Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Há sete séculos atrás, Portugal, conquistado o reino dos Algarves, desenhara já as suas fronteiras que, aparte alguns pormenores e pequenas disputas raianas, são as que ainda hoje prevalecem, fazendo do território lusitano aquele que há mais tempo tem os seus limites continentais definidos e internacionalmente reconhecidos. Mas o reino que D. Dinis recebeu de seu pai, D. Afonso III, estando estabilizado no que concerne aos objetivos da reconquista cristã, como resposta à invasão muçulmana de cinco séculos atrás, no que concerne ao poder da Nobreza subsidiário do poder real, estava claramente dividida entre a Velha e a Nova Nobreza.
Ao grupo daqueles que, baseados nas famílias tradicionais (os Sousões, Bragançãos, da Maia, Baiões e Riba Douro) tinham andado a “filhar Portugal”, nos primeiros reinados, detentores de largos poderes e grandes domínios a norte do rio Douro, opunha-se o grupo dos cavaleiros que, tendo acompanhado o infante D. Afonso, quando este foi para terras de França, emergiram quando este assumiu o trono e cujas posses e domínio se situavam a sul, nos territórios que ajudaram a reconquistar, nomeadamente o simbólico e disputado reino dos Algarves. Culto, inteligente e grande estratega, D. Dinis procurou no reino de Aragão o aliado que lhe permitiu consolidar a fronteira com Castela, reforçando as suas disputas com o vizinho e, igualmente, potenciar as ambições mediterrânicas, como forma de responder à pretérita invasão muçulmana e que haveria de se concretizar, com a tomada de Ceuta, um século depois.
Esta aliança traduziu-se no matrimónio do Rei Poeta com a Princesa de Aragão, piedosa, caritativa e devota que muito contribuiu para a normalização das atribuladas relações com a poderosíssima Santa Sé. Tendo-se oficializado em Barcelona, para ultrapassar a interdição dos templos portugueses, foi replicado, simbolicamente, em Trancoso, no norte do reino, mas a sul do rio Douro. Igualmente simbólica foi a entrada no reino lusitano de Isabel de Aragão que, estando programada para acontecer, naturalmente, por Almeida, veio a concretizar-se por Bragança, tendo a nova rainha pernoitado em Castro de Avelãs sob a proteção do Braganção Nuno Martins de Chacim. Para que este acontecimento fosse memorável, dando corpo ao espírito romântico e poético, D. Dinis ter-se-á deslocado de Trancoso ao Mosteiro brigantino para a saudar com uma serenata noturna. Porém, naquele tempo, não havia forma de percorrer a distância num único dia. Por isso, o monarca teve de pernoitar na Póvoa D’Além Sabor que, quatro anos depois, haveria de visitar para lhe conceder Foral e rebatizar como Vila Flor, rendido à sua beleza natural.
É este acontecimento que a Câmara Municipal da Vila da Flor de Liz irá comemorar no próximo dia 7 de janeiro de 2025, por ocasião do septingentésimo aniversário da morte de D. Dinis, Rei de Portugal e dos Algarves. Nesta efeméride será igualmente homenageado o padre Joaquim Leite e apresentado o livro “O Terceiro Milagre das Rosas” idealizado por si e escrito por mim, com base nas suas notas e ideias transmitidas oralmente.
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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