Convento |
Famosa pelo seu património arqueológico e monumental – o importante povoado castrejo que emprestaria seu nome à freguesia e o celebrado mosteiro medieval de invulgar arquitectura “hispânica” – Castro de Avelãs bem merece uma atenta e prolongada visita, tanto mais que se localiza a escassa meia dezena de quilómetros para o poente da capital concelhia, beneficiando ainda de óptima acessibilidade através do IP4 e EN 103.
Mostrando um relevo não especialmente acidentado, em área planáltica de altitudes médias rondando os 500 metros, a freguesia é sulcada por minúsculo afluente do Sabor – a Ribeira de Fervença. Embora não se inclua no aro do Parque Natural de Montesinho, esta freguesia é dotada de magníficas paisagens e pontos de interesse turístico. A sua quase continuidade em relação a urbe bragançana tê-la-á beneficiado em termos económicos e demográficos, sendo de salientar que o tradicional decréscimo populacional, embora afectando a região em geral, aqui se não faz sentir ainda: dos 387 residentes noticiados em meados do século terá inclusivamente ascendido aos actuais 428 (censos de 1991).
No designado Cabeço do Castro (ou “Torre Velha”, microtopónimo que desde logo alertará para antiga e desaparecida construção defensiva de certa imponência) tem vindo a surgir, desde o último quartel do século passado (pelo menos), numerosos e valiosíssimos testemunhos arqueológicos de época proto-histórica (Idade do Ferro, sobretudo) o do domínio romano, abrindo-se ainda a possibilidade de o local manter uma continuidade ocupacional ao longa da Alta Idade Média.
São particularmente numerosos e interessantes os achados epigráficos de época romana, respeitantes ao antigo povoado fortificado castrejo e suas imediações: umas sete ou oito estrelas funerárias (ou fragmentos das mesmas), três marcos miliários e outras tantas aras votivas (materiais depositados, em grande maioria, no Museu Abade de Baçal, embora uma ou outra peça se exponha em Guimarães, no Museu da Sociedade Martins Sarmento).
Mosteiro |
Entre as aludidas aras acresce uma dedicada aos deus Aerno pela “Ordo Zoelarum”, epígrafe que terá dado azo à localização em Castro de Avelãs da capital dos Zoelas, proposta desde o século passado por autores como Hubner, Leite de Vasconcelos e outros. Infelizmente, o paradeiro actual da pedra parece ser desconhecido. O articulista da “ Grande Enciclopédia”, escrevendo por meados deste século, referia a existência de “tégulas, mós manuais, sepulturas e moedas, lápides funerárias e marcos miliários (um de Augusto), achados nesses locais (Castro de Avelãs ou Torre Velha)”, acrescentando ainda que “do velho oppidum longamente perduraram laços de muralha e o fosso que já não existem.” Para este e outros autores, “ os romanos tiveram aqui uma corte da legião n.º 7, que trabalhou na construção da estrada militar de Braga a Astorga, por Chaves”.
Acontece todavia que não é inteiramente pacífica a identificação deste Castro de Avelãs com a capital da “Civitas Zoelarum”, como provaria recentemente R. Colmenero. Para este investigador tomando por base os informes do “Itinerário de Antonimo” e da epigrafia local (por ele mesmo pacientemente recolhida em valioso” corpus”) aqui se sediava possivelmente Compleutica, importante “mansão” (porque situada num eixo viário relevante) e capital de “civitas” (“polis”), pondo em dúvida se a mesma se integraria no convento bracarence ou no asturicence (podendo dessa forma corresponder aos povos ditos Avobrigenses ou aos supraditos Zoelae). À míngua de escavações arqueológicas sistemáticas e cientificamente dirigidas, este será o possível “ponto da situação” em relação ao Castro de Avelãs.
Dando, de certa forma, continuidade a toda esta relevância evidenciada por Castro de Avelãs na Antiguidade, surgirá posteriormente aqui implantada uma casa conventual beneditina, talvez fundada durante a segunda metade do século XI. Autores antigos aludiam a mais remota origem, dizendo dever-se o mesmo cenóbio à iniciativa do famoso Arcebispo de Braga, S. Frutuoso, apontando-se até o ano de 667 como o da respectiva instituição. Cedo porém haveria D. Rodrigo da Cunha de repor a verdade, apontando a impossibilidade daquela mítica instituição, na sua obra “História Eclesiástica de Braga” (datada de 1634). Pese embora toda argumentação evidenciada em torno do assunto, não será de pôr efectivamente de parte uma continuidade do povoamento local em época suevo-visigótica e mesmo dos domínios árabes e da Reconquista, tudo se achando porém em aberto e no simples campo das hipóteses. Que os restos arquitectónicos da primitiva Igreja Conventual de Castro de Avelãs revelam imensa originalidade, é já um dado adquirido.
Em estado de verdadeira ruína e profundamente adulterada por sucessivas remodelações, esta interessante construção foi classificada como “Monumento Nacional” logo em 1910, tendo permanecido longas décadas sem conhecer obras de consolidação e restauro por parte da D.G.E.M.N. Dos primórdios da instituição monacal não subsistirão notícias documentais, mas sabese por outro lado que já em 1187 o rei D. Sancho I lhe outorgou importantes mercês e avultadas doações, ali criando poderoso couto por troca com a herdade de Benquerença (actual urbe Bragançana). Com uma história atribulada até aos inícios da Idade Moderna, o Mosteiro de S. Salvador de Castro de Avelãs viria a ser extinto pelos meados do século XVI (1545-1546). Do complexo monacal primitivo só restará hoje, de genuína arquitectura românica cluniacense, a formosa cabeceira do templo, de remate semicircular e revestimento em tijolo, com manifesta influência inspiradora da arte leonesa de S. Lourenço, de Sahagun.
A planta original incluiria três naves, apenas restando actualmente a central e esta de fábrica
posterior e absolutamente incaracterística. No interior de um dos absidíolos, agora aberto no exterior, abriga-se em interessante arcaz tumular granítico, com tampa de formato prismático onde se inscreve uma data trecentista.
A tradição popular diz ser esta a última morada de um poderoso cavaleiro – o Conde de Ariães, misterioso personagem de tenebrosa e lendária história. Nesta freguesia, que tem por orago S. Bento, regista-se ainda um outro templo – a Igreja de Fontes – bem assim como uma interessante ponte de alvenaria, dita do Conde de Ariães.
Tradições
Nas festas que se realizam na freguesia, são reavivados os jogos antigos, como o Xincalhão, que animam as festas e despertam no povo um passado digno de recordação, como o jogo do Fito, o jogo da Relha e o jogo dos Paus.
in:cm-braganca.pt
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