terça-feira, 31 de março de 2015

Antigamente, na Páscoa (a visão do auge dos meus 25 anos)

Tânia Reis
A Páscoa está diferente. E “diferente”, que às vezes significa coisas boas e inovação, não se aplica à Páscoa, a meu ver. Já se promovem almoços em conjunto na Páscoa, já há quem vá a shoppings na Páscoa. 

Há quem não ligue puto à Páscoa. Ora, mesmo para quem não é católico, ignorar a Páscoa sempre foi impossível em Trás-os-Montes. Não sei se é da Semana Santa, do cheiro a folar, ou se das pessoas que teimam em voltar à terrinha.

A Páscoa era a altura em que havia doces económicos em todo o lado, e amêndoas, que podiam ser “das boas” (quando apareceram as recheadas de chocolate) ou das foleiras, com amêndoas mesmo à séria. Havia mais gente da família, havia mais tempo. Havia um ar pesado e macilento, que emanava da Semana Santa, em que tudo era pecado. Ouvir música aos berros era motivo para levar sermão, e eram dias seguidos em que se lutava contra o tal do pecado, que parecia estar a tentar-nos de uma maneira espectacular (pecado, i.e, comer demasiado, brincar demasiado, chegar tarde a casa e não comer a sopa). Havia, até, preparativos para encher as ruas com as representações da Via Sacra. E nós íamos, vejo agora à luz de alguns anos de distância, como uma maneira de apaziguarmos os tais pecados. Havia quem se confessasse, até, por estes dias, rara excepção no ano, que permitiria caminhar imaculado no dia da Ressureição, para comungar.

Depois da Sexta-Feira Santa era sempre boa altura para barrigadas de comidas boas e que fazem mal ao colesterol. Antes, era tempo de encher os fornos de lenha, de partir ovos (e às vezes lá vinha um podre, que estragava tudo). Tirava-se o azeite para pôr ao sol, para que voltasse ao estado líquido (com o frio, para os mais distraídos, o azeite “tralha”, e não há nada que o tire dos garrafões). Faziam-se limpezas, como se fosse Primavera (houvesse ou não andorinhas).

No dia propriamente dito, ninguém podia acordar muito tarde. Era tempo de sentar à mesa com muita gente, e comer cordeiro. Era tempo de reclamar com a mãe que não se gosta de cordeiro. Era tempo de a mãe dizer que havia outra coisa no forno para nós. Era dia de missa; de roupa nova, às vezes. Era dia de benzer as casas e de beijar a cruz do Senhor. Era tempo de correr pela aldeia, para beijar a cruz mais do que uma vez - em casa dos avós, dos tios, dos primos, dos amigos. Queria-se estar presente neste ponto alto do ano, em que as portas de casa se abriam para quem quisesse. Era tempo de contar a história mítica do fulano de tal que uma vez só colocou metade da nota no envelope para o padre, prometendo completá-la no ano seguinte.

Era altura de encontrar muita gente, que jurámos que nunca mais íamos ver. Comentava-se a “sorte” com os folares nesse ano. Convidava-se para o provar. Apreciavam-se as fatiotas e a gordura alheia. Se namorico novo houvesse, e fosse à Páscoa (ou até à Pascoela), era sinal de que era para seguir até ao altar.

Eram três dias intensos. Um pouco mais. Quinta à noite já havia carros que não paravam ali todo o ano. “Venho à Páscoa”, diziam os recém-chegados. E até Domingo, comia-se, bebia-se, cozia-se a Páscoa. Ninguém ia a centros comerciais, a sessões de autógrafos, ao cinema, almoçar fora, ou com estranhos. Porque isto não fazia sentido.

Tânia Rei

Museu da Memória Rural vai inaugurar o primeiro núcleo territorial na aldeia de Lavandeira

O Museu da Memória Rural, um equipamento cultural do município de Carrazeda de Ansiães, com sede em Vilarinho da Castanheira, inaugura no próximo dia 4 de Abril, pelas 16h30, o seu primeiro núcleo territorial.

Prensa de parafuso central recuperada para integrar o projecto de musealização do antigo lagar de azeite
O novo núcleo museológico, situado no centro da aldeia de Lavandeira, resultou da recuperação de um antigo lagar de azeite que se encontrava em ruínas e que agora irá começar a funcionar como um espaço didáctico e expositivo das técnicas tradicionais relacionadas com o fabrico do azeite.

O projecto de recuperação e musealização da antiga estrutura é o resultado de uma colaboração entre a Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães e a União das Freguesias de Lavandeira, Beira Grande e Selores que desta forma devolvem à população o antigo edifício para fruição pública.

Este novo projecto museológico constituirá mais um atractivo turístico do concelho de Carrazeda de Ansiães, sendo o primeiro polo de uma rede mais abrangente de pequenas unidades museológicas que a autarquia está a montar no seu território sob a marca referencial de Museu da Memória Rural.

O Núcleo Museológico do Lagar de Azeite de Lavandeira vai mostrar ao visitante como era produzido o azeite num antigo lagar de prensa de parafuso central. Todo o processo relacionado com esta antiga actividade económica encontra-se aqui retratado ao nível de um discurso museográfico que se inicia na apanha da azeitona, no seu transporte, na sua limpeza antes da entrada no lagar, nas “pulhas” trocadas entre ranchos de jornaleiros e nos processos de moagem, prensagem e, finalmente, na operação que levava à obtenção do fino fio de azeite. 

O discurso é sustentado num design gráfico e em documentos de vídeo que recorrem a imagens de recolha etnográfica e a documentação fotográfica antiga, suportes que são sempre apoiados em textos sintéticos resultantes de um trabalho de investigação científica e em explicações com cariz pedagógico.

Com a abertura deste espaço o conceito do Museu da Memória Rural alarga-se, tornando-se desta forma mais abrangente e polarizado, passando a agregar o primeiro de outros pequenos núcleos museológicos que num futuro próximo a autarquia pretende espalhar pelo território do concelho de Carrazeda de Ansiães. 

Ainda durante 2015 será efectuada a abertura do segundo núcleo do Museu da Memória Rural, o Núcleo Museológico da Telha em Luzelos. Esta é uma das apostas do Município de Carrazeda de Ansiães que pretende atrair um maior número de visitantes ao concelho através da preservação e divulgação do que mais genuíno existe da sua memória colectiva e da sua identidade cultural.

in:noticiasdonordeste.pt

Um morto em acidente de trabalho na EN 15

Um operário de 29 anos morreu esta terça-feira à tarde soterrado numa obra que decorre junto à Estrada Nacional 15, em Bragança, num acidente que teve lugar cerca das 15h30, informou fonte da GNR.
O homem tinha acabado de chegar ao local.  De acordo com o padrasto da vítima, que assistiu ao acidente, o desabamento deu-se pouco depois de Pedro Lara ter entrado na vala onde estava a trabalhar, numa obra da Câmara de Bragança de requalificação da entrada sul da cidade.
“Mal entrou na vala, a terra caiu-lhe em cima. O barranco não tinha segurança nenhuma”, acusou Feliciano Ribeiro.
Pedro Lara encontrava-se ao serviço da ASG, Construções e Granitos, de Vila Real, há cerca de três anos. O Mensageiro de Bragança tentou, entretanto, obter um comentário às acusações da testemunha mas não obteve resposta às tentativas de contacto por telefone e email.
De acordo com o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, esta obra envolvia a construção de passeios e de um ramal de saneamento.
Ainda segundo Feliciano Ribeiro, o operário esteve cerca de uma hora soterrado até os bombeiros de Bragança conseguirem resgatá-lo, já sem vida.
“Quando chegámos ao local, deparámos-nos com uma vítima soterrada até ao nível do pescoço. Criámos condições de segurança e tentámos manobras de reanimação. Infelizmente não conseguimos tirar a pessoa com vida. Havia ténues sinais vitais quando chegámos ao local”, explicou o comandante dos bombeiros de Bragança.

5ª edição da "Feira de Emprego, Educação e Solidariedade".

À semelhança dos anos anteriores, o Município de Bragança, em parceria com o Centro Social e Paroquial dos Santos Mártires, entidade coordenadora e executora do Contrato Local Desenvolvimento Social de Bragança (CLDS+), e a Associação Académica do Instituto Politécnico de Bragança, vai organizar, nos dias 7 e 8 de maio, a 5ª edição da "Feira de Emprego, Educação e Solidariedade".
Depois do sucesso dos anos anteriores, pretende-se com esta iniciativa colocar à disposição da comunidade um evento que aproxime as vontades e necessidades das empresas, instituições sociais e cidadãos do concelho.
A feira decorrerá, no dia 7 de maio, das 14h00 às 22h30, e no dia 8, das 10h00 às 22h30, no Jardim António José de Almeida, e zona envolvente, em Bragança.
À semelhança dos anos anteriores, a participação na feira é gratuita, incluindo a montagem e desmontagem do stand, eletricidade, mesa e cadeiras no seu interior.
São esperados aproximadamente 3.000 visitantes durante os 2 dias do evento.
Está prevista a participação de empresas, escolas e instituições sociais.
Existem muitas razões para que a V/ instituição esteja presente neste evento. Desde logo, poderá partilhar boas práticas na intervenção local, social e educacional e revelar ao público os melhores argumentos da sua instituição.

FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO


O Município de Bragança informa que a Feira semanal, vai realizar-se no dia da Sexta-Feira Santa, no dia 3 de abril.

Por esse motivo, as Linhas Rurais estarão a funcionar no período da manhã, sendo que o regresso se realiza pelo meio dia e meia, à excepção das linhas 9, 10, 11, 12 e 14 que regressarão às 15.30 horas."

Comemoração do 150º Aniversário do Nascimento do Abade de Baçal e do 100º Aniversário do Museu do Abade de Baçal

Paradinha de Besteiros sem iluminação pública há 10 dias

O lugar de Paradinha de Besteiros, na freguesia de Morais (Macedo de Cavaleiros) está há 10 dias sem iluminação pública.

A situação é denunciada pela própria população, que garante que não é a primeira vez que fica sem luz na rua. A última vez foi há cerca de dois meses. Agora, desde dia 20 de março que os habitantes de Paradinha de Besteiros têm dificuldades em sair de casa depois do anoitecer.

Maria Lázaro, habitante de Paradinha, já está habituada a reportar as avarias na iluminação pública. Desta vez, conta, já lá vão três chamadas para a EDP.

Maria Lázaro afirma que não foi a única a contactar a EDP, e mostra-se indignada com a demora na reparação.

O sobrinho de Maria Lázaro, Nuno Rodrigues, não reside todo o ano em Paradinha de Besteiros, mas é lá que vai algumas vezes por ano encontrar os familiares. Diz-se, pois, preocupado com esta situação.

A população garante que a EDP sempre se demonstrou prestável em questões idênticas no passado, e não compreende a demora.

Contactada, a EDP confirma que foi informada da avaria. No entanto, ainda não há data prevista para a resolver. Até lá, em Paradinha de Besteiros, depois do pôr-do-sol, não vai haver luz artificial a alumiar as ruas, aldeia onde residem cerca de 30 pessoas, na sua maioria idosos.

Escrito por ONDA LIVRE

Município de Vinhais investe mais de um milhão de euros na requalificação de vários equipamentos

O Município de Vinhais está a investir mais de um milhão de euros na requalificação de vários equipamentos do concelho. Estes investimentos resultam do chamado “overbooking”, aproveitamento de fundos excedentários do anterior quadro comunitário de apoio, que podem ser usados até ao final do ano.
O Município de Vinhais viu aprovados os cinco projectos que candidatou a estes fundos. 
O presidente do Município, Américo Pereira, salienta a importância destas obras, destacando o investimento no campo de futebol de Rebordelo. “Destaca-se o relvado sintético do campo de Rebordelo com todas as condições para a prática de desporto. Era algo que todos aqueles praticam futebol desejavam. A concretização desta obra era quase um sonho para eles.
 Estamos a falar também do arranjo urbanístico do centro histórico da vila, na requalificação do Parque Biológico de Vinhais, na requalificação das piscinas e do campo de jogos e ainda de um circuito turístico entre Vinhais e o Santo António”, destaca o autarca. O relvado sintético do campo de Rebordelo representa um investimento de 400 mil euros. No Parque Biológico de Vinhais estão a ser investidos cerca de 200 mil euros, que incluem a aquisição de PODS, um novo tipo de alojamento que está já em fase de montagem. 
O conjunto de obras que resultam do aproveitamento de fundos comunitários deverá estar concluído até ao próximo Verão. 

Escrito por Brigantia

Testemunho de Ernesto Rodrigues

Docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, recém-eleito diretor do CLEPUL, Ernesto Rodrigues é também ensaísta, jornalista, ficcionista, poeta, tradutor, além de membro ativo da Academia de Letras de Trás-os-Montes, que ajudou a fundar.
Com mais de 80 títulos publicados, com toda justiça, acaba de ser homenageado em Bragança pelos seus 40 anos de vida literária.
Neste testemunho, recorda seu encontro com a obra e a figura Jorge de Sena. O texto de sua autoria a que alude encontra-se em “95. A morte do Papa“.


in:altm-academiadeletrasdetrasosmontes.blogspot.pt

Novas empresas vão criar 120 postos de trabalho em Bragança

Câmara Municipal baixa preços dos lotes para conseguir atrair empresas nacionais e estrangeiras
Só este ano cinco empresas já compraram lotes na Zona Industrial de Mós, no concelho de Bragança. A estas juntam-se mais três que em anos anteriores procuraram este espaço para instalar os seus negócios. No total, o Município de Bragança perspectiva a criação de 120 postos de trabalho a curto prazo.
“Neste momento, dos 11 lotes que tínhamos disponíveis já estão vendidos 10, temos apenas um lote disponível”, garante o presidente da Câmara Municipal de Bragança.
Segundo Hernâni Dias, para isso contribuiu a fixação de preços atractivos para o tecido empresarial. “Neste momento está fixado em 4 euros por metro quadrado, sendo que os benefícios concedidos às empresas são atribuídos também consoante o número de postos de trabalho criados, o que significa que uma empresa que cria até 18 postos de trabalho pode ficar com o metro quadrado pelo preço de um euro”, sustenta o autarca.
Entre as empresas que adquiriram lotes este ano destaque para duas italianas que vão produzir componentes para a Faurecia, que vão criar cerca de 60 postos de trabalho. “Uma delas penso que começará a laborar já durante este ano e a outra pretende iniciar em 2016. São empresas que vêm trabalhar especificamente para a Faurecia e a razão é que esta empresa está também num processo de crescimento aqui em Bragança”, salienta Hernâni Dias.
A estas juntam-se mais três empresas nacionais, uma delas vai criar 40 postos de trabalho.
Para isto contribui, na óptica do presidente da CMB, as condições e acessibilidades da Zona Industrial de Mós. “Aquela zona industrial está muito bem localizada, junto a um nó de auto-estrada, entretanto a ligação que está a ser feita à zona sul do concelho com a ligação de Mós a Parada também ajudará a este desenvolvimento”, realça o edil.

in:jornalnordeste.com

Este ano acidente com tratores já mataram uma pessoa

Um morto e dois feridos graves é o balanço de cinco acidentes com tratores agrícolas registados este ano pela GNR no distrito de Bragança.

A última morte aconteceu na passada terça-feira em Santulhão, no concelho de Vimioso. Os dois feridos graves foram registados em Fevereiro passado nos concelhos de Mirandela e Vila Flor.

Os acidentes com tratores agrícolas são uma preocupação para a GNR. O major Cura Marques, relações públicas da GNR de Bragança, adianta que estão já agendadas para o próximo mês acções de sensibilização, tendo em vista a prevenção de acidentes.

 Numa altura em que os agricultores começam a lavrar os terrenos, a GNR deixa alguns conselhos aos condutores de tratores agrícolas, como “ter sempre montado o arco de segurança, ter atenção à velocidade com que manobra a máquina, a inclinação do terreno e adequar sempre o comportamento ao aparelho que estejam a manobrar”.

O ano passado ficou marcado por 22 acidentes com tratores agrícolas no distrito de Bragança, dos quais resultaram 11 mortos e 11 feridos graves. Este ano, a primeira vítima mortal aconteceu, na semana passada, em Santulhão. A vítima foi um idoso de 74 anos que andava a lavrar um olival quando a máquina caiu para uma zona de silvas.

Informação CIR (Rádio Brigantia)

Sobrinho Teixeira espera que sejam investidas verbas comunitárias na promoção e marketing territorial

A maior parte da fatia do bolo das verbas comunitárias do próximo Quadro de Apoio terá de ser destinado para a promoção e marketing da região. 
A ideia é defendida pelo presidente do Instituto Politécnico de Bragança. Sobrinho Teixeira já deixou bem vincada essa opinião no decorrer da discussão sobre o Plano estratégico da Comunidade Intermunicipal Terras de Trás-os-Montes. “Este foi um vetor que merecer a concordância dos autarcas, da necessidade de colocar uma parte com alguma expressão do financiamento que vem do quadro comunitário de apoio no marketing da região, para produzir conteúdos para que dentro e fora do país se conhecem as potencialidades que temos. É crucial para termos mais pessoas na região.”, diz Sobrinho Teixeira.

Já o presidente da câmara de Mirandela mostra-se preocupado com o facto das empresas da região não estarem ainda sensibilizadas para a importância de obterem parcerias com as instituições de ensino superior do distrito de Bragança, no caso a ESACT de Mirandela e o IPB. António Branco teme que isso possa prejudicar a competitividade da região, dado que quase 50 por cento dos fundos comunitários estão destinados à investigação, Desenvolvimento e ao tecido empresarial, que se não for bem aproveitado poderá aumentar o fosso entre o Interior e o Litoral, no que diz respeito à competitividade. “Se não formos capazes de ser competitivos para, de alguma maneira, garantir que essas verbas sejam aplicadas na nossa região, o que vai acontecer é que os grandes beneficiados vão ser as universidades e o tecido empresarial do litoral. E isso é um constrangimento enorme”.

As preocupações manifestadas pelo autarca de Mirandela sobre o facto das verbas do próximo quadro comunitário de apoio poderem criar ainda uma maior assimetria entre o Interior e o Litoral, se os empresários não estabelecerem parcerias com as instituições de ensino superior da região para elaborar projetos que possam melhorar a sua competitividade.

Informação CIR (Rádio Terra Quente)

Idosos da Santa Casa da Misericórdia de Bragança (SCMB) participam na gravação do novo álbum da RaussTuna

Idosos da Santa Casa da Misericórdia de Bragança (SCMB) participaram, esta segunda-feira, na gravação do novo álbum da RaussTuna – Tuna Mista de Bragança.
O refrão da música “Digressão” é cantada por um grupo de seniores, que deram, assim, o seu contributo para este projeto musical. Trata-se de um CD que inclui a gravação de dezoito temas originais, com a participação de dezoito duetos. 

Uma experiência inédita para os seis utentes da instituição que, pela primeira vez, entraram num estúdio de música e participam num projeto do género. Clementina Reis de 80 anos, não cabia em si de satisfação: “Perguntaram-me se queria ir cantar a um estúdio para gravar uma música e disse logo que sim, adoro cantar”, exclamou de entusiamo no final da gravação.

A idosa mostrou-se bastante à vontade, dado que integra o grupo de cantares intergeracional da Santa Casa há vários anos. Um fator extensível aos restantes cinco participantes para quem cantar “é o melhor da vida”. Um desafio superado que enche de orgulho a SCMB que promove, sempre que possível, a integração e participação ativa dos seus utentes nas mais variadas iniciativas da comunidade.

in:noticiasdonordeste.pt

Vida de D. Manuel António Pires reunida em livro

A vida do missionário D. Manuel António Pires, natural de Vila Boa, no concelho Vinhais, está agora perpetuada em livro.
A obra foi apresentada durante as comemorações do centenário do nascimento do antigo bispo da diocese de Silva Porto, em Angola, que decorreram na passada sexta-feira, na sua terra natal. 
Luís Vale, o autor do livro, explica que apesar do protagonismo que este transmontano teve, a humildade foi uma das características que marcou a vida do missionário. “Durante o século XX, D. Manuel teve bastante protagonismo, apesar da sua humildade. Vestia-se e comportava-se como um simples sacerdote, não fazia grande proa da sua profissão ou do seu privilégio episcopal”, sublinha Luís Vale. Uma investigação exaustiva que contou com o apoio de algumas instituições religiosas. 
Luís Vale lamenta, no entanto, que se tenha perdido alguma informação sobre a vida de D.Manuel António Pires.“A informação que consegui reunir não é homogénea. Há períodos em que consegui reunir muita informação, mas há outros em que lhe perco o rasto, não sabendo o que andou a fazer ou o que escreveu. Tudo aquilo que consegui reunir, está no livro, mas tenho a sensação que haveria muito mais por dizer. Há, com certeza, muita informação perdida, no sentido que não se conseguiu reunir”, constata o autor. 
“D. Manuel António Pires, história de vida de um missonário 1915-2015” é o título do livro que reúne os factos que Luís Vale apurou sobre os 84 anos de vida deste missionário. 

Escrito por Brigantia

segunda-feira, 30 de março de 2015

O Zé a crescer...

Cânticos da Quaresma - Terra de Miranda

A profunda religiosidade das gentes da Terra de Miranda assume expressão particularmente intensa em termos de vivência espiritual colectivamente assumida na Quaresma, quando se celebra a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. 
O período da Semana Santa é um tempo de dor e de sofrimento mas também de fé e de esperança numa vida eterna liberta das dores terrenas, que se manifesta através de procissões carregadas de significado e de orações adequadas ao sofrimento e à redenção. Neste contexto de crença assumem especial significado os cantos e as orações associadas às várias práticas rituais e cultuais da Quaresma: são os cantares das almas ou encomendações das almas, são os martírios propiciadores da requerida reflexão sobre a vida terrena, são as toadas de misericórdia que se fazem ouvir nas procissões, entre outros, que dão eco colectivo de um sentimento colectivo de intensamente partilhada vivência. Orações e cantos para fazerem emergir das trevas da morte a força da luz redentora da ressurreição para a vida eterna.
As “orações das almas” participam do culto dos mortos e, nesta medida, podem ser assimiladas às Encomendações das Almas, – afirmou Michel Giacometti nos textos que acompanharam as edições das suas recolhas por todo o País – com a reserva de que estas não incluem qualquer forma de peditório no cerimonial, fortemente caracterizado, como lhe conhecemos. Ambas as cerimónias, visando a salvaguarda das almas do Purgatório, procedem do ensinamento da Igreja, para quem a oração dos mortos constitui um acto de piedade e de caridade, testemunhado no Antigo Testamento e na prática da sinagoga judaica. Foi Santo Odilon, abade de Cluny, que estabeleceu para sua Ordem uma comemoração geral de todos os fiéis defuntos, rapidamente adoptada e divulgada entre vários povos cristãos. Observe-se, por fim, que enquanto a “Encomendação das Almas” é um costume que pode considerar-se estritamente português, a “Oração das Almas”, a cujas origens aludimos, tomou feições particularizadas nos países de adopção.

Reportório
01. Encomendação das Almas (Águas Vivas)
02. Cantar das Almas – Fragmento (Aldeia Nova)    
03. As Almas (Duas Igrejas)
04. Acordai, Irmãos Meus (Algoso)
05. Canto às Almas (Palaçoulo)
06. As Almas Santas – Fragmento (Malhadas)
07. Duas Tábuas de Moisés (Duas Igrejas)
08. Misericórdia (Sendim)
09. Naquele Altar (Águas Vivas)
10. Misericórdia (Malhadas)
11. Bendito e Louvado Seja (Duas Igrejas)
12. Domino Jesus Cristo (Águas Vivas)
13. Compadecei-vos de Nós, ó Deus (Duas Igrejas

Ano: Edição em 2008, Gravações realizadas entre 2001 e 2005 em vários locais

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"TRÁS-OS-MONTES": FILME CONTRA A CIDADE

«O filme não é para a cidade, o filme é contra a cidade», afirma António Reis que assina a realização do filme «Trás-os-Montes», conjuntamente com M. Martins Cordeiro.

O filme, que inicialmente se designava «Nordeste», palavra limitativa que a cidade vulgarizou, chamar-se-á definitivamente «Trás-os-Montes», a cuja raia se dá por nome de «fronteira do luto».

Da Idade Média aos nossos dias, a obra percorre as lendas que chegaram a Trás-os-Montes ou dela partiram. Reintegra a sabedoria chinesa, por exemplo, na mirandesa. «Isto é nosso», diria um mirandês falando duma chinesa.«Os actores não são profissionais, os actores são o povo transmontano».

Actores, além de outros, são o sr. Amador, camponês da Freixiosa, que, ao vestir a festiva capa mirandesa, retorna à sua dimensão de oráculo; o ferreiro de Ifanes, de 82 anos, gordo robusto, que escolheu a vida sedentária; os garotos Armando Manuel, «Armandito» na ternura dos que mergulharam nesta viagem e aventura através dos tempos, do Patronato de Santo António, de Bragança, com sardas que mais parecem borrifos de estrelas e ar profundamente triste; e o Luís Ferreira, a quem morrera a mãe há dois meses e que no filme teve de chamar mãe a outra pessoa. Optou pela libertação. «Um pequeno génio», como diria António Reis.
As filmagens demoraram 40 dias.
Foram gastos 15.000 metros de fita. Após a montagem, serão aproveitados não mais que 2.000.As verbas concedidas, que em dinheiro sonante atingem apenas os 900 e tal contos, não foram suficientes.«Trás-os-Montes», produção do Centro Português de Cinema, foi patrocinado pelo Instituto Português de Cinema, com a colaboração da R.T.P. e da Tobis.Da equipa técnica, além dos realizadores António Reis e M. Martins Cordeiro, fizeram parte o operador Acácio de Almeida, o assistente de montagem Carlos Nana, o iluminista João Silva e o técnico de som João Diogo. Foi director de produção, Pedro Paulo.
O «CASTELO DE HAMLET»O filme, a ser estreado na Primavera, única estação que, intencionalmente, não aparece representada na película, terá a sua ante-estreia em Bragança e Miranda. «É um acto de justiça e gratidão para com o povo transmontano».

Algumas das cenas são como que o ultrapassar das barreiras do tempo, se é que há muros para o tempo.

Autêntica barbárie, nas suas capas ancestrais, normandos e godos, com olhos de violência azul, sobem as arribas de Algoso, tendo ao alto o castelo de algum «hamlet» trasmontano, em ruínas hoje, mas soturno e denso ainda.

As minas de estanho de Ervedosa, onde em tempos homens morreram de silicose, um corpo desconjuntado e cercado por montes, com chapas de zinco atordoando ao vento e fios como veias rebentadas assomando da profundidade da mina.

Um garoto, o «Armandito», explorando esta paisagem de pesadelo e sem tempo, enquanto chove torrencialmente. A cena lúcida dos dois garotos a comerem pedaços de gelo numa ribeira: aparece-lhes um peixe congelado ainda com filetes de sangue riscando o dorso.

Mineiros com os seus capacetes pesados à vista, mirandeses e bragançanos com as capas nobres, reúnem-se na «Domus Municipalis de Bragança», arquitecturalmente única na Europa.

A Idade Média e Hoje, marcaram ali encontro. «É a primeira vez que vejo «mirandeses», diria, impressionado, um mineiro.

A última cena do filme é uma homenagem ao comboio que, a resfolegar, chega, há quase meio século, a Duas Igrejas.

O comboio passa, o maquinista diz: «Se for necessário, fazemos uma marcha-atrás». Repetem-se as filmagens. O comboio acaba sempre por chegar a Duas Igrejas.

n/assinado

Jornal Diário de Lisboa, pág. 6, 17 de Fevereiro de 1975 (republicado em Celulóide, n.º 209, págs. 8-9, de 10 de Abril de 1975)

O Culto ao Porco em Trás-os-Montes

Pelourinho de Bragança, onde se encontra
 um exemplo das esculturas
pré-históricas representando figuras porcinas.
Os berrões ou varrascos são esculturas zoomórficas de javalis, javardos, porcos. O facto de ser o animal de mais ampla representação no período da pré-história na Península Ibérica demonstra a evidência da veneração que suscitava em tão recuada época. O investigador Santos Júnior trouxe ao nosso conhecimento a existência de cinquenta e três berrões, dos quais quarenta e nove achados em Trás-os-Montes e na Beira Alta. Posteriores trabalhos arqueológicos desenterraram mais nove até ao ano de 1981.
Como sabemos, e os magníficos exemplos existentes no Nordeste o provam, a porca e o porco eram elementos totémicos dos povos que há milhares de anos habitaram a região, rendendo-lhe culto porque acreditavam nas suas virtudes de protecção contra o desconhecido, o misterioso, daí conceberem esculturas a honrá-los e solicitar-lhe permanente auxílio.
Na opinião de especialistas de várias áreas do saber o fascínio tem as suas raízes no facto de a porca simbolizar a fecundidade, a abundância e o princípio feminino da reprodução. A divinização da porca e do porco vem dessa arreigada ideia, daí derivando signos imanentes da fertilidade: as porcas, os porquinhos e berrões.
Os berrões ou varrascos são esculturas zoomórficas de javalis, javardos, porcos. O facto de ser o animal de mais ampla representação no período da pré-história na Península Ibérica demonstra a evidência da veneração que suscitava em tão recuada época.
Escultura de varrasco exposta
na Plaza de Alcizar em Avila
O investigador Santos Júnior trouxe ao nosso conhecimento a existência de cinquenta e três berrões, dos quais quarenta e nove achados em Trás-os-Montes e na Beira Alta. Posteriores trabalhos arqueológicos desenterraram mais nove até ao ano de 1981.
Nas Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal, acerca dos berrões refere: “Há na província de Trás-os-Montes umas esculturas zoomorfas em pedra, granítica geralmente, representando quadrúpedes, conhecidos pelo nome de Porcos ou Porcas, segundo indica a marcação sexual, nitidamente definida em muito exemplares, se bem que noutros é incognoscível.”
“Parece ser no distrito de Bragança onde abundam mais: são já conhecidas dezasseis…”
“Em algumas partes aparecem estas esculturas ligadas a pelourinhos, como a Porca da Vila de Bragança, que serve de suporte ao desta cidade, e a da Torre D. Chama, mas nenhuma relação tem uma coisa com outra: os pelourinhos são medievais e posteriores e os quadrúpedes em questão remontam à pré-história, contando, portanto, milénios de antiguidade. Têm grande importância como documentação, primária talvez, da arte ibérica, além do significado étnico.”
Relativamente ao culto ao porco em Trás-os-Montes aduz:
“Nada admira que um povo primitivo, residente na área transmontana, prestasse culto ao porco, sem dúvida ainda hoje o animal mais prestadio da culinária transmontana; a sua melhor caixa económica, que se alimenta com todos os rebotalhos, assimilando tudo e tudo restituindo centuplicado com presunto, toucinho, unto, manteiga, lombo, salpicões e tabafeias divinais.
Não admira que este povo adorasse o porco, se ele á a base da sua alimentação, se este povo diz ainda hoje que se Deus viesse à terra, o melhor manjar a dar-lhe seria lombo de porco; se este professa o rifão; das carnes o carneiro, das aves a perdiz e, sobretudo, a codorniz, mas se o porco voara não havia carne que lhe chegara?! Não creio que haja ateus, pois os que como tais se apresentam professam superstições que são a escória da crença na divindade pura; mas se algum infeliz destes há, que venha a Trás-os-Montes e veremos se é capaz de resistir ao argumento divinal do lombo, salpicões e tabafeias dos Santos ao Natal, preparados segundo os preceitos da culinária local.
Entendo pois que a Porca da Vila de Bragança e similares ídolos, são restos de um culto totémico vigente outrora…”

in:testes.virtuasom.net

Biografia de Amadeu Ferreira é apresentada em Bragança

Biografia de Amadeu Ferreira é apresentada em Bragança

As obras O Fio das Lembranças – Biografia de Amadeu Ferreira, de Teresa Martins Marques, e Belheç / Velhice, último livro de Amadeu Ferreira, são apresentadas este sábado, 28 de Março, em Bragança. A sessão decorre pelas 11:30 horas, no Centro Cultural Municipal Adriano Moreira.

A biografia de Amadeu Ferreira, escritor e vice-presidente da CMVM falecido no passado dia 1 de Março, será apresentada por António Jorge Nunes, antigo presidente da Câmara de Bragança e amigo do biografado, enquanto Teresa Martins Marques, investigadora do CLEPUL (Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, fará a apresentação da obra bilingue Belheç / Velhice, em mirandês e português, publicada sob o pseudónimo Fracisco Niebro.

Em baixo seguem as sinopses dos livros

O Fio das Lembranças – Biografia de Amadeu Ferreira, de Teresa Martins Marques
Esta é a biografia de Amadeu Ferreira (Sendim, 29 de Julho de 1950 – Lisboa, 1 de Março de 2015), professor universitário, jurista, vice-presidente da CMVM, mas também escritor – poeta, romancista, contista, dramaturgo, ficcionista, ensaísta – e tradutor, assumindo o seu nome civil ou vários pseudónimos: Fracisco Niebro, Marcus Miranda, Fonso Roixo. Grande divulgador da língua e cultura mirandesas, para além da própria obra literária, fez traduções para mirandês de Luís de Camões e Fernando Pessoa, da maior parte dos poetas portugueses do século XX, mas também dos latinos Horácio, Catulo e Virgílio, e de Os Quatro Evangelhos.
O livro assume ainda uma vertente de sociografia, ao focar: a infância na Terra de Miranda, mostrando a vida real em Trás-os-Montes, no Portugal profundo dos anos 50 e 60, que via na emigração a alternativa à miséria; a adolescência e juventude nos espaços opressivos dos seminários de Vinhais e Bragança, única saída para o prosseguimento dos estudos dos filhos dos pobres; a expulsão do seminário, por adesão empenhada às doutrinas renovadoras do concílio Vaticano II, em oposição às da hierarquia enfeudada ao concílio de Trento; alguns aspectos da sua intervenção no 25 de Abril e no 25 de Novembro; a militância partidária na extrema-esquerda, a passagem pelo Parlamento e a dissidência ideológica; o vazio, o recomeçar do zero, o curso brilhante de Direito, a carreira fulgurante na CMVM, o professor universitário, impulsionador da criação dos estudos dos Valores Mobiliários na Universidade e co-redactor do respectivo Código, com Carlos Ferreira de Almeida.
A recolha de materiais para esta biografia assenta, em grande parte, numa entrevista de 31 horas feita ao autor e a seus pais, filmada pelo cineasta Leonel Brito, bem como em mais de uma centena de depoimentos de personalidades que conviveram com o biografado e diversos estudos críticos incidindo sobre as obras de Amadeu Ferreira.

Belheç / Velhice, de Fracisco Niebro
Nos anos cinquenta do século XX, um velho de oitenta anos, numa aldeia transmontana, senta-se todos os dias no poial da sua porta de casa e vê passar o mundo nas pessoas da sua aldeia. Este livro pretende ficcionar o que esse velho teria escrito.
O original mirandês é acompanhado de um apoio para leitura em português. A obra, de Fracisco Niebro (pseudónimo de Amadeu Ferreira), tem ilustrações de Manuol Bandarra.

in:altm-academiadeletrasdetrasosmontes.blogspot

Panegírico à Vida em Belheç/Velhice de Fracisco Niebro (Amadeu Ferreira)

Norberto Veiga[1]

“A velhice não afasta necessariamente os homens da vida ativa porque há
uma atividade muito própria dos velhos: muitos continuam a servir
a pátria com a sua prudência e autoridade; outros entregam-se ao estudo
das letras e das ciências; alguns, ao cultivo das terras”.
[Cícero, De Senectute, sublinhado meu][2]

Manuel da Fonseca num dos contos da obra O fogo e as cinzas, “O Largo”, escreveu “o Largo era o centro do mundo”. Parece-me ser essa a intenção de Fracisco Niebro, no introito da obra, ao colocar o protagonista do relato, “um velho”, enfatizo a utilização do determinante indefinido, sentado na ombreira da sua porta, isto é, na rua, que dá para um largo [8] da qual faz o centro do “seu” mundo. O velho assume na primeira pessoa o relato da vida, com laivos autobiográficos do autor. Embora o mundo, para ele, seja tão só a sua aldeia, “Nos meus oitenta anos quase não saí daqui. O mundo é grande. (…) Por isso, o centro só pode ficar onde ponho a ponta da minha bengala” [30]. Esta ideia é, de novo, reforçada na página 52, onde se lê: “Passo os dias sentado no poial de pedra da rua: quem passa olha para mim”. Esta atitude reflexiva do velho, sobre as pessoas da sua aldeia, coloca o leitor, por sinédoque, perante o espetáculo do mundo e leva-o à autognose. A tarefa é árdua mas ele não desiste de recordar/escrever para nos questionar: “Desde que estou aqui sentado na rua já passaram mais de cem pessoas” [98].  
Qual é, então, o propósito do velho/da obra? As intenções são várias. Em primeiro lugar, reiteramos a questionação do leitor para o levar à reflexão sobre a vida e a melhor forma de a “merecer”. Por isso, o autor nos faculta uma espécie de manual, isto é, uma carta de intenções que, segundo creio, constituiu a sua filosofia/ideias de vida, fixada na página 38, sempre atual e de muita utilidade para o cidadão hodierno.
A reflexão do velho, escrita com grandes dificuldades físicas, é feita em flashback recordando as memórias do passado para chegar à desconfortável conclusão: “Há coisas, por exemplo cantigas, em que já não caibo, mundos que parecem já nada querer ter a ver comigo” [8]. Estas palavras trazem à memória do leitor a réplica de Beresford a Principal Sousa, da obra Felizmente Há Luar! de Luís de Sttau Monteiro: “O velho está sempre a ceder perante o novo e o novo sempre a destruir o velho”[3]. Parece-me que é também para isto que a personagem/narrador velho escreve, ou seja, para ser memória futura do povo e das tradições que enformaram a sua vida e que persistem em continuar, apesar da veracidade das palavras de Beresford.
Por conseguinte, o velho, ciente do inexorável curso de Apolo, decide perpetuar a sua memória através da escrita, como o autor afirma: “Depois, veio-me a vontade de escrever”, que lemos na segunda página da obra [8]. Esta vontade, em meu juízo, traduz-se em dois propósitos: o primeiro, em não deixar morrer as tradições e a língua de um povo, pelas quais o autor se bateu, de forma abnegada, ao logo da sua vida; o segundo cumpre-se no legítimo e almejado desejo do homem, Amadeu Ferreira, em nos legar uma obra perene que jamais possa ser ignorada. Esta postura lembra o tópico da imortalidade que se adquire pelo valor da obra literária, imortalizado na ode XXX, do livro terceiro de Horácio[4].
O ato de escrita aprece-nos, nesta obra, associado ao alimento que prende o escritor à vida: “escrever é como um alimento que me vai mantendo vivo, tal como a bengala me permite manter-me de pé” [56]. Logo, a escrita, aliada à sabedoria da palavra, que é equiparada a diamante que brilha [20], remete, em minha opinião, para a possibilidade de a literatura transformar o mundo real. Pois, como assevera Vítor Aguiar e Silva, na obra Teoria da Literatura: “O escritor, ao emitir o seu texto não só transfigura o real nomeado ou aludido, mas reinventa e instaura o próprio real, o real absoluto, com a urdidura encantatória do seu discurso[5]”. Nesta postura do escritor fulge a figura de Prometeu que, latu sensu, simboliza a capacidade de a comunicação literária contribuir para transformar o real, o real antropológico e o real histórico-social. Estas palavras do autor de Velhice corroboram estes preceitos: “Gostam de sentir que as histórias têm uma vida diferente, como os sonhos. As histórias ensinam a sonhar e falam de um mundo tão diferente que fazem nascer a vontade de mudar aquele em que vivemos” [108]. No entanto, esta força performativa da palavra pode ser ineficaz se o leitor se recusar a aceitá-la, como se depreende das palavras do autor: “Pensamos que já sabemos tanto que nunca somos capazes de encontrar um espaço para aprender” [64].
Na base destas preocupações patenteia-se a ideia angustiante do esquecimento que para o escritor se assemelha à morte: “Estar só não é morrer, é não nascer. Uma pessoa morre quando já ninguém olha para ela” [32][6]. Creio não restarem dúvidas aos leitores mais assíduos da obra de Amadeu Ferreira que a sua luta, ou melhor a sua escrita, foi sempre esta pugna hercúlea contra o esquecimento, que, não raras vezes, dói mais que a própria morte. É por esta ordem de razões, que se aceita que toda a vasta produção literária de Amadeu Ferreira, e esta em particular, foi animada pelo anseio de se “libertar da lei morte”.
Outro grande filão do livro cumpre-se no título desta crítica, isto é, o elogio da vida, sempre associado à ousadia e à vontade de querer vencer e antecipar o futuro, pois: “Apenas é nosso o que fazemos porque o queremos” [50]. Este encómio à vida está patente nas palavras do autor: “Quando olho para trás e vejo o que ficou, sorrio. Houvesse quem fora capaz de sorrir e olhar para a frente… Nada há tão difícil como isso. Olhar para diante mete medo. E com medo ninguém sorri com vontade. E quando ninguém sorri, as coisas e a vida ficam tão pesadas que custam a suportar” [44, sublinhado meu]. Mas por mais espinhosa que seja a nossa missão, em vez de desistir devemos recomeçar, uma vez que: “Quando se perde a vontade de começar, começamos a morrer” [46]. E Amadeu Ferreira foi um exemplo acabado desse recomeçar, porque a energia e a força telúrica, imortalizada por Torga, que sorvia das arribas do Douro, o impelia a “nunca contentar-se de contente”.
Todavia, uma certa desilusão atormenta o escritor, porque ninguém pensa nada, “Para pensar, há que parar. (…) E como ninguém pensa, nada muda” [28]. Registe-se que o sofrimento está associado à lucidez e à inquietação das pessoas, pois “quem mais sabe mais sofre.” (cf. Pessoa “Se estou só, quero não estar”). O ato de cogitar aumenta o conhecimento e, por conseguinte, o sofrimento: “Até os velhos, porque pensam mais, morrem mais depressa” [28]. O velho acaba por sucumbir ao afirmar: “Por vezes sabe muito bem uma pessoa não se lembrar de nada e ficar encandeada com coisas tão pequeninas como florzinhas de telhado” [126].
Ouso, pois, afirmar, sem ambages e dissídios, que Fracisco Niebro/Amadeu Ferreira se “libertou da lei da morte” e continuará perenemente, como lembra Horácio, a viver na vastíssima e riquíssima obra que nos legou. Pois ele, mais que outrem, teve a coragem de “não morrer”, como se infere das suas palavras: “Apenas há um segredo para uma pessoa não morrer: agarrar-se a uma ideia com tanta força que não mais se desprenda” [34]. Creio não andar longe da verdade ao afirmar que “a ideia” a que Amadeu Ferreira se agarrou foi a difusão e a ratificação da Língua Mirandesa.
Termino apelando à leitura da obra deste ilustre Transmontano/Mirandês na qual são audíveis os ecos de uma luta contínua contra a resignação, o determinismo e o fatalismo, instigando-nos a assumir uma atitude de trabalho abnegado, norteado pelos valores e pela ética, alicerces de qualquer sociedade.

Bragança, 25 de março de 2015

[1] Doutor em Literatura Portuguesa, Universidade de Salamanca.
[2] O diálogo Cato Maior ou De Senectute de Cícero é, segundo Gérard Genette, Palimpsestes, o hipertexto da Belheç/Velhice de Fracisco Niebro.
[3] MONTEIRO, Luís de Sttau, Felizmente Há Luar!, Areal Editores, 1999, pág. 54.
[4] O poeta latino Horácio, nesta ode, fala da importância da obra literária que resistirá, como nenhuma outra, às intempéries naturais e, consecutivamente, ao esquecimento.
[5] AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel, Teoria da Literatura, Livraria Almedina, Coimbra, 1988, 8.ª Ed.ª, p. 334.
[6] Leia-se o poema de Fernando Pessoa, que aqui reproduzo, por me parecer que encerra a mesma filosofia de vida que Fracisco Niebro/Amadeu Ferreira defende nesta e em todas as suas obras: “A morte é a curva da estrada, / Morrer é só não ser visto. / Se escuto, eu te oiço a passada / Existir como eu existo. // A terra é feita de céu. / A mentira não tem ninho. / Nunca ninguém se perdeu. / Tudo é verdade e caminho.” (Sublinhado meu) PESSOA, Fernando, Poesias, Ática, Lisboa, 1942 (15.ª ed.ª 1995), p. 142.

in:altm-academiadeletrasdetrasosmontes.blogspot.pt

Feiras dedicadas ao folar superam expectativas

Este fim-de-semana, foram muitos os transmontanos já adquiriram folar, a pensar na Páscoa. A Feira do Folar de Valpaços realizou-se pela 17ª vez.
Os expositores garantem que a qualidade do produto se reflecte nas vendas e a organizou superou as expectativas. 
O presidente da Câmara Municipal de Valpaços, Amílcar Almeida, acredita que esta foi a melhor feira sempre. “Pela primeira vez, sábado conseguimos esgotar em alguns stands. Foi um sucesso. Eu diria que foi a melhor feira que algum dia se realizou no concelho de Valpaços e continuo a querer acreditar que é a maior feira gastronómica de toda a região Norte”, sublinha.
Presente na abertura do certame, o secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, Leal da Costa, enalteceu o impacto económico da iniciativa e a qualidade dos produtos em destaque “para a economia local e nacional”. 
Em Izeda a feira do folar, promoveu este ano, pela primeira vez, o azeite regional. O certame, que se realiza na Escola Básica da vila, tem vindo a crescer em número de expositores, no entanto, o presidente da União de Freguesias de Izeda, Calvelhe e Paradinha Nova, Luís Fernandes, reclama construção de um pavilhão multiusos, de forma a ampliar a feira. “Houve expositores que foram recusados por falta de espaço. Na tenda exterior este ano tivemos de colocar muitos expositores nesta tenda, o que quer dizer que o pavilhão que temos disponível não é suficiente. É uma reivindicação que fazemos para que Izeda possa vir a ter um pavilhão de maiores dimensões que permita albergar esta feira e ajudá-la a crescer”, refere o responsável autárquico.
Uma ideia que não é totalmente posta de parte pelo presidente do Município de Bragança, Hernâni Dias, que sublinha que esse terá de ser um projecto ponderado e que dependerá da disponibilidade de fundos comunitários. “É necessário perceber se há esse crescimento que obrigue a que haja outro tipo de condições”, frisa o autarca. 
Na Feira de Izeda foram vendidos cerca de 4500 quilos de folar. Já na Feira de Valpaços venderam-se cerca de 50 toneladas deste produto, no fim-de-semana. 

Escrito por Brigantia

Memória Paroquial de Carviçais - 1758

"Um aviso de 18 de Janeiro de 1758 do Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Sebastião José de Carvalho e Melo, fazia remeter, através dos principais prelados, e para todos os párocos do reino, os interrogatórios sobre as paróquias e povoações pedindo as suas descrições geográficas, demográficas, históricas, económicas, e administrativas, para além da questão dos estragos provocados pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755. As respostas deveriam ser remetidas à Secretaria de Estado dos Negócios do Reino. As respostas ao inquérito terão sido levadas para a Casa de Nossa Senhora das Necessidades, em Lisboa, da Congregação do Oratório, para serem trabalhadas pelo Padre Luís Cardoso (?-1769)."
O interrogatório à povoação de Carviçais ficou a cargo do Abade João Domingos Espinhosa, comissário do Santo Ofício, abade de Santa Maria de Mós, com residência em Carviçais, o qual foi redactor da Memória de Carviçais (Moncorvo), a qual aqui se apresenta uma transcrição(3):

Notícias que se alcançaram nesta terra de Carviçais
João Domingos Espinhosa comissário do Santo Ofício Abade de Santa Maria de Mós e sua anexas com residência nesta da Carviçais no termo de Mós, certifico em como informando-me com as pessoas que me pareceram mais noticiosas sobre o que se pretende saber de ___ e que contém o interrogatório incluso e pertencente a este lugar, delas alcancei umas outras que ___são as seguintes. Fica este lugar ___ na Província de Trás-os-Montes, Arcebispado Primaz de Braga, Comarca da Torre de Moncorvo, termo da Vila da Mós e é freguesia independente de outra antes, dela dependem alguns moradores que vivem em quintas onde guardam os seus gados, distantes algumas da freguesia uma légua, outras, mais, outras menos, os quais vêm todos á missa nos dias de preceito Matriz onde se desobrigam. E de Donatário, é de presente o __António de Sampaio, Fidalgo de Vila Flôr, o cujo pertence cobrar os foros que se lhe pagam. Tem 260 fogos, e há vizinhos pessoas maiores 730, e menores 130. Está situada em campina da qual se descobrem a povoação de Meirinhos que dista duas léguas, a Vila de Mogadouro quatro, Valverde duas e meia, Figueira quatro, a Vila de Alfandega da Fé quatro, ____seis e também se descobrem sete bispados, Miranda, Lamego, Viseu, Guarda, e o de Braga onde está situada, todos deste Reino, e do de Castela, Salamanca e Cidade Rodrigo, cujas distancias não achei com clareza. É do termo da Vila de Mós e não compreende aldeia alguma. Como dito fica no terceiro interrogatório e satisfazendo ___ fica desta a Paróquia dentro e no meio do lugar. O seu Orago é o de Nossa Senhora da Assumpção em 15 de Agosto. Tem cinco altares, como vem a saber, o maior da desta Senhora, e Santíssimo Sacramento, o da Senhora do Rosário, no qual está também o de São Sebastião, o das Almas, o de Santo António e o de São Bartolomeu onde estão também São Crisóstomo, no maior está também Santo Agostinho fazendo correspondência à de Santo Onofre e Senhora da Assumpção está em ___do mesmo altar e por cima do tabernáculo o menino Deus, e no lado direito ao andor da capela maior está Santa Luzia____ fazendo correspondência a Santa Maria Madalena fica fica em outro no lado esquerdo. Todos os referidos altares bem decorados que ser a Igreja faustosa, que tem 4 naves e _____ com vidraças e bem ___ de sepulturas que no tempo presente é das mais luzidas desta comarca. Tem duas irmandades, uma das Almas e outra da Senhora do Rosário.
O pároco presente é o abade de Mós, por ser sua anexa e ter licença do senhor ordinário a sua creação foi de Cura anual. Por tempos teve vigário ad nutume interpoladamente apresentado pelos ___ de Mós e o de presente tem sua para coadjuvar e quando tomou posse do Beneficio que veio logo a residir e___ a Igreja achou-a com encomendação de ____ por ter sido o último pároco vigário ad nutum apresentado pelo último Abade de Santa Maria de Mós e de todos os que alcançaram o tal Benefício que é do Padroado Real(2) vem a ser a apresentação desta Igreja cujo direito sempre conservaram e dos mais anexos, como é da do Souto da Velha e da do Felgar, onde sempre os antecessores do Abade presente residiram e apresentaram Curas anuais na Igreja Matriz de Mós Cabeça da Abadia, e o mesmo se observa de presente:Terá de renda uns anos por outros de cinquenta até sessenta mil réis"
Não tem beneficiados Conventos nem Hospital. Porém «tem Casa de Misericórdia, consta somente de 12 irmãos, 1 dos quais serve de Provedor que à sua conta faz todos os gastos no dia dos Santos Passos no quarto Domingo da Quaresma para os quais tem todas as imagens notáveis e se costuma fazer com todo o primor e silêncio. A renda que tem não excede a quantia de 8.000 réis em cada ano e a dita casa está situada no meio do lugar."
Tem duas ermidas. Uma do Divino Espírito Santo onde se faz o Sermão do Calvário, e outra da Santa Bárbara. Ambas estão fora, mas perto do lugar. Sítios de onde se descobrem, os bispados, vilas e lugares, referidos no quarto interrogatório. Porém não acede a eles, imagem alguma.
Os frutos que em maior abundância se colhem é pão e castanhas. Porém de azeite e vinho medianamente. 
«Tem 1 juiz ordinário que vai fazer audiência na semana à vila de Mós e o desta a faz na outra nas Sextas Feiras de cada uma, vereadores todos os anos assim deste lugar (Carviçais) como da vila que fazem câmara com o procurador do concelho, o qual é ora da vila, ora de Carviçais, conforme a eleição que se faz de 3 em 3 anos", pelo corregedor da Torre, da qual antigamente faziam os mesmos moradores com assistência do ouvidor de Vila Flor, posto pelo Senhor da mesma vila."
Há noticia de ter morrido na Vila da Freixo de Espada à Cinta um homem que fora moleiro e natural deste lugar, no qual se diz está o seu corpo inteiro, cujo nome não pude alcançar, somente que se chamava Alonso por alcunha de Tretas. Sabia o Padre Serafim Luís Salgado, que foi pregador de nome, depois de ter estado na Congregação da referida Vila e hoje se acha Abade de Espinhosela no Bispado de Miranda, porém por armas não consta. Vide in fine
Serve-se do correio da Torre de onde dista duas léguas. Porém como o de Miranda passa por este lugar___ as tras e leva as cartas por mercê(?) a quem o quer fazer.
Dista de Braga trinta léguas, e de Lisboa sessenta e oito.
"Tem o privilégio de lavrarem e semearem montados chamados maninhos(1) sem pagarem renda alguma mais do que a dizima a Deus." Coisas dignas de memória, o de se fabricar ferro bravo, e por outro nome çatico sem para isso ser necessário aos fabricadores comprar a pedra de que se faz, por se achar no Cabeço da Mua, nem cêpa para o carvão e há duas fábricas dele.
Também saiu desta terra por Letras, e assiste na Cidade de Coimbra onde é opositor a cadeiras Manuel António Sobral doutor de capelo na Faculdade de Medicina. Veja-se o interrogatório décimo-oitavo, em cujo lugar se havia de por esta última notícia.
Estas são as notícias que achei pertencentes somente a este lugar, as quais vão sem breve alguma na forma que se pediram e assinadas pelos mesmos que as deram.

Carviçais, 6 de Abril de 1758
Abade João Domingos Espinhosa
Manuel Gonçalves Branco

ESPINHOSA (1758) - ESPINHOSA, Abade João Domingos, “Carviçais”, in: Dicionário Geográfico, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, vol. 9, nº. 181, pp. 1143-1146, 1758.04.01. 

(1) terreno aberto e improdutivo ou que só produz mato e plantas silvestres, charneca, descampado. sem proprietário, pertencente a logradouro público

(2) sobre o padroado http://www.aatt.org/site/index.php?op=Nucleo&id=192

(3) A transcrição não obedece a qualquer critério cientifico, nem respeitas as regras de paleografia. É tão só um mero exercício de paixão pela história da povoação, e não pretende ser mais do que uma simples achega à curiosidade de quem tenha pouca paciência para a caligrafia do senhor Abade. As pontuações e alguns parágrafos são recreação do autor da transcrição, numa ténue tentativa de dar mais sentido a algumas frases, as quais não têm qualquer pontuação.

in:morgados.com.sapo.pt

O olharapo

Nas lendas transmontanas, há uma figura sinistra frequentemente referenciada: o olharapo. Como aparece em vários livros meus, amiúde me questionam, especialmente as crianças, sobre tal criatura.
Trata-se de um gigante antropófago, violento e feroz, que tem a particularidade de possuir um único olho no centro da testa. As lendas situam os olharapos nas montanhas de Trás-os-Montes e da Galiza, onde noutros tempos inquietavam pastores e outros seres indefesos. O que lhe sobra em força e em tamanho, falta-lhe em produtividade e, sobretudo, em inteligência. 
A tradição popular reconhece também a existência da olharapa. Por vezes, o olharapo é ainda designado por “olhapim”. Daí que, no concelho de Vinhais tenhamos ouvido este provérbio: “Na terra dos olhapins, quem tem dois olhos é rei”. Esta figura do maravilhoso transmontano apresenta algumas semelhanças com a figura dos “ciclopes”, que eram seres da mitologia grega, filhos do Céu e da Terra e a quem, devido à sua força sobre-humana, era atribuída a construção de imponentes muralhas, que, por isso, se chamavam “ciclópicas”. 
Segundo a mitologia grega, Júpiter empregava os “ciclopes” na fabricação do raio, razão por que estes terão sido mortos por Apolo que, dessa forma, vingou a morte do seu filho Esculápio que fora fulminado por Júpiter.

(Bibliografia: PARAFITA, A. – A Mitologia dos Mouros, Gailivro, 2006)

Livro dos Forais Novos de Trás-os-Montes. Portugal, Torre do Tombo.

Contém os forais de: Alfândega, Anciães, Avreiro, Gestaçô, Arêgos, Aguiar de Pena e seus anexos, Água Revés, Atei, Bemposta, Baião, Benviver, Barqueiros, Bragança, Chamoa, Castro Vicente, Chacim, Couto do Paço, Cerva, Castelo de Piconha, Chaves, Cortiços e Cervadela, seu anexo, Ervedosa, Ermelo, Freixo de Espada à Cinta, Frechas, Favaios, Freixiel, Fontes, Jales, Lomba, Alijó, Lamas de Orelhão, Lordelo, Miranda, Mogadouro, Monforte do Rio Livre, Murça, Mirandela, Moncorvo, Mós, Moura Morta, Mondim, Mesão Frio, Montalegre e terra de Barroso, Outeiro de Miranda, Lordelo, Paço, Penerroias, Prado, Penaterra, Penaguião e Fontes e Godim, seus anexos, Galegos, Godim, Ermelo, Sesulfe, Soalhães, Santa Maria de Azinho, São Seriz, Teixeira, Vinhais, Vilas Boas, Vila Flor, Ulgoso, Vila Nova de Cerveira, Vilarinho da Castanheira, Vila Boa de Roda, Vale das Águas ? da Ordem de São João, Vila Real, Vimioso.

Fotógrafos captam imagens do Douro Internacional e Montesinho para reunir em roteiro turístico

Um grupo de fotógrafos amadores e profissionais estiveram este fim-de-semana a registar com um olhar diferente e de máquina em punho alguns dos melhores locais dos parques naturais de Montesinho e do Douro Internacional.
O objectivo é reunir as melhores fotos num roteiro turístico da região. Uma iniciativa do Turismo do Porto e Norte de Porte, que ontem se focou no Parque Natural do douro Internacional. Para que a informação sobre o vasto património do Douro Internacional esteja mais facilmente acessível é preciso disparar muitas vezes. 
Estas imagens reflectem o que chamou a atenção de quem está a conhecer e vão guiar outros turistas, integrando um roteiro para promover o Norte do país.
A encaminhar o grupo que ontem visitou e fotografou alguns locais de interesse do Parque Natural do Douro Internacional, segue João Nunes, vigilante do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas destaca diversos pontos de interesse na zona protegida. “Esta região, por ser humanizada, tem a particularidade de ter elementos naturais, mais culturais. Temos uma língua uma cultura, uma arquitectura, um 'modus vivendis' e depois, a nível natural, temos as escarpas do Douro que são de uma riqueza ímpar para a nidificação de várias aves, temos uma flora ímpar. 
E tudo isto são, no fundo, pequenas pérolas que se podem explorar durante todo o ano”, entende o vigilante da natureza. 
Natural de Aldeia Nova, Miranda do Douro, João Luís, que já escreveu um livro sobre a localidade, faz por vezes de guia improvisado. “Muitas vezes, mas não podemos considerar guia eu sou um informador, gosto de informar, sobre o que há aqui na zona e daquilo que mais gosto que é a biodiversidade, que somos muito ricos nesse sentido”, frisa. 
Nuno Rêgo de Valongo é um dos sete participantes. Já tinha estado na região, mas acha que o concurso é uma boa maneira de conhecer melhor o local. “Se calhar com um bocado de pesquisa encontramos mas é uma boa maneira de vir conhecer mais facilmente com o guia, no caso os vigilantes que acabam por ter mais conhecimento”, refere. 
As fotos de Nuno ou de um dos outros 6 companheiros do circuito fotográfico vão ilustrar a paisagem do Douro Internacional mostrando as suas maiores potencialidades num guia. Esta é uma reportagem que pode ouvir esta segunda-feira depois do noticiário das 17 horas e ler na edição desta semana do Jornal Nordeste. 

Escrito por Brigantia

Centro de Arte Contemporânea Graça Morais

HISTÓRIA
O Solar dos Vargas


O Solar dos Vargas é um dos belos exemplos arquitectónicos apalaçados setecentistas. Esta casa solarenga, que frequentemente se pode encontrar no Norte do país, exibe, em todos os seus pormenores, o tipo de arquitectura do género em Portugal nos finais do séc. XVII e começo do séc. XVIII. Antiga residência da família Vargas, que conta entre os seus ancestrais, homens da política nacional e negócios, médicos e professores ilustres de Bragança, localiza-se em pleno centro histórico da cidade de Bragança (Praça da Sé), na Rua Abílio Beça, nº105. 
O seu último residente e proprietário foi o Dr. Diogo Albino de Sá Vargas, antigo professor do Liceu Passos Manuel, em Lisboa. Natural de Bragança, filho do Dr. José Marcelino Sá Vargas e de D. Maria Augusta Pereira de Castro Sá Vargas, faleceu em 12 de Março de 1939, na capital do país. 
Este homem de vasta cultura e paixão pelas artes e letras doou em testamento cerrado, em 13 de Outubro de 1936, o seu vasto património e espólio familiar a diversas instituições do concelho e distrito como o Museu Militar e Santa Casa da Misericórdia de Bragança e Macedo de Cavaleiros. 
Detentor de uma excelente biblioteca, que na ocasião da sua morte estava repartida entre Lisboa e Bragança, e de uma importante colecção de objectos em prata e móveis antigos, legou estes bens à Biblioteca e Museu Regional de Bragança com a obrigação de se declarar pertencerem à Família Vargas. Também ao Hospital de Macedo de Cavaleiros impôs, no seu testamento, a obrigação de instituir no Liceu Emídio Garcia um prémio anual de trezentos escudos (valor hoje irrisório, mas que na altura era significativo), em memória de seu pai, que foi reitor desse mesmo liceu para ser atribuído ao melhor aluno do último ano. 
O imóvel da família Vargas, que passou a ser pertença da Santa Casa da Misericórdia de Bragança – entre outros bens deixados por óbito a esta instituição de caridade pelo Dr. Diogo Sá Vargas – acabaria por ser avaliado pelos Louvados em 72.000. 
O edifício setecentista foi posto à venda em praça pública com uma base de licitação de 249.000, tendo sido arrematado pelo Banco de Portugal na pessoa do seu Director Dr. José António Furtado Montanha, representado no acto por procuração, no valor de 250.000. 
Antes mesmo da intervenção e adaptação para sede do Banco de Portugal, o solar tinha já sofrido algumas alterações estruturais na frontaria, mormente na adaptação do seu rés-do-chão para fins comerciais, tendo então sido substituídas as janelas por portas sem estilo, acabando por destoar no conjunto deste emblemático edifício. 
Na transformação projectada para Banco de Portugal, uma intervenção da autoria do arquitecto Manuel da Rocha Casquilho, teve-se em conta a traça primitiva do antigo solar, repondo-se as antigas janelas à face do chão e na prumada das varandas do 1º andar, procurando valorizar-se a fachada principal seguindo os padrões originais da época. De referir ainda o arranjo dos espaços interiores no hall de entrada e gabinete dos agentes, no rés-do-chão. 
Antes mesmo do início das obras, o Banco de Portugal, com sede em Lisboa, na Rua do Comércio, requereu à Câmara Municipal de Bragança a licença para a execução das mesmas em 13 de Maio de 1943. Do cálculo efectuado nos serviços de Taxas e Licenças a aplicar nas obras, em função do prazo de 18 meses e da superfície de 1200m2, resultou a quantia de 5.562$50.

Alda Berenguel

Primeiros proprietários – Os Veiga Cabral 
No local onde se situariam as casas de morada de Sebastião da Veiga Cabral viria a ser erguida, no segundo quartel do século XVIII, a nova casa de família. De gosto tipicamente oitocentista, de fachada linear e harmoniosa na qual se rasgam várias janelas-portada, a casa, de dois pisos, situada na então conhecida por Rua de Trás e com comunicação para a Rua Nova, teria sido mandada edificar por Francisco Xavier da Veiga Cabral e Câmara, filho do referido Sebastião da Veiga Cabral e de sua terceira mulher D. Maria de Figueroa. Foi Sebastião da Veiga Cabral o primeiro desta família que se estabeleceu nesta cidade, dando origem a um tronco familiar de grande notoriedade no campo bélico, eclesiástico e social. Nascido em Lisboa, foi Mestre de Campo (1691), General de Artilharia (1700) e veio a ocupar o cargo de Governador das Armas da Província de Trás-os-Montes. Através dos seus matrimónios estabeleceu alianças com a principalidade de Bragança. Do seu primeiro matrimónio com D. Maria de Castro e Morais, liga-se aos Morais, de Tuizelo e Vinhais; do seu segundo casamento com D. Mariana de Mariz Sarmento, nasce a união aos Figueiredo Sarmento, Alcaides-mores da cidade. Com D. Maria de Figueroa, sua terceira consorte, reata ainda mais esta ligação familiar pelo parentesco desta com a família de sua segunda mulher. 
O referido seu filho Francisco Xavier da Veiga Cabral e Câmara, primeiro proprietário do actual edifício, nasceu em Bragança em 9 de Dezembro de 1690, cidade onde também faleceu em 18 de Dezembro de 1761. Tal como seu pai, seguiu a carreira das armas, serviu como Governador das Armas das Províncias de Trás-os-Montes e Minho e foi Marechal de Campo. Fidalgo da Casa Real, Comendador de Nossa Senhora da Conceição e de Santa Maria de Deilão, São Bartolomeu de Rabal e Almas de Baçal, na Ordem de Cristo. A primeira referência que dele se encontra surge no Decreto de 26 de Novembro de 1704 em que lhe é dada a confirmação de Ajudante de Mestre de Campo Geral da Província de Trás-os-Montes. Posteriormente, a 8 de Agosto de 1735 e servindo já como Sargento-Mór, é promovido a Coronel do Regimento de Chaves. Pelos relevantes serviços prestados foi promovido a Sargento-Mór de Batalha em 12 de Janeiro de 1754, posto posteriormente designado como Marechal de Campo em virtude do Decreto de 5 de Abril de 1762. Em 5 de Novembro de 1731 casa com D. Rosa Joana Gabriela de Morais Pimentel, da Casa do Arco em Bragança, unindo-se, assim, a uma das famílias mais antigas da cidade. D. Rosa Joana nasceu na referida Casa do Arco, em 8 de Fevereiro de 1718, e faleceu a 4 de Junho de 1793, sendo filha de Domingos de Morais Madureira Pimentel, Fidalgo da Casa Real e Familiar do Santo Ofício, Comendador de São Pedro de Babe na Ordem de Cristo, senhor do morgadio do Arco e do Padroado de São Francisco em Bragança, e de sua mulher D. Luísa Caetana da Mesquita Pinto, natural de Mirandela, da casa dos morgados de São Tiago. Por morte de seu irmão José Manuel de Morais Pimentel, sem sucessão, sucedeu-lhe a mesma D. Rosa Joana no morgadio do Arco e demais senhorios de seus pais. Deste modo, a casa dos Veiga Cabral ficará intimamente ligada à casa do Arco. 
Do casamento do Marechal Francisco Xavier da Veiga Cabral com D. Rosa Joana Gabriela de Morais Pimentel nasceriam dezoito filhos, entre os quais merecem destaque Francisco António da Veiga Cabral e Câmara, 1ºVisconde de Mirandela (13 de Maio de 1810), Marechal de Campo (1781), Tenente-General (1792) e Governador da Índia (1794 a 1807), nascido em 10 de Setembro de 1733, falecido no Rio de Janeiro a 31 de Maio de 1810, sucessor na casa de seus pais e demais morgadios; Sebastião Xavier da Veiga Cabral, Marechal de Campo (1791), Tenente-General (1796) e Governador da Capitania do Rio Grande do Sul (Brasil), nascido em 22 de Julho de 1742, falecido no Brasil; e Dom António Luís da Veiga Cabral e Câmara, 27º Bispo de Miranda e 3º de Bragança (1793 a 1819), nascido em 10 de Setembro de 1758, falecido em São Salvador (Mirandela) a 13 de Junho de 1819. 
Na falta de sucessão de seus irmãos viria a ser herdeira das casas nobres da Rua de Trás e de todos os outros bens do casal, D. Joana Francisca Josefa da Veiga Cabral e Câmara, nascida em Bragança em 1758, falecida na sua casa do Arco a 14 de Outubro de 1819. Feita 2ªViscondessa de Mirandela, em verificação da segunda vida, em 13 de Maio de 1815, foi Comendadeira de Santa Maria de Bragança, Baçal e Santa Maria de Pena Águia no Bispado de Lamego. 
Casou a 17 de Janeiro de 1803 com António Doutel de Almeida, nascido em Lamego em 23 de Abril de 1775, Brigadeiro do Exército, Comendador da Ordem de Cristo, depois Visconde de Mirandela no Brasil em 19 de Dezembro de 1822, filho de António Venceslau Doutel de Almeida, Governador de Chaves e das Armas da Província de Trás-os-Montes, Fidalgo da Casa Real, Comendador da Ordem de São Bento de Avis, senhor dos morgados de Bragança e dos Eixes, e de sua mulher D. Maria Joaquina de Morais Madureira Sarmento, da casa de Parada. 
A falta de sucessão da última representante dos Veiga Cabral em Bragança e a administração dos inúmeros bens de família estão certamente na origem da venda que a Viscondessa de Mirandela fez em 1814 das casas da Rua de Trás a José de Sá Carneiro Vargas que passa assim a ser o seu novo proprietário. 

Os Sá Vargas – novos moradores 
A Casa, agora conhecida como Sá Vargas, assim como as propriedades e restantes bens que seriam prazo da antiga Casa Veiga Cabral são alienados a muitos particulares, com especial relevância para a compra efectuada por José de Sá Caneiro Vargas que, tal como vimos, procedeu à sua aquisição ainda em vida da Viscondessa de Mirandela, no ano de 1814. 
José de Sá Carneiro Vargas nasceu em Bragança em 18 de Dezembro de 1761, cidade onde também faleceu a 29 de Janeiro de 1824. Oriundo de uma família de cristãos-novos, abastados negociantes que granjearam grande notoriedade em particular no negócio da seda, foi Vereador da Câmara e Capitão de Ordenanças em Bragança. Opulento homem de negócio e grande proprietário, contribui com 500 alqueires de centeio e doze fardamentos nos donativos feitos pelos habitantes da cidade de Bragança e seu distrito para a luta contra os Franceses em 1809. Em 9 de Setembro de 1814 recebeu carta de brasão de armas de Sás, Vargas, Henriques e Costas. Estas armas podem ser vistas no quadro a óleo do Conselheiro Sá Vargas assim como em muita da prataria que faz hoje parte do espólio do Museu Abade de Baçal em Bragança. Foram seus pais Álvaro Carneiro Henriques, homem de negócio e proprietário, natural de Bragança, e Luísa Angélica, natural de Vinhais. Casou com Dona Maria Joaquina Rosa de Campos, natural da vila de Murça, filha de Henrique José da Silva e de sua mulher Dona Antónia Luísa de Campos, de origem cristã-nova. 
Os filhos de José de Sá Vargas não nasceriam, no entanto, na casa da Rua de Trás, mas sim na primitiva habitação familiar da Rua Direita, tendo-se mudado para aquela pelos finais do primeiro quartel de Oitocentos, possivelmente depois de algumas obras de remodelação a que a casa foi sujeita para albergar a numerosa família então composta pelos progenitores e seus filhos e pelo irmão de José de Sá Vargas, João de Sá Carneiro Vargas, que fora Juiz de Fora de Bragança. 
Entre os seus filhos merecem especial destaque três - António Júlio, José Marcelino e Diogo Albino de Sá Vargas – figuras de relevância na cena política e jurídica da sociedade portuguesa de Oitocentos. 
José Marcelino de Sá Vargas, nascido em Bragança em 14 de Agosto de 1802 e falecido em Lisboa a 26 de Agosto de 1876, foi Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra (1822), Presidente da Câmara dos Deputados e Deputado nas Legislaturas de 1836, 1840, 1848 e 1861, Par do Reino, Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça e Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça (1849), Ministro de Estado Honorário (1850), da Marinha e Ultramar (1860) e da Justiça (1871). Foi ainda Corregedor (1834) e Juiz de Direito em Bragança (1835), Lisboa (1841) e das Relações do Porto (1843) e Lisboa (1855). Teve um papel fulcral na manutenção da sede de distrito em Bragança, contrariamente ao proposto por Joaquim Ferreira Pontes, em 1849, e posteriormente por João Pedro de Almeida Pessanha que salientavam a necessidade de redução a dez do número de distritos administrativos do continente, formando um deles a província de Trás-os-Montes com sede em Mirandela. Do mesmo modo, Bragança deve-lhe, enquanto Ministro dos Negócios Eclesiásticos, a manutenção da sua diocese que então se encontrava vaga. O seu elevado sentido de responsabilidade fica claramente exposto na proposta de lei que apresentou em Maio de 1850, regulando a sucessão dos filhos naturais, documento de grande alcance social e elevada abrangência. 
António Júlio de Sá Vargas, outro dos filhos de José de Sá Carneiro Vargas, nasceu em Murça, em casa de seus avós maternos, em 2 de Fevereiro de 1811 e veio a falecer no Lombo (Macedo de Cavaleiros) a 22 de Outubro de 1880. Bacharel formado em Direito em 22 de Junho de 1837, foi Delegado do Procurador Régio e Juiz de Direito. Por decreto de 28 de Agosto de 1845 foi nomeado Delegado da Comarca de Chacim, cargo de que foi exonerado, a seu pedido, por decreto de 15 de Março de 1854. É provável que o pedido de demissão fosse motivado pela supressão então da comarca de Chacim, em cuja área, na povoação do Lombo, António Júlio tinha um grande casal, de que não quereria separar-se, e também como forma de protesto. De sua autoria conta-se uma Memória acerca de Balsemão (Bragança, 1859). 
O último dos filhos varões de José de Sá Carneiro Vargas e que a seu pai sucedeu na casa da Rua de Trás foi Diogo Albino de Sá Vargas. Gémeo com António Júlio, faleceu em Bragança a 21 de Junho de 1872. Tal como seus irmãos, Bacharel formado em Direito, foi Governador Civil de Bragança, com posse a 1 de Abril de 1871 e nomeação por Decreto de 30 de Março do mesmo ano, Conselheiro de Estado por Decreto de 26 de Dezembro de 1865, Comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e da Real Ordem de Isabel, a Católica, de Espanha e Fidalgo-Cavaleiro da Casa Real. Na falta de sucessão de seus irmãos ficou Diogo Albino encarregue da administração da casa que, à sua morte, foi avaliada em 1.500 e à qual havia sido anexada uma outra, contígua, por compra feita aos herdeiros de D. Isabel de Sá Pereira e avaliada em 1.200. 
Casou na capela particular da casa de seu pai, a 15 de Outubro de 1851, com D. Emília Augusta de Castro Pereira, nascida em 5 de Março de 1834, filha do opulento negociante da praça do Porto e capitalista José António de Castro Pereira, senhor da casa da Rua Direita onde actualmente se encontra a Direcção de Finanças e do palacete da Rua de Santa Catarina na cidade do Porto, e de sua mulher D. Antónia Margarida Lopes Navarro, irmã do 1ºConde de Lagoaça. Deste seu casamento nasceram dois filhos – José Marcelino e António Emílio – e uma filha, D. Fortunata Augusta de Sá Vargas que foi casada com o Coronel José Alberto Vergueiro, célebre oficial a quem se deve a introdução de alterações nas armas Mauser que passariam a ser adoptadas pelo Exército Português com a designação de Mauser-Vergueiro. 
José Marcelino de Sá Vargas passaria, assim, a ser o novo proprietário da casa onde nasceu em 9 de Abril de 1853. Bacharel formado em Direito e grande proprietário, exerceu várias vezes o cargo de Reitor do Liceu de Bragança. Casou a 5 de Fevereiro de 1879 com sua prima D. Maria Augusta Ledesma Pereira de Castro, nascida em Bragança em 21 de Agosto de 1852, filha do Comendador José Carlos Ledesma de Castro, senhor da casa da Rua Almirante Reis, e de sua mulher D. Luísa Augusta Mendes Pereira de quem teve a Diogo Albino de Sá Vargas e D. Fortunata Augusta de Sá Vargas, homónima de sua tia e que viria a casar com o Dr. Francisco José Martins Morgado, médico militar, deputado, professor do Liceu de Bragança e escritor de quem deixou larga geração. 
Diogo Albino de Sá Vargas, herdeiro da casa, nasceu em Bragança em 13 de Janeiro de 1882 e faleceu em Lisboa a 12 de Março de 1939. Seguindo a tradição familiar, era Doutor em Direito e foi Deputado da Nação em várias Legislaturas, antigo assistente da Faculdade de Ciências de Lisboa e Professor do Liceu de Pedro Nunes (Lisboa). Tendo falecido sem descendentes, instituiu a Santa Casa da Misericórdia de Bragança como herdeira de grande parte dos seus bens e que, assim, se tornaria a detentora da velha casa dos Veiga Cabral até à sua venda no ano de 1943. A casa serviria como agência do Banco de Portugal em Bragança que aí se manteve até à sua extinção em finais do século passado.

Filipe Pinheiro de Campos

in:centroartegracamorais.cm-braganca.pt