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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pena de Exame - O Culto do Diploma

1. «Ao estudante, oferecem-lhe apenas autonomia para o sofrimento dos exames. É uma autonomia motivada mas não justificada, porque o sofrimento que não sirva a salvação, não é justo nem justificável».
2. «O drama do exame é, em Portugal, um drama colectivo, que cada vez mais se alastra através da alfabetização, se intensifica pela influência do número às colocações e se imprime na sensibilidade e no carácter dum povo».
3. «Onde porém, o exame é mais falso e também mais dramático, enquanto se sofre evidentemente, é no ensino universitário, visto que, na Universidade, o estudante espera o fim do adiamento cultural sofrido durante a instrução primária e o Liceu».
4. «Tanto no que respeita à personalidade, como no que respeita à Sociedade, a instituição universitária, pelo menos a partir da reforma do Marquês de Pombal, opõe-se ao livre desenvolvimento do princípio de individuação, que na comunidade política, se designa por nobilitação».
5. «Com a perda da tradição aristotélica na Filosofia, perdeu-se também o princípio fundamental da educação da nobreza, daquela nova nobreza que justificou a maior evolução e dilatação da Pátria».
6. «Desde que se considere o exame como método pedagógico, e é como tal que o consideramos em todo o nosso ensino, porque lhe damos a primeira e última palavra, a unidade lógica e temporal da aprendizagem é o conceito terminal, o conhecimento sem continuidade, que a cada momento se suspende para ser examinado».
7. «Acentuou-se o valor do exame, entre nós, com o progresso do critério experimental, a ponto de, hoje, se reputar este critério, não só o único capaz de avaliar o saber do aluno, como o único possuidor de virtudes estimulantes e pedagógicas».
8. «O método experimental, tal qual é preferido pelo senso comum destina-se a conhecer os fenómenos, a aparência da realidade, e é exactamente como aparência que o aluno é conhecido no exame».
9. «Quanto mais se radica o ensino no saber examinável, mais se descobre o desconhecimento em que forçadamente são colocados o examinador e o examinando – basta observar o crescente cuidado de anonimato nos exames liceais, onde se está logicamente à espera da máquina perfeita, que consiga mascarar por completo a pessoa do examinador, pois este cuidado tem origem na opção de quem ensina e de quem examina, sendo a passividade do aluno apenas um reflexo da actividade do Professor. Isto significa que (…) o sistema do anonimato, da classificação e do exame, não consegue esconder totalmente a bilateralidade da nota classificadora. O professor que classifica, classifica-se».
10. «O examinando é que sente o falso drama, porque recaiem sobre ele, sujeito passivo do exame, as consequências sociais e espirituais de um ensino positivista. Fala-se no ensino positivista porque o Positivismo é a escola filosófica (pelo menos considerada como tal) que, exceptuando o Marxismo, mais se organizou para se efectivar socialmente. É uma escola que se exprime e se difunde através do curso, do discurso e do catecismo. Conseguiu, portanto, criar no meio docente de há várias gerações um substracto que explica todas as outras tendências e aparentes progressos».
11. «O examinando sente o absurdo de um saber que termina na prova, e que nada tem que ver com a formação da sua personalidade, porque, no exame, se devolve aos Professores que examinam os conhecimentos que ensinaram. E percebe também que a experiência a que vai ser sujeito é uma humilhação necessária para se manter o sistema em que o Professor domina o aluno».
12. «Todos os factores convergem neste momento para agravar a humilhação, mas o que fere mais cruelmente o estado emocional do examinando, é o conluio que se estabelece entre a sua família e o professor que examina, a antecipada concordância que pais e parentes manifestam perante a justiça do exame, denunciando assim que confiam mais no critério de estranhos do que no poder revelador do amor familiar. Uma boa parte das famílias portuguesas vem a reconhecer o valor ou desvalor dos seus filhos pelos resultados dos exames».
13. «No sistema da prova, tal qual se realiza no ensino português, falta a projecção natural da Fé, da Esperança e da Caridade: não se crê no que se aprende, não se espera nada do que nos é ensinado nem se confia em quem nos ensina, porque o exame é contrário ao amor humano e só estimula malquerenças, invejas e adulações».
14. «Nele, no exame, está realmente o segredo. A esse balcão comercia o aluno com o professor um diploma; aí se radicam os interesses fundamentais da Universidade. O professor, quer queira quer não, ensina para o exame, e o aluno aprende para o exame».
15. «O exame é o segredo. O segredo que conserva um agregado social na aparência de ser composto por dois corpos – o docente e o discente – que tem relações de tipo societário, isto é, de interesses ocasionais, com vários alunos, indiferentes entre si, mas supondo e dando a supor que constituem o corpo discente».
16. «O exame para os alunos, e o concurso para os professores, são dois ardis pelos quais o conselho dos catedráticos das várias Faculdades constantemente recusa a necessidade de escolher. Claro que a opinião individual continua a ser o elemento preponderante e decisivo. Não obstante a objectividade que se quer atribuir ao exame, todos os que já foram alunos ou professores sabem que, querendo estes, não há exame que valha à sorte dum aluno. Nos concursos a decisão escondida é ainda mais evidente, mas apenas porque os candidatos são em muito menor número do que os examinandos e os interesses postos em jogo muito mais concentrados. Num e noutro caso, porém, passa-se o mesmo: recorre-se a um processo de aparência para fugir à decisão activa e pessoal, esconde-se a potencialidade da opinião sob a carpintaria dum acto abstracto e positivo».
17. «O que o exame jamais consegue, nem mesmo na aparência, é doar a disposição de aprendizagem, o amor à Verdade (…). E isto porque o exame não chega a ser um processo pedagógico, mas uma derivante grosseira do questionário, que, por sua vez, já é uma derivante do método psicológico da experimentação».
18. «(…) todo o português é, hoje, por estado normal, um examinando. O exame estendeu as suas raízes muito para além dos limites da escola e (…) se seguíssemos a sua sombra, caminharíamos por regiões insuspeitas e insuspeitáveis. Talvez chegássemos à mais alta hierarquia temporal e até religiosa. Quero com isto dizer que o ambiente de prova de exame, acalenta o estado anímico do português, em todas as suas manifestações, quer profissionais, quer políticas, quer religiosas. Talvez não seja difícil sustentar a tese de que o próprio Deus é hoje mais usualmente crido e sentido como Supremo Examinador do que como Deus de Amor».
19. «Todo o recém-nascido é já um examinando em potência e mal começam a amadurar as suas faculdades já o é em acto. E nunca mais o deixa de ser até à reforma – ou seja até à morte para o trabalho social».
Escrito por Afonso Botelho

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