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quarta-feira, 5 de junho de 2024

ABREIRO - OS FIDALGOS

Ponte de Abreiro antes de 1909
 
ÁLVARO DE MENDONÇA MACHADO DE ARAÚJO, que adiante citaremos, 
nasceu em Abreiro, concelho de Mirandela, a 21 de Março de 1850. Era filho de:
JOSÉ MARIA DE MENDONÇA MACHADO DE ARAÚJO, fidalgo cavaleiro da Casa Real, capitão de cavalaria, ajudante de campo do general Póvoas e de D. Maria Augusta Teixeira de Almada Meneses Guerra, filha de João Firmino Teixeira, Barão de Barcel, e de D. Joana Angélica de Almada Meneses Guerra.
José Maria de Mendonça Machado de Araújo entrou nas lutas constitucionais a favor de D. Miguel, de quem foi partidário acérrimo até à morte, e um dos convencionados de Évora Monte. Neto de:
3º JOSÉ JOAQUIM DE MENDONÇA MACHADO DE ARAÚJO, fidalgo cavaleiro da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo, capitão-mor de Valadares, e de D.Maria Teresa da Rocha Cabral e Quadros, dama do Paço, açafata da rainha D. Carlota Joaquina. Bisneto de:
4º BENTO MANUEL MACHADO DE ARAÚJO, senhor da casa da Amiosa, proprietário em Trás-os-Montes, fidalgo cavaleiro da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo, capitão-mor de Valadares, coronel do regimento de milícias dos Arcos, e de D.Maria Antónia de Mendonça Cardoso, da casa de S. Cosmado, na Beira-Alta, senhora de grande nobreza, bem provada pela dilatada série de ascendentes, todos fidalgos cavaleiros da Casa Real. Terceiro neto de:
5º MANUEL MACHADO DE ARAÚJO, senhor da casa da Amiosa, proprietário em Trás-os Montes, fidalgo cavaleiro da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo, familiar de número do Santo Ofício, Juiz dos Órfãos em Valadares, comissário de cavaleiros, guarda-roupa do infante D. Francisco, governador de Castro Laboreiro, senhor de Vale de Poldras e Campelo.
Foi Manuel Machado de Araújo quem mandou construir em Abreiro, em frente da sua casa, o cruzeiro onde se venera a imagem do Senhor dos Aflitos e a da Senhora da Piedade, no género um dos melhores monumentos da província em beleza arquitectónica.
Também a instâncias suas, devido à consideração que gozava na corte, se construiu a célebre ponte de Abreiro em 1734.
Segundo a lenda popular, esta ponte, o cruzeiro de Abreiro e a Arcã (restos de uma anta, no termo da povoação), foi tudo construído pelo Diabo. É sabido que a lenda atribui ao demónio as obras, quer sagradas, quer profanas, de difícil construção, e o arco da ponte de Abreiro assombrava pela sua enorme altura, abertura e escabrosidade do sítio (6).
Manuel Machado de Araújo foi casado com D. Maria Manuela Machado de Araújo, sua prima, filha e herdeira única de Manuel Machado de Araújo, o Velho, moço fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo, governador de Castro Laboreiro, senhor de Vale de Poldras e Campelo, que morreu religioso bento em Cela Nova. Quarto neto de:
6º JOÃO DE BARBEITAS PADRÃO MACHADO DE ARAÚJO, moço fidalgo da Casa Real, Juiz de fora na ilha da Madeira, e de D. Luiza Homem de El-Rei. Quinto neto de:
7º ANDRÉ MACHADO DE ALMEIDA, moço fidalgo da Casa Real, instituidor do Morgado da Amiosa, senhor, por sua mulher, de Vale de Poldras e Campelo, e de D. Maria de Barbeitas Padrão e Araújo, herdeira e filha única de D. Pedro de Barbeitas Padrão, senhor de Vale de Poldras e Campelo, e de D.Maria de Araújo e Azevedo. Sexto neto de:
8º GASPAR MACHADO DO AMARAL, moço fidalgo, e de D. Margarida do Amaral e Almeida. Sétimo neto de: 9º GASPAR PIRES MACHADO, moço fidalgo, que serviu o duque de Bragança D. Teodósio, e de D. Maria do Amaral, filha de Cristóvão do Amaral Castelo Branco. Oitavo neto de:
10º FERNÃO MACHADO DE ARAÚJO e de D. Constança Dias Vilas-Boas, de quem diz a Nobiliarquia Portugueza, pág. 105, ser matrona de tão louváveis costumes, que lhe crescia o pão nas arcas para dar aos pobres, e que no dia do seu óbito se tocaram expontaneamente os sinos da freguesia para festejar o coroamento no Céu das suas virtudes.
E ficaremos aqui na linha ascendente do Doutor Álvaro Mendonça Machado de Araújo, de quem o manuscrito que temos seguido menciona até aos décimos sextos avós, porque se trata de personagens que viveram longe do distrito de Bragança, objecto único dos nossos estudos. Entretanto sempre diremos que na casa dos nonos avós menciona um Fernão Álvares da Maia, partidário do infante D. Pedro, junto de quem foi morto na batalha de Alfarrobeira em 20 de Maio de 1449; na dos décimos, um Diogo Pires Machado, igualmente partidário do infante e morto na mesma batalha, e ainda em outras entronca os ascendentes em Mem Moniz (que, em 1147, arrombou as portas de Santarém e de Lisboa, em poder dos mouros, para os nossos entrarem na fortaleza, donde lhe veio o apelido de Machado) [5], em D. Sancho I, rei de Portugal, em Amalarico, rei godo da Espanha, pelos anos de 505. É pecha dos nobiliários: não param enquanto não levam a ascendência aos reis godos, como se só deles viesse o nobre sangue. Etnicamente não deixam de ter razão, para salientar a distinção com outras raças que nos vieram da África e da Ásia.
Porém, este até à linha dos décimos sextos avós merece crédito, por constarem da carta de brasão de armas passada em 1734 a Manuel Machado de Araújo, da qual adiante damos um extracto. Álvaro de Mendonça Machado de Araújo (1º, atrás citado) fez, com distinção, o curso liceal em Bragança e o universitário em Coimbra, onde concluiu a formatura em direito a 9 de Julho de 1873 e no ano seguinte exerceu a advocacia em Valpaços. Em 1875, por morte de Carolino Pessanha, chefe do partido progressista no sul do distrito de Bragança, formou, com João Vaz de Madureira, Silvério de Moura Barreto, Joaquim Basílio da Costa e doutor Francisco Augusto da Silva Leal, um grupo dirigente do partido em oposição aos regeneradores, chefiados por Francisco Pavão, a quem nos referiremos ao tratar de Parada de Infanções. Este grupo aderiu em 1876 ao Pacto da Granja e em 1879 obteve pela primeira vez autoridade, sendo Álvaro de Mendonça nomeado administrador de Mirandela.
Em Dezembro de 1880 foi nomeado primeiro oficial do Governo Civil de Bragança; em Fevereiro do ano seguinte caiu o partido progressista e em 1883 transferiram-no para Faro, onde fundou o jornal Progresso do Algarve, destinado a defender a sua política. Em 1884 faz concurso para secretário-geral e foi colocado no Governo Civil da Horta, de cujo lugar não chegou a tomar posse, sendo transferido para igual cargo em Bragança.
A 11 de Janeiro de 1890 subiu ao poder o partido regenerador, que logo o transferiu para a Horta; não acatou porém, o despacho e ficou em Bragança, onde abriu escritório de advogado.
Em 1892 foi eleito deputado por Mirandela e no ano seguinte presidente da Câmara Municipal de Bragança, onde prestou relevantes serviços.
Em 1894 foi eleito deputado por acumulação e em 1898 nomeado governador civil de Braga e de Bragança em 1904.
Em Março de 1910 foi nomeado auditor administrativo do distrito de Bragança, onde se conservou até 1913, ano em que foi promovido à segunda classe e transferido para Braga.
Álvaro de Mendonça era considerado como uma sumidade em direito administrativo, e como escritor a ele nos referiremos em volume especial.
Casou em Barcel, concelho de Mirandela, a 29 de Abril de 1875, com sua prima D. Isabel Maria de Almada Meneses Pimentel, filha de João Evaristo Teixeira de Almada Meneses Guerra e de D. Sancha Augusta de Almada Pimentel, Viscondessa de Barcel (ver Barcel). Morreu em Braga a 11 de Dezembro de 1916 e veio a enterrar a Abreiro. Descendência: I. D. Olema de Mendonça Machado de Araújo, nasceu no Mogo de Malta, concelho de Carrazeda de Ansiães, a 7 de Março de 1876, e casou a 8 de Abril de 1911 com o doutor Alberto Gomes de Moura, tenente-coronel médico de artilharia, combatente da Grande Guerra, natural de Bragança.
Descendência:
Álvaro de Mendonça Machado de Araújo Gomes de Moura, nascido a 29 de Agosto de 1914. II. D. Túlia de Mendonça Machado de Araújo, solteira, proprietária em Abreiro e Barcel, nasceu em Abreiro a 7 de Março de 1878.
III. Abel de Mendonça Machado de Araújo, nasceu a 10 de Novembro de 1879. Fez o curso liceal com distinção em Bragança e o universitário em Coimbra, onde concluiu a formatura em Direito em Junho de 1901.
Não exerceu profissionalmente a advocacia, se bem que defendeu com brilhante êxito algumas causas em Bragança, Mirandela, Vila Flor e Lisboa.
Foi sub-delegado em Alfândega da Fé, mas não seguiu a magistratura.
Professor interino do liceu de Bragança em 1905-1906 e, pelo mesmo tempo, secretário-geral do Governo Civil de Bragança. A 14 de Outubro de 1912 começou a reger a cadeira de Sociologia na Escola Nacional de Agricultura de Coimbra, de que foi nomeado professor efectivo em 1919, passando em 1923 para o grupo Português-Latim.
Tem colaborado no Jornal de Mirandela, Nordeste, Pátria Nova, ambos de Bragança, Diário Ilustrado e Agricultura Transmontana, de Mirandela.
Tem um filho natural, mas legitimado, Joaquim de Mendonça Machado de Araújo, que nasceu em Barcel a 24 de Março de 1903.
IV. D. Maria Olímpia de Mendonça Machado de Araújo, solteira, proprietária em Abreiro e Vieiro, nasceu em Abreiro a 20 de Janeiro de 1890.
A esta inteligente e muito ilustrada senhora agradecemos as informações que gentilmente nos forneceu para esta monografia.
Na carta iluminada de brasão de armas concedida por el-rei D. João V, em 26 de Fevereiro de 1734, a Manuel Machado de Araújo (5º, atrás citado), morador em Valadares, que se encontra em Abreiro em poder da família Mendonça Machado de Araújo, sua descendente lídima, mencionam-se seus avós até ao duodécimo e por ela lhe concede escudo partido em pala: no primeiro, as armas dos Machados; no segundo, as dos Araújos.
Timbre: dois machados de prata com cabos de ouro postos em aspa, atados com um troçal vermelho e por diferença, uma brica de ouro com seu trifólio preto. Em alguns escudos usados pela família no frontispício das casas, no mausuléu e no cruzeiro em Abreiro vêem-se os machados do timbre encimados por um coronel.
Em poder da mesma família há, além de outros documentos nobiliárquicos, os seguintes:
– Carta de fidalgo-cavaleiro dada pela rainha D. Maria I, a 13 de Dezembro de 1779, a Manuel Machado de Araújo (5º, atrás citado), cavaleiro professo da Ordem de Cristo, natural da vila de Calheta, ilha da Madeira, em atenção aos serviços que prestou «nesta Corte e Provincia do Minho no foro do Moço do Guarda Roupa do Infante D. Francisco, que Deus haja, meu muyto prezado tio, e no posto de capitão-mor de Castro Laboreiro; no de governador daquelle castello, em que sucedeo a hum tio do mesmo nome por patente de quatorze de março de mil settecentos e quarenta e seis; e ultimamente no de Sargento-Mor de Infantaria com exercicio do de Governador do mesmo Castello por patente de vinte e seis de Mayo de mil settecentos e sessenta e outo, tudo por espaço de trinta e seis annos.
... E no decurso do refferido tempo da guerra e paz se houve com grande actividade e prestimo nas muytas e particulares diligencias da mayor consideração do meu Real serviço, que lhe forão recomendadas pelos Generaes daquella Provincia; sendo pela sua capacidade e intelligencia, por elles escolhido para entrar no Reyno da Galiza a observar e indagar as forças, dizignios e opperações dos Inimigos: o que executou vadeando todo aquelle Reyno por espaço de hum mez, trazendo hüa exata e fiel rellação de tudo, sem que por este trabalho aceitasse a Ajuda de custo, que se lhe offereceo, tendo sempre hum mesmo cuydado de mandar à sua custa Pessoas intelligentes the o Ferrol e Crunha, e mais partes do mesmo Reyno, conseguindo por ellas a certeza de tudo o que nelle se passava; conservando tambem pela sua vigilancia em Castella correspondencias ocultas por confidentes, a quem pagava da sua fazenda, pelas quais tinha noticia de todas as desposições dos inimigos que logo por correyos comunicava aos seus respetivos generaes, enviando-lhes as Gazettas de Espanha, deffendendo ao mesmo tempo aquella Fronteyra das invazões dos Inimigos, havendo-se no refferido... com muyta honra, desinteresse, e zelo do meu serviço».
– Alvará de 1 de Fevereiro de 1716, que concede o hábito de Cristo em atenção aos seus feitos na guerra com Castela, em que entrou por tempo de onze anos, cinco mezes e vinte e um dias, e ao modo como se portou sendo governador do Castelo de Castro Laboreiro.
– Alvará de 15 de Novembro de 1769, no qual El-rei D. José manda armar cavaleiro a Bento Manuel Machado de Araújo, a quem foi lançado o hábito da Ordem na Sé de Braga. Teve o foro de fidalgo cavaleiro por carta de 21 de Abril de 1780, como se mostra do respectivo documento.
– Alvará de 25 de Outubro de 1803, que manda armar cavaleiro a José Joaquim de Mendonça Machado de Araújo (3º, atrás citado). Teve o foro de fidalgo-cavaleiro por carta régia de 4 de Junho de 1783.
– Carta régia de 29 de Julho de 1822 que concede o foro de fidalgo-cavaleiro a José Maria de Mendonça Machado de Araújo (2º, atrás citado).
– Carta-patente de 7 de Junho de 1769, provendo Bento Manuel Machado de Araújo (4º, atrás citado) no posto de capitão-mor da vila de Castro Laboreiro, vago por desistência de seu pai Manuel Machado de Araújo. Por outra carta de 5 de Agosto de 1778 teve o posto de capitão das Ordenanças da vila de Valadares e seu termo.
– Carta-patente de 19 de Novembro de 1806, provendo José Joaquim de Mendonça Machado de Araújo (3º, atrás citado) no posto de capitão-mor da vila de Valadares, vago por desistência de seu pai.
No arquivo da família conservam-se muitos outros documentos referentes a mercês régias e a promoções concedidas a vários membros colaterais da mesma; um manuscrito autógrafo do genealogista Padre Marcelino Pereira sobre a nobreza dos Machados de Araújo e a Árvore Genealógica dos Pintos Cardosos, senhores do morgado de S. Tiago de Mirandela, e de Morais e Pimenteis Machucas, de Bragança. Da Árvore Genealógica ocupar-me-ei quando tratar de Mirandela, o manuscrito autógrafo não merece citação especial.
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(5) Museu Regional de Bragança, maço Capelas.
(6) Nesta parte não podemos concordar com o manuscrito que vamos seguindo, porque a ponte de Abreiro, hoje em ruínas, restando-lhe apenas os pilares, por ser levada pela grande cheia do inverno de 1909, mas que vimos ainda em pé numa excursão que fizemos àqueles sítios em 1897, tinha todas as características das pontes medievais, das quais restam ainda bem visíveis os agulheiros que seguravam as cambotas dos arcos. Todavia, podia muito bem ser que Manuel Machado de Araújo fizesse reconstruir o arco, arruinado por outra cheia ou qualquer outro motivo, sobre os pegões medievais. Referir-nos-emos adiante a uma reconstrução feita nessa ponte.
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MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA

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