domingo, 14 de abril de 2024

… quase poema… ou das parábolas... ou do choque fiscal

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Domingo à tarde. Os pardais saltitavam na oliveira. A paz era possível. A taberna da aldeia embrulhava-se no sossego do costume…. hora da merenda. Só o Sr. Albininho, com fama de esmoler e homem de respeito, conversava com o taberneiro sobre as reconhecidas virtudes do Estado Novo: Deus, Pátria e Família. A barriga repousava no balcão… sorria manhoso… bebericando um copinho de aguardente.
Vindo de longe entra na taberna um homem do mundo. Andrajoso. Enganava a fome tocando flauta. Despeja no balcão os míseros tostões de parcas esmolas… conta: - Treze tostões!  
- Quanto custa uma lata de sardinhas? Quinze tostões! Sibila o taberneiro, coçando a cabeça.
- Não chega!
- Eu pago os dois tostões que faltam! Diz ufano o sonso do Albininho com a esperança que o pobre, no dia seguinte, espalhasse por toda a aldeia que o esmoler lhe tinha comprado uma lata de sardinhas. 
…misérias… e hoje… assim continua o País de vaidade e servidão… e é abril… quase 25.

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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