domingo, 31 de janeiro de 2021

A nova idade das trevas

 No esplendor da nossa modernidade, entrámos num túnel. Seguíamos o brilho das luzes da ribalta na espuma dos dias, mas num repente tudo se afunilou e escureceu.

Metidos em nós batíamos em todos, na procura do para nós, cada para si era detentor de muito saber, mesmo quase sem saber ler e muito menos saber escrever escorreitamente e muito menos bem, pois campeava o estreler.

O rápido e imediato, impunha-se ao ponderado e ao estudado, fazendo de cada qual um especialista em muita coisa. Íamos no tempo sem tempo e sem tempo para nada. A opinião instantânea e sem suporte na razão fazia fé sujeitando todo o contrário a contrafé.

Por dá cá aquela palha, para passar de mão em mão, surgia num ápice a indignação de fraca ignição pois logo se apagava à mais leve brisa de nova moda. Dava-se uma virtual sova e depois ao de leve, virava-se a atenção para qualquer outra emoção.

As entranhas ficavam ao rubro, com coisas estranhas, mas suscetíveis de logo serem remediadas com um mínimo de bom senso. Guerreiros de sofá escudados e escondidos no mundo infeto dos circuitos eletrónicos, pequenos deuses supostos que éramos, levianamente com meras teclas, julgávamos decidir a sorte da guerra.

Enquanto isso o mundo estremecia. Ou antes, estremece, pois neste ponto deste meu rendilhar de letras, onde coloca os seus olhos em instantes de leitura, vai sendo tempo de dizer que o aludido como ter sido, ainda é, pois ainda decorre a viagem túnel adentro.

Nas paredes reluzem os marcadores, mas sem que se note, estreita-se e envolve-se de breu. Olhando através da janela pode ver-se que a boçalidade fazendo par com o medo vai erguendo uma paisagem pintalgada pela ignorância fazendo periclitar e quase desaparecer a decência.

Esconjuram-se inimigos invisíveis apelidados de terríveis, fazendo-se mirrar a tolerância. Ululantes, as turbas com a barbárie na ponta da língua e a maldade à flor da pele, começam a ascender as fogueiras onde empilharão livros.

A sociedade com maior conhecimento académico, com maior formação específica em cada matéria, revela-se afinal ignorante em todos os saberes menos daqueles que decorou para deles fazer instrumento de ambição nem sempre com o necessário espírito de missão.

Quase trezentos anos depois do século das luzes, esboroa-se a razão com a preguiça no pensar. Cortam-se todas as raízes ao pensamento. Acendem-se as candeias e os archotes. A jornada parece um regresso ao mundo das trevas.

Manuel Igreja

Projeto “HabDouro” para o Parque Natural do Douro Internacional

 O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) está a implementar, no Parque Natural do Douro Internacional, um Projeto de Recuperação e Proteção de Espécies e Habitats ameaçados, designado por “HabDouro”, materializando um importante conjunto de ações, em linha com a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade.


Preservar áreas importantes de habitats naturais de alto valor de conservação, contribuir para aumentar a produtividade das populações de aves necrófagas, implementar o restauro de habitats em torno de núcleos nidificantes de espécies prioritárias, nomeadamente britango, abutre-preto e milhafre-real e ampliar o conhecimento da população sobre a importância da conservação do património natural são os objetivos deste projeto.

Para salvaguardar este património de elevado valor natural, o projeto “HabDouro” permite colocar em prática um conjunto relevante de ações que concorrem para recuperar habitats e espécies.

Essas ações vão desde a gestão integrada de campos de alimentação de aves necrófagas, em que se garante alimento suplementar e, portanto, maior produtividade destas espécies, à criação de faixas e mosaicos de gestão de combustível que criam descontinuidades no perímetro de áreas de habitats com alto valor de conservação, promovendo a regeneração natural das espécies arbóreas autóctones, até à realização de campanhas de sensibilização da população sobre o património natural e as boas práticas necessárias à sua conservação e instalação de painéis informativos (prevista para breve), que serão colocados em locais estratégicos de visitação e passagem, bem como a itinerância de uma exposição.

Este projeto, financiado pelo Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR) e pelo Fundo Ambiental, cujas ações estão previstas na Resolução do Conselho de Ministros n.º 167/2017, de 2 de novembro, contribuirá para a proteção de uma área de 277,6 hectares de habitats naturais prioritários, azinhais e zimbrais, no Parque Natural do Douro Internacional.

Foto: ICNF

sábado, 30 de janeiro de 2021

O que procurar no Inverno: a campainha-amarela

 O frio do inverno já não é tão intenso e, apesar dos dias cinzentos e chuvosos, começam a surgir e a florescer livremente na natureza pequenas plantas que anunciam a proximidade da primavera.

Foto: Miguel Porto/Flora-On

A campainha-amarela (Narcissus bulbocodium), também conhecida como campainha-dos-montes ou cuco, é uma dessas pequenas plantas que começa agora a despertar e a florir, preenchendo de amarelo os nossos canteiros, campos e florestas.

A campainha-amarela

Foto: Miguel Porto/Flora-On

A campainha-amarela é uma das plantas mais belas que podemos ver durante o inverno. Pertence à família das Amaryllidaceae, que engloba outras espécies bem conhecidas, como o alho, o cebolinho, as beladonas ou os agapantos. 

As Amaryllidaceae são plantas monocotiledóneas perenes, herbáceas, bolbosas ou rizomatosas. A beleza destas espécies confere-lhes um grande valor ornamental e económico, além das muitas outras utilizações, como condimentares, hortícolas e medicinais.

Estas plantas caracterizam-se por possuir na semente apenas um cotilédone – os cotilédones são as folhas embrionárias que irrompem na germinação – e por se desenvolverem a partir de um caule subterrâneo. Se tiverem bolbo este tem forma arredondada ou globosa, enquanto que o rizoma é uma estrutura vegetal que cresce horizontalmente. 

Bolbos e rizomas funcionam como órgãos de reserva e permitem que a planta se mantenha “adormecida” durante a época do ano mais desfavorável, possibilitando a sua renovação assim que se verificarem as condições ambientais ideais. Quando surgem as primeiras chuvas estes deixam o estado de dormência e iniciam a sua atividade, ainda no outono, começando a surgir as primeiras folhas e flores no decorrer do inverno.

Foto: A.J.Pereira/Flora-On

A campainha-amarela é uma planta vivaz, bolbosa, herbácea, que pode atingir cerca de 40 cm de altura. O bolbo subterrâneo é de cor esbranquiçada ou ligeiramente acastanhado. 

As folhas surgem no final do outono ou durante o inverno, agrupadas em conjuntos de 2 a 4 folhas por bolbo. São quase erectas, lineares, verde-escuras, finas e compridas. 

Após a formação das folhas forma-se o caule florífero – o escapo – caule esverdeado, cilíndrico, que sustenta a flor, normalmente não ramificado e sem folhas, que surge diretamente do bolbo e mede um pouco menos que as folhas. 

As flores surgem solitárias na extremidade do escapo. São amarelas ou alaranjadas, grandes e vistosas. Com uma forma muito semelhante a uma corneta, ou a um cone invertido, surgem numa posição quase horizontal em relação ao solo.

É entre janeiro e abril que ocorre a floração, mas permanece poucos dias em flor. Quanto ao fruto, é uma cápsula esférica ou ligeiramente ovóide que contém inúmeras sementes pequenas, negras e brilhantes.

Espécie protegida

A campainha-amarela é uma planta nativa em Portugal, com uma distribuição alargada um pouco por todo o território continental. Surge junto a rochas, em prados, margens de linhas de água, charnecas, dunas, clareiras de bosques caducifólios, sobreirais, zimbrais ou pinhais. 

Pode também encontrar-se espontaneamente no sudoeste da Europa, nomeadamente no sul e oeste da França e Espanha e no norte de África, na Argélia e Marrocos.

Apresenta uma ecologia muito variável, preferindo locais com exposição solar intermédia, meia sombra e com temperatura média. Solos moderadamente secos a húmidos, calcários, arenosos ou argilosos, com pH ácido e pobres em azoto. Suporta solos temporariamente encharcados.

Foto: A.J.Pereira/Flora-On

Em Portugal Continental estão presentes duas subespécies de Narcissus bulbocodium. O Narcissus bulbocodium subsp. bulbocodium, espécie nativa que ocorre um pouco por todo o território preferindo solos arenosos ou argilosos, pode encontrar-se em prados húmidos, margens de linhas de água, clareiras de matos e pinhais, entre outros. A corola (conjunto das pétalas da flor) desta subespécie apresenta umas bandas verdes, evidentes ao longo de todo o tubo. 

Já o Narcissus bulbocodium subsp. obesus é uma espécie endémica da Península Ibérica. Em Portugal pode encontrar-se sobretudo no litoral centro e sul do país, em solos de origem calcária, em charnecas secas, arribas, zonas pedregosas, relvados e pastagens. A corola desta subespécie não apresenta bandas verdes, sendo a flor totalmente amarela.

Foto: Cristina Estima Ramalho/Flora-On

As duas subespécies encontram-se protegidas por legislação comunitária, nomeadamente pelo Anexo V da Diretiva Habitats – Directiva 92/43/CEE do Conselho, de 21 de Maio de 1992, relativa à preservação dos habitats naturais e da fauna e da flora selvagens. As espécies constantes neste anexo apresentam interesse comunitário, podendo a sua colheita na natureza e exploração ser objeto de medidas de gestão.

Histórias mitológicas

A designação científica desta espécie pode ter duas interpretações, sendo que uma surge associada à beleza desta flor e à mitologia grega. O nome do género Narcissus tem origem em Narciso, o filho do deus Cefiso, deus dos lagos.

Narciso era um jovem e belo rapaz, pelo qual todas as mulheres e homens se apaixonavam, e no entanto desprezava todas as propostas de amor. Por vingança, os deuses levaram-no a apaixonar-se pela sua própria imagem refletida na água de um lago. Completamente apaixonado pela imagem refletida e incapaz de se separar dela, acabou por cair e morrer afogado. Junto ao lago surgiu uma flor extremamente bela, a que deram o nome de Narciso.

Outros autores sugerem que o nome Narcissus se deve ao cheiro intenso e inebriante de algumas flores deste género e deriva do grego narkáo – que significa narcótico, planta tóxica. A designação bulbocodium, por sua vez, significa “bolbo lanoso”.

Esta planta é muitas vezes utilizada como planta ornamental em arranjos de jardins públicos e privados. Pelo aroma agradável que exala, é muito utilizada para perfumar armários e pequenas divisões e também em perfumaria. As flores são comestíveis, tanto cruas como caramelizadas, e muito utilizadas na confecção de doces. Alguns autores referem que apresenta algumas propriedades sedativas e hipnóticas.

São inúmeras as espécies do género Narcissus que florescem em Portugal, cerca de 20 espécies, nativas e endémicas, algumas das quais raras e em estado selvagem. A perda e destruição de habitat, a plantação de outras espécies e a colheita indiscriminada de bolbos na natureza têm sido dos maiores problemas para a sua conservação e das principais razões para o elevado risco de extinção de algumas espécies endémicas de Portugal. 

Deixo-vos esta sugestão: se viverem próximos de locais como os que aqui referi, no vosso próximo passeio, procurem estas pequenas e belas plantas. Não as colham. Aproveitem a natureza para relaxar e apreciar a cor que existe mesmo nos dias cinzentos de inverno.

Carine Azevedo

Eles vão criar um mapa das espécies em extinção no Parque Natural de Montesinho

 Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto vão avaliar o risco de extinção das espécies que vivem no Parque, ao longo do tempo e do espaço, no Observatório da Biodiversidade de Montesinho.

Floresta. Foto: Anja Odenberg/Pixabay

O projecto MontObEO vai utilizar metodologias inovadoras para avaliar o risco de extinção da flora e fauna deste parque, situado no nordeste de Portugal. Será o primeiro mapa geral de extinção das espécies do Parque Natural de Montesinho.

Para isso recebeu recentemente o apoio de 250 mil euros da Fundação para a Ciências e Tecnologia (FCT).  

“O nosso método vai avaliar como a qualidade dos habitats preferidos por cada espécie em estudo muda ao longo do tempo”, explicou, em comunicado, Neftalí Sillero, investigador responsável pelo projeto. “Isto é feito através de séries temporais de modelos de distribuição potencial das espécies, que usam as imagens de satélite como fonte de dados ambientais.” 

O objetivo é construir um sistema de alerta precoce, o Observatório da Biodiversidade de Montesinho, utilizando séries temporais obtidas a partir de dados de Deteção Remota por satélite e modelos de nicho ecológico (ENMs) para identificar alterações na qualidade dos habitats. Desta forma, será possível estimar o risco de extinção das espécies ao longo do tempo e do espaço.

“O output principal vai ser um mapa geral de extinção para todo o parque considerando todas as espécies em estudo. A outra grande vantagem do nosso método é que pode ser adaptado a qualquer área de estudo (o planeta inteiro, por exemplo) e a qualquer período de tempo sempre que haja imagens de satélite disponíveis”, acrescenta Neftalí Sillero, que faz investigação no Centro de Investigação em Ciências Geo-Espaciais (CICGE), da FCUP. 

Aposta na conservação do Parque Natural de Montesinho

Se tudo correr como previsto, o Observatório de Montesinho fornecerá novos dados sobre o estado de conservação da flora e fauna no Parque Natural de Montesinho, ao nível das espécies, e especialmente dos habitats raros, mas também por grupo taxonómico e ao nível da conservação.

“Juntando todos os modelos de espécies, iremos identificar as áreas do Parque Natural de Montesinho sob maior pressão”, prevê o investigador da FCUP.

Com os resultados do projeto, a equipa de cientistas será também capaz de identificar as áreas deste parque que estão sob maior pressão. “Essas áreas deverão ser as mais importantes para a aplicação de medidas de conservação”,  detalha Neftalí Sillero.

Para implementar medidas, os resultados estarão disponíveis para toda a comunidade, sejam políticos ou outras pessoas com responsabilidades de conservação.

O projeto conta com a participação das docentes da FCUP, Ana Teodoro e Lia Duarte, e com investigadores do Instituto Politécnico Viana do Castelo,  Universidade de Córdoba e da ForestWise.

O projeto MontObEO foi um dos seis contemplados no âmbito do concurso lançado pela FCT para financiamento Projetos de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico para a promoção de atividades de I&D de âmbito interdisciplinar e pluridisciplinar a realizar na região do Parque Natural do Montesinho. O conjunto dos projetos selecionados, que terão a duração de 36 a 48 meses, traduz um investimento total de 1,4 milhões de euros.

Helena Geraldes

Saborear o butelo e as casulas à distância

 Um evento gastronómico e um carnaval com o acentuado cunho da tradição, ambos tão característicos de Trás-os-Montes, vão ter, este ano, um formato diferente. Uma reinvenção ditada pela pandemia.

Festival do Butelo© Rui Oliveira/Global Imagens

Festival do Butelo da Casulas e o Carnaval dos Caretos vão chegar a casa de todos os portugueses, entre os dias 1 e 16 de fevereiro. Basta um clique para aceder a um formato criativo, concebido para superar as dificuldades causadas pela Covid-19.

O objetivo primordial do município de Bragança, promotor de um conjunto de iniciativas online, é apoiar os produtores locais e continuar a dinamizar a cultura e as tradições brigantinas, graças a um investimento de acordo com as possibilidades permitidas pela atual situação pandémica.

O butelo, «chourição famoso» e «grotesco», assim classificado pelo escritor mogadourense Trindade Coelho, é uma joia do fumeiro, um dos enchidos transmontanos mais tradicionais, acompanhado pelas casulas, as cascas de feijão seco.

Ano após ano, por esta altura, o butelo dá cor e sabor ao concorrido e já tradicional festival gastronómico, em que o prato principal é o apreciado enchido: o recheio da bexiga ou do bucho do porco, elaborado com ossinhos do espinhaço e das costelinhas, com alguma carne agarrada - chega à mesa acolitado pelas casulas, simples cascas de feijão secas, e por batata cozida. Tudo regado com um fio do excelente azeite da Terra Quente, relevante parcela do território transmontano pela qualidade dos produtos.

Este ano, a pandemia trocou as voltas a todo o mundo e o Festival do Butelo e das Casulas vai realizar-se online, através da plataforma Dott/Ctt.

Está assegurada a participação de 17 produtores do concelho de Bragança, que vão comercializar vários produtos regionais, desde fumeiro (butelo, salpicões e chouriças), a casulas, azeite, vinho, licores, mel e artesanato regional.

A partir de casa, os apreciadores da boa gastronomia tradicional podem aprender a confecionar alguns pratos à base de produtos locais, com destaque para o butelo e casulas, a castanha e o mel, com "chefs" que, literalmente, vão colocar as mãos na massa e revelar alguns dos seus segredos na cozinha.

Carnaval dos Caretos também em formato digital

Caretos de Podence© Leonel de Castro/Global Imagens

O Carnaval dos Caretos 2021 vai chegar a todos e também de forma digital, através de iniciativas como oficinas pedagógicas, direcionadas, em particular, para a comunidade escolar.

O programa destina-se, nos dias 10, 11 e 12 de fevereiro, aos mais pequenos: um artesão ensinará a construir máscaras em lata e fatos de caretos do território de Bragança.

o dia 13 de fevereiro, vai decorrer a inauguração "Máscara: o ser e o fazer", do artesão Isidro Rodrigues, no Museu Ibérico da Máscara e do Traje, seguida de "Diálogos com Arte", com António Tiza e Isidro Rodrigues.

A fechar, no dia, a 16 de fevereiro, o ator André Gago vai falar sobre "O Papel da Máscara no Teatro", em "Diálogos com Arte".

Estas iniciativas são transmitidas através do Facebook do Município de Bragança.

António Catarino

GNR alerta idosos para burlas com vacina da Covid-19

 Militares vão a casa de quem vive sozinho ou em locais isolados dar conselhos para se protegerem do novo coronavírus e de quem se faz passar por profissionais de saúde
Em tempos de confinamento geral devido à pandemia, a GNR tem em curso uma operação nacional de aconselhamento aos idosos que vivem sozinhos ou isolados. Os militares alertam para a necessidade de se manterem em casa e para desconfiarem de quem lhes apareça à porta a vender a vacina contra a covid-19.

Na Fontelonga, concelho de Carrazeda de Ansiães, Rosa Neves ouviu com atenção a mensagem de Pedro Pereira e Gil Teixeira, militares do Destacamento da GNR de Mirandela: "Alertamos para o facto de andarem por aí alguns supostos enfermeiros a sugerirem a toma da vacina", começaram por explicar, frisando, a seguir, que "isso não vai acontecer" e que "não devem deixar-se cair nesse tipo de burla". Porque o mais certo é os burlões aparecerem para "pedir dinheiro".

Rosa disse estar consciente desses perigos e garantiu que só abre a porta a quem conhece. O mesmo faz Maria Alexandrina, que também reside na Fontelonga, a quem a GNR aconselhou a "permanecer em casa" e só sair para "ir às compras ou ao banco". Mesmo assim, "respeitando as regras de distanciamento de outras pessoas e usar máscara".

Alexandrina agradeceu os conselhos, dizendo que só sai para "ir às compras e buscar o cacauzinho (dinheiro) e lamenta não poder oferecer "um lanchezinho, com um tratadinho (vinho do Porto) e um biscoitito".

Para além de Mirandela e Carrazeda de Ansiães, as operações do destacamento mirandelense da GNR abrangem também o concelho de Vila Flor, onde um casal, de 59 e 60 anos, foi detido por andar a passear na rua depois de os dois elementos terem testado positivo à covid-19.

O capitão da GNR Hugo Torrado lembra que quem for apanhado a circular, quando devia estar em casa em isolamento profilático, incorre num crime de "desobediência". Inicialmente os incumpridores são "encaminhados para a residência" e a seguir é dado "conhecimento ao Ministério Público".

"Findo o período de isolamento, a pessoas tem de se deslocar a tribunal para assumir as suas responsabilidades de âmbito criminal", acrescenta Hugo Torrado. A pena pode ir até "um ano de prisão ou 120 dias de multa".

Uma outra frente desta operação da GNR é dirigida à fiscalização de trânsito automóvel e circulação de pessoas. Quem andar a circular sem justificação válida incorre numa multa que, dependendo das circunstâncias, pode ir até aos mil euros.

Eduardo Pinto

Secretária de Estado da Habitação homologa 13º acordo de cooperação do 1º Direito para Torre de Moncorvo

 A assinatura deste acordo permitirá ao município de Torre de Moncorvo apoiar 59 agregados familiares, num total de 122 pessoas que vivem em condições habitacionais indignas e que não dispõem de capacidade financeira para encontrar uma solução habitacional condigna.
No dia 27 de Janeiro teve lugar a cerimónia de assinatura da homologação do acordo de cooperação no âmbito do 1º direito para o Município de Torre de Moncorvo.

A sessão, que foi realizada por por videoconferência, contou com a participação do Presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, Nuno Gonçalves, do Secretário de Estado da Descentralização e Administração Local, Jorge Botelho, da Secretária de Estado da Habitação, Marina Gonçalves, da Presidente do Conselho Diretivo do Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana, Isabel Dias, da Diretora de Gestão do Norte do IRHU, Ana Cruz, do Vice-presidente da Câmara Municipal, Victor Moreira, da Vereadora responsável pela Ação Social do Município, Piedade Meneses, dos técnicos do município envolvidos no 1º direito e dos engenheiros Rui Estribio e Paulo Patrício.

Na sessão Nuno Gonçalves, explicou que com esta nova iniciativa vai ser possível “uma verdadeira política para a habitação social, um verdadeiro olhar sobre as famílias em dificuldade, uma estimativa financeira de quanto é necessário investir no concelho e por fim fica demonstrada a capacidade que o município teve, em ser o 13º ao nível nacional de ter o protocolo já assinado e que vai ser implementado no terreno garantindo a dignidade de uma habitação para estas famílias.”

Por seu lado o Secretário de Estado da Descentralização e Administração Local, Jorge Botelho, felicitou todos os municípios com estratégia local de habitação, tendo salientando o trabalho desenvolvido por todos os  que foram capazes de fazer aprovar os seus projetos junto do IRHU. “Todos aqueles municípios que fizeram as estratégias e as conseguiram aprovar junto IRHU foram diligentes, trabalharam bem e hoje têm a oportunidade de concretização de acesso ao financiamento,” disse Jorge Botelho, que também felicitou a autarquia de Torre de Moncorvo e ressalvou que o dinheiro gasto na administração local tem “um sentido de utilidade maior e obviamente é melhor aplicado se for escrutinado pela população e for decidido pelos seus eleitos locais.”

No decorrer da cerimónia a Secretária de Estado da Habitação enalteceu o papel do município de Torre de Moncorvo neste processo, referindo que a autarquia “teve aqui, felizmente, um papel ativo na promoção de políticas de habitação , disse presente naquilo que era um compromisso importante para a população e estamos a assinar um compromisso, garantindo habitação adequada para 59 famílias, numa estratégia de habitação que vai para além desta resposta do município.” Marina Gonçalves efetuou ainda um ponto de situação do programa, referindo que “este é o nosso 13º acordo de colaboração, no total temos 11500 famílias que estão salvaguardadas pelos acordos de colaboração já assinados.”

A assinatura deste acordo permitirá ao município de Torre de Moncorvo apoiar 59 agregados familiares, num total de 122 pessoas que vivem em condições habitacionais indignas e que não dispõem de capacidade financeira para encontrar uma solução habitacional condigna.

As soluções habitacionais para a resolução deste problema passam pelo arrendamento de cinco habitações para subarrendamento, a reabilitação de 45 frações ou de prédios habitacionais e aquisição de nove frações ou prédios degradados na sede de concelho.

O acordo entre o Município de Torre de Moncorvo e o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) prevê um investimento estimado de 2.259.687,50€, sendo que 1.920.703,97€ serão disponibilizados pelo IHRU, dos quais 1.136.610,39€ concedidos sob a forma de comparticipações financeiras não reembolsáveis e 784.093,58€ a título de empréstimo bonificado, sendo o montante restante assegurado pela Câmara Municipal de Torre de Moncorvo.

Mirandela cria plataforma de venda online como apoio ao comércio local

 De acesso totalmente gratuito e aberto a todos os comerciantes com loja e sede na área do concelho de Mirandela, para além da componente de comercialização, a plataforma funcionará como uma montra digital de produtos e serviços, promoção de feiras e eventos gastronómicos e a divulgação dos produtores agrícolas locais.


A Câmara Municipal de Mirandela criou plataforma de venda online com o apoio ao comércio local. Inserida no âmbito das medidas excecionais de apoio económico, a Câmara Municipal de Mirandela anunciou em nota de imprensa o lançamento de uma nova plataforma digital “Mirandela Market”.

Com data prevista de arranque no início do próximo mês (fevereiro de 2021), o PORTAL, apresentar-se-á como uma plataforma de venda online, cujo objetivo será divulgar e comercializar os produtos locais a nível nacional e internacional.

De acesso totalmente gratuito e aberto a todos os comerciantes com loja e sede na área do concelho de Mirandela, para além da componente de comercialização, a plataforma funcionará como uma montra digital de produtos e serviços, promoção de feiras e eventos gastronómicos e a divulgação dos produtores agrícolas locais.

O executivo liderado por Júlia Rodrigues considera que esta nova ferramenta de comércio eletrónico fará chegar a casa dos consumidores dos quatro cantos do país e da diáspora os inúmeros produtos de excelência do concelho de Mirandela, alavancando o volume de vendas dos comércios locais, gravemente afetados economicamente pela pandemia.

No pacote de medidas de apoio económico ao comércio local, a autarquia avança ainda com uma terceira edição do “Cartão Comércio Mirandela”, disponibilizando um total de 150 mil euros para este projeto que assentará nos moldes das edições anteriores, com a atribuição de 300 euros por comércio aderente e descontos para os detentores deste cartão. Estão ainda previstos diversos sorteios de cupões de descontos diretos (em comércios aderentes) para os consumidores que já possuam o cartão e para novas adesões.

Nas duas edições anteriores desta iniciativa, a autarquia de Mirandela já apoiou 478 comércios do concelho.

Projeto de recuperação e proteção de espécies no PN Douro Internacional

O projeto “HabDouro” permite colocar em prática um conjunto relevante de ações que concorrem para recuperar habitats e espécies. Essas ações vão desde a gestão integrada de campos de alimentação de aves necrófagas, em que se garante alimento suplementar e, portanto, maior produtividade destas espécies, à criação de faixas e mosaicos de gestão de combustível.
O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) está a implementar no Parque Natural do Douro Internacional um Projeto de Recuperação e Proteção de Espécies e Habitats ameaçados, designado por “HabDouro”, materializando um importante conjunto de ações, em linha com a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade, refere fonte do instituto público.

“Preservar áreas importantes de habitats naturais de alto valor de conservação, contribuir para aumentar a produtividade das populações de aves necrófagas, implementar o restauro de habitats em torno de núcleos nidificantes de espécies prioritárias, nomeadamente britango, abutre-preto e milhafre-real e ampliar o conhecimento da população sobre a importância da conservação do património natural são os objetivos deste projeto“, refere um comunicado de imprensa do ICNF.

“Para salvaguardar este património de elevado valor natural, o projeto “HabDouro” permite colocar em prática um conjunto relevante de ações que concorrem para recuperar habitats e espécies. Essas ações vão desde a gestão integrada de campos de alimentação de aves necrófagas, em que se garante alimento suplementar e, portanto, maior produtividade destas espécies, à criação de faixas e mosaicos de gestão de combustível que criam descontinuidades no perímetro de áreas de habitats com alto valor de conservação, promovendo a regeneração natural das espécies arbóreas autóctones, até à realização de campanhas de sensibilização da população sobre o património natural e as boas práticas necessárias à sua conservação e instalação de painéis informativos (prevista para breve), que serão colocados em locais estratégicos de visitação e passagem, bem como a itinerância de uma exposição“, salienta o ICNF.

O projeto “HabDouro” é financiado pelo Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR) e pelo Fundo Ambiental, cujas ações estão previstas na Resolução do Conselho de Ministros n.º 167/2017, de 2 de novembro, contribuirá para a proteção de uma área de 277,6 hectares de habitats naturais prioritários, azinhais e zimbrais, no Parque Natural do Douro Internacional.

Bombeiros de Macedo com apoio municipal anual de 200 mil euros

 Os bombeiros voluntários de Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança, vão receber um apoio anual municipal de 200 mil euros para a corporação suportar custos, nomeadamente relacionados com a pandemia covid-19, divulgou hoje a autarquia.
A Câmara Municipal assinou um protocolo de colaboração com a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários que garante à corporação uma comparticipação municipal anual de 200 mil euros, durante dois anos, concretamente em 2021 e 2022.

O autarca, Benjamim Rodrigues, justificou que o montante tem em conta o “significativo aumento dos custos que os bombeiros têm de suportar, desde logo, com a aquisição de equipamento de proteção e desinfeção por causa da pandemia de covid-19.

A autarquia teve ainda em conta “uma significativa redução das receitas provenientes do Transporte Não Urgente de Doentes”, também consequência das restrições e condicionantes geradas pela pandemia.

Os voluntários comemoram 98 anos e o presidente da Câmara destaca que a corporação “tem desempenhado um trabalho exemplar no auxílio e socorro não só à população de Macedo de Cavaleiros, mas também a toda a região do Nordeste Transmontano”.

Os 200 mil euros anuais disponibilizados pela autarquia servirão “para assegurar as remunerações dos funcionários da Sala de Operações e Comunicações e para o apoio e socorro nas praias da Albufeira do Azibo”, uma das zonas de veraneio mais procuradas da região.

A verba destina-se ainda ao serviço que os bombeiros prestam na manutenção do apoio ao Heliporto Municipal, a base do helicóptero do INEM que serve a população do distrito de Bragança.

O financiamento visa também compensar os bombeiros pela função que têm na limpeza de vias rodoviárias municipais e o espalhamento de sal, quando neva ou há formação de gelo durante o inverno.

“Os apoios são sobretudo um sinal do reconhecimento da autarquia à nobre missão dos nossos bombeiros”, segundo o autarca.

HFI // ACG Lusa

Equipa de sapadores florestais de Vinhais com salários em atraso

 A equipa de dez sapadores florestais da Associação Arbórea de Vinhais, no distrito de Bragança, tem salários e subsídios em atraso, como confirmou hoje a entidade empregadora depois de a questão ser levantada pelo Bloco de Esquerda (BE).
A distrital de Bragança do partido reuniu-se hoje, por videoconferência, com o Sindicato Nacional da Proteção Civil (SNPC) para se inteirar da situação e para que esta “atuação política sirva para que as entidades sejam chamadas à razão e para que estes casos não se repitam”, como disse à Lusa Jóni Ledo, coordenador distrital do BE.

O dirigente sindical, Alexandre Carvalho, concretizou à Lusa que os 10 sapadores florestais da Arbórea- Associação Agroflorestal e Ambiental da Terra Fria Transmontana têm “dois meses de salários em atraso e ainda não receberam os subsídios de Natal e de férias”.

Segundo disse, a situação é recorrente e foi denunciada pelos sapadores junto do sindicato que alega ter tentado resolver a situação junto da Arbórea sem sucesso, pelo que pediu a intervenção da Autoridade para as Condições do Trabalho.

Os sapadores assinaram, entretanto, um acordo com a associação, segundo o qual vão receber as remunerações em atraso por tranches ao longo de 18 meses.

O sindicato lembra que estas associações são financiadas para terem as equipas de sapadores florestais pelos municípios, pelos associados, por trabalhos que fazem na limpeza da floresta e pelo Fundo Permanente Florestal do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).

O ICNF, segundo ainda o dirigente sindical, disponibiliza também as viaturas e equipamentos para as equipas de sapadores florestais.

O presidente da Arbórea, Abel Pereira, confirmou à Lusa a existência de salários em atraso, sem quantificar, indicando apenas que a “situação está prestes a ser resolvido” através do acordo de pagamento faseado.

Abel Pereira justificou o atraso no pagamento com “uma situação mais apertada” devido à pandemia, nomeadamente os primeiros meses de confinamento, em que não houve trabalho para a equipa, que esteve parada durante os meses de março e abril.

Nos meses seguintes, acrescentou, iniciou-se o período de vigilância dos incêndios florestais em que “já não há capacidade para angariar trabalho”.

“Isto resultou em falta de alguma liquidez”, afirmou o presidente da Arbórea, que confirmou também que estas equipas “são financiadas a 50%” com dinheiros públicos.

Tanto o coordenador distrital do BE como o dirigente do sindicado prometeram ficar “atentos” ao cumprimento do acordo de pagamento aos sapadores florestais e intervir quando necessário.

HFI // MSP Lusa

Produtores de Fumeiro com quebras de 50% preferem feiras a plataformas digitais

 Os produtores de fumeiro do Planalto Mirandês garantem que as plataformas digitais destinadas à comercialização de produtos regionais em tempo de pandemia "não são eficazes", preferindo as feiras para escoar a produção, fazer negócios e contactos.
Devido à pandemia de covid-19, todas as feiras dedicadas ao fumeiro e produtos regionais, que se realizam por esta altura do ano em Trás-os-Montes foram canceladas e os produtores de fumeiros e outros produtos endógenos garantem estar a passar um "mau bocado" com perdas que ultrapassam os 50% na comercialização face a anos anteriores.

Os produtores ouvidos pela Lusa dizem que as soluções encontradas por algumas autarquias, como a venda através de plataformas digitais, "não são funcionais", sendo os clientes habituais o que salva o negócio.

Dário Mendes, produtor de fumeiro de porco bísaro, instalado em Mogadouro, disse que ainda não conseguiu vender nada através das plataformas "on-line" e que a principal fonte de rendimento da empresa Bísaro do Planalto, com quatros anos de existência, são os "clientes habituais", que procuram o fumeiro por outras vias.

"Há cerca de um ano que não participamos em feiras, e estes certames são importantes para mostrar os nossos produtos e fazer contactos para o resto do ano. Registámos uma enorme quebra nas vendas que vai para além dos 50% e temos de andar a patinar para aguentar o negócio", vincou.

Sem vendas ‘on-line', os produtos originários nestas empresas estão a ser vendidos em algumas superfícies comerciais de Mogadouro e através de contactos já existentes no Grande Porto e Lisboa, ou outras cidades do país.

"As encomendas para o exterior chegam, na sua maioria, através de contacto telefónico, mas em pequena percentagem, já que são clientes que fidelizamos ao longo destes quatro anos de existência do nosso projeto ", indicou o empresário.

Paula Domingues, umas das sócias da Cozinha Tradicional Cima da Vila em Miranda do Douro, refere que a unidade está a produzir mas não em tanta quantidade como em anos anteriores.

"A produção é feita ao ritmo das encomendas e com quebras assinaláveis que ultrapassam os 50% das vendas em condições normais", frisou.

Segundo a empresária, houve boa intenção em criar as plataformas de vendas pela internet, mas as expectativas ficam um bocado aquém do inicialmente previsto e anunciado.

"Estas plataformas ficam aquém das expectativas. O porta a porta é a principal fonte de encomendas e receitas, Tínhamos os clientes de turismo rural que aproveitavam para comprar os produtos e, com o confinamento, isso não se verifica", contou à Lusa.

Maria Pera, que tem uma cozinha tradicional em Duas Igrejas, também no concelho de Miranda do Douro concorda que as feiras são o melhor local para se fazer negócios e reservas para o futuro.

"Como as feiras foram canceladas, a ideia das vendas pela internet é boa, só que ainda não há resultados. Não tenho feito negócios através da internet e há uma diminuição das vendas nas vendas de fumeiro. Se as pessoas não podem circular, não veem o produto. Se não veem, não compram", explicou produtora.

Para a Associação de Produtores Gastronómicos das Terras Miranda - Sabores de Miranda, que junta 30 associados, "torna-se complicado gerir a situação que se está a atravessar".

"Alguns produtores ainda não estão adaptados às plataformas digitais. Nas feiras, os olhos veem e as pessoas compram. Por via digital é mais complicado", indica a responsável pela associação, Ana Esteves.

A dirigente disse que há um público fiel aos enchidos do Planalto Mirandês, mas os produtores notam a ausência de compradores no território.

O período mais importante para as vendas dos produtos produzidos nestas cozinhas regionais que se dedicam à produção de fumeiro vai do Natal ao Carnaval, apesar de o período de Páscoa ter também impactos nas vendas.

Certames como a Feira do Fumeiro de Vinhais, a Feiras dos Sabores Mirandeses, em Miranda do Douro, a Feira da Caça em Macedo de Cavaleiros, a Feira do Butelo e das Casulas, em Bragança, os mercados da Amendoeiras em Flor são alguns dos exemplos dos certames cancelados no território nordestino.

Francisco Pinto (texto), da Agência Lusa

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

A ARTE DE ESCREVER PARA CRIANÇAS

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Escrever para crianças, é arte delicada que poucos dominam. São raros os que se encontram preparados para o fazerem, apesar de serem muitos, os que se aventuram – até consagrados, – já que, em regra, escrever livros de culinária, ou para criança, é meio fácil e simples, de encontrar editor e ganhar dinheiro.
Vem o preâmbulo, a propósito de livrinho de versos, intitulado: “ A Televisão da Bicharada”, escrito por Sidónio Muralha., e publicado por “ Edições Girofle”, de São Paulo. Brasil
Para mim, o autor, é um ilustre desconhecido, mas a obra contem interessantíssimos versos, para a infância.
Com o fim de levar ao leitor amigo, uma amostra da qualidade desses versos, acessíveis à idade a que se destinam, vou transcrever os que mais me agradaram:

XADREZ

É branca a gata gatinha;
é branca como a farinha.

É preto o gato gatão;
é preto como o carvão.

E os filhos gatos gatinhos,
são todos aos quadradinhos.

Os quadradinhos branquinhos
fazem lembrar mãe gatinha,
que é branca como farinha; 
os quadradinhos pretinhos,
fazem lembrar pai gatão,
que é preto como o carvão.

- Se é branca a gata gatinha,
é preto o gato gatão,
Como é que são os gatinhos?

- Os gatinhos…eles são…
- São todos aos quadradinhos!

Também estes, pareceram-me muito engraçados, e bons, para o público a que se destinam:

BOA NOITE

A zebra quis
ir passear,
mas a infeliz
foi para a cama.

- Teve que se deitar,
porque estava de pijama!

Igualmente são interessantes, estes:

TUCANO – DE – BICO – VERDE

Tucano eu sou,
tucano eu fico,
se gostou
ou não gostou
do meu bico

Mudá-lo seria engano
pois um tucano tem bico.
-Tem um bico de tucano!

E se encurtarem o seu bico,
fica bico de tucano
Igual
Ao do tico – tico.

E é normal,
que cada qual 
seja senhor do seu bico!…

Se Anatole France se ocupou tanto a sério dos contos de fada, também não será de estranhar, que eu aprecie estas coisas infantis. Pequenas … grandes coisas! Esses versos simples e ingénuos, levaram-me ao tempo de infância, e certamente também agradarão, ao leitor, quer seja, adulto ou criança.

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

Acordar

Por: Manuel Amaro Mendonça
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Rosa mexeu-se debaixo dos cobertores. Manteve a cabeça coberta pois não queria sair para o ar, que sabia estar frio. Ainda estava meio a dormir e deixou-se estar a ouvir os barulhos da casa: conseguia escutar os sons na cozinha: portas dos armários a fechar e talheres e pratos em movimento. A sua mãe deveria estar a preparar o pequeno almoço, bem quentinho, que ela devoraria num ápice. Depois sairia a correr para ir ter com a sua melhor amiga, despachando um veloz “Até logo, mãe!”,  para as brincadeiras e correrias, mesmo quando tinha de ir à fonte buscar a água, nos tempos em que não havia canos que a entregassem em casa. Mas essas eram memórias antigas; o tempo em que vivia com a mãe, o pai, o avô e a avó numa modesta casinha. Já todos partiram, envoltos nas brumas da memória, há muito, muito tempo…

Relutante, espreitou por entre a roupa, enfrentando a luz que inundava o quarto; aquela não era já a pobre habitação dos seus pais, mas a casa que ela e o marido construíram com grande esforço. Agora, que os filhos já tinham seguido cada um o seu próprio rumo, parecia maior que nunca. Recolheu-se de novo para debaixo das mantas e esticou a mão para o outro lado da cama, vazio e frio. “Poderia ser ele quem estava na cozinha.”, pensou, tendo a noção de ainda não ter despertado completamente, “E daqui a pouco vem aí, ver se já acordei.” No sono semiacordado viu-se vestida de noiva, cercada da família de ambos, saindo da igreja num dia de sol… tantos que eles eram… e quase todos já deixaram este mundo. Olhou a sua mão pálida e enrugada e teve a noção de que também ele, companheiro de uma vida inteira, se fora. Como todos os outros, não passava agora uns quantos fios que as Parcas fiaram e urdiram quando desenharam o seu destino, entrelaçado no dele.

A imagem do seu próprio rosto liso e pele macia, de longos cabelos negros ainda estava fresca na sua memória, quando a porta do quarto se abriu suavemente deixando espreitar uma sorridente senhora na casa dos cinquenta anos.

— Bom dia dona Rosa. — Saudou melodiosa a recém-chegada. — Então, não queremos acordar hoje? Já cá estou há um pedaço, mas estava a dormir tão bem, que não a quis acordar. Sente-se melhorzinha hoje? Vamos fazer a higiene e tomar o pequeno almoço?

Com esforço, Rosa sentou-se na cama e esfregou os olhos que fitou na imagem do espelho da comoda, mesmo em frente à cama: uma octogenária, de rosto enrugado e alvos cabelos revoltos, estava sentada numa cama em desalinho e devolvia-lhe o olhar.

— Vem almoçar à cozinha? — A cuidadora insistiu.

— Sim, vamos. — Respondeu com as lágrimas a correr no rosto. — Mas tape-me esses espelhos, que eu não quero ver essa velha!

Manuel Amaro Mendonça
nasceu em Janeiro de 1965, na cidade de São Mamede de Infesta, concelho de Matosinhos, a "Terra de Horizonte e Mar".
É autor dos livros "Terras de Xisto e Outras Histórias" (Agosto 2015), "Lágrimas no Rio" (Abril 2016), "Daqueles Além Marão" (Abril 2017) e "Entre o Preto e o Branco" (2020), todos editados pela CreateSpace e distribuídos pela Amazon.
Foi reconhecido em quatro concursos de escrita e os seus textos já foram selecionados para duas dezenas de antologias de contos, de diversas editoras.
Outros trabalhos estão em projeto e sairão em breve. Siga as últimas novidades AQUI.

Alfredo, ou a dúvida da aceitação rápida do estranho nos grupos com coesão comunitária

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Na Rua onde eu nasci e naquele tempo, havia uma "catrefa" de garotos que estavam tacitamente escalonados em grupos que normalmente eram constituídos por catraios da mesma idade. A diferença de três anos era vista por nós como a causa para que em determinadas brincadeiras e aventuras, só os mais velhos participassem e quando se punha a questão de ser necessário recorrer à violência os mais pequenos só eram admitidos se o assunto lhes dissesse respeito direto e os confrontantes fossem da mesma idade. Nunca um garoto pequeno era envolvido em lutas com os mais crescidos da tribo.
O grupo da Caleja era coeso e os mais velhos defendiam os mais novos e os mais novos aprendiam a saberem defenderem-se e a serem orgulhosamente da Caleja e num âmbito mais alargado de Bragança.
Acontecia que quando um garoto estranho vinha intrometer-se com os nativos era posto à prova pelo grupo dos seus pares na idade.
Num belo dia aconteceu notarmos que tínhamos um novo morador que não era reconhecido como um dos nossos, mas se movimentava à vontade sem se preocupar com a garotada que ia encontrando e não dava cavaco às tropas.
Começaram os da frente a questionar de onde viria tal abencerragem? Soubemos que se chamava Alfredo e que era de Chaves, tendo chegado a Bragança com a família, pois o seu pai tinha vindo para trabalhar na construção da Escola Industrial e Comercial e foram viver para a Caleja.
Cedo constatámos que estávamos na presença de alguém que não era assustadiço. Punha-se a questão da integração e o tipo não parecia para aí virado, sem antes tirar as suas impressões do que o rodeava em questões de confiança e camaradagem. Por isso ele quando era abordado respondia sempre com uma atitude de quase desinteresse q.b. nunca deixando que lhe fosse imposta qualquer regra ou hierarquia.
Era de idade do meu irmão Marcelo, que com os seus iguais tomaram para eles a tarefa de o meterem na ordem.
Mas o Alfredo não era dos que se intimidava e enfrentou as ameaças veladas ou claras que lhe declararam. Ora aí estava um que tinha de ser testado. E lá saem uns quantos da Caleja para o assustarem. Mas o Alfredo era dos Valentes e quando se viu rodeado pôs as mãos na cinta e tirou das calças um cinturão de cabedal com fivela amarela, como usavam os legionários e começou  a despachar os que o queriam "integrar". 
Bom, os da Caleja sendo mais possivelmente venceriam, mas cedo se aperceberam que tinham ali um garoto de guerra e que era tempo perdido usar a violência para o integrar. Recuaram assim e com palavras foram questionando o Alfredo que já com a situação a pender para o seu lado tomou a iniciativa de se fazer amigo de todos os garotos e mais gente da rua.
Com o passar dos dias fomos descobrindo que o Alfredo era um líder cujo caráter era o dos homens que ficam na memória das gentes pela coragem e verticalidade nas suas ações. Sempre pronto para uma cena de pancadaria se o caso fosse punir quem fizesse por isso e de demonstrar um coração de ouro para as pessoas que ele respeitava como um cavalheiro educado e gentil. Havia na nossa rua gente humilde, alguma já de idade avançada. O Alfredo depressa conheceu todos e se inteirou dos hábitos da rua, que ele comparava com os da sua terra de criação, Chaves.
Nunca deixou de se afirmar flaviense e enquanto viveu connosco, sempre o fez de cabeça levantada e sem temores dos homens e das coisas. A sua nobreza era tal que um dia passando junto à Escola da Estação viu a Tia Maria Mónica que trazia um feixe de lenha às costas. Vinha da Quinta do Lima e a lenha era para ela fazer a fogueira que, quando inverno, sempre ardia no chão de terra um pouco afastada da porta da casa número 72 da Caleja do Forte. O Alfredo abordou-a e disse-lhe: -A Senhora já está muito velhinha e cansada, deite o feixe de lenha ao chão que eu o levarei até sua casa. A tia Mónica recusou uma primeira vez, mas a insistência do Alfredo foi tão veemente que os olhos da velhota se marejaram de lágrimas e disse: -Obrigado meu Deus que ainda tens no mundo quem te sirva, servindo os Teus.
Quando o Alfredo chegou à Caleja e depôs o feixe no chão da casa onde vivia a tia Mónica todos na Rua ficaram a saber que os valentes e honrados também podem vir de fora.
Não esteve muito tempo connosco, seguiu com a família, que deve ter ido para outra qualquer terra a vender o seu suor nos trabalhos com que pagavam a sua maneira honrada de viverem e educarem os filhos.
Pergunto aos caleijenses que ainda sobram, quantos se lembram do Alfredo de Chaves que viveu connosco e nos fez ver o que nós nem suspeitávamos? Eu lembro-me dele como uma das lições mais genuínas que recebi nos meus tempos de menino.



25/01/2021
A. O. dos Santos
(Bombadas)

Foi há 22 anos que o Mirandês foi considerada a segunda língua oficial portuguesa

 Foi há 22 anos que o Parlamento português considerou a língua mirandesa como a segunda língua oficial portuguesa.

Para recordar esse dia histórico, aqui fica o artigo de opinião de António Bárbolo Alves.

“L mito ye l nada que ye todo.”

Fernando Pessoa, Ulisses

Ye de lhibros que cuntinamos a falar. Ou melhor, ye de cuntas. Ye de stórias que son, cumo se sabe, bien mais antigas que ls lhibros. Las lhénguas houmanas nacírun muito tiempo antes de la scrita, bibírun i criórun aquilho a chamamos cultura sien necidade desse strumento de fixaçon. Pénsa-se, cun las debidas dúbedas, que la lhenguaige houmana ten arrimado a cien mil anhos. Ora la lhéngua scrita mais antiga, l sumério, nun ten mais que cinco mil. Por isso, l’houmanidade bibiu ne l stado ágrafo nobenta i cinco mil anhos. I isso sien que ls nuossos antrepassados fússen capazes de trasmitir, atrabeç de las lhénguas, toda ua hardança cultural.

Naide pon an dúbeda l’amportança i l balor de l’ambençon de la scrita. Eilha troixo la possibilidade de cunserbar i de trasmitir todos ls conhecimientos. Assi i todo, la scrita tamien nun supuso ua mudança nas própias lhénguas: eilhas síguen tenendo las calactelísticas própias que tenien quando nun se screbien, demudando de la mesma maneira que quando nun habie lhibros nien dicionairos. I s’hoije an die medimos l zambulbimiento d’un paiç pu la porcentaige de pessonas “alfabetizadas”, tenemos que pensar que nien siempre fui bien assi. La cultura inca, por eisemplo, sien star stribada na scrita, fui capaç de criar un poderoso ampério, cun ua arte própia i ua arquitectura q’inda hoije an die mos deixa de boca abierta delantre de menumientos cumo ls de Machu Picchu. I ne l mundo oucidental, dues de las obras fundacionales de la nuossa cultura, l’Eilíada i l’Oudisseia, son obras ourales. Homero, ye un outor sien biougrafie, de quien Heródoto mos diç que bibiu ne l seclo IX a.C, mas outros dízen que ye de l tiempo de la Guerra de Tróia ne l seclo XII a.C. Seia cumo fur, las abinturas d’Ulisses i d’Aquiles éran tan conhecidas que chegórun até nós, traídas, oumentadas i cuntadas pu ls poetas i pu ls bardos que conhecien todos ls sous bersos de memória. Eilhas nacírun nun mundo an todo diferente de l nuosso, ne l tiempo de la palabra que l aire lhebaba i solo la memória podie cunserbar. Mas, tal cumo la scrita pouco belhiçcou la forma cumo las lhénguas demúdan, tamien buona parte de l sucesso destes lhibros ten a ber cun l fondo oural adonde se stríban. I estes beneiros prefondos lhieban-mos a las cuntas i als mitos que son berdadeiros alheçaces de la nuossa cultura.

Ye eiqui que m’ancontro cun ls lhibros adonde li alguas dessas cuntas. Mas, tal cumo Homero ye ua selombra antre la soleira de l mundo oural i de la scrita, tamien ls mitos s’ancóntran antre esses dous mundos, hoije registrados an lhibros, mas fazendo parte daquilho que nós somos, cumo pessonas andebiduales, i cumo cachicos d’ua cultura marcada i alheceçada nessas stórias i cuntas.

Ye ua cunta q’eiqui traio. La stória d’Ouropa i de Zeus. Eilha era ua mulhier mui guapa que çpertou ls amores de l rei de l Oulimpo. Segundo Homero, era filha de Fénix, antrepassado de ls fenícios, ou anton de Agenor, rei de Tiro, i por isso armana de Cadmo. Cúnta-se que l dius la biu a passear cun alguas amigas nua praia de la Fenícia i, nun rejistindo als sous ancantos, resulbiu ir a tener cun eilha çfarçado de touro. Eilha nunca tal habie bisto i, por isso, curjidosa, aprossimou-se i l touro drobou ls zinolhos i deitou-se a sous pies. Eilha chubiu nas sues cuostas i l touro caminou pul mar, antrou n’auga i nadou até Creta. Alhá chegado, l touro trasmudou-se an Zeus, dou-se a conhecer i l casal amou-se acerca d’ua fuonte i an baixo d’uas árboles que, segundo se cunta, cunserbórun para siempre la sue folhaige. Ls sous decendientes criórun l famoso lhabirinto, mas tamien las pinturas i ls palácios an ruínas adonde Sophia de Mello Breyner mos cumbida a renacer, alhi “adonde las palabras son l nome de las cousas”.

Mandado pu l pai, Cadmo fui a saber de l’armana, chamando por eilha i fazendo que las sues palabras quedássen grabadas nas peinhas, nas árboles i nas senaras dessa tierra çconhecida. I assi, Ouropa, l continiente, ganhou l nome que se cunserbou até hoije.

Ls Dicionairos Eitimológicos dízen que la palabra ben de l grego “Europe”, atrabeç de l lhatin “Europa”, l nome de l’armana de Cadmo. Mas esta possibilidade parece, hoije an die, star apartada, ganhando forma l’eideia de que tenga raízes ourientales, talbeç semíticas, na lhéngua acádia i na forma “erebu”, que quier dezir l lhugar adonde l sol muorre, ou seia, l’oucidente (< occidere, caer), ua palabra armanada cun la forma árabe que stá na raiç de l nuosso “Algarbe”. I s’assi fur, las palabras, tal cumo ls mitos, lhieban-mos i armánan-mos cun las culturas ourientales i próssimo-ourientales, adonde las nuossas raízes gánham mais sentido i mais fundura. An fin de cuntas, l’Ouropa, que ye hoije l paraíso deseado, ye debedora de l saber que mos ben dessas tierras tan próssimas i tan apartadas!

António Bárbolo Alves