quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Mensageiro de Bragança - 15 DE MAIO DE 1970

Agenda de Março - Carrazeda de Ansiães

Teatro de Sombras " Olho da Memória "

 No próximo dia 9 de março o Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros vai receber a peça de teatro " Olhos da Memória " da Associação Resto de Nada.


" Olho da Memória ",, um espetáculo que explora as raízes das tradições lusas, onde o teatro de sombras se ergue como um eco divertido do passado. É uma celebração das histórias que ressoam através do tempo. 

Cada sombra um portal para narrativas antigas, que explora mitos, costumes e contos populares de diferentes regiões.

Olhos astutos que discernem a luz das sombras, despertam animadamente a rede de memórias ancestrais.

➡️ O bilhete tem um custo de 3€ e pode ser adquirido presencialmente no Centro Cultural ou através do telefone 278 428 100. 

Horário da bilheteira:

🕒 Dia útil
10h00 - 12h30 | 13h30 - 17h00 
🕒 Dia de espetáculo
16h00 - 18h00 | 20h30 - 21h30

O PRÍNCIPE PERFEITO

 Os Reis Portugueses têm todos um cognome. Acho que é assim, ou era, em todos os Países com Realeza. Cognome é a palavra síntese que caracteriza o homem ou a sua obra. Curioso não acontecer aos Presidentes das Repúblicas este escrutínio que desemboca num epíteto. Esse epíteto, esse cognome é muitas vezes revelador da estaleca de estadista que esse Rei revelou. Ter de cognome “o gordo” ou “o formoso” como aconteceu a D. Afonso II e a D. Fernando respectivamente quer dizer que como Reis não fizeram nadinha pois o que sobrou dos seus mandatos foi o seu aspeto físico, só. Não sei quem fez este baptismo, se foi o povo, os cronistas ou se foi posteriormente um painel de historiadores. De qualquer forma sei que não foi o povo que baptizou D. Sancho II de Capeto. 
A um Rei que deixa fugir a mulher para os braços de Portocarreiro, um nobre de Ourém, e que deixa fugir o trono para as mãos do irmão, D. Afonso III, o povo encontraria um epíteto algo menos lisonjeiro que Capeto. O mesmo com D. Afonso VI a quem chamaram “o vitorioso”. D. Afonso VI deixou que o irmão D. Pedro II lhe roubasse a mulher, D.ª Francisca de Saboia, o trono e o metesse na cadeia. O homem a quem acontecem estes três revezes não é necessariamente um vitorioso. Em contrapartida a pessoa que inflige estes infortúnios não é de forma alguma um “Pacífico”, cognome de D. Pedro II. Também o cognome de D. Sebastião, “o desejado” me parece deslocado. 
Então um Rei que arrasta um País para uma guerra sem medir as consequências é desejado porquê? Para voltar a fazer o mesmo? Já o cognome de D. Diniz, “Lavrador” ou “Trovador”, não está à altura do visado. Chamar-lhe “Lavrador” parece querer dizer que é um iletrado, um boçal. “Trovador” sugere um homem boémio. Ora D. Diniz compôs “cantigas de amor”, “cantigas de amigo”, musicou algumas delas, foi o primeiro Rei a assinar o nome completo e criou a Universidade de Coimbra. Além disso mandou plantar o pinhal de Leiria, o que lhe valeu o epiteto de Lavrador, quando pelos vistos não eram árvores que ele queria, mas sim madeira para as naus. Viu mais longe. Fernando Pessoa chamou-lhe “plantador de naus a haver”. Assim estaria melhor. Por último, vejamos D. João II, o “Príncipe Perfeito”. Este Rei transformou Portugal num estado moderno (à época) centralizado e hierarquizado acabando com aquele conjunto de Ducados que era o Portugal de então. 
Nessa postura de senhor do Reino celebrou com os Reis Católicos um Tratado (de Tordesilhas) sem a interferência Papal, coisa inédita até então (como se sabe o Tratado de Tordesilhas dividia o Mundo desconhecido para Portugal e Espanha o que levou o Rei Francês Francisco I a perguntar “qual é a clausula do testamento de Adão que me proíbe de entrar nessa divisão?). Investiu na Ciência e no Conhecimento no sentido de descobrir o caminho marítimo para a Índia. Mandou Pêro da Covilhã por terra, Bartolomeu Dias por mar, apoiado por cartógrafos capitaneados por Zacut e tendo por explorador avançado o enigmático lobo do mar Duarte Pacheco Pereira (o Aquiles Lusitano de Camões) Portugal pedia meças ao Mundo em conhecimento marítimo. A ponto de, na negociação do Tratado de Tordesilhas, os Espanhóis ficarem surpreendidos com o à vontade com que dominávamos esses dossiers. 
Repare-se que os dois grandes feitos marítimos Espanhóis, as descobertas dos caminhos marítimos para a América e da volta ao Mundo feitas por Cristóvão Colombo e Fernão de Magalhães respetivamente, foram realizados por homens da escola Portuguesa (não há dúvida que quando Portugal investe em Ciência explodimos em excelências). D. João II pôs, de facto, Portugal no centro do Mundo a ponto de quando da sua morte, Isabel, a Católica, ter desabafado: “morreu o Homem”. Mas D. João II também tem outra face. Para deter o poder absoluto perseguiu, assassinou ou executou dezenas de pessoas e outras exilaram-se em Castela. Ao Duque de Bragança prendeu-o, julgou-o e degolou-o. Ao Duque de Viseu, seu cunhado, meteu-lhe uma faca nas costelas em plena praça pública. Ao Bispo de Évora prendeu-o e envenenou-o na prisão. Bom, foi um autêntico estado de terror. Então sabendo-se isto, continuamos a chamar “Príncipe Perfeito” a D. João II? SIM! 
A análise dos acontecimentos históricos não pode ser feita nem com lamechice, nem do ponto de vista do bom senso, nem à luz de princípios éticos, mas sim na verificação das alterações que esses acontecimentos provocaram no percurso histórico desse país. Por exemplo: D. Afonso VI perdeu a mulher e o Reino para o seu irmão, mas a História considera isso perfeitamente irrelevante. Por outro lado, releva o facto de nenhum outro Rei ter ganho tantas batalhas a Castela e isso sim foi importante para o País. Daí lhe chamar o “Vitorioso”; D. João II matou o cunhado, envenenou o bispo, mas o País não teve qualquer sobressalto. Estes acontecimentos não passam de estórias da História, de epifenómenos de um fenómeno maior. Já a História releva a forma Perfeita como conduziu o País até ao topo da notoriedade. 
Estamos a falar de D. João II, mas podíamos estar a falar de Otelo Saraiva de Carvalho. Pese embora àqueles que trazem a democracia atravessada nas goelas e que portanto o elegem como o inimigo público nº 1, a História não vai perder muito tempo com os mandatos de captura em branco, com as fanfarronices, com as putativas ligações às FP 25, mas vai registar o nome do homem que foi o rosto do 25 de Abril porque este acontecimento alterou por completo o pulsar do País.

Manuel Vaz Pires

Mensageiro de Bragança - 15 DE MAIO DE 1970

Apresentação do catálogo do Museu Etnológico José Quina

 Nesta sexta-feira, dia 1 de março, é apresentado na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro (CTMAD), em Lisboa, o catálogo do museu etnológico “José Quina”, um espaço museológico localizado em Vimioso e cuja coleção dá a conhecer da vida rural dos séculos XIX e XX.


A apresentação pública do livro está agendada para as 18h00 e vai contar com a participação do presidente da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro (CTMAD), Hirondino Isaías, do presiente do município de Vimioso, Jorge Fidalgo e do autor e proprietário do museu, José Quina.

O catálogo do museu – que já havia sido apresentado em Vimioso, no decorrer na I Bienal Intercultural, Transfronteiriça e Europeia, no dia 2 de outubro de 2023 – é constituído por quatro conteúdos descritivos e pelo registo fotográfico e identificativo das peças que integram a exposição.

A exposição está ordenada em 34 ambientes temáticos e entre as mais de 2 mil peças existem alfaias agrícolas, ferramentas de diversas profissões, apetrechos e utensílios da vida doméstica.

O museu etnológico José Quina foi criado em 2018 e está instalado na casa desta família, em Vimioso.

HA

Municipio de Vila Flor destaca os azeites do concelho na BTL

 Entre os rios Tua, Sabor e Douro, cerca de 1 000 000 de oliveiras, expostas ao clima produtor de aromas e sabores únicos, dão origem a um dos produtos mais importantes do concelho, considerados por muitos, como os melhores do mundo.


“Mítico, bíblico, romanesco e histórico”, assim caracteriza o município de Vila Flor os azeites do concelho, que estiveram em destaque na abertura da BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa.

O azeite de Vila Flor exibe prémios, menções honrosas e medalhas, não só em Portugal como além-fronteiras, “fruto da sua qualidade inegável, temperando os saberes e os sabores que as suas gentes teimam em preservar e cultivar”, refere o presidente da Câmara, Pedro Lima.

Entre os rios Tua, Sabor e Douro, cerca de 1 000 000 de oliveiras, expostas ao clima produtor de aromas e sabores únicos, dão origem a um dos produtos mais importantes do concelho, considerados por muitos, como os melhores do mundo.

Uma das particularidades do azeite produzido em Vila Flor está diretamente relacionada com a composição varietal dos olivais, que produzem um azeite com características organoléticas únicas. As principais variedades de oliveira existente no concelho são a verdeal transmontana, madural, cobrançosa, cordovil e redondal.

“Pelas suas características específicas e qualidades gustativas excecionais, que o fazem distinguir dos demais azeites do país, é intenção do Município mostrar, promover e divulgar este produto endógeno através da sua degustação e provas na expetativa que esteja cada vez mais presente na mesa dos portugueses, por forma a sublinhar os paladares dos alimentos, ligando-os e respeitando-os, tornando-os mais saudáveis, ricos e prazerosos”, remata Pedro Lima, que na BTL conduziu pessoalmente a apresentação dos azeites e a prova de degustação, realizada no stand da Comunidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (CIM TT).

Criação do Vila Flor Ecopark avança já nesta Primavera

 Arrojado, inovador, atrativo e essencialmente projetado para responder às tendências de mercado e expectativas dos turistas atuais, a criação do Vila Flor Ecopark avança no início da Primavera.


Consciente da importância do turismo para o desenvolvimento do concelho e da região, o presidente da Câmara de Vila Flor, Pedro Lima, já levou o “Vila Flor Ecopark” à Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), começando assim a trabalhar numa marca ainda em construção, que necessariamente vai precisar de tempo e promoção para se afirmar. “Este é um primeiro grande passo, mostrar fora de portas a nossa estratégia, o nosso empenho em criar condições para qualificar a nossa oferta, mostrar o nosso compromisso na sustentabilidade, ambiental, económica e social”, argumenta o autarca.

O Município de Vila Flor está em condições de avançar já na Primavera com a primeira fase da requalificação do antigo Parque de Campismo, inaugurado em 1983, e toda a zona envolvente, de forma a criar uma estrutura moderna, inovadora, funcional e com fortes preocupações ambientais e educativas.

O “sonho”, como o descrevia o presidente da Câmara, Pedro Lima, há um ano, está prestes a materializar-se no terreno.

“Citando Leonardo da Vinci, a simplicidade é o último grau de sofisticação”, sublinha o edil, explicando que, apesar de arrojada, a intervenção pretendida assenta nos recursos naturais, que existem, estão ao dispor, é preciso acrescentar-lhes valor: “É aqui que se pretende intervir, preparar a herança das gerações vindouras com respeito pelo planeta, pelos recursos que nele existem, pelas acessibilidades e inclusão, pela preservação do ecossistema, da fauna e flora, pela biodiversidade, e é de forma sustentável que Vila Flor pretende conquistar um lugar de referência na era moderna, que conjugue conforto, natureza, glamour, modernização, inovação, recreio e lazer”, sustenta.

O objetivo é que a requalificação seja o menos percetível, “queremos fazer uma renaturalização, para que quem entrar lá, pense: “isto é natureza intocável”, defende.

“Um dos pontos diferenciadores do projeto é a criação de um Centro de Alterações Climáticas com vertentes de estudo, investigação e desenvolvimento de ações na área florestal, respondendo à obrigação que todos temos de usar o conhecimento para assegurar o respeito por todo o contexto ambiental”, adianta Pedro Lima.

Na vertente de recreio e lazer, o projeto prevê a construção de um anfiteatro ao ar livre com mobiliário moderno, corte de ténis, campo de jogos, Outdoor GIM -ginásio ao ar livre, playground, zona para refeições, zonas de contemplação e relaxamento, nomeadamente para observar o céu estrelado de um território com certificação Starlight, espaços que convidem à leitura e convívio, e ainda na criação de um lago e piscina natural, apoiados nos espaços já existentes nas zonas envolventes, como as piscinas municipais, o campo de futebol de praia “Arena Vila Flor”, o estádio municipal, o mini zoo e a barragem do peneireiro.

Na oferta mais conhecida, a do campismo, vão ser criadas zonas individualizadas, por setor, desde zonas para tendas, glamping, car tent, caravanas, autocaravanas, bungalows e as denominadas casas de árvore, sendo disponibilizados serviços, tais como, supermercado, lavandaria, engomadoria, balneários, serviço de limpeza e despejo para autocaravanas.

Este investimento terá um custo total de cerca de 3,5 milhões de euros, tendo já sido assegurado pelo Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente, um apoio de cerca de 2,2 milhões de euros, através de um protocolo de Colaboração Técnica e Financeira, no âmbito das ações do Roteiro das Terras de Miranda, Sabor e Tua, assinado também pela Agência Portuguesa do Ambiente, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, I.P.

Meia centena de mulheres foram à caça ao javali

 O concelho de Mirandela acolheu, durante o fim-de-semana, uma montaria ao javali. Até aqui nada de novo, tantas são as que se realizam por esse país fora. Mas, esta foi exclusivamente para mulheres que pretendem provar que a caça não é apenas para homens e vão testar se a pontaria está afinada.


Cidália Fernandes, natural de Vinhais, tem 34 anos, e desde bem cedo começou a gostar de caçar. “Já vem de alguns anos, porque o meu avô era caçador e o bichinho começou aí”, conta esta técnica de relações públicas. “Entretanto, cresci e achei que o meu forte seria a caça grossa. Comecei como matilheira, a acompanhar os meus amigos que caçavam ao javali, em montaria, surgiu depois a oportunidade de tirar a carta de caçador e desde então comecei a caçar ao javali, mas também foram surgindo outras espécies, como a caça ao coelho, à perdiz e outros”, adianta.

Foi uma das responsáveis pela organização da montaria feminina de Trás-os-Montes que juntou mais de meia centena de mulheres. “Vieram não só as caçadoras de todo o país, mas também de outros países como a Espanha, Suécia e Alemanha. Vieram um pouco de toda a parte”, diz.

Fernando Pires

Construção de alojamento para animais numa zona residencial revolta moradores do Vale Churido

 Vários moradores da Rua José Saramago, no Bairro do Vale Churido, em Bragança, queixam-se que um vizinho está a construir um alojamento para animais de companhia, com cerca de dez boxes, que consideram ser um canil num anexo do quintal da habitação, localizada numa área residencial, destinado à criação de cães de raça para comercialização.


Um dos moradores já apresentou várias denúncias a entidades como a Câmara de Bragança, o Instituto de Conservação da Natureza (ICNF), a Direção-geral de Alimentação e Veterinária, Direção Regional de Agricultura do Norte, Delegação de Saúde e outras, com o objetivo de travar o avanço da estrutura e impedir a permanência dos animais. “É uma questão de saúde pública”, afirmou Amílcar Pires, um dos moradores queixosos, considerando a situação “inaceitável”.

O proprietário garante que não se trata de um canil, mas de um alojamento para animais, devidamente licenciado pelo ICNF, constando da lista dos alojamentos para animais de companhia com fins lucrativos autorizados, tal como o Mensageiro constatou na página da Internet daquele instituto. “As primeiras queixas foram enviadas nos dias 3, 5 e 13 de março de 2023 para um engenheiro da Câmara de Bragança, dando conta da construção do canil. Nessa altura já era evidente o que estava a ser construído e dei conhecimento da provável construção de um anexo para canil. Porque evidenciava tudo isso. No dia 13 já estava a cobertura posta”, explicou Amílcar Pires.

Glória Lopes

Fabíola Mourinho apresentou o livro “O sonho que perdeu o h”

 A Biblioteca Municipal de Miranda do Douro foi o palco escolhido para a apresentação ao público do livro “ O sonho que perdeu o h”, a primeira obra literária da autoria de Fabíola Mourinho, uma nutricionista mas que ‘nutre’, desde sempre, uma enorme paixão pela música e pela escrita.


Apesar de o conto ser direcionado a uma faixa etária mais jovem, a mensagem é transversal a qualquer idade.

Trata-se de uma história que evidencia a riqueza das raízes e dos afetos, sobretudo da relação entre netos e avós e que deixa uma mensagem poderosa sobre a importância de não deixar de sonhar, alertando para tudo aquilo que “mata” os nossos sonhos”. A história é inspirada nas vivências da infância da autora, com a cidade de Miranda do Douro como pano de fundo. O conto que ganhou em 2019 um prémio da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN) no âmbito dos Apoios aos Agentes Culturais, foi editado pela Flamingo Edições e ilustrado pela ilustradora Olga Neves.

Em síntese, numa cidade pequenina escondida atrás dos montes, morava um menino de olhos brilhantes que tinha um sonho. Um dia, um grupo de vilões (o medo, a preguiça, a vergonha) que se instalou no coração do menino, levou a que o Sonho se cansasse de sonhar e ficasse adormecido… Mas, felizmente, no coração do menino, guardados dentro da Caixinha das Palavras Preciosas.

“O Sonho que perdeu o h”, será apresentado também em Bragança.

Francisco Pinto

Bombeiros de Izeda, Sendim e Torre de Dona Chama querem passar a Postos PEM devido a prejuízos ao serviço do INEM

 Os bombeiros de Izeda, Sendim e Torre de Dona Chama querem passar a ser Postos de Emergência Médica, devido aos prejuízos que estão a ter


Estas corporações prestam serviço INEM, mas não recebem qualquer verba fixa do Governo, por serem apenas Postos de Reserva.

Das 15 corporações do distrito, são as únicas que não são Postos PEM.

O presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros de Sendim, Ilídio Rodrigues, queixa-se que são obrigados a suportar todos os custos. “Se nós precisamos de uma ambulância de emergência, não nos dão montante nenhum, nem nos dão viatura, ou seja, somos nós que temos que adquirir a viatura. Além disso, não recebemos nenhum montante fixo financeiro mensal atribuído. A diferença é que nos pagam na taxa de saída e o no preço por quilómetro ligeiramente mais alto, do que pagam aos Postos PEM, mas é só isso e temos que garantir o mesmo serviço, a mesma rapidez e a mesma prontidão”, reclamou.

As corporações que são Postos de Emergência Médica recebem, mensalmente, 4890 euros do INEM, além do pagamento dos quilómetros.

Uma vez que os bombeiros de Sendim não recebem esta taxa fixa, Ilídio Rodrigues admite que este serviço causa prejuízos que às vezes ultrapassam os mil euros por mês. “Temos prejuízo com os transportes de INEM, só que nós não podemos recusar a fazê-los. Fazemos imensa ginástica para que seja possível, socorremo-nos de serviços, voluntários e dos nossos trabalhadores fora dos seus horários normais de trabalho, e compensamo-los por isso, e é uma grande aflição. Urge resolver este problema, é uma questão de justiça e equidade, porque os serviços que eles prestam são os mesmos que nos prestamos”, vincou.

Para o presidente da Associação Humanitária de Izeda suportar os custos do INEM é insustentável. João Lima disse que o pagamento dos quilómetros não é suficiente para a prestação do serviço. “É pago à parte, mas nós temos que pagar à corporação, comprar o carro e os consumíveis, arcar com tudo. Nós fazemos mais INEM’s que mais de metade das associações que têm PEM. A não ser Bragança, Macedo de Cavaleiros e Mirandela, ninguém faz mais do que nós”, afirmou, acrescentando que “a sustentabilidade do INEM é do Governo e não das associações”.

Esta semana, a Liga dos Bombeiros Portugueses exigiu ao INEM que actualizasse a taxa fixa que paga às corporações que são Postos PEM.

De acordo com o presidente da Federação distrital dos Bombeiros, Diamantino Lopes, o valor devia ser actualizado para seis mil euros. “O compromisso que as associações têm é que respondam ao minuto às solicitações de socorro, doenças súbitas, acidentes, é esse o objectivo dos PEM. Para cobrirmos 24h significa termos quatro equipas de dois homens, oito pessoas, com um custo médio, por pessoa, de 1500 euros, mais os custos de funcionamento, implica uma despesa de 12 mil euros por mês”, explicou.

A Liga dos Bombeiros Portugueses deu ao INEM até 15 de Março para apresentar um documento que responda às exigências de financiamento. O actual acordo sobre os valores atribuídos às corporações está em vigor desde Outubro de 2021, na altura assinado pelo anterior presidente da Liga dos Bombeiros.

Escrito por Brigantia
Foto: Bombeiros.pt
Jornalista: Ângela Pais

Centro Social e Paroquial de Quintela de Lampaças quer alargar edifício para criar um lar

 O Centro Social e Paroquial de Quintela de Lampaças, no concelho de Bragança, quer alargar a estrutura e criar um lar


Ontem, à margem das comemorações do vigésimo quinto aniversário da instituição, um dos fundadores, Francisco Marcolino, lamentou a perda de financiamento do projecto, devido a problemas burocráticos. “Temos uma ambição, que é fazer a unidade de noite, que teria sido possível não nos fossem rejeitados 200 mil euros de um projecto que candidatos e foi aprovado, mas por questões burocráticas não conseguimos ter esse dinheiro. Esperamos a curto prazo ou pelo menos a médio prazo levar por diante essa obra, que é muito importante, porque nesta zona sul do concelho de Bragança e na zona Norte do concelho de Macedo de Cavaleiros não tem qualquer estrutura de apoio a pessoas que estejam sozinhas”, disse.

O lar terá capacidade para acolher mais de 20 idosos. Agora aguardam poder candidatar o projecto ao novo quadro comunitário para obtenção de financiamento.

Quanto ao centro de dia, acolhe neste momento 40 pessoas, em instalações novas. 400 mil euros, de fundos próprios, permitiram a construção de um novo edifício. “Estávamos a precisar muito, porque o edifício antigo estava completamente obsoleto, já não tinha as condições necessárias para o público-alvo com que nós trabalhamos. Estamos nestas instalações desde 2021, foi uma obra muito difícil de se fazer, até porque apanhamos a pandemia, por isso, demorou algum tempo”, adiantou a directora técnica, Andreia Cordeiro.

O aumento dos custos dos bens alimentares traz agora novos desafios à instituição. O apoio da Segurança Social não chega para fazer face às necessidades. “Atravessamos tempos bastante difíceis em termos de compras de bens alimentares, que subiram imenso os preços, mas também nas nossas deslocações em apoio domiciliário, deslocamo-nos diariamente cerca de 100 Km. Tudo isso encarece o serviço, mas temos conseguido fazer face às dificuldades”, referiu.

Centro Social e Paroquial de São Lourenço, em Quintela de Lampaças, concelho de Bragança, comemorou, esta quarta-feira, 25 anos.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais

Primeira fase da requalificação da EN103 Vinhais-Bragança tem despesa autorizada

 O Governo autorizou a despesa para as obras de requalificação da Estrada Nacional 103, que liga Vinhais a Bragança, no valor de 24 milhões de euros foi hoje publicado em Diário da República.


A portaria, assinada pelo Secretário de Estado Adjunto e das Infraestruturas, Frederico André Branco dos Reis Francisco, dá luz verde à Infraestruturas de Portugal (IP) para “proceder à repartição de encargos relativos ao contrato para a empreitada”, entre este ano e o próximo, para uma intervenção em 32 quilómetros até à capital de distrito.

Assim, os encargos orçamentais serão divididos com 1,5 milhões de euros ainda este ano e o restante, 22,5 milhões, em 2025.

Em janeiro, o município de Vinhais tinha anunciado um reforço da verba alocada ao projeto, depois de uma assinatura de adendas aos contratos entre IP, a Estrutura de Missão Recuperar Portugal (EMRP) e os beneficiários finais, que teve lugar em Castelo Branco.

O valor total do financiamento da ligação Vinhais/Bragança ficou nos 36.646.200,76 euros, sendo anteriormente de 31 milhões de euros.

Segundo explicou no início do ano a câmara vinhaense, a obra “visa a requalificação da via existente, com retificação de algumas curvas e a construção de pequenas variantes (como a Variante a Vila Verde, com uma extensão de 4km) correspondendo a 16% de via nova no total da intervenção”.

Contactada pela agência Lusa, a IP sublinhou que, com a EMRP, assinaram no início de janeiro, o reforço ao contrato de financiamento para o Investimento PRR – Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) “Ligações Transfronteiriças EN103 Vinhais / Bragança”, nos termos do qual o montante global de financiamento para este projeto, passou a ser de 36,6 milhões de euros.

No entanto, esta requalificação cuja autorização de despesa plurianual foi agora autorizada diz respeito apenas à primeira fase do projeto, com intervenções entre os quilómetros 228 e 260,400 da estrada e que vai custar 24 milhões de euros.

“A segunda fase corresponde à construção da Variante de Vila Verde, cujo projeto de execução está a ser concluído, devendo a respetiva empreitada ser lançada logo que reunidas as condições necessárias”, rematou a IP em resposta escrita.

TYR // LIL
Lusa/Fim

Forjando Alianças - Na Madrugada dos Tempos - Parte 19

Por: Manuel Amaro Mendonça
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
 
Para vencer - material ou imaterialmente - três coisas definíveis são precisas: saber trabalhar, aproveitar oportunidades, e criar relações. O resto pertence ao elemento indefinível, mas real, a que, à falta de melhor nome, se chama sorte.

Fernando Pessoa (1888-1935)
Escritor português

Mirsulo estava feliz. Aqueles homens e mulheres, apesar de culturalmente mais atrasados, recebiam-nos como irmãos e, principalmente, salvaram a vida do primogénito. É verdade que tinha muitos filhos das suas quatro esposas, mas Tibaro, além de mais velho, sempre fora o seu favorito. Era aquele que lhe recordava ele próprio, quando era mais jovem.

Olhou Erem de perfil, enquanto este contava uma peripécia de caça a Savirio. Era um rosto de linhas firmes, nariz forte e queixo bem delineado. Os seus olhos castanhos olhavam diretamente nos do seu interlocutor, sem se desviarem. Gostou daquele homem assim que o viu; alguém que se preparava para se defender de um grupo de jovens guerreiros armados com um bando de velhos, mulheres e crianças…, mas alguém que se defenderia mesmo assim, nunca se renderia sem luta. Naci, o filho, era sem dúvida da mesma cepa, embora talvez um pouco mais impetuoso.
— Tenho uma oferta para te fazer. — Mirsulo interrompeu Erem, que o olhou com curiosidade. — Salvaste o meu filho, um estranho, sem esperar nada em troca. Quero oferecer-te uma filha! Desejo que o teu filho Naci, sei que não tem mulher, tome como esposa Tuana, uma das minhas filhas. Será muito bom ter um neto com o sangue de tal bravo.
Se Savirio o olhou com incredulidade, Erem olhou com satisfação.
Foi o curandeiro quem primeiro reagiu à proposta: —Uma das tuas filhas? Para viver no meio… deles?
— Sim. — O chefe hati estava decidido e encarou o seu companheiro de viagem com uma expressão que o silenciou. — Mandarei um dos meus construtores para construir uma casa digna da filha de Mirsulo. — Depois tornou o olhar para o chefe de Barinak. — Isto, se concordares.
— Será uma grande alegria receber a tua filha, que será como se a minha fosse. — Afirmou Erem alegremente. — O teu construtor terá muitos ajudantes.
— Quero também propor-te outra troca. — Mirsulo estava imparável. — Vejo, pela variedade de carnes salgadas que me apresentas, que tens acesso a abundância de sal; que queres trocar por alguns cestos de tempos em tempos?
— O sal que temos vem da grande água a dois dias daqui. — Esclareceu Erem simplesmente. — Os comerciantes que o tiram da água trocam a qualquer um.
— Sim, eu sei. — O chefe hati sorriu. — Mas fica a dois dias de viagem para ti, para mim são mais de quatro e outros tantos de volta. Antes, íamos a uma mina de sal a menos de três dias para Ner [1]de Hatiweik. Há algumas luas, um grande bando de nómadas apossou-se da aldeia e da mina e não negoceiam, ou simplesmente pedem coisas impossíveis. Se trocasses sal comigo, os meus carregadores fariam apenas dois dias de viagem. Que quererias em troca?
Erem fitou o rosto largo e sincero do seu homólogo enquanto pensava se deveria pedir já o que lhe interessava, ou se começaria por outra coisa qualquer. Após uns segundos, como impaciente que era, resolveu ir logo diretamente ao assunto: — Quero saber como se consegue isto. — Apontou a reluzente placa de cobre, decorada com gravações, que Mirsulo trazia ao peito.
Savirio olhou com espanto para Erem e depois para o seu chefe, com a expressão: “Eu não te disse?”
O chefe dos hati olhou para a placa enquanto a acariciava pensativamente. Depois, num gesto rápido, tirou a tira de couro com que a suspendia ao pescoço. Sob o olhar atento do seu curandeiro e, exibindo um sorriso nervoso, colocou-a em Erem que ficou visivelmente agradado.
Lemi bateu as palmas com satisfação pelo gesto.
— Salvaste o meu filho! — Reafirmou Mirsulo gravemente. — És meu irmão! — Agora diz-me, irmão, queres o quê exatamente? Estes adornos? — Exibiu as pulseiras que subiam em espiral pelos braços em grossos fios.
— Preciso de armas melhores. — Respondeu Erem, aliviado por poder falar francamente. — Temos sido atacados e roubados por estranhos que trazem armas como as vossas; as lanças espetam-se melhor e as facas não se partem e são mais compridas.
— Obter o cobre não é fácil. — Explicou o chefe hati. — É precisa grande magia para roubar o sangue de fogo das pedras.
— Magia? — Lemi e Erem surpreenderam-se.
— Sim, claro, como acham que conseguiria fazer uma coisa tão dura como pedra? — Savirio adiantou-se. — Só os mágicos é que atiram pedras para o fogo e transformam-nas no sangue da terra. Um líquido grosso que corre em brasa e queima tudo em que tocar.
— Também temos sido atacados aqui e ali por esses bandidos. — Informou Mirsulo, desviando a conversa. — Não se atrevem muito próximo de Hatiweik porque sabem que está bem protegida atrás dos muros. Mas atacam as casas dos agricultores que existem em volta, matam, roubam e destroem tudo. São os mesmos que se apoderaram das minas de sal. Os meus espiões dizem que vieram de Ner, são muito numerosos e não param de chegar mais.
— Deveríamos tê-los atacado quando se apoderaram das minas e eram menos. — Censurou Savirio. — Conforme te recomendaram o teu filho e os chefes guerreiros.
— Mesmo quando eram menos, — Mirsulo não ficou contente com a censura do curandeiro —, continuavam a ser muitos e morreriam muitos dos nossos para os destruir. Os nossos homens estão habituados a exigir tributos a comerciantes reticentes, castigar ladrões e a expulsar desordeiros. Lutar contra guerreiros armados e acostumados à guerra    será muito diferente.
— Antes o problema era difícil, agora é praticamente impossível… — insistiu Savirio.
— Chega! — Ordenou o chefe hati estendendo a mão com a palma para baixo na direção do seu subordinado. — Se se tratasse de um simples bando de salteadores já estavam eliminados. Mas são um número muito grande de guerreiros, que correm nas costas de cavalos, armados com lanças e flechas.
— Cavalos? — Lemi arregalou os olhos? — Como conseguem subir nas costas dos cavalos?
— Também não sabemos. — Mirsulo mostrou-se desanimado. — Sempre usamos burros como animais de carga, alguns deixam-se montar, principalmente aqueles que nascem dos que apanhamos selvagens. Mas os cavalos, é quase impossível apanhá-los com vida, quanto mais montá-los.
— A solução é unir forças. — Sugeriu Lemi, calando-se de imediato e desculpando-se com um olhar a Erem.
— Estariam prontos a lutar ao nosso lado? — Mirsulo mostrou-se interessado. — Há outros povoados nossos amigos… realmente, se nos uníssemos todos…
— Teria de falar com todo o meu povo. — Erem fez uma expressão de desagrado. — Não poderia simplesmente dizer-lhes para caminharem para a morte.
— Ou para a vitória. — Acrescentou Savirio.
Fez-se um silêncio pesado entre eles enquanto cada um se refugiava nos seus próprios pensamentos.
Erem interrompeu as meditações: — Mas quanto ao cobre. Que temos de fazer para o conseguir?
— Em troca do sal… — começou Mirsulo fazendo uma expressão pensativa —…, poderemos dar-vos pontas de seta e de lança. O problema é que não há tanto cobre como possas pensar. Não são quaisquer pedras que os mágicos querem, têm de ter uma cor e um aspeto que eles exigem. Temos de escavar muito para encontrá-las, outras vezes, são trazidas por comerciantes provenientes de Hewsos[2], mas não dizem de onde vieram exatamente.
Zia, ultrapassado o aborrecimento, regressou ao convívio e sentou-se pesadamente ao lado de Savirio, para desagrado deste. Erem dedicou-lhe um sorriso triste a que ela correspondeu.
— Os teus mágicos poderiam ensinar-nos quais as pedras a procurar… — sugeriu Lemi, espreitando por cima da cabeça de Zia.
O curandeiro hati voltou a deitar um olhar de alarme ao seu chefe.
— Estamos a falar sobre o cobre. — Erem informou a mulher. — Mirsulo diz-nos que são mágicos que produzem o cobre, queimando umas pedras.
— Nunca ouvi falar dessa magia. — Entendida no assunto, a xamã emitiu a sua opinião. — O poder dos deuses é pedido em muitas ocasiões, nem sempre conseguido. Que fazem essas pedras queimadas?
— Transformam-se no sangue da terra! Vermelho, fumegante e queima tudo em que toca. Quando arrefece fica duro como a pedra. — Explicou Savirio, com ar de superioridade.
— E qual o deus que abençoa essa transformação? — Questionou ela assumindo a mesma postura.
— Mas que queres saber tu, mulher, destes assuntos de homens? — A agressividade do curandeiro regressara.
— Não me vais voltar a fazer sair da minha própria casa! — Rosnou Zia entre dentes, mas suficientemente alto para que os mais próximos ouvissem. —Tal como o sol e a lua, também o homem e a mulher foram criados diferentes e iguais no Primeiro Amanhecer! Se Da Pater é o deus pai, Da Mater é mãe, irmã e esposa! A mulher não está abaixo do homem, mas a seu lado! — Os seus olhos pareciam soltar chispas na direção de Savirio. — Eu sou a sacerdotisa de Swol, xamã do Clã do Leão das Montanhas. Sou a voz e a mão do deus. Sou xamã, caçadora, guerreira e mãe, mais do que tu alguma vez serás! És meu convidado e ouço o que dizes, tu deves respeitar a mim e a minha casa!
— Ouço-te, esposa de Erem e xamã! — Mirsulo tomou a dianteira rapidamente, calando Savirio com um gesto. — O curandeiro-maior do meu povo respeitará a tua posição, apesar de seres mulher e isso ser diferente dos nossos costumes. — Depois olhou diretamente para ele. — Se ele não se sentir bem, tem a minha autorização para se retirar. Não te voltará a afrontar.
Savirio corou da cabeça aos pés e olhou o seu chefe de soslaio por várias vezes sem conseguir evitar de resmungar baixinho o seu descontentamento.
— Para responder às tuas perguntas sobre os deuses que presidem à transformação das pedras — retomou Mirsulo — é Tarunte, claro, deus da guerra do fogo e da vida.
— Tharun é o deus do trovão, da guerra e do fogo, sim. — Respondeu ela, corrigindo o nome. — Mas não o da vida. Da Pater e Da Mater criaram o primeiro homem e a primeira mulher, eles sim, os deuses da vida e puseram-nos à guarda de Swol e Mensis. O Senhor do Dia ilumina-nos e faz crescer as colheitas e os animais e a Senhora da Noite vela sobre a escuridão e guia a fertilidade da mulher que dá os filhos dos Homens.
— Se teu esposo permitir — num ato de apaziguamento, Mirsulo soltou uma das suas pulseiras de cobre em espiral e ofereceu-a diretamente a Zia, depois de um rápido olhar a Erem — recebe este penhor do meu respeito pela xamã e voz dos deuses do Clã do Leão das Montanhas.

[1] Proto Indo-Europeu: Esquerda (que acabará por ser o ponto cardeal norte) por oposição ao sol do meio-dia.
[2] Proto Indo-Europeu: Madrugada é uma das deusas do panteão, mas também um dos pontos cardeais que dará origem ao Leste.

Manuel Amaro Mendonça
nasceu em Janeiro de 1965, na cidade de São Mamede de Infesta, concelho de Matosinhos, a "Terra de Horizonte e Mar".
É autor dos livros "Terras de Xisto e Outras Histórias" (Agosto 2015), "Lágrimas no Rio" (Abril 2016), "Daqueles Além Marão" (Abril 2017) e "Entre o Preto e o Branco" (2020), todos editados pela CreateSpace e distribuídos pela Amazon.
Foi reconhecido em quatro concursos de escrita e os seus textos já foram selecionados para duas dezenas de antologias de contos, de diversas editoras.
Outros trabalhos estão em projeto e sairão em breve. Siga as últimas novidades AQUI.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

creazione dell´amore

 Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)


Velada em mim, assim devagar, 
toda cheia de transparência sem corpo…
Só espanto a fluir em mãos sóbrias de melodia e certezas. 
Partitura, dedilhada, de alma 
que ama a transcendência de ser, 
viaja aos sons mais puros. A pressentida aventura 
da sonância soberana, nos dedos que percorrem 
todas as notas da vida pela génese do nosso íntimo grito.
O nascimento de Vénus no véu 
da singeleza ardente de Eros.
Dedos fecundos de alucinação no olhar…
E assim lhe escuto o lirismo gracioso, 
nessa viagem 
que sobe os degraus fluídos
de todas as composições de uma luz única.
Ensejo e desejo livre, aos brados, na loucura do coração 
que só ela faz entrar em si.
.
Oh! Entendessem todos os puros de espírito
sobre a nobreza, mais bela, emanada,
veloz, imperturbável,
no interior de cada corpo com sede de sentir…
a música primeira e última de cada instante de vida.
E saberia 
que o que é ímpar na sua subtileza
é fruto único e apetecível, pleno de sublime beleza, 
dono da mais gloriosa e iluminada grandeza!

@Lázaro Rios
(heterónimo de, Paula Freire)
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poema inspirado e dedicado à pianista italiana, Francesca Serafini
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Paula Freire
- Natural de Lourenço Marques, Moçambique, reside atualmente em Vila Nova de Gaia, Portugal.
Com formação académica em Psicologia e especialização em Psicoterapia, dedicou vários anos do seu percurso profissional à formação de adultos, nas áreas do Desenvolvimento Pessoal e do Autoconhecimento, bem como à prática de clínica privada.
Filha de gentes e terras alentejanas por parte materna e com o coração em Trás-os-Montes pelo elo matrimonial, desde muito cedo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita, onde se descobre nas vivências sugeridas pelos olhares daqueles com quem se cruza nos caminhos da vida, e onde se arrisca a descobrir mistérios escondidos e silenciosas confissões. Um manancial de emoções e sentimentos tão humanos, que lhe foram permitindo colaborar em meios de comunicação da imprensa local com publicações de textos, crónicas e poesias.
O desenho foi sempre outra das suas paixões, sendo autora das imagens de capa de duas obras lançadas pela Editora Imagem e Publicações em 2021: Cultura sem Fronteiras (coletânea de literatura e artes) e Nunca é Tarde (poesia).
Prefaciadora do romance Amor Pecador, de Tchiza (Mar Morto Editora, Angola, 2021) e da obra poética Pedaços de Mim, de Reis Silva (Editora Imagem e Publicações, 2021).
Autora do livro de poesia Lírio: Flor-de-Lis (Editora Imagem e Publicações, 2022).
Em setembro de 2022, a convite da Casa da Beira Alta, realizou, na cidade do Porto, uma exposição de fotografia sob o título: "Um Outono no Feminino: de Amor e de Ser Mulher".
Atualmente, é colaboradora regular do blogue "Memórias... e outras coisas..."-Bragança e da Revista Vicejar (Brasil).
Há alguns anos, descobriu-se no seu amor pela arte da fotografia onde, de forma autodidata, aprecia retratar, em particular, a beleza feminina e a dimensão artística dos elementos da natureza, sendo administradora da página de poesia e fotografia, Flor De Lyz.

Manhã bonita de sol que nos aproxima da Primavera

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Recordações de uma vida me perpassam pela mente, algumas trágicas, outras menos, também umas quantas trágico-cómicas em graus tolerados mas que residem no local que Deus preparou para que não esqueçamos nada que nos sirva como experiência para trilharmos os caminhos que nos surjam.
Corria o ano de 1978 e eu tinha deixado a Pastelaria Poças e fiz uma sociedade com o Senhor Marcelino e o seu cunhado que eram proprietários da antiga Pastelaria Ribeiro.
Ficámos no mesmo endereço, mas primeiramente houve que negociar com a proprietária que não se opôs a que fizéssemos as obras de modernização que acabaram por demorar uns meses, tendo nós combinado com o meu pai e meu irmão mais velho, para levar a cabo tal encargo. Ora aquilo foi obra quase para meio ano e mudamos a fábrica para o Campo Redondo onde o meu irmão tinha um tipo de armazém que era o ideal para podermos meter a maquinaria e o restante equipamento.
Tinha luz eléctrica e água da rede suficientemente para o nosso mester. Mudámos para o Campo Redondo e lá estivemos até Agosto desse ano tendo transitado do Campo Redondo para a Pastelaria Domus, que foi o nome que escolhemos para a nova Pastelaria que graças a Deus ainda funciona e que eu deixei em Oitenta e Um.
Eu mais dos dias ia a pé para o trabalho sendo que na Primavera era um prazer apanhar aquele sol maravilhoso que algumas vezes me enchia a Alma.
Foi esse tempo radioso que hoje ao ver de novo o Céu claro que combinava com a frescura da estrada que me fez recordar um episódio caricato do meu tempo de homem novo e todo o fascínio que eu colhia com a vida que então achava que com trabalho tudo o que ambicionamos de consegue. Não é bem assim, constatei, mas é de facto com trabalho e alguma sorte que a vida se faz mais tolerável.
Do ponto de vista físico era um desafio constante dada a precariedade dos tempos e um ponto de interrogação sobre que futuro seria o do país, estando o Dr. Mário Soares como Primeiro-ministro o Dr. Hernâni Lopes de Ministro das Finanças.
Havia falta de tudo o que era matéria prima para o fabrico da Pastelaria e era bastante difícil progredir pois os juros eram altíssimos (31%) e era necessário ter muitos conhecimentos para levar aquilo para a frente.
Mas eu era homem novo e crente de que tudo se arranjaria da melhor maneira. Ingenuidade, mas também uma fé inabalável de vencer.
Ora, quando ainda estávamos no Campo Redondo uma grande amiga resolveu casar-se. Ela não me encontrou facilmente pois foi ao Poças procurar-me e não lhe souberam dizer onde era o local da Fábrica até que ela foi à minha irmã Milú e assim me encontrou. Era uma encomenda jeitosa e deveria ser entregue sábado ao fim da tarde, no Liceu Novo até às 19:00. Caprichei particularmente no Bolo de Noiva, fiz uma base retangular com medida conciliável, com    dois andares que decorei com bordado de açúcar em pó e clara de ovo e com "pasticella " fiz uma igreja com torre sineira que era muito agradável à vista.
Sábado as 18:00 chegou à fábrica o Sr. Marcelino com uma Citroen 2CV que tinha dois lugares apenas já que era usada no transporte de mercadorias. Carregámos a carrinha cuidadosamente e deixámos um espaço do lado esquerdo para podermos levar a Luísa que era a minha ajudante mais dedicada. Matávamos assim dois coelhos de um só tiro.
Chegámos assim à porta lateral do Liceu que é a que está de frente para o Centro de Saúde. O Senhor Marcelino não teve a devida atenção, fez a curva muito fechada e a Luísa foi projetada para o seu lado direito indo cair em cima do Bolo de Noiva  que saltou por cima das outras encomendas de biscoitos, entremeios, tortas e toda uma parafernália de doçaria para um casamento de 100/120 pessoas.
A mim aquilo deixou-me estupefacto. Perguntou-me o Senhor Marcelino: - E agora? Respondi: -Tenho de voltar para trás e fazer outro. O Senhor leva-nos á fábrica, a Luísa lava-se e volta consigo, leva-a a casa por favor e eu fico a fazer outro Bolo de Noiva. Peguei no pão de ló que afortunadamente tinha feito com fartura fiz os cremes cobri-o e a igreja não terá ficado tão escorreita como a outra mas não dissemos à noiva o que havia acontecido, para não ocasionarmos possíveis atavismos ou especulações e depois da entrega fui dormir e já não fui ao casamento para o qual estava convidado…

Em memória do Senhor Marcelino, que Deus tenha na sua presença.



Bragança, 27 de Fevereiro de 2024
A. O. dos Santos
(Bombadas)

𝗥𝗲𝗹𝗲𝗺𝗯𝗿𝗲 𝗰𝗼𝗻𝗻𝗼𝘀𝗰𝗼 𝗼𝘀 𝗺𝗲𝗹𝗵𝗼𝗿𝗲𝘀 𝗺𝗼𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼𝘀 𝗱𝗼 𝟭.⁠º 𝗳𝗶𝗺-𝗱𝗲-𝘀𝗲𝗺𝗮𝗻𝗮 𝗱𝗮 𝗙𝗲𝗶𝗿𝗮 𝗱𝗮 𝗔𝗺𝗲𝗻𝗱𝗼𝗲𝗶𝗿𝗮 𝗲𝗺 𝗙𝗹𝗼𝗿 𝟮𝟬𝟮𝟰 - 𝗙𝗿𝗲𝗶𝘅𝗼 𝗱𝗲 𝗘𝘀𝗽𝗮𝗱𝗮 à 𝗖𝗶𝗻𝘁𝗮

“Fantasma”, a exposição de fotografia que retrata a realidade do meio rural e pode ser visitada até sábado na Junta de Freguesia de Macedo

 Jade Aires Moreira é uma jovem de 24 anos que utilizou a lente da sua câmara fotográfica para captar uma realidade cada vez mais evidente, que é a desertificação do meio rural.


Para isso, usou como exemplo a aldeia onde tem raízes, Argana, no concelho de Macedo de Cavaleiros, e batizou o projeto de Fantasma:

“Chamei a esta exposição fantasma principalmente pelo primeiro significado de alma e espírito, porque uma vez a minha avó disse-me que na nossa aldeia, Argana, só restariam fantasmas daqui a uns anos e isso despertou em mim o desejo de evitar que isso acontecesse um dia.

Isto leva-nos ao segundo significado do nome fantasma, que exprime algo imaginário ou sonhado. Ou seja, para mim, a eternidade dessa aldeia e do seu património, tentando fazer com a Argana nunca desapareça. É assim que o meu projeto tenta explorar a noção de desaparecimento e da memória dessas aldeias que são mais isoladas e constituem o norte de Portugal e Trás-os-Montes.”

As fotografias estão organizadas em três séries. Cada uma levou um ano a ser realizada:


“A primeira é composta por fotografias da minha avó no seu quotidiano, na Charneca da Caparica, perto de Lisboa, onde vive desde o Covid, que a obrigou a partir da aldeia. Isso permitiu-se fotografar um momento de transição para ela.

A segunda série é sobre as pessoas que ainda vivem em Argana, chamados os moradores do “meio do mundo”, porque a aldeia só tem 28 habitantes.

É uma homenagem aos que dão continuidade à herança de uma sociedade agrícola e às suas tradições.

A exposição acaba com uma última série chamada reconstrução, que é mais metafórica e trata uma reconstrução pessoal depois de um acontecimento trágico, pois o choque pode deixar-nos num estado fantasma. Quis abordar essa noção e são, por exemplo, fotos da destruição do celeiro da nossa família para fazer lá uma nova casa.”

Jade vive em França mas foi em Macedo de Cavaleiros que decidiu expor este trabalho pela primeira vez.

O objetivo é voltar a fazê-lo no futuro mas também levá-lo até salas de exposição francesas:

“Vou tentar aprofundar a parte das tradições de Argana e das aldeias transmontanas para fazer uma exposição mais completa e com mais tempo, no futuro.

Já comecei a entrar em contacto com o consulado em Paris e estou à procura de uma sala e de ajudas para mostrar o trabalho, tanto aos emigrantes como também às pessoas de Paris que possam estar interessadas nessas tradições portuguesas e nesta parte de Portugal.”

A exposição de fotografia “Fantasma”, de Jade Aires Moreira, está patente no Salão Nobre da Junta de Freguesia de Macedo de Cavaleiros até ao próximo sábado pode ser visitada das 10h às 17h30.

Escrito por ONDA LIVRE

ÁGUA DE ABREIRO COM INDICADORES DE ARSÉNIO ACIMA DOS LIMITES PREOCUPA A POPULAÇÃO

 HABITANTES ACONSELHADOS A FERVER A ÁGUA ANTES DE CONSUMIR OU COMPRAR GARRAFÕES DE ÁGUA.


TRATAMENTO JÁ FOI FEITO E AGUARDA-SE O RESULTADO DE UMA SEGUNDA ANÁLISE.

As últimas análises realizadas à qualidade da água da rede pública da aldeia de Abreiro, no concelho de Mirandela, revelaram a existência de índices de arsénio acima dos valores considerados normais.

As autoridades de saúde do concelho já comunicaram à população daquela aldeia que, por prevenção, devem ferver a água antes de a consumir. Esta situação está a deixar muito preocupados os habitantes e disso mesmo veio dar conta à última reunião da Assembleia Municipal de Mirandela, Ermelinda Pereira, uma moradora de Abreiro. “Nós sabemos que a nossa água é férrea, mas não esperávamos que na última análise fosse diagnosticado o arsénio, por isso estamos muito preocupados e foi-nos aconselhado a ferver a água, mas até quando e quem nos paga o gás, a luz e quem nos dá a saúde, porque nada nos diz que fervendo a água focamos livres de perigo”, diz.

Também a própria presidente da junta de freguesia de Abreiro manifestou essa preocupação na mesma reunião daquele órgão autárquico. “Detetaram a situação do arsénio, apesar de ser uma coisa mínima, e aconselharam a ferver a água para consumo, ou então comprar, mas há pessoas idosas que não têm possibilidade de comprar os garrafões. Já fizeram um novo tratamento e já foi novamente para análise e está a aguardar-se o resultado”, diz Ilda Fernandes.

Na resposta, a presidente da Câmara de Mirandela confirma essa informação. Júlia Rodrigues diz que “estão a ser feitos tratamentos para debelar a situação”, e que “estão a ser estudadas formas de resolver este problema da falta de qualidade da água em Abreiro”, que diz ser uma situação “que já tem décadas”. Segundo a autarca socialista, “já andamos a fazer uma auscultação no terreno para perceber se há outras formas de obter captações de água, que não aquela que temos atualmente, fizemos recolha de água em outras zonas, mas a qualidade também não era por ai além, pelo que vamos reunir com os técnicos para saber que soluções existem porque a água tem alguns problemas que podem ser minorados com a utilização de filtros e outras soluções, mas que têm de ser acompanhadas”, sustenta Júlia Rodrigues.

Como se isso não bastasse, a presidente da junta revela que estão a chegar contas exorbitantes de água aos moradores de Abreiro, principalmente a quem não indica a contagem. Ilda Fernandes sugeriu que a autarquia o faça de uma forma mais regular e prontificou-se a fazê-lo ela própria. “Antigamente eram 30 dias, mas agora contam os dias em que vão fazer a contagem até quando voltam a fazer a nova contagem, o que pode significar mais de 40 dias e não apenas os 30 dias”, refere.

“Para as pessoas mais idosas é difícil perceber porque alguém que não tenha nada em casa, não consome e paga mais do que outra pessoa que consome dois metros cúbicos que dá a contagem e paga menos. Ou seja tem a ver com a contagem que dá”, afirma a autarca de Abreiro.

Ilda Fernandes mostrou-se disponível para ajudar as pessoas a dar a contagem.

A presidente da câmara explica que esta discrepância nos valores “têm a ver de facto com a contagem que alguns habitantes não reportam ao Município” que tem poucos recursos humanos para esse trabalho, apelando a que essa prática seja mais comum. “O problema é que se não há leituras, o próprio programa informático faz uma estimativa que muitas vezes foge do que é o consumo normal o que implica a passagem para outro escalão, pelo que vamos reunir com a equipa interna para podermos ter campanhas de sensibilização e a possibilidade de fazer uma discriminação positiva às pessoas que dão as leituras”, sustenta Júlia Rodrigues.

Entretanto, a Presidente da Junta de Freguesia de Abreiro já se prontificou a ajudar na leitura da contagem do consumo de água.

Artigo escrito por Fernando Pires (jornalista)

Encontro de Rituais Ancestrais juntou mais de 1000 Mascarados em Bemposta

Escritor Invisual retrata em livro Memórias de Trás-os-Montes

Entrevista: «A marca “Aldeias de Portugal” é uma distinção que trouxe orgulho e responsabilidade a Algoso» – Cristina Miguel

 Desde 1 de outubro de 2023, Algoso passou a integrar a rede “Aldeias de Portugal”, uma distinção que segundo a presidente da União de Freguesias de Algoso, Campo de Víboras e Uva, Cristina Miguel, veio reconhecer a singularidade desta localidade, onde se destaca o património cultural, com o castelo construído nos inícios da nacionalidade (século XII) mas também a preservação de antigas tradições como o Sábado de Aleluia, que se celebra na Páscoa.


Terra de Miranda – Notícias: A 1 de outubro de 2023, Algoso assinou a carta de compromisso de adesão à rede “Aldeias de Portugal”. O principal objetivo desta rede é a promoção do desenvolvimento local. Que recursos existem e quais são as potencialidades de Algoso?

Cristina Miguel: A localidade de Algoso foi escolhida para integrar a marca “Aldeias de Portugal” porque apresenta um património material e imaterial distintivo, onde se destacam o castelo do século XII e o pelourinho do século XVI – dois imóveis de interesse público -, assim como igreja matriz, a fonte santa, as capelas de São João Batista, São Roque, Misericórdia, a antiga Câmara Municipal, as pontes românicas sobre os rios Maçãs e Angueira, entre outros edificados que fazem parte do património local.

T.M:N.: O castelo de Algoso é a principal atração turística da localidade. As visitas decorrem em que horário?

C.M.: As visitas ao centro de acolhimento do castelo e à torre do castelo decorrem de terça-feira (à tarde) a Domingo. As visitas podem ser acompanhadas por uma vigilante, que é contratada anualmente, ora pelo município de Vimioso, ora pela Freguesia de Algoso e pelo Instituto Público do Património Cultural.

T.M.N.: A rede “Aldeias de Portugal” visa apoiar as localidades na definição de estratégias de aproveitamento turístico do património cultural e natural. Concretamente em que consiste esse apoio?

C.M.: Juntamente com a Corane, a Associação do Turismo de Aldeia (ATA) e o Município de Vimioso, a freguesia de Algoso elaborou um plano de desenvolvimento e valorização da aldeia. Este plano envolve a conservação do património cultural edificado e no âmbito do património imaterial, o plano contempla a preservação das festas populares, a valorização do património religioso, os jogos tradicionais e tradições como o Ramo de São João e a segada tradicional.

T.M.N.: Portanto, é definido um plano anual de atividades?

C.M.: Sim, é um plano de atividades anual que começou em janeiro com a celebração da festa do padroeiro de Algoso, São Sebastião. Seguiu-se depois a Festa do Ramo de São João, uma antiga tradição que envolve a população da aldeia na confecção dos roscos, na ornamentação do andor do ramo, na arrematação e na corrida da rosca. No final de março, o Sábado de Aleluia e o Mercado Medieval vai animar a celebração da Páscoa. Em junho, vamos recriar a antiga ceifa ou segada comunitária, na festa de São João. Seguem-se as romarias de verão, o magusto de São Martinho e as oficinas de Natal.

T.M:N.: No que concerne ao património imaterial, Algoso integrou recentemente o projeto “Aldeias sem Fronteiras”. Que outro projeto é este?

C.M.: Este projeto visa quebrar o isolamento dos idosos, recolher os seus saberes e ao mesmo tempo promover o convívio com as crianças e jovens. Este projeto intergeracional visa aproveitar o conhecimento que as pessoas idosas têm de Algoso, como são as histórias, memórias, receitas, tradições, cantigas, danças, jogos tradicionais, lendas, toponímia dos lugares da aldeia, trabalhos comunitários, etc. e transmiti-los aos mais jovens.

T.M:N.: Na natureza, Algoso é circundada pelos vales dos rios Angueira e Maçãs. De que modo estão a promover o turismo ambiental?

C.M.: Em Algoso, uma das atrações ambientais é o percurso pedestre do Trilho do Castelo. Com uma distância de 6,2 quilómetros, esta caminhada tem início no centro da aldeia, passa pela antiga Câmara Municipal e o pelourinho e sobe em direção ao castelo. Depois desce em direção à ponte e a calçada medieval sobre o rio Angueira. De seguida, os caminhantes voltam a subir em direção à aldeia, passando por vinhas e olivais. À chegada a Algoso, está edificada a capela de São João Batista, com a fonte santa, onde os peregrinos do Caminho de Santiago de Compostela costumavam repousar. O percurso pedestre termina junto à igreja matriz.

T.M:N.: Segundo a ATA, o desenvolvimento de uma aldeia deve envolver os atores locais na conceção de estratégias socioeconómicas e na sua implementação. Qual é a recetividade e participação da população de Algoso na preservação e promoção do seu património?

C.M.: Felizmente, a população de Algoso é muito participativa e adere com facilidade aos desafios e atividades propostas. Em determinados períodos do ano, como a Páscoa e as férias de verão, a junta de freguesia conta com a vinda dos muitos emigrantes que vivem e trabalham maioritariamente em Espanha e em França, para recriar antigas tradições como é o caso do Sábado de Aleluia, na Páscoa ou a romaria de Nossa Senhora do Castelo, no mês de agosto.

T.M:N.: O que é o “Sábado de Aleluia”?

C.M.: Em Algoso, a celebração da Páscoa da Ressurreição do Senhor, inicia-se na noite do Sábado Santo, com a tradição da benção da água e aspersão do povo, na igreja matriz. De seguida, o povo ruma em procissão até à capela de Nossa Senhora da Assunção, edificada junto ao castelo. Esta procissão é acompanhada de estandartes e com cânticos de louvor ou das “alvíssaras”. Na chegada ao castelo é lançado fogo de artifício e canta-se o “Aleluia” ao som da gaita-de-foles. No regresso à aldeia, o povo entoa cânticos de aleluia e começam a repicar os sinos da igreja matriz, anunciando a Ressurreição de Jesus.

T.M:N.: Este ano, no fim-de-semana da Páscoa, que acontece nos dias 30 e 31 de março, vai realizar-se também o V Mercado Medieval. Com este evento pretendem valorizar o património histórico da aldeia?

C.M.: Sim, o Mercado Medieval é uma recriação dos usos e costumes da Idade Média, período da construção do castelo de Algoso. Com este evento pretende-se promover a história da localidade e simultaneamente comercializar produtos locais e regionais, como o folar, os dormidos, o fumeiro, o vinho, os licores, o artesanato, entre outros produtos. Nos dias 30 e 31 de março, a animação também vai ser uma constante com teatro de rua, dança, jogos tradicionais, arruadas de gaiteiros, tabernas e concertos medievais.

T.M:N.: Outra riqueza das aldeias são os produtos agrícolas. O que é se produz em Algoso?

C.M.: Em Algoso, produz-se azeite, amêndoas, figos, nozes, uvas, medronhos, fumeiro, caça, roscos, pão, folares, dormidos, bolo centeio, licores, compotas, vinho, cortiça e na gastronomia local destaca-se o “bulho com cascas”.

T.M:N.: Algoso dispõe de uma albergaria que oferece os serviços de restauração e alojamento, o que contribui para a estadia dos turistas. Quem são os turistas que visitam a localidade?

C.M.: No inverno, Algoso recebe a visita de muitos caçadores que vêm do litoral para as zonas de caça desta região. Nestas estadias, os caçadores e as suas famílias visitam os principais locais de interesse da aldeia e também aproveitam para comprar produtos locais como o azeite, a amêndoa e o fumeiro. Ao longo do ano, também se verifica um cada vez maior afluência de turistas estrangeiros, que apreciam muito as paisagens do nordeste transmontano e a tranquilidade desta região.

T.M:N.: Outro objetivo do projeto “Aldeias de Portugal” é dar a conhecer as mais valias de viver no mundo rural, como é o maior contato com a natureza, a alimentação feita com produtos biológicos, o ar puro, o menor custo de vida e assim agir contra o despovoamento. Que oportunidades há em Algoso, para a fixação de novas famílias e em particular dos jovens?

C.M.: Em Algoso, há jovens casais que estão a instalar-se na aldeia. Dou os exemplo de um casal que está a investir no cultivo de árvores de fruto, para depois confeccionar e comercializar compotas. Também na agropecuária, recentemente, regressou à aldeia outro casal de jovens para se dedicarem à criação de bovinos de raça mirandesa. Existe ainda uma cozinha regional que se dedica à criação de suínos bísaros e à produção de fumeiro. E no turismo, destaco a existência da albergaria, com serviços de alojamento e restaurante, o que atrai a vinda e a estadia dos turistas e visitantes.

T.M:N.: A adesão à rede “Aldeias de Portugal” que novo impulso pode dar a Algoso?

C.M.: A marca “Aldeias de Portugal” é uma distinção que enche de orgulho e responsabilidade a população de Algoso. Ao mesmo tempo, este prémio incentiva-nos a continuar a trabalhar na promoção das localidades que compõem a União de Freguesias. Para isso, quero agradecer o contributo de muitos casais de emigrantes, que após a reforma, regressam à terra natal e estão sempre disponíveis e entusiasmados para recuperar as tradições e participar nas atividades ao longo do ano.

Perfil

Cristina Maria de Oliveira Miguel nasceu em França, filha de pais emigrantes, naturais de Algoso. Regressou a Portugal, onde estudou do 2º ao 6º ano, em regime presencial e em tele-escola, na escola de Algoso. Prosseguiu os estudos no Liceu Nacional de Bragança.

Licenciou-se em Administração, no Instituto Superior de Administração e Gestão do Porto. E concluiu uma pós-graduação em Gestão Pública, no Instituto Politécnico de Bragança (IPB).

Em outubro de 2017, assumiu o cargo de presidente da União de Freguesias de Algoso, Campo de Víboras e Uva, que compreende ainda as aldeias de Mora, Vale de Algoso e Vila Chã.

HA