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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Somos todos estrangeiros

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Quem se apresenta à sociedade que pretende representar, ao mais alto nível, como ungido de Deus para moralizar o país deveria conhecer, em todas as suas dimensões o que reza a história judaico-cristã, marca de água da civilização ocidental. Os povos bíblicos foram, por vontade divina, migrantes. Foi por vontade de Deus, manifestada no Médio Oriente africano, na Mesopotâmia, que Adão recebeu a incumbência, transmitida aos seus descendentes, de povoar e ocupar todo o mundo, tal como aconteceu com Noé depois do dilúvio destruidor. Foi para seguir os desígnios divinos que os seguidores de Moisés foram enviados para a Palestina, vindos do Egito para onde tinham sido, igualmente, conduzidos, algumas gerações antes. A própria religião que, para o bem e para o mal, marca a nossa civilização e que alguns seguidores do “consagrado” líder apresentam como identificadora e caracterizadora de uma suposta superioridade rácica, não chegou à nossa terra vinda do centro nem do norte europeu. Foi enviada para os quatro cantos do mundo conhecido por Jesus Cristo a partir da oriental Jerusalém. No mesmíssimo local onde nasceram as crenças religiosas que, segundo os mesmos, ameaçam a nossa vida, a nossa cultura, a nossa felicidade, em suma a nossa genuína e indeclinável identidade.
Aqueles que protestam para o risco insanável e lesa pátria de ver a “descaracterização” intolerável dos típicos e característicos bairros al-facinhas de Al-fama e da Mouraria onde, pasme-se, se vêm agora, com frequência, seguidores de ritos orientais, deveriam, antes de mais, questionar-se sobre a natureza e origem dos nomes pelos quais os tais quarteirões são conhecidos.
Mas se, porventura, entre essa turba de agitadores existir alguém que privilegie a evidência científica não pode ignorar nem desvalorizar que o “homo sapiens”, do qual descendemos todos, veio do continente africano para subjugar o “homo neanderthalensis”, esse sim, natural autóctone destas paragens.
E quem reclama contra a aculturação forçada (que, segundo eles, nos ameaça nas frágeis barcaças que atravessam o Mediterrâneo) deveriam começar por renegar a parte da história lusitana que, passando além da Taprobana, foram impor o lusitano modo de vida, à força da lança e da espada para as negras terras angolanas e, principalmente, nas avermelhadas paragens de Vera Cruz.
Locais que, depois de “aculturados” e “ocidentalizados” continuaram a ser destino almejado por quantos queriam fugir à pobreza, anos antes de irem partilhar com os seguidores de Maomé, os “bidonvilles” gauleses e as camaratas das minas germânicas de carvão.
Percorramos o espaço e o tempo e seguindo critério, mais ou menos rígido, encontraremos facilmente parente, amigo, conhecido que, só ou com a família, tenha ocupado um lugar e partilhado uma comunidade diferente da nativa. Nós próprios, cada um de nós, provavelmente achar-se-á nessa mesma condição. Pouco errarei se, genericamente, considerar que todos nós somos, de alguma forma, migrantes. Com “e” ou com “i”. Em boa verdade, com os dois pois a diferença entre emigrante e imigrante está naqueles que nos olham e não na condição de migrador.

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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