A comida para a segada era uma tarefa das mulheres dos lavradores. Qualquer dona de casa que se prezasse tinha de pensar na comida que daria aos segadores. Pelas jeiras sementadas e pelos rasões de cereal acobertos sabia os dias ou horas que demorava a segada.
Os gastos em dar de comer eram calculados com a subida de algum tostão do arroz, do macarrão, do bacalhau e do feijão (quando se acabava em casa o da colheita). Os maiores lamentos vinham dos pequenos lavradores, que não dispunham de crédito no sóto do Guicho (Rodrigo), do Augusto Pires (Zé António do Sóto), do Mário Rocha (Alexandrino) ou do Sousa. Isto é, os lavradores mais abastados, onde entrava o meu pai, só pagavam a despesa no sóto uma vez no ano, após receberem o dinheiro do trigo manifestado e entrado no celeiro, sendo as compras assentes numa caderneta corrente.
As lavradeiras, ao saberem da subida do arroz, macarrão ou bacalhau, calculavam, mentalmente, o aumento da despesa com a segada e em Janeiro ou Fevereiro já se ouviam lamentos como este: - já me dói a cabeça de fazer a segada!
Mas, na feira dos 25 (de Maio) tinha que vir de Mirandela a burra carregada com a comida para os segadores e que a casa não dava. A ceba já tinha deixado alguma entremeada na salgadeira, mas, os da Régua eram biqueiros. Carne de porco só marrã? E onde estava? E o tempo quente fazia das suas na carne fresca.
Os lavradores remediados matavam uma canhona, das mais velhas e estava o assunto resolvido. Também, as batatas novas de escadal já faziam um bom prato. Os erbanços, as favas ou os feijões eram pratos do agrado da camarada, que com umas rodelas de bocheiras ou uns pedaços de chouriças (doces) compunham a barriga dos segadores. O bacalhau guisado entrava tanto ao almoço (10H) como ao jantar (02H da tarde). À merenda entrava o pão (de três quilos) e as azeitonas (pelas 17H - tinha que ser um frito) e à ceia uns chícharros com azeitonas e uns fritos na sertã, estava feita. Depois, palheiro! Alta madrugada abalavam para mais um dia árduo e esgotante. Saíam de noite e levavam o cesto coberto com a toalha de estopa onde repousava o mata-bicho: azeitonas, vinho, uns pedaços de presunto da espádua e/ou sardinhas ou chicharro de escabeche.
As sopas de azeite rijado e as sopas de bacalhau eram pratos bem aceites. Os dois paquetes andavam num vaivém constante. As mulheres na cozinha, quase sempre três, com os enormes potes (de cântaro uns, de romeia outros), eram comandadas pelo ritmo das horas. Nem na sesta tinham descanso. As enormes fogueiras para os potes e os alguidares chaspas e bacias punham tudo em pantanas. A comida, sopa e prato, era acondicionada em chaspas de lata zincada.
O despegar para a comida era dado pelo apito do capataz e mastigada à sombra dum carvalho ou sobreiro e quando soava de novo o apito pegavam o trabalho.
(Jorge Lage)
in:jornal.netbila.net
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