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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Símbolos de Carnaval © António Cabral

 Toda a cultura é simbólica. O que é preciso é estar atento ao significado dos símbolos. Vejamos alguns.

1. Os carnavais da sora Professora Sobretudo nas aldeias, era interessante ver a ganapada em cortejo, a cantar e a tocar no que vinha à mão, rumando à escola onde a sora Professora (ou professor, claro) aguardava com sorrisinhos brilhantes. Por vezes, era pela Páscoa ou fim de ano lectivo. Em S. Lourenço de Riba Pinhão era no Carnaval. Ora pois, a oferta dum cabrito para ganhar forças para a Quaresma. – Hoje já se não usa – dizem-me. – Os tempos são outros.

2. Pulhas, Casamentos e Partilha do Burro Dois rapazes, empunhando cada qual um funil, “deitavam as pulhas” de pontos elevados no meio dos quais ficava a aldeia. – Ó compadre, quem vamos hoje casar? – A Chica dos Anéis. – Porquê? – Anda de conversado em conversado: ameaços de casamento, mas, à última da hora, nicles. Até consta que… – Num digas. Vamo-la casar com o galo pedrês da tia Micas. Coisas assim. Na Partilha do Burro, a Chica dos Anéis (ou o Chico, tanto faz) era muito bem capaz de ter uma parte do jumento mais atiçada. E até se punha a vida alheia no estendal – a mais censurável, está visto. Hoje na Partilha do Burro e nos Casamentos o costume amaciou, mas continua, brejeiro, como é o caso, por exemplo, de Campo de Jales.

3. O Pai da Carne (ou da Fartura) Em Cheires (Alijó) e em Ervedosa (S. João da Pesqueira) chamam-lhe respectivamente Pai da Carne e Pai da Fartura. No Carnaval reina a fartura da carne, mas em tempos que já lá vão acabava aí, até à Páscoa, pois a Quaresma era tempo de abstinências. Terça-Feira Gorda. Noite. A rapaziada (dantes sem a companhia das raparigas que hoje já vão no meio do farrancho) junta-se no adro da igreja: à frente, um a fazer de padre, outro de sacristão (com um lataréu de água a fingir de caldeirinha da água benta) e outros foliões munidos de velas ou coisa parecida; atrás um esquife com um velho feito de palha e armação de arames, matulão, a hastear um falo de ponta vermelhusca – objecto a não condizer com o possuidor. Malta a acompanhar pelas ruas e ruelas. 

– Ai o meu Pai da Carne, coitadinho, que vai morrer! 

Risos. Apupos.

 No fim juntam-se no largo da aldeia. Mais algazarra. Procede-se às deixas ou testamento de velho e, terminada a cerimónia, queima-se o Pai da Carne (da Fartura), a começar pela parte refilona. Não vamos aqui falar do significado deste eloquente uso carnavalesco. Que o leitor pense nisso. E pense também na nossa cultura e na necessidade de a conhecer e estimar.

in Notícias do Douro (28-2-2003)

António Cabral [1931-2007]
foi um poeta, ficcionista, cronista, ensaísta, dramaturgo, etnógrafo
e divulgador da cultura popular portuguesa.

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