destruidora que afeta várias culturas agrícolas, mas que ainda não há tratamento, pelo que a única forma de parar a evolução da doença é o abate das árvores infetadas, ou evitar a contaminação através do diagnóstico precoce.

Em Mirandela, a presença da bactéria Xylella fastidiosa foi laboratorialmente confirmada numa amostra de oliveira, colhida na freguesia de Alvites, o que levou a DGAV – Direção-Geral de Alimentação e Veterinária – a emitir um despacho a determinar o estabelecimento de uma zona demarcada que abrange freguesias de Mirandela e Macedo de Cavaleiros, bem como as medidas que devem ser aplicadas para a erradicação da bactéria.

O despacho já foi emitido no dia 21 de novembro, assinado pela diretora-geral da DGAVE, Susana Pombo. Adianta o despacho da Autoridade Fitossanitária Nacional que, “em resultado da confirmação da presença da bactéria Xylella fastidiosa nos concelhos do Fundão e Mirandela”, a DGAV procedeu ao estabelecimento de zonas demarcadas nestas regiões bem como a lista das freguesias total ou parcialmente abrangidas por esta zona demarcada.

No concelho de Mirandela, está abrangida a freguesia de Alvites, onde foi detetada a presença da bactéria, mas também parte das freguesias de Mascarenhas, Múrias e a União de Freguesias de Avantos e Romeu, e ainda Ala e Vilarinho do Monte, já no concelho de Macedo de Cavaleiros.

Entre as medidas que vão ser aplicadas, desatacam-se “a destruição imediata, após realização de um tratamento adequado contra a população de potenciais insetos vetores, dos vegetais infetados, bem como dos restantes da mesma espécie”.

Está também proibida “a comercialização, na zona demarcada, em feiras e mercados, de qualquer vegetal, destinado a plantação”.

Têm sido vários os olivicultores que nos fizeram chegar a sua preocupação tendo em conta que ainda se está em plena apanha da azeitona.

Confrontada com este assunto, a diretora Regional de Agricultura e Pescas do Norte não quis prestar declarações, alegando Carla Alves que a DRAPN apenas faz a execução do plano que a DGAV, entidade coordenadora nacional, elaborou e que está disponível no despacho de 21 de novembro.

Ao que apuramos, as juntas de freguesias foram informadas, por correio eletrónico, deste despacho da DGAV, mas a informação ainda não foi colocada em modo de edital.

Quanto às associações do setor, da parte da AOTAD (Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro), o presidente da direção, Paulo Ribeiro, adianta que só tomou conhecimento desse despacho, esta terça-feira e que o assunto vai ser discutido nos próximos dias em reunião de direção.

Entretanto, o presidente da APPITAD – Associação de Produtores de proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro – explica que o caso está ser seguido de acordo com o plano de contenção e monitorização da DGAV. “O que vão fazer é onde foi detetado o foco de Xylella, vão eliminar tudo o que é vegetação à volta num raio de 50 metros e foi criada uma zona tampão naqueles 2,5 quilómetros de raio e neste momento temos de estar atentos e monitorizar e foi isso que sugerimos à direção regional de agricultura e estamos disponíveis a colaborar neste período que é mais de contenção”, refere Francisco Pavão.

Apesar de admitir que o caso “é uma grande preocupação”, considera que “não há razão para alarme, porque neste momento os olivicultores dessa zona têm de ter precaução e as medidas da DGAV esclarecem isso”, acrescenta.

BACTÉRIA CAUSA DOENÇAS EM 350 ESPÉCIES DE PLANTAS

A Xylella fastidiosa está classificada como organismo de quarentena, transmite-se de árvore em árvore através de insetos e tem um largo espectro de hospedeiros, causando danos graves em 350 espécies de plantas, entre as quais estão as oliveiras, citrinos, videiras, fruteiras, loendros, entre outras plantas, incluindo ornamentais. 

Quando atinge a planta, a bactéria começa por colonizar a madeira, depois espalha-se pela árvore e acaba por entupir o seu sistema de circulação de fluidos. No caso das oliveiras, as plantas acabam mesmo por murchar desde a raiz até à copa.

Ainda não há tratamento, pelo que a única forma de parar a evolução da doença é o abate das árvores infetadas ou evitar a contaminação através do diagnóstico precoce.

O perigo está identificado desde 2013, quando a bactéria dizimou os olivais em Apúlia, no sul de Itália, levando ao abate de milhões de árvores. Nos últimos anos, este agente infecioso saltou fronteiras para os restantes países europeus - Portugal incluído – onde a Xylella fastidiosa foi detetada, pela primeira vez, em Janeiro de 2019 em Vila Nova de Gaia, em plantas ornamentais, como a lavanda. 

Nesse sentido, a Comissão Europeia, a partir de 2014, estabeleceu medidas de emergência visando impedir a introdução e propagação da bactéria.

Artigo escrito por Fernando Pires
(jornalista)

Antes que anoiteça

 Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Finalmente!
Quando passam cento e quarenta anos sobre o anúncio “urbi et orbi” de José Leite de Vasconcelos revelando a existência da Lhéngua Mirandesa, foi criado, no âmbito do Orçamento de Estado para 2023, com dotação anual de 100.000 euros, o Instituto de Promoção da Língua Mirandesa, dez anos depois de ter sido reclamado por Amadeu Ferreira, na TVI, em entrevista conduzida por Victor Bandarra.
Justo e urgente.
A língua falada (e escrita) nas Terras de Miranda, caso não sejam tomadas, rapidamente, medidas eficazes que contrariem a tendência dos últimos anos, segundo o estudo “PRESENTE E FUTURO DA LÍNGUA MIRANDESA- estudo dos usos, atitudes e competências linguísticas da população mirandesa”, feito por uma equipa da Universidade de Vigo e pela Associaçon de la Lhéngua i Cultura Mirandesa, apresentado recentemente em Miranda, corre o sério risco de entrar num processo de extinção, sem retorno, a partir de 2032. A exiguidade do tempo que nos separa dessa linha dramática não permite qualquer compasso de espera, qualquer atraso, qualquer desleixo, qualquer facilitismo. É imprescindível implementar já uma estratégia de preservação do património linguístico. Poderá haver quem ache que, antes disso, é necessário encontrar e planear as ações mais adequadas à prossecução dos objetivos. Não me parece. Há, sem dúvida que se estabelecer uma acertada e profícuo coordenação entre o novo Instituto, a ALTM e a Câmara Municipal, mas, mais nada que isso. O diagnóstico está feito, há muito, e estão identificadas as medidas que urge levar ao terreno. Quem tiver dúvidas, que revisite a já referida entrevista feita pelo jornalista Victor Bandarra ao poeta Fracisco Niebro:
Urge dar dignidade ao ensino do mirandês, integrá-lo no programa regular das escolas do nordeste em igualdade com outras disciplinas, com manuais oficiais adequados e não apenas como opção (essa deve ser adotada apenas nos grandes centros, como Lisboa e Porto, onde se encontram agrupamentos razoáveis de mirandeses da diáspora); assumi-la como língua oficial em toda a sua dimensão, com primazia nas comunicações e demais documentos produzidos pela autarquia (com caráter bilingue se, e só se, necessário); instituir a sua divulgação obrigatória nos meios oficiais de comunicação de serviço público (rádio e televisão estatais); e, claro, patrocinar e premiar a escrita do mirandês.
Mas, antes de mais nada, recolher e classificar o enormíssimo património oral dos mais velhos.
Quando o caminho é estreito e se desenrola à beira do precipício, e quando o dia começa a chegar ao fim, é vital atiçar a mecha e por petróleo na lanterna... antes que anoiteça!

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

👨‍👩‍👧‍👦 Vamos todos dar as boas vindas ao Pai Natal?

 ➡️ Amanhã (1 de dezembro), às 16h30, esperamos por si, na Praça Prof. Cavaleiro de Ferreira* para a 𝗖𝗵𝗲𝗴𝗮𝗱𝗮 𝗱𝗼 𝗣𝗮𝗶 𝗡𝗮𝘁𝗮𝗹 𝗮 “𝗕𝗿𝗮𝗴𝗮𝗻𝗰̧𝗮, 𝗧𝗲𝗿𝗿𝗮 𝗡𝗮𝘁𝗮𝗹 𝗲 𝗱𝗲 𝗦𝗼𝗻𝗵𝗼𝘀”! Depois, acompanhe o "velhinho das barbas brancas" até à sua casa para esta quadra - a Praça Camões!

🎄 Não perca, ainda, a abertura oficial de "𝗕𝗿𝗮𝗴𝗮𝗻𝗰̧𝗮, 𝗧𝗲𝗿𝗿𝗮 𝗡𝗮𝘁𝗮𝗹 𝗲 𝗱𝗲 𝗦𝗼𝗻𝗵𝗼𝘀", na Praça da Sé.

Saiba tudo AQUI.

Mais de 1.500 pessoas passaram pela segunda edição dos Sabores & Tradições

 A segunda edição da iniciativa enogastronómica “Sabores & Tradições”, que decorreu no passado fim de semana, recebeu ao longo de três dias mais de 1.500 visitantes que puderam apreciar o melhor da gastronomia, vinhos, doçaria conventual e outros produtos endógenos deste concelho raiano.


Com esta iniciativa, o município freixenista teve como objetivo promover as tradições locais, contribuindo para o desenvolvimento económico da região, através da divulgação dos produtos pecuários e agrícolas e a manutenção de tradições seculares.

De acordo com o presidente da câmara, Nuno Ferreira, o certame tem três características fundamentais: o primeiro passa por injetar dinheiro na economia local. O segundo é que todo e certame é realizado com a experiência dos produtores locais. O terceiro passa por mostrar a vitalidade e saber receber do concelho de Freixo de Espada à Cinta.

“Há uma preocupação do atual executivo municipal de movimentar a economia local, para quem cá reside. Ao mesmo tempo deixa-lhe aquilo que de melhor temos que é extensivo a quem visita este concelho”, vincou o autarca socialista.

Nuno Ferreira, vincou ainda que este foi um evento planeado ao pormenor para a população e para a região, uma forma de fazer com que as pessoas queiram permanecer na sua terra, onde se sintam bem e orgulhosas do seu concelho, dos seus produtos e, sobretudo, da sua capacidade valiosa e única de bem receber.

No campo das tradições locais, jogou-se à pelota e à raiola, jogos tradicionais que juntaram cerca de meia centena de aficionados. Já o torneio da malha teve de ser adiado para hoje devido ao mau tempo.

“Esta é uma forma de não se perder a nossa memórias do passado, respeitar o presente para assim projetar o futuro do nosso concelho”, frisou Nuno Ferreira.

Não fosse o concelho de Freixo e Espada à Cinta a porta de entrada na Região Demarcada do Douro (RDD), também os vinhos de qualidade superior estavam presentes neste certame onde se promoveu uma prova destes néctares e que juntou cerca de 30 referências.

No campo da animação musical, Cláudia Martins e os Minhotos Marotos estiveram em destaque no segundo dia do Sabores & Tradições.

A noite ficou marcada pelos tradicionais cantares ao desafio e desgarradas, onde o humor foi a tónica dominante.

A música tradicional também teve os seus representantes com gaiteiros e pauliteiros do planalto Mirandês.

Francisco Pinto

Inscrições para o programa Upskills, que ajuda desempregados a mudar de vida, já abriram

 Já estão abertas as inscrições para a terceira fase do programa ‘Upskills’, que arrancou em 2020 e pretende ajudar pessoas desempregadas a reconverterem-se profissionalmente e a serem contratadas por empresas tecnológicas.


O anúncio foi feito pela Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, durante uma curta visita a Bragança, no passado dia 18.

“O programa arrancou em plena pandemia e tem sido um sucesso. Está articulado entre empresas tecnológicas, o IEFP e o IPB. É feita a identificação das competências e dos currículos, que depois o IPB desenha à medida das necessidades concretas. Depois, as empresas comprometem-se a contratar 80 por cento das pessoas que concluem o curso, com contrato permanente, com um salário mínimo de entrada de 1200 euros. Permite a requalificação de pessoas que estão desempregadas ou à procura de um novo desafio, para uma área estratégica que o mercado valoriza bastante”, frisou a governante.

Ana Mendes Godinho revelou que este programa permite “mudanças de vida com base na reconversão profissional e novas competências”.

“Este programa upskill é de reconversão de trabalhadores para as áreas digitais. Pretende dar novas competências a pessoas que podem ter um percurso de vida que nada tem a ver com esta área. Permite a valorização das pessoas no mercado de trabalho. É uma forma de garantir que há uma ligação muito estreita entre IEFP e o mercado de trabalho”, frisou a Ministra.

O Upskills terá chegado a cerca de duas mil pessoas. “Tem cada vez mais procura”, garantiu Ana Mendes Godinho. Os interessados têm de estar inscritos no IEFP e têm de ter, no mínimo, o 12.º ano. As inscrições podem ser feitas online.

Depois há um processo de seleção para escolher os candidatos.

Outro programa relembrado pela Ministra é o Trabalhar no Interior, em que o IEFP dá um incentivo financeiro às pessoas que decidem mudar-se para o interior para trabalhar. Segundo revelou Ana Mendes Godinho, “já abrangeu cerca de dez mil pessoas” em todo o país desde que foi implementado.

AGR

Bragança, bem representada no - The Last By Sabor Lake´s 2022 - Lagos do Sabor

Sessão de apresentação pública dos trabalhos arqueológicos realizados no Castelo Velho de Mirandela

Vinho do Porto é produzido na Região do Douro

 O Vinho do Porto é o resultado de um acidente enológico.


Tal como o conhecemos hoje, não chega a ter 180 anos. Apesar de tão curta idade, é já um dos vinhos mais famosos e apreciados e o primeiro no mundo a ter origem numa região demarcada.

Qualificado como generoso, o Porto é, por definição, um vinho encorpado, doce e com elevado teor alcoólico. Fez as delícias dos salões ingleses no início do século XX e chegou a ser a principal fonte de receitas do nosso comércio externo.

Conta-se que um acidente enológico ocorrido em 1820 terá estado na origem de mudanças substanciais no processo de elaboração dos vinhos do Douro, ao ponto de provocar evoluções sucessivas que viriam a desembocar em algo parecido com o que hoje conhecemos como vinho do Porto.

Porém, não é menos verdade que foram as exigências colocadas pelo transporte para Inglaterra, o particular gosto dos consumidores britânicos e a necessidade de dar resposta às exigências do mercado a suscitar algumas mudanças decisivas.

A colheita de 1820 e o especial clima que a antecedeu apenas terão, de forma involuntária, revelado o vinho que, sem o saberem definir, todos procuravam: um vinho marcado por uma importante presença de açúcar e de álcool, forte e encorpado. O vinho do Porto.

Do “vinho de Lamego” ao “vinho do Porto”

No séc. XVI o vinho ainda é «de Lamego».

Apenas em meados do séc. XVII aparecem referências ao vinho do Douro e muito raramente ao vinho do Porto.

O comércio com Inglaterra já era significativo, mas subsistiam grandes confusões quanto à origem daquele vinho seco, sem açúcar, com mais álcool que os vinhos de consumo modernos, mas menos que os atuais vinhos do Porto.

Os ingleses chamavam-lhe indistintamente «Red Portugal» ou «Lisbon Wine» e quase consagraram uma designação que, a ter sido seguida, seria fonte de polémicas bairristas.

Afinal o nome não foi usurpado e «Port Wine», reconheça-se, soa mais elegante, mais fino, mais de acordo com a nobreza do néctar arrancado às encostas do Douro.

Mais que uma dádiva da natureza, o vinho do Porto é uma criação do homem. Ao longo dos anos o vinho foi construído à medida da transformação das encostas durienses.

O homem construiu milhares de quilómetros de socalcos. Plantou, enxertou, voltou a plantar, experimentou até à exaustão, podou as vides e criou novos processos de armazenar e envelhecer o vinho.

Não por acaso, costuma dizer-se que foi o vinho a fazer o Douro. Foram as necessidades de proteção dos produtores a originar a criação da primeira região demarcada do mundo.

Tudo porque nos últimos anos do séc. XVII e primeira metade do séc. XVIII se assistiu ao desenvolvimento das exportações e ao crescimento dos vinhedos em todo o país, com enormes oscilações de preços.

Em meados do séc. XVIII o vinho estava muito mal cotado e as exportações entraram em declínio.

A crise na região do Douro

Estala a crise no Douro. Em 1754, as casas exportadoras inglesas resolvem não comprar vinho à lavoura. O ambiente tolda-se. Grandes casas senhoriais vêm-se próximas da ruína.

Os produtores estão desesperados e decidem, em 1756, avançar para a criação da Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Alto Douro que, como medida de protecção, decide criar a primeira região demarcada da história das regiões produtoras de vinho.

Definida a região, não significa isto que no Douro só se produza vinho do Porto. Também de lá saem bons vinhos de mesa, originários das mesmas quintas e, quantas vezes, das mesmas castas que dão origem ao Porto. (…)

As aguardentes vínicas têm um papel decisivo na elaboração do vinho do Porto. Ao interromper a fermentação, conservam o teor de açúcar e elevam de forma substancial o teor de álcool.

Nos primeiros tempos, uma pipa de 550 litros não levava mais de 20 litros de aguardente. Hoje, uma pipa de Porto contém entre 100 e 130 litros de aguardente e o vinho pode atingir os 21 graus de teor alcoólico.

Embora esteja vulgarizada a designação «Vinho do Porto» para o vinho fino concebido no Douro, existem diversas qualidades de vinhos, produzidos a partir de castas distintas, que se diferenciam pelo seu processo de envelhecimento.

Os tipos de Vinho do Porto

Só uma pequena parte dos vinhos é envelhecida, durante anos ou décadas, em garrafa. Estima-se que 90 por cento do total da produção amadurece ao longo de vários anos em cascos de madeira. Estes vinhos podem ser:

Ruby – É por norma comercializado com três anos. Apresenta uma cor rubi.

Tawny – É o mais divulgado dos vinhos do Porto. Antes de chegar à garrafa passa por cinco anos de envelhecimento em cascos de carvalho. O tempo leva-o a perder a cor roxa original para lhe conferir uma tonalidade dourada. Divide-se em tawny com indicação de idade e tawny com indicação da data da colheita.

Estilo Vintage – Resulta de um lote de várias colheitas. Pode ser bebido logo após o engarrafamento.

Crusted – Depois de envelhecido em casco durante dois ou três anos, deve passar três ou quatro anos na garrafa.

Late Bottled Vintage (LBV) – Só se consegue com colheitas de boa qualidade. Passa entre quatro a seis anos em cascos antes de ser engarrafado, o que lhe retira parte da primitiva cor intensa. A sua estrutura permite-lhe envelhecer durante muitos anos na própria garrafa.

Vintage – É o resultado de excecionais condições climáticas, que ocorrem apenas três ou quatro vezes por década. Só uma quantidade muito reduzida de mostos – nunca mais de cinco por cento – é escolhida para os «vintages».

As empresas selecionam os melhores lotes das melhores quintas, geralmente situadas nas zonas mais quentes e secas da região, no Cima Corgo e no Douro Superior. O extremo rigor e exigência na seleção e preparação fazem com que o «vintage» seja o expoente máximo da vitivinicultura e da enologia durienses.

in GUIA Expresso O Melhor de Portugal – nº6 (Texto editado)

Populações da raia aproveitam preços mais baixos e vão a Espanha comprar com que aquecer as casas

 As pessoas residentes na área transfronteiriça do Planalto Mirandês recorrem cada vez mais à vizinha Espanha para compor os encargos que têm para aquecer as suas casas e fazem “pacotes” onde estão incluídos combustíveis, gás e ‘pellets’.


Casimiro João, residente numa das aldeias do concelho de Miranda do Douro, disse ao Mensageiro que quando vai à vizinha vila de Alcanizes, em Espanha, compra ‘pellets’, que são mais baratas cerca de dois euros, o combustível diesel, mais barato cerca de 25 cêntimos e com desconto pode chegar aos 35 cêntimos, e o no gás poupa-se 10 euros em cada botija.

Francisco Pinto

CCDR Norte distingue Graça Morais como "Personalidade do Norte 2022"

 A artista Graça Morais foi distinguida como “Personalidade do Norte 2022" pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte


A atribuição é feita esta quarta-feira no 2º Fórum Autárquico da Região Norte, que acontece em Viana do Castelo.

A CCDR Norte distinguiu a transmontana pelo seu “indelével contributo no desenvolvimento das Artes e da Cultura”.

O presidente da comissão António Cunha, realçou o “relevante e singular legado artístico e cultural da artista, profundamente arraigado às suas raízes transmontanas e, simultaneamente, universalista”. 

Maria da Graça Pinto de Almeida Morais nasceu em 1948 em Vieiro, no concelho de Vila Flor, distrito de Bragança. A pintora já venceu vários prémios em Portugal e no estrangeiro, como Grande Prémio Aquisição da Academia Nacional de Belas-Artes, e foi agraciada com o Grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Em Bragança dá nome, desde 2008, ao Centro de Arte Contemporânea. 

Esta é a segunda edição do prémio. O ano passado foi distinguido Siza Vieira.

Escrito por Brigantia

Três artistas foram captar a essência da cultura e da população do concelho

 Torre de Moncorvo foi palco para o projeto Vivificar, que através de residências artísticas atraiu para o concelho uma artista norueguesa, um fotógrafo e um realizador de vídeo, ambos portugueses, que em cada localidade onde fixaram residência foram recebidos e orientados por embaixadores locais.


Os três mudaram-se cerca de um mês para Torre de Moncorvo com o objetivo de participar no Vivificar, um projeto que “através da arte, contribui para a reflexão sobre a importância de viver e ficar nos territórios de baixa densidade”, referiu Virgílio Ferreira, responsável pela iniciativa.

Os artistas passaram a conhecer as aldeias, onde ficaram a viver, e produziram três exposições resultantes das residências artísticas.

Ine Harrang, artista norueguesa, pela primeira vez em Portugal, fixou-se na aldeia de Açoreira, e viveu na casa da presidente da junta de freguesia, Emília Lopes que a recebeu de braços abertos, sem saber uma palavra de norueguês, nem de inglês.

Fábio Cunha ficou na vila de Torre de Moncorvo, em casa de Vítor Almeida, funcionário do município, e José Pires rumou à Cardanha, onde fez amizade com a Maria Nazaré, reformada, e a filha, Paula Valente, bibliotecária, em cuja casa viveu, como se fosse da família.

Destas residências artísticas, que têm por objetivo o convívio e contacto entre artistas e a comunidade local através da fotografia, conjugada com a arquitetura e novos media, resultaram as exposições patentes em cada um dos locais , “em que a comunidade está envolvida”, afirmou Virgílio Ferreira.

A atividade mudou o quotidiano pacato das localidades. As mulheres de Açoreira têm vivido novas experiências com o convívio com Ine Harrang. “Foi diferente de tudo o que tinha vivido, mas ela é maravilhosa e muito acessível”, explicou Emília Lopes, presidente da junta de freguesia.

Glória Lopes

DOIS OFICIAIS DA GNR CONSTITUÍDOS ARGUIDOS EM CASO DE TRÁFICO DE DROGA EM MIRANDELA

 Um Tenente da GNR, adjunto do Comandante do destacamento territorial da GNR de Torre de Moncorvo, e o seu irmão, capitão do Serviço de Trânsito da GNR a exercer funções no Porto, foram constituídos arguidos por suspeita de envolvimento num processo de tráfico de estupefacientes, cujo processo de inquérito decorre no Ministério Público de Mirandela.

Tudo indica que os dois irmãos terão sido constituídos arguidos no âmbito do processo “semente em pó”, nome dado à operação realizada pela GNR de Mirandela, em junho deste ano, que culminou com a detenção de seis pessoas suspeitos de pertencer a uma rede de tráfico de droga, que se dedicava à aquisição de cocaína, nos distritos do Porto e Vila Real, com o produto estupefaciente a ser tratado, acondicionado e enterrado em locais ermos, no concelho de Mirandela, para ser revendido a consumidores dos concelhos de Mirandela, Valpaços, Vila Flor, Chaves e Boticas, revelou, na altura, a GNR.

Atualmente, estão em prisão preventiva quatro dos detidos: Amílcar Teixeira, pai de Edmar, antigo concorrente do Big Brother, Vítor Soares, marido de Sónia Jesus que participou na mesma edição do reality show da TVI com Edmar, uma técnica superior da câmara de Mirandela, e o seu marido, este último é familiar dos dois oficiais da GNR agora constituídos arguidos.

Recorde-se que, em Setembro, o Juiz de Instrução Criminal indeferiu os pedidos de revisão da medida de coação mais grave para os quatro detidos.

Artigo escrito por Fernando Pires
(jornalista)

Para atrair novos empreendedores a câmara Carrazeda de Ansiães volta a promover incubadora de empresas

 A Câmara de Carrazeda de Ansiães vai promover a segunda edição da incubadora de empresas


O objectivo é promover o aparecimento de novos empreendedores no concelho e novas ideias de negócio. As candidaturas às 10 vagas disponíveis devem ser apresentadas na Câmara Municipal. O presidente, João Gonçalves, explica que os seleccionados vão ter diversas regalias enquanto estiverem na incubadora de empresas.

“Tem desde logo a possibilidade de se instalarem e ter algum apoio que o município vai disponibilizar para desenvolver o sue negócio, mas também um apoio directo através do pagamento de todas as despesas fixas inerentes ao espaço físico que lhe é disponibilizado, nomeadamente luz, comunicações, mas também um apoio a 100% ao primeiro emprego e um apoio a 50% ao segundo emprego”, explicou.

A abertura de uma segunda incubadora de empresa significa que a primeira resultou.

“Eu acho que resultou, faço um balanço positivo. Quando falamos de empreendedorismo, de jovens empreendedores, temos que ter a real noção das expectativas e eu acho que nesse enquadramento teve sucesso e hoje é visível em alguns jovens que encubaram naquele espaço e têm a sua actividade profissional estabelecida”, disse.

As inscrições para a incubadora de empresas de Carrazeda estão abertas até 30 de Dezembro.

Escrito por Rádio Ansiães (CIR)

Concertos de outono em Cicouro

Há Feira na Praça: Pauliteiros de Miranda

📖 𝗛𝗼𝗿𝗮 𝗱𝗼 𝗖𝗼𝗻𝘁𝗼 - "𝗔𝘀 𝗛𝗶𝘀𝘁𝗼́𝗿𝗶𝗮𝘀 𝗱𝗼 𝗠𝗮𝗱𝗮𝗹𝗲𝗻𝗼"

 Não perca, este sábado, uma manhã dedicada aos mais pequenos com o autor André Madaleno.
📚𝗛𝗼𝗿𝗮 𝗱𝗼 𝗖𝗼𝗻𝘁𝗼 - "𝗛𝗶𝘀𝘁𝗼́𝗿𝗶𝗮𝘀 𝗱𝗼 𝗠𝗮𝗱𝗮𝗹𝗲𝗻𝗼"

📍𝗠𝗲𝗿𝗰𝗮𝗱𝗼 𝗠𝘂𝗻𝗶𝗰𝗶𝗽𝗮𝗹

📅𝟬𝟯/𝟭𝟮/𝟮𝟬𝟮𝟮 - 𝟭𝟭𝗵𝟬𝟬

🔖 𝗘𝗻𝘁𝗿𝗮𝗱𝗮 𝗹𝗶𝘃𝗿𝗲 𝗲 𝗴𝗿𝗮𝘁𝘂𝗶𝘁𝗮.

Destinatários: famílias com crianças e todos os que gostem de ouvir contos!

✒️Publicação Diário da República✒️

 A Câmara Municipal de Miranda do Douro, informa toda a população que:
⏩ Foi no dia de hoje, publicado no Diário da República, 2ª Série, a Inscrição (salvaguarda urgente) da manifestação "𝐏𝐫𝐨𝐜𝐞𝐬𝐬𝐨 𝐝𝐞 𝐂𝐨𝐧𝐟𝐞𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐝𝐚 𝐂𝐚𝐩𝐚 𝐝𝐞 𝐇𝐨𝐧𝐫𝐚𝐬" no Inventário de Património Cultural Imaterial.✒️

Esta publicação é de enorme relevância e importância para o nosso Concelho, para as nossas tradições e costumes e para as nossas gentes!

Jersey oficial | Bragança Granfondo by Trek 2023

CEREJA QUE JÁ RECHEOU O MON CHÉRI, AZEITE PARA POLVILHAR COMIDA E UM “MESTRE” MULTIDISCIPLINAR, BEM-VINDOS A ALFÂNDEGA DA FÉ

 No âmbito do "Concelho em Destaque", lançado este ano pelo Jornal Nordeste e pela Rádio Brigantia, em pleno mês de Novembro rumamos a Alfândega da Fé. Quase nas despedidas de 2022, é este o décimo primeiro concelho do distrito que vamos conhecer mais detalhadamente


Alfândega da Fé é um concelho limitado por Macedo de Cavaleiros, com o qual reparte a centralidade do distrito de Bragança, por Mogadouro, Torre de Moncorvo, Vila Flor e Mirandela.
O concelho é, em termos económicos, essencialmente agrícola, sendo que privilegia de uma localização ímpar, situando-se num vale muito fértil, o da Vilariça.
Aqui predominam as produções de amêndoa e de cereja, bem como de castanha. A criação de gado ovino e caprino também é bastante importante para o território.
Mas bem, voltemos à agricultura porque é precisamente por aí que vamos começar.

O eterno ouro líquido, a riqueza de uma casa

O solo e o microclima particular que há na zona dão origem à produção, de boa qualidade, de fruta, vinho e azeite. E é ao azeite que Artur Aragão dedica parte da vida, sendo que, aos poucos, foi assumindo as rédeas da Casa Aragão, um negócio familiar, com mais de 250 anos.

São mais de 150 hectares de terreno que dão origem aos azeites desta casa. Além de Alfândega, a cultura de oliveiras estende-se a Torre de Moncorvo, Vila Flor e Mogadouro.

E falemos então de azeite... A Casa Aragão apresenta vários tipos do ouro líquido, como o azeite virgem-extra, em que se trabalha com a azeitona de início de campanha. "É um azeite bastante verde, amargo e frutado, um azeite gourmet", esclareceu Artur Aragão. Além deste, há o azeite virgem-extra DOP (Denominação de Origem Protegida). É obtido a partir das azeitonas da região demarcada de Trás-os-Montes e "é uma forma de valorizar o produto e a região".

Com algumas distinções internacionais surgem os azeites virgem-extra biológicos, nomeadamente o Grande Escolha, com 0.1 de acidez, e o azeite biológico para crianças, lançado em 2011 e que até ganhou, no ano passado, o prémio de melhor azeite do mundo, na categoria dos azeites biológicos. Refira-se que este é um azeite que surgiu para "ajudar a criar consumidores para o futuro".

Não menos importantes são os azeites que não ganham distinções porque trabalham para outra distinção, a da casa. É o caso do azeite com ouro e do azeite em pó, duas formas de "chamar a atenção” do litoral para o interior. "Se não fizermos barulho parece que não existimos", vincou Artur Aragão.

O azeite em pó valeu à Casa Aragão o Prémio Nacional de Inovação em 2018. Esta invenção é do próprio gerente, que, quando viveu no Brasil, fez um curso de gastronomia molecular e, por isso, vai apostando nas experiências e na diferenciação. "O azeite em pó serve para enobrecer pratos, para polvilhar a comida. Há azeite em pó virgem-extra mas também o há com ervas, nomeadamente orégãos, alecrim e a peixeira, que é da nossa região", referiu Artur Aragão sobre esta "viagem gastronómica".

Já o azeite com ouro, uma pequena maravilha quando se agita a garrafa, foi pensado em 2009 e lançado em 2011, em pleno apogeu de uma crise financeira mundial. A ideia foi "enaltecer" o produto.

O azeite com ouro contém mesmo ouro sólido, comestível, lógicamente, sendo que o consumo deste metal precioso tem vantagens. "Os gregos e os egípcios usavam-no no combate às doenças ósseas", explicou Artur Aragão.

Quanto a preços, já que falamos de ouro, quando questionado sobre se este é um produto acessível, esclareceu dizendo que o azeite, lançado em Novembro de 2011, saiu bem. Só até àquele Natal foram vendidas mais de 15 mil garrafas, sendo que se precisavam apenas de cinco mil para que o investimento se pagasse sozinho.

Mas nem tudo é um mar de rosas, feito de prémios, de experiências e de inovações. A produção de Artur Aragão poderia triplicar mas não há como. Ou seja, está a faltar que os governantes "olhem para o território", apostando na água.

O empresário lamenta que o regadio ainda seja, praticamente todo, do tempo do Eng. Camilo de Mendonça e que sem esse investimento não se consegue competir com o Alentejo. "Aqui produzimos, dois ou três mil quilos de azeitona, por hectare. Eles, no mesmo espaço, produzem 10 mil quilos", referiu, avançando que não se pode olhar só para o turismo porque "sem actividade as pessoas vêm mas não voltam" e, qualquer dia, "o turismo será importante para esta zona mas é para vir ver os transmontanos como espécie em vias de extinção".

A cultura da Casa Aragão é essencialmente de sequeiro, uma outra parte beneficia de furos artesianos e a outra do regadio da Vilariça.

Uma cereja "equilibrada"

A cereja é outra das riquezas, a nível agrícola, no concelho de Alfândega da Fé. A produção do fruto é relativamente recente, sendo que foi pela mão de Camilo de Mendonça, dali natural, que se começou a apostar na cereja. Este projecto contemplava ainda a criação da Cooperativa Agrícola de Alfândega da Fé que, ainda hoje, é responsável pela maior mancha de pomares existente no concelho, cerca de 60 hectares.

Fundada em 2015, por três agricultores, que desenharam a sua ideia de negócio depois de terem concluído o mestrado na área de Agronomia, a Vivalley Fruit é responsável por parte da cereja daquela zona. Os pomares situam-se naquele concelho, oito hectares, e em Torre de Moncorvo, mais concretamente na Horta da Vilariça, outros quatro.

Segundo Adriano Andrade, um dos sócios-gerentes da empresa, que também faz consultoria e projectos de investimento para terceiros, a aposta na cereja surgiu porque é a cultura que "têm mais rentabilidade" naquela região. Contudo, sob o ponto de vista agrícola, a cereja "tem muita exigência", pois "para produzir com qualidade é preciso fazer por isso".

As plantações da Vivalley Fruit são de 2015, sendo que essas árvores estão já em plena produção, e há outras de 2017, que vão começar a dar.

E afinal que cereja é esta, a de Alfândega da Fé? Segundo o empresário, o clima e os solos deste concelho "permitem produzir uma cereja que, para além da questão da doçura, tem rigidez e alguma acidez, ou seja, é equilibrada". E não há dúvidas... "é uma das melhores cerejas do país".

Está claro é que "o trabalho do produtor é muito importante". Não é só pelo facto de as cerejeiras estarem plantadas em Alfândega que vão dar boa cereja, conforme assume Adriano Andrade.

E uma cereja tão única será que é paga a um preço justo, que faça jus àquilo que é? Na opinião do empresário "o preço de venda da cereja é satisfatório". O facto de se conseguir vender o fruto a bom preço resulta da cereja que é escolhida para venda. Ou seja, uma cereja com calibre 26/28/30, de qualidade, custa acima de dois euros e meio, podendo chegar aos três. "É bem cotada", afirmou.

Em plena produção há pouco tempo, sendo que se colhem na ordem das 20 a 30 toneladas, o mercado nacional, neste momento, têm absorvido toda a quantidade de cereja que a Vivalley Fruit produz. "Ao ser uma cereja de qualidade é muito procurada. Temos contactos, ainda assim, e já temos vendido para a Alemanha e para a Holanda", contou Adriano Andrade.

A empresa alfandeguense conta com três trabalhadores, no global, a tempo inteiro. Já quando se fala de apanha... aí tem que haver mais gente a pôr mãos à obra. Nessas alturas, em colheita, são, normalmente, 15 pessoas no campo e outras quatro na escolha da fruta e no embalamento.

E por falar em apanha, a falta de mão-de-obra por ali costuma ser um problema. Há muitos produtores que se queixam de não haver gente para trabalhar e de a campanha de apanha do fruto ser uma dor de cabeça. Não é o caso da Vivalley, que planeia tudo bem antes de ter que se ir para o terreno. "Não se encontra gente facilmente mas não se pode preparar a colheita 15 dias antes de começar a colher", disse o empresário, que assume que o grande problema não é a falta de trabalhadores, mas sim o perceber se vale a pena ou não colher, tendo em conta os custos de colheita. Mas, "se se cumprirem as questões da correção de solo, de pragas e doenças e se houver fruto, os colhedores acabam sempre por se encontrar", esclareceu ainda.

Com expectativas e objectivos de "aumentar" a área agrícola, Adriano Andrade diz que a profissionalização "é muito importante". Ainda que os agricultores estejam sempre dependentes dos factores climáticos, "consegue-se sempre reduzir quebras" e "quem faz as tarefas bem feitas pode não perder 80%, perderá apenas 30 ou 40".

E perante culturas cada vez mais exigentes, a água é um bem precioso. "Quem está dentro do perímetro de rega que aproveite o regadio e quem não está que faça captações e armazenamento de água porque isso é o futuro", terminou o empresário.

A agricultura é também a vida de Luciano Silva que, não sendo natural de Alfândega da Fé, é ali que vende boa parte da cereja que produz.

O agricultor, natural de Bornes, em Macedo de Cavaleiros, é produtor há 20 anos e tem, além de cereja, castanha, azeite, nozes e amêndoas.

As cerejas, cultura em que mais aposta, provêm das quatro mil árvores que tem, que dão cerca de quatro toneladas anuais.

Esta cultura, que "dá muito trabalho", tem sido "rentável", mas "depende" porque "dá muita despesa, em termos de mão-de-obra, sobretudo na apanha". Assim, Luciano Silva, sublinha que é preciso gastar mais dinheiro que com a amêndoa, a azeitona e a castanha, porque para apanhar estes frutos há máquinas. E além disso, "é complicado encontrar pessoas para este serviço" porque "não há quem queira trabalhar".

Em termos de preço de venda, este produtor não tem uma visão tão positiva como Adriano Andrade. Diz que "quando se vende ao consumidor final ainda se fala de um preço mais ou menos mas de resto não".

Mon Chéri já foi recheado com o requinte local

Talvez não haja nada que dê tanta projecção a Alfândega como a cereja, apesar de outras culturas terem ali mais peso, nomeadamente a azeitona e a amêndoa.

Mas nome... nome tem a cereja, que já foi, durante largos anos, degustada um pouco por todo, mas mesmo todo, o mundo. Envolto em chocolate e acompanho por licor, o fruto da região seguia para a confecção do tão afamado Mon Chéri, um dos campeões de vendas por altura de Natal. Onde o bombom chegasse a cereja, está claro, também chegava.

Mas há muito mais... é bem verdade que o distrito é conhecido pela comida. Poucos são os que nos visitam e não se regalam. Alfândega da Fé não foge à regra. O que ali não falta é com o que acarinhar o palato.

Tal como diz o apelo do Mon Chéri, "...uma emoção atrás da outra. Só vais entender se o provares", assim é o que se nos apresenta para comer em Alfândega.

É com os mais nobres produtos da região que o chef Marco Gomes trabalha. O alfandeguense, chef e proprietário do restaurante Oficina, no Porto, assume que a região que o viu nascer "é um diamante em bruto". "Temos uma riqueza gastronómica inacreditável", rematou.

A região, que "é riquíssima em produtos e receituário", está, infelizmente, por descobrir porque "precisa de comunicação, de marketing, de apresentação, de se apresentar". Segundo o chef, a gastronomia da região "precisa de vestir um fato de gala para ir à festa". Ou seja, "temos uma gastronomia rica mas ao mesmo tempo bruta". Assim, já que temos o essencial, os bons produtos, o que faz falta, na opinião de Marco Gomes, é tirar a comida das travessas de inox e escolher uma loiça bonita para a servir. "Há aqui um passo muito grande a dar", frisou.

As amêndoas de Alfândega são a origem de inúmeras sobremesas. As castanhas... ah, essas dão tão bons pudins... mas muito mais há! E os legumes que há o ano inteiro e que "podem acompanhar qualquer carne ou peixe"? "Alfândega é rica ao longo do ano se soubermos estar atentos aos produtos sazonais. Temos muitos rebanhos de ovelhas e de cabras, portanto conseguimos ter muito cabrito e cordeiro da serra, que dão excelente queijo, além da carne, claro. Agora estamos na época da castanha e há muitos pratos, doces e salgados, que se podem fazer com este fruto. Temos também agora os cogumelos, um produto nosso, que não sabemos trabalhar e apresentar e que nos é levado pelos espanhóis. Temos boas abóboras, que dão grandes compotas e cremes.. Estamos também agora a começar a ter a couve tronchuda, os nabais estão a despertar... enfim", enumerou o chef, que diz que "temos o melhor de Portugal".

O ESCULTOR QUE NÃO ACREDITAVA NO EFÉMERO

"José Rodrigues foi, e será, uma personalidade importante no panorama artístico e cultural, a nível nacional e internacional", lê-se, online, na Fundação Escultor José Rodrigues.

O artista plástico viveu parte da infância no local de onde a família era natural, Alfândega da Fé, terra que não o esquece, que preserva o orgulho e a memória e deu o nome do escultor à casa da cultura, no centro da vila.

O mestre, como era conhecido, nasceu em Luanda, em 1936, e morreu em 2016, no Porto. Diz-se, ainda assim, que não se morre quando o coração para de bater, que só partimos quando a última pessoa que se lembra de nós também segue viagem. Mas há pessoas imortais, que são eternas pelo que deixam. O escultor era adepto da frase do imperador Marco Aurélio, "em breve tudo esquecerei, em breve todos me esquecerão". Mas não, "nem pensar", não vai ser assim. "Temos que o lembrar. E temos que o fazer com um sorriso, com prazer", assumiu Ágata Rodrigues, uma das três filhas do artista.

Lembremos então o artista... mas saibamos quem era o Homem.

José Joaquim Rodrigues estudou Escultura na Escola de Belas-Artes do Porto, onde foi, depois, professor. Ajudou a fundar a Cooperativa Cultural Árvore, da qual foi presidente 30 anos, uma fundação privada, no Porto, que surgiu para promover um novo modelo de ensino artístico, capaz de romper com o academismo vigente, mais livre e colaborativo. Além disso, foi também um dos fundadores, em 1968, do grupo Os Quatro Vintes. O nome surgiu pelo facto de cada um dos quatro elementos ter terminado o curso na Escola de Belas-Artes do Porto com 20 valores. O colectivo de artistas existiu até 1972.

Dono de um trabalho multidisciplinar, sendo que além da escultura se destacou na gravura, cerâmica, ilustração e cenografia, José Rodrigues foi ainda um dos promotores da Bienal de Vila Nova de Cerveira, em 1978, localidade onde criou também a Escola Profissional de Ofícios Artísticos.

O artista, que em 1994 foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, ilustrou livros de vários autores portugueses, nomeadamente de Eugénio de Andrade.

O responsável pelo famoso "Cubo", um dos grandes símbolos da cidade do Porto, "sempre gostou de trabalhar o barro" e, por isso, "era até chamado o Zé dos Bonecos" porque "estava sempre a fazer figuras".

José Rodrigues, que "até ao fim esteve sempre a trabalhar", tinha um lema de vida que passava por fazer arte "para todos", daí ter inúmeras obras públicas. "Ficava muito feliz porque sabia que toda a gente tinha acesso à arte", assumiu a filha, que diz que brincava com o pai, assumindo-lhe que era a sua "fã nº1", mostrando-se "muito vaidosa" porque o artista era um verdadeiro "dinamizador cultural", que ajudou a "impulsionar outros artistas".

O escultor, que "era um homem cheio de humor, que gostava muito de viver a vida, que adorava as cerejas de Alfândega e os bons sabores", era "positivo" e "muito cativante", dado o seu "espírito jovem". E claro, "faz falta" pelo "lado humano".

A filha, que apelida o artista de "maravilhoso", diz que o pai, "efectivamente preocupava-se com as pessoas" e que "era muito informal", muito "terra a terra" e "super simples".

Com "sinceridade", José Rodrigues "era muito sincero" e, segundo Ágata Rodrigues, trabalhava bastante com a família a área social. "Coleccionava obras de outros artistas e sempre que em casa entrava uma peça ele dizia que éramos umas privilegiadas mas que tínhamos obrigação de, além de cuidar do legado, saber partilhar", esclareceu a filha do mestre.

E para visitar?

Alfândega da Fé é dos concelhos mais antigos da região. Segundo contou Francisco José Lopes, professor aposentado, que continua a trabalhar na investigação científica da historia e património local, D. Dinis criou uma série de concelhos, no actual distrito, mas, em Alfândega, "não há nenhum momento da época medieval", pelo menos identificado. Ainda assim, não faltam edifícios que para visitar.

A Igreja Matriz de Sambade, um Imóvel de Interesse Público, é uma "construção interessante", da época moderna, que merece visita.

Em termos religiosos destaca-se ainda a capela de N. Sra. de Jerusalém, em Sendim da Serra, o único edifício com uma planta em cruz no concelho e, possivelmente, nos vizinhos não exista algo semelhante.

Há ainda algumas pequenas capelas do século XVI, uma delas é a de Santo Amaro, em Legoínha, com pinturas murais recuperadas.

Visita pede ainda o Santuário de São Bernardino, de traça barroca, em Gebelim.

O santuário de Santo Antão da Barca, que já não está no local de origem, por causa da Barragem do Baixo Sabor, que deixou submersa aquela zona, "é um espaço que está num sitio muito bonito", junto aos Lagos do Sabor. A capela, com mais de 200 anos, foi trasladada. Pedra a pedra.

Para visitar, há ainda o Santuário Mariano de Cerejais, que é do século XX.

Já na vila, a Torre do Relógio, "com uma origem um bocado difícil de explicar, porque a documentação não permite saber muito sobre o imóvel característico e único no distrito", também é um ponto de interesse.

Estalagem segura onde reina a afirmação cristã

A origem da palavra Alfândega vem do árabe Alfandagua, que significa estalagem segura. Já o "da Fé" tem a ver com a lenda dos Cavaleiros das Esporas Douradas.

A lenda envolve Alfândega da Fé, o antigo concelho de Castro Vicente e o antigo concelho de Chacim, que hoje é Macedo de Cavaleiros.

Os cristãos lutaram contra um suposto mouro, que estaria no Monte do Carrascal, onde hoje é o Santuário de Nossa Sra. de Balsamão.

A revolta dos cristãos, que o conseguiram vencer, com a ajuda de Nossa Sra. de Balsâmo na Mão, era relativa ao tributo de donzelas que o mouro exigia às populações.

Com esta vitória, ao local onde se deu a batalha, que foi uma chacina, deu-se o nome de Chacim. A Castro Vicente, que era só Castro, juntou-se o Vicente, que significa vencedor, depois da batalha. Já Alfândega ficou "da Fé" porque a fé é a afirmação dos cristãos perante os mouros.

Jornalista: Carina Alves

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Concerto de Natal com a Banda Filarmónica 25 de Março

 O Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros recebe no próximo dia 17 de dezembro, pelas 21.30H, o concerto de Natal da Banda Filarmónica 25 de Março.
Esta iniciativa é já uma tradição para os Macedenses, proporcionando um agradável serão, com um reportório renovado e cuidado.

➡️ O bilhete tem um custo de 1€ e pode ser adquirido presencialmente no Centro Cultural ou através do telefone 278 428 100. 

🕒 Horário da bilheteira:
Dia útil
10h00 - 12h30 | 13h30 - 17h00 
Dia do Espetáculo
10h00 - 12h30 | 13h30 – 18h00 | 20h30 – 21h30

Solidariedade | Natal em Rede

 Neste Natal ajude quem mais precisa oferecendo bens alimentares, através da iniciativa Natal em Rede, que irá distribuir cabazes alimentares no nosso concelho.
Procure os supermercados e os minimercados aderentes, as sedes das juntas de freguesia, o eco-solidário (no edifício das Piscinas Municipais) e ainda as escolas do Agrupamento de Escolas de Macedo de Cavaleiros e entregue um bem alimentar, até ao dia 17 de dezembro.

Esta iniciativa é organizada pela Rede Social de Macedo de Cavaleiros.

Juntos faremos a diferença!

Lambendo as Feridas - Na Madrugada dos Tempos – Parte 4

Por: Manuel Amaro Mendonça
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Um pecado tem sempre como consequência outro pecado.
Ben Hazzai
(Sábio rabínico do século II)

Destroçados e de cabeça baixa, entraram na aldeia arrastando os mortos e ajudando os feridos. Foram recebidos em silêncio numa primeira fase e depois com prantos e consternação de todos quantos haviam ficado de guarda às crianças, casas e bens.

Lemi, que fora um dos instigadores da vingança, estava arrasado pela morte do filho, Fuat e para Erem, se também lamentava a perda do primo, a do seu irmão Alev era impossível de suportar. Na tentativa de vingar uma morte havia agora mais duas e uma delas era o pai de cinco crianças que deixava agora a viúva sozinha.
Nos dias que se seguiram, todo o povoado tentou regressar à normalidade, considerando que, apesar do preço que pagaram, a vingança da morte de Nuri fora cumprida. Os grupos de caça retomaram o seu trabalho, sempre atentos à possibilidade de aparecimento de homens-macaco, enquanto outros pescavam e outros ainda cuidavam das magras colheitas ou do curtir das peles. O gado, composto basicamente por cabras-selvagens criadas desde pequenas nas imediações da aldeia, eram responsabilidades das mulheres e dos mais jovens, assim como o cuidar das colheitas e a busca e colheita dos frutos silvestres. Já tinham tentado criar jovens javalis, mas eles arranjavam sempre uma forma de fugir, por mais cercas, ou cordas, que fizessem ou com que os amarrassem.
A organização das tarefas, era uma herança do clã do Rio Brilhante, que devia o sucesso e crescimento ao facto de ter dado os primeiros passos no sedentarismo há algumas gerações atrás. Após comprovarem que se podiam semear e colher algumas das plantas comestíveis, foi fácil que alguns dos membros do clã não quisessem deslocar-se em migração, preferindo ficar junto das suas colheitas que eram um complemento para a caça e a pesca. Após se fixarem, já podiam construir paredes de pedras empilhadas em volta das tendas de paus e peles, para se protegerem do frio do inverno e pouco tempo depois já abdicavam da tenda, erguendo simplesmente os muros circulares e utilizando as peles apenas para o teto. A lama servia para tapar os espaços entre as pedras para reduzir a entrada do frio e consolidar as paredes. A estabilidade conduziu à conclusão de que não podiam andar todos a caçar ou a pescar e começaram a criar-se grupos especializados nas tarefas que mais gostavam de fazer, ou que aprenderam desde crianças.
Quando estavam no vale do lago salgado, eram visitados ocasionalmente por grupos de nómadas com quem trocavam peles ou mesmo caça. Acabava sempre por ficar um ou dois entre eles, porque estava ferido ou doente, ou simplesmente porque estava cansado de vaguear, por vezes até famílias inteiras. Ali, nas terras altas, não tinham visto ainda nenhum outro grupo de humanos. Estavam entregues a si próprios, eram pioneiros em desbravar as terras que o degelo deixara para eles.
Nos primeiros anos, a dureza do clima mais agreste, e as terras duras e pouco generosas causaram mal-estar no clã do Leão da Montanha. Havia críticas sussurradas e lamentos por seguirem o jovem chefe para uma tão grande provação, principalmente da parte dos irmãos de Zia que começavam a perguntar-se se não teria sido melhor ficar com Birol, ao invés de Erem. Os verões eram frios, em comparação ao vale e os invernos rigorosos, embora, talvez fruto do hábito, parecessem mais amenos a cada ano que passava. As sementes não germinavam com facilidade e a terra era dura e difícil de cavar, no entanto, a caça era abundante e um rio próximo tinha muita fartura de peixe, embora não pudessem viver demasiado próximo dele devido aos ursos. Foi só ao terceiro ano que se decidiram sobre o local onde deveriam fixar-se, abandonar as tendas e construir as suas casas de pedra; um planalto batido pelo sol e protegido dos ventos do Norte por um monte mais alto.
Nehir fora a segunda criança a nascer da união de Erem e Zia. A menina rebelde, tornou-se uma adolescente indómita e depois uma mulher laboriosa e independente. Não deixava que nenhum homem se aproximasse demasiado e, os que se atreviam a fazê-lo, saíam derrotados pela argúcia e às vezes até pela força. Forte para uma mulher; herdara a estatura do pai e a determinação da mãe. Quando faziam parte do Clã do Rio Brilhante, cedo se interessou pelo trabalho do xamã e, quem a queria encontrar, fá-lo-ia junto de Gokai e das suas duas esposas. Com eles adquiriu o conhecimento das ervas, da forma de tratar as feridas e mesmo dos encantamentos necessários para curar algumas maleitas. Agora, porém, sentia-se sozinha e impotente perante a quantidade dos feridos e gravidade dos ferimentos.
Erem emitiu um ronco, para evitar um grito, quando Nehir cauterizou o corte sob a vista direita, que parecia querer infetar, recorrendo a um graveto de oliveira em brasa. As nódoas negras quase tinham desaparecido e as dores no corpo já eram coisa do passado.
— Como está Tekin? — Perguntou ele para se distrair da dor.
— Está muito mal. — Informou Nehir mantendo a atenção enquanto tirava os vestígios de cinza do ferimento do pai. — Tem vários ossos partidos e respira com muita dificuldade. — Ela suspirou. — Mas acho que podemos ter outros casos mais complicados.
— Quais? — Erem olhou-a alarmado.
— Há vários bastante feridos por lanças e pedradas, mas são ferimentos pouco profundos, as lanças deles não são de ponta de sílex como as nossas, apenas paus afiados ao fogo. Não é o caso de Su e Ediz; ela tem um buraco profundo nas costas que lhe dificulta a respiração e ele outro na barriga. — A mulher torceu o nariz revelando pouca esperança. — Fiz-lhes pachos com folha cheirosa, folha doce e folha amarga após queimar o ferimento e fiz a reza a Da matter[1], mas têm muitas dores… receio por eles. Os deuses terão de usar o seu poder.
Ele coçou a barba, pensativo, Ediz era seu cunhado, irmão de Zia e Su, mulher de Naci, sua nora, o primeiro jovem e sem filhos, mas a segunda deixava duas crianças. Mais preocupações para o chefe; além de familiares próximos e estimados, eram braços fortes e decididos que deixavam órfãos.
Erem saiu da tenda de Nehir preocupado, (como ela era uma mulher solteira, não construíra uma casa) foi visitar Su e Ediz, para tirar ele próprio as dúvidas. Regressou muito pessimista, temendo que a sua filha e curandeira/xamã podia ter razão.
Sentado na pedra que mandara por para o efeito na entrada da sua choça, ficou a observar uma das noras de Lemi ajoelhada em frente ao totem que ergueram quando decidiram fixar-se naquele local. O grande tronco de madeira com mais de três metros fora aliviado da sua casca e da maior parte dos ramos, deixando-lhe apenas dois laterais com curvas em ângulo reto, dando-lhe uma aparência antropomórfica. Nos seus “braços”, iam sendo pendurados presas, cornos, cascos ou mesmo peles, em agradecimento à intervenção divina na caçada bem-sucedida. Aos pés ou pendurados no ídolo havia bocados de cabelo, lanças, facas ou outros objetos que lembravam aqueles que já partiram… estava lá o chapéu de pele do seu filho Nuri.
Se não tivessem cuidado, todos eles não passariam de recordações naquele totem… até que não houvesse mais ninguém para os lembrar.
Precisavam mesmo de ajuda divina; teria de implorar a Da Mater pela salvação daqueles dois e que o ajudasse a fazer o melhor pelo seu povo. Teria de fazer um sacrifício para manter os maus Ansu[2] afastados e que apenas os bons pairassem sobre a aldeia. Há alguns invernos, os deuses marcaram o lugar onde deveriam ser adorados com um raio que destruiu um imenso pinheiro. Ali se ergueram os troncos gravados por Asil representando Swol[3] e Mensis[4] com a madeira do pinheiro destruído e todo o povo gostou do santuário… talvez estivesse na altura de fazer mais alguma coisa para agradar aos deuses.
Zia saiu do interior da casa e sentou-se, sorridente, ao lado dele. Erem retribuiu o sorriso, apreciando aquele rosto redondo e moreno adornado com dois carvões reluzentes, que acompanhava a sua vida há tantos anos. Apesar dos cabelos que começavam a branquear, mantinha-se em boa forma e não se deixara engordar, mesmo após seis partos bem-sucedidos e um nado-morto. Logo que as dores do nascimento a abandonavam, começava a pastorear as cabras, enquanto a criança precisava de mais acompanhamento e logo retornava às tarefas de caçadora, calcorreando os montes e equiparando-se, ou mesmo suplantando, os homens em resistência e tenacidade. As suas funções de oráculo não a prejudicavam, antes a complementavam, fazendo previsões se haveria um bom dia de caça ou não. Os quase vinte e oito anos não pesavam no seu físico, porque não se deixava abater e engordar após o segundo parto, como grande parte das mulheres.
— Que fazes aqui? — Perguntou Zia sem deixar de sorrir. — Não vais entrar?
— Estava aqui a matutar no que fazer a seguir… — Erem desviou o olhar da companheira para o chão. — Por minha culpa, perdemos dois dos nossos e estamos em riscos de perder mais dois, numa vingança estúpida e impensada.
— Não foste tu quem nos levou. — Ela pegou o rosto dele entre as mãos para lhe ver os olhos. — Todos nós queríamos ir. Fomos todos inconscientes, não nos preparamos, achávamos que Tarhun[5] estaria do nosso lado pela justeza da nossa causa. Um só dos Seus raios seria suficiente para dizimar os homens-macaco, mas tal não aconteceu. Agora resta-nos lamber as feridas e esperar melhores dias.
— Os deuses estão ocupados nas Suas vidas — ele exibiu um sorriso desalentado —… os homens estão entregues a si próprios, implorando a Sua atenção, desde os tempos de Manu[6]. Implorei a Da Mater pela salvação de Su e Ediz, esperemos que nos ouça.
— Consultei as pedras e os ossos. — Zia disse, mas também baixou os olhos. — No caso dele, havia apenas uma linha curta; o fim deve estar breve, mas para ela os resultados eram confusos, não consegui uma certeza.
— Se Su morrer, Naci vai ficar pior do que o costume — previu o chefe —… se ele já é revoltado e impaciente, se ficar sem ela…
— Ontem falei com Nehir, naquela tenda gelada onde vive e ela também acha que Ediz é o caso pior, Su terá mais hipóteses. — Informou a companheira.
— Não sei porque é que ela quer estar ali. — Ele encolheu os ombros. — Connosco, ficaria melhor.
— Lá pode receber e estar com quem quiser… — ela exibiu um sorriso conhecedor.
— O quê? — Erem entusiasmou-se. — Já arranjou finalmente um homem? Vamos ter mais netos? Algum dos teus sobrinhos?
— Não… — Zia retorceu os lábios a olhar para o companheiro —… é mais… Enis, uma das filhas de Lemi.
— Que raio… — Ele coçou a cabeça perturbado.
— Por isso é que ela não quer estar aqui. Teme que não aproves.
— Ela já não tem idade para esses impulsos, essas preferências normalmente passam quando crescem! — O chefe sentia-se desalentado. — Não teremos novos netos, então…
— Sim, mas não te preocupes, o que interessa é que ela esteja feliz. — Afirmou ela sorridente, erguendo-se e puxando-lhe pela mão. — Anda, pode ser que se arranje outro filho em vez de um neto.

[1] Deusa-mãe
[2] Espíritos
[3] Sol
[4] Lua
[5] Deus do trovão, da caça e da guerra
[6] O primeiro humano

Manuel Amaro Mendonça
nasceu em Janeiro de 1965, na cidade de São Mamede de Infesta, concelho de Matosinhos, a "Terra de Horizonte e Mar".
É autor dos livros "Terras de Xisto e Outras Histórias" (Agosto 2015), "Lágrimas no Rio" (Abril 2016), "Daqueles Além Marão" (Abril 2017) e "Entre o Preto e o Branco" (2020), todos editados pela CreateSpace e distribuídos pela Amazon.
Foi reconhecido em quatro concursos de escrita e os seus textos já foram selecionados para duas dezenas de antologias de contos, de diversas editoras.
Outros trabalhos estão em projeto e sairão em breve. Siga as últimas novidades AQUI.