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BRAGANÇA
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: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(
Henrique Martins
)
COLABORADORES LITERÁRIOS
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N.B.
As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Bragança: Floresta encantada - Passeio pedestre pela Serra de Nogueira encerra atividades
Uma floresta como as de há mil anos.
Percurso pedestre por um dos poucos cobertos vegetais do país que se manteve “original”
Sob a depressão tectónica, situada num vale mais fértil que o habitual na região, precisamente por causa da depressão, neste caso, ergue-se a floresta de carvalhos, espécie de árvore que cobria quase todas as florestas portuguesas, há mil anos atrás, do Norte ao Sul do país.
A maioria destas florestas povoadas com o género Quercus, que tem nove espécies, em Portugal, desapareceu, porque ocupavam solos desejados pela agricultura e a pastorícia. O carvalhal da Serra de Nogueira é um resquício do que em tempos existiu.
O anúncio do o percurso pedestre a realizar no âmbito do Ciência Viva no Verão, pelo Centro de Ciência Viva de Bragança, era claro. A actividade, que teve lugar no passado dia 10 à tarde intitulava-se “Floresta Encantada na Serra de Nogueira”. Com encanto para alguns dos participantes, com menos mostrava a cara de poucos, principalmente depois de terem de passar por um “caminho de javali”, entre o silvado, Carlos Aguiar, investigador do Centro de Investigação de Montanha e Professor do Instituto Politécnico de Bragança, orientou o percurso, num caminho da serra, sempre a descer, algures em Formil e Alimonde.
Começou por explicar que Bragança está onde está, numa depressão, em que as cotas dos montes em torno estão todas um pouco acima, porque, numa zona de solos pobres, os que contornam a cidade são relativamente ricos.
Nesta terra, por alguma razão surgiu o mosteiro de Castro de Avelãs, da Ordem Beneditina, cujos monges eram então excelentes criadores de gado. Aqui, na antiga Veiga de Gostei, acima dos lameiros, contornados por freixos, vêem-se os campos, hoje abandonados, onde antes se semeavam os cereais.
Se houve tempos em que as florestas foram devassadas, e Carlos Aguiar recordou que, antes do uso dos combustíveis fósseis estas eram uma imprescindível reserva energética, agora assistimos a processo muito mais rápido. Em poucas décadas muitos campos de cultivo foram abandonados.
Ao subir a cota, em direcção a Formil, Carlos Aguiar vai explicando, com as devidas reservas (porque não é geólogo, mas agrónomo), que esta é zona com uma geologia muito complexa, que apresenta uma variedade muito grande de rochas. Além dos de xistos e granitos, rochas ácidas, que dão origem a solos relativamente pobres, tem também rochas básicas, que dão origem a solos com uma fertilidade razoável.
No lugar onde começa a caminhada, verdadeiramente dita, são visíveis os efeitos de um incêndio que ocorreu este ano. Sob a camada negra o fogo não impediu de germinar uma flor lilás, que tem diferentes nomes, conforme as terras, flor que é um indício do fim do Verão. Em vez de anúncios de primavera, como os narcisos, estas são anúncios de que a floresta se prepara para a letargia do Inverno.
É nesta altura que aparecem as os frutos. Carlos Aguiar vai mostrando o que se pode comer, além das conhecidas amoras, neste lugar. Provamos umas bagas vermelhas com uma semente dura ao centro que sabem, ligeiramente, a maçãs.
Antes do bosque mais denso dos carvalhos, vemos algumas azinheiras, outra espécie que também fazia parte da floresta original portuguesa. Na nossa terra existe uma confusão entre o carrasco e o sardão, que são a mesma espécie de azinheira, só que o carrasco é uma árvore ainda jovem, e apresenta picos nas folhas, e o sardão é a mesma árvore, já adulta, com as folhas finas e já pronta a dar frutos, as bolotas.
Carlos Aguiar explica-nos que os bugalhos que crescem nos carvalhos são uma reacção da árvore à infecção por uma larva de insecto de vespa. O insecto cresce dentro desses invólucros que, nesta altura do ano, têm uma coloração entre o verde e o vermelho. Depois ficam castanhos. Os carvalhos mais jovens, que crescem numa parte recentemente desmatada, mostram sinais de uma doença importada da América. As folhas ficam cobertas por um fungo semelhante do míldio das videiras. Nas partes mais baixas encontramos a original cenoura, ou seja a espécie selvagem que, após séculos de cultivo humano, passou de branca a cor-de-laranja e ficou mais gordinha que a original silvestre. Também os cereais passaram pelo mesmo processo de selecção humana, de “domesticação” vegetal através do cultivo. Carlos Aguiar mostra-nos uma cabeça de medusa (se não nos enganámos no nome), uma dessas gramíneas originais a partir das quais os humanos desenvolveram outras espécies cereais. Estas plantas, actualmente, estão a ser alvo de interesse da comunidade científica internacional. Com as alterações climáticas e a escassez de recursos que ameaça novamente a população humana, após os períodos de abundância, muitos cientistas procuram recolher as variações mais originais das plantas cultivadas actualmente. Isto porque se acredita têm nos seus genes uma muito superior capacidade de adaptação.
Adaptadas a solos inóspitos, onde outras plantas definham, está a Festuca brigantina, uma gramínea que existe apenas em afloramentos de rochas ultrabásicas, no maciço de Bragança-Vinhais. A planta está especialmente adaptada a sobreviver em solos contaminados com metais como o crómio ou o níquel. No regresso podemos ver, já fora da floresta, um monte onde nada parece crescer, dada a toxidade dos solos. Terá sido aí que a Festuca brigantina foi pela primeira vez identificada.
Ainda no interior da mata, numa zona baixa, temporariamente alagada, entre outras espécies, contemplamos uma espécie de trevo das florestas, uma espécie de menta, conhecida entre os populares como “hortelã de burro”, porque os burros sãos dos poucos animais que a comem. No sul do país é usada para temperar pratos de peixe.
Depois da frugal merenda num lameiro em estado de abandono, uma clareira no meio do mato, seguimos em direcção à estrada. Já no autocarro, em direcção a Formil, podemos contemplar a antiga Estrada Romana 17. Carlos Aguiar explica-nos uma curiosidade digna de interesse. A estrada tem as pedras grandes, chamadas de escândalos, onde as rodas dos carros se partiam, e os pedras pequenas, os escrúpulos, que se metiam nas sandálias ou sapatos.
Fora do bosque de carvalhos crescem alguns pinheiros. Carlos Aguiar referiu que o pinheiro era uma árvore que também existia na região. Contudo, essa espécie local deixou de existir aqui. As espécies que hoje podemos ver são originárias do litoral de Portugal, do Norte da Europa e América e mostram algumas dificuldades de adaptação a este solo e clima.
Para trás, após esta viagem, ficou a ideia do que seria percorrer um ambiente florestal há mil anos. No entanto, lembra o professor, nessa altura, a “incomodar” o passeio haveria mais do que silvas e mato. Havia também ursos, além de salteadores. E os ursos eram tantos que D. Afonso III, pai do D. Dinis, nas Inquirições, exige a todas as aldeias desta área a mandarem-lhe patas de urso, “tal era a relevância de matar estes animais, na altura”.
Hoje a floresta de carvalhos já não tem ursos, mas continua ainda a ser um dos lugares mais “autênticos” para qualquer outro autóctone ou não.
Por:
Ana Preto
in:mensageironoticias.pt
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