Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

As Linhas com que nos cozem

Daniel Conde

Há um dito bem trasmontano em que quando nos sentimos ameaçados ou ludibriados por alguém pensamos que “fulano quer-me cozer”. É assim que me sinto quando me lembro que foi noticiado há meses que a reabertura da Linha do Tua entre o Cachão e a Brunheda custaria 30 milhões de euros, e depois me debruço sobre as contas descriminadas desse projecto.
Imaginando que desde Mirandela até à Brunheda não seria necessário intervencionar nenhuma das obras de arte do percurso – 1 túnel e 3 pontes – porque já o foram há não muito tempo, e o material circulante permanece o mesmo, nem tão pouco adquirir mais aparelhos de mudança de via – vulgo “agulhas” – porque os que existem continuariam a servir, a conta dá, arredondada, a soma de 10 milhões de euros, um terço, portanto, do que foi noticiado.
Estas contas foram feitas para além de tudo com pressupostos dignos de um cenário optimista: seria levantada toda a super estrutura da via – carris, travessas, balastro e material de fixação – e a nova super estrutura seria composta de carris de 45kg/m (relação de excelência para a Via Estreita) de barra longa e soldada (o que permitiria maiores cargas, maior velocidade e menor desconforto para passageiros), fixação elástica, travessas de betão bi bloco (mais duráveis que as de madeira), e uma espessura de balastro de não menos de 30cm. Este é um mix a que em termos técnicos se apelida de “fit and forget”, o que trocado por miúdos significa uma manutenção de exigência mínima e grande durabilidade. As contas já incluem também obras de geotecnia, tais como o reforço de taludes e do sistema de drenagem. Tudo isto conjugado e poderíamos ter uma Linha do Tua com uma velocidade comercial máxima não inferior a 60km/h, ligeiramente acima dos actuais 45km/h, mas sem ser preciso corrigir o traçado da via. 
Parece pouco? De forma alguma. Bastaria isto para tornar o comboio não só mais competitivo em termos de custos face ao autocarro e ao automóvel particular – que já o é – mas também mais competitivo em termos de tempos de deslocação. Senão vejamos: entre a Brunheda e Mirandela de comboio o passe mensal custa € 74,85, enquanto que de automóvel particular o custo ficaria entre € 140,54 e € 160,62 – automóvel a gasóleo ou a gasolina, respectivamente, para 2 viagens por dia, 22 dias por mês, gasóleo a € 1,4/l e gasolina a € 1,6/l, e um consumo médio de 6,5 l/100km – para tempos de deslocação para o automóvel de cerca de 38 minutos, e para o comboio de cerca de 41 minutos – e isto contando com a paragem do comboio em todas as 7 paragens intermédias. Convém referir que com o advento da A4 na região e a introdução das portagens mais caras do país, o custo da deslocação por automóvel no trajecto considerado acima dispara, sendo a alternativa um percurso não de 35km mas de 45km (de comboio são 34km).
Admitamos agora que as contas com que me entretive fazer deixaram inadvertidamente de parte outras rubricas e considerações, mas que só por grande aleivosia levariam o custo total de obra para lá dos 15 milhões de euros (metade do noticiado). Ainda assim, o que dizer dos cerca de 2 milhões de euros em receitas de bilheteira, dormidas, restauração e produtos regionais que se perderam desde Agosto de 2008 pela interdição da circulação a jusante do Cachão, numa economia como a de Mirandela e num passivo como o da CP? O que são 15 milhões de euros quando o TGV só em estudos já custou 116 milhões, ou quando o capricho do autarca da Trofa levou a REFER em 2010 a torrar 67 milhões de euros em apenas 3km de ferrovia nova num traçado totalmente evitável? Porque foi lançado o Metro de Mirandela para uma situação delicada quando com o levantamento da suspensão apenas entre a Brunheda e o Cachão nada disso seria realidade? E, sobretudo, porque está a região e a sua população a pagar uma factura devido à incúria e incompetência de dirigentes de algumas empresas públicas e da tutela dos transportes, e às pressões de negociatas milionárias através do Plano Nacional de Barragens, um embuste que custará – se não for travado entretanto pela Troika – 16 vezes mais que os submarinos de Portas?
Alguém me quer cozer, a mim e aos trasmontanos, e à Linha do Tua. Sabemos quem o quer, e até sabemos porquê; só não sabemos porque ninguém os trava.

1 comentário: