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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Basílica do Santo Cristo de Outeiro

 A Rota Norte leva-nos até ao Santuário do Santo Cristo de Outeiro, é a primeira Basílica do país localizada numa aldeia. Esta é uma das centenas de relíquias que podes encontrar ao percorrer a Rota Norte. Fica em Bragança, na aldeia de Outeiro, junto à Estrada Nacional 218.
A Basílica de Outeiro está classificada como monumento nacional desde 1927. Templo edificado no século XVII, cuja construção se associa à necessidade de afirmação do país enquanto nação independente.


Basílica de Outeiro – um templo imponente

O edifício é composto por templo com planta em cruz latina, sacristia e casa de arrumações. Destaca-se a sacristia com teto apainelado com três dezenas de caixotões pintados com cenas da vida de Cristo, executados em 1768 por Damião Bustamante oriundo de Valladolid, e paredes igualmente revestidas de pintura sobre tela. A 8 de novembro de 2014 foi concedido o título de Basílica de S.Cristo de Outeiro à igreja – Santuário do Santo Cristo de Outeiro.


A construção da Basílica de Outeiro

De acordo com uma inscrição patente na igreja, de 26 de Abril de 1698, num pequeno templo existente à entrada da povoação do Outeiro suou sangue o Santo Xpo. Este milagre, que haveria de conhecer grande divulgação e originar ainda maior devoção, levou a que, ainda nesse mesmo ano de 1698, fosse lançada a primeira pedra do novo santuário, evocativo deste acontecimento. Apesar da importância da obra, esta somente ganhou fôlego em pleno reinado de D. João V, remontando a sua edificação aos anos de 1725 e 1739.


Arquitectura única e exclusiva

De acordo com os estudos de Vítor Serrão (2001, pp. 193-199), coabitam neste templo ecos mais ou menos digeridos das seguintes “fontes” eruditas: um espaço de igreja-salão derivado longinquamente do dos Jerónimos uma cobertura de tipologia “manuelina” da mesma derivação (com abóbadas de cruzaria de ogivas na nave, cúpula no transepto, e abóbada de dois tramos, de calote esférica e de berço na capela-mor)
uma portada principal também de tipologia manuelina galerias laterais com elementos de ressonância renascentista uma estrutura inspirada na church-box da era sebástica envolvendo a capela-mor uma tipologia de fachada segundo o modelo de São Vicente de Fora. Por sua vez, os retábulos de talha dourada são joaninos, de estilo nacional, destacando-se o da capela-mor que estranhamente se recurva, na boca da tribuna, em jeitos de cortina túrgida e naturalista de recorte “manuelino” (SERRÃO, 2001, p. 196). Refira-se ainda que se encontra, na sacristia, um tecto de caixotões, executado por um pintor de Valladolid, Damião Bustamante em 1768, cujo modelo segue, também, as influências seiscentistas, ao invés de adoptar a composição em perspectiva, então em voga.


Símbolo da independência de Espanha

Situada junto à fronteira com Espanha, onde as guerras da Restauração, primeiro, e as da sucessão, depois, se fizeram sentir mais veementemente, esta imponente e grandiosa igreja constitui um caso raro, senão único, no panorama arquitectónico português dos anos do Barroco. Muito embora a arquitectura setecentista tenha sido marcada por um forte eclectismo (GOMES, 1988), Santo Cristo do Outeiro destaca-se por se assumir como experiência revivalista, à margem dos modelos eruditos que à época se produziam na capital. De facto, o que aqui observamos é um retorno a 1500, consubstanciado numa série de citações gótico-renascentistas, e também maneiristas, que têm por principal fonte a igreja de Santa Maria de Belém, monumento emblemático do reinado de D. Manuel.


Na Basílica do Santo Cristo de Outeiro devemos dar especial atenção à fachada principal, flanqueada por torres, com remate piramidal revestido por telha. O corpo central, em cantaria, e rematado por uma balaustrada que une as duas torres, organiza-se em função do portal mainelado (ao qual falta o mainel), a que se sobrepõe um óculo decorado, ambos de tipologia manuelina. Ladeiam estes elementos duas colunas dóricas, que são continuadas por colunas torsas, estas enquadrando nichos de frontão interrompido.

Santuário de peregrinação em Trás-os-Montes

Não se conhece o autor do projecto, cujo desenho se encontra riscado no chão do templo, mas parece fora de dúvida que a planta tenha vindo de Lisboa. Sabe-se, contudo, o nome de muitos dos artífices que aqui trabalharam, destacando-se uma série de mestres pedreiros de origem galega e leonesa. Supõe-se, assim, o contacto destes trabalhadores com a arquitectura lisboeta, facto de grande significado para o estudo das ligações arquitectónicas de fronteira.


Longe dos modelos barrocos que, ao tempo, se edificavam na capital, Santo Cristo do Outeiro, que durante o século XVIII se tornou um concorrido santuário de peregrinação, parece dever o seu programa de retorno a 1500 à tentativa de revitalização de uma época áurea para Portugal, legitimadora da identidade de Portugal e de forte pendor nacionalista, que se explica pela proximidade com Espanha e a ainda muito recente memória das guerras da Independência e da Sucessão.

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