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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

TREMOÇOS: O MARISCO DOS POBRES

Adoro fazer rádio que mexa com as pessoas. Todo o mundo estava à espera da tão desejada chuva. Na madrugada da passada quinta-feira ela apareceu e eu consegui que muita gente se levantasse da cama para a ir ver à janela, abrindo o programa desta forma: “Família vai à janela / e o que vais lá ver / dá lá uma espreitadela / e vê se está a chover.”

Em 29 das 30 localidades das pessoas que falaram comigo nesse dia estava realmente a chover. Só em

S. Martinho (Miranda do Douro) é que ainda não chovia àquela hora, segundo nos disse a tia Corina. Era com muita satisfação que todas as pessoas me diziam “é ouro, Tio João!”, pois para os castanheiros e para as oliveiras é uma bênção a rega automática vinda do céu. Também nestes últimos dias tivemos essa grande dádiva que é a chuva para a agricultura.

No dia 13 estivemos, pelo segundo ano consecutivo, a promover a Feira dos Gorazes com o nosso programa, das 6 às 10 horas da manhã, em directo de Mogadouro. Levámos a feira a milhares de lares da nossa região e de todo o mundo através da rádio e da internet. É sempre agradável contar com a participação em directo dos nossos ouvintes no programa da família e também conhecer caras novas daqueles que nos vão ver ao vivo nestes eventos.

A tia Fernandinha, de Tabuaço (Viseu), disse-me

que já tem figos secos. Este ano teve muitos e secou-os

ao sol, congelando-so a seguir, porque ficam como antes.

Atenção minha boa gente! É já no próximo Domingo, dia 21, que faremos, pelo sexto ano consecutivo, o Magustão da Família do Tio João em directo da Rural Castanea, em Vinhais. É aí que vamos saborear as primeiras castanhas do ano, apesar de a produção estar muito atrasada este ano em várias localidades da nossa região. Este evento serve, como sempre, para engrandecermos a nossa amizade e fazermos novos amigos. Por isso, se quiserem ter uma tarde recreativa bem passada e saborear as castanhas assadas no maior assador de castanhas do mundo, estão todos convidados e eu conto convosco.

Na última semana estiveram de parabéns a Fernanda Topete (58), de Souto da Velha (Torre de Moncorvo); Irene Cubo (71) e Ermesinda Romão (64), ambas de Caravela (Bragança); Moisés (70), de Uva (Vimioso) e Casimiro (89), de Parada. Para todos muita saúde, coza o forno e que o pão seja nosso.

Ainda me lembro de, na minha infância, a tia Laurinda Tremoceira instalar a sua banca em frente à Caixa Geral de Depósitos de Bragança. Trazia os tremoços dentro de um alguidar e vendia-os ao copo, a 5 coroas, em cones feitos com as folhas das Páginas Amarelas.

Com o tempo associei os tremoços à cerveja, especialmente no Verão. Os tremoços são um alimento muito nutritivo e com poucas calorias. Segundo me contou recentemente a tia Julieta, de Suçães, que já ouvia esta lenda dos seus pais e avós, quando Nossa Senhora e S. José fugiram para o Egipto para salvar o Menino Jesus das garras dos soldados de Herodes, perderam-se num campo de tremoços e o barulho que faziam ao caminhar era de tal ordem que pensavam estar a ser perseguidos pelos soldados. Quando Maria descobriu o verdadeiro motivo de tanto barulho, exclamou: “Eu vos amaldiçoo, tremoços, para que nunca farteis quem quer que vos coma!” A verdade é uma, enganam a fome, mas nunca nos sentimos fartos com eles.

Antigamente os tremoços também faziam parte dos casamentos, onde eram comidos em grandes quantidades nas despedidas de solteiro e no dia a seguir ao casamento. No meu casamento os tremoços também marcaram presença na festa.

A tia Maria José Chanqueira, de Sendim (Miranda do Douro), disse-nos que na sua vila ainda há quem semeie tremoços para vender e que antigamente, no Domingo antes do casamento, se juntavam rapazes e raparigas para irem levar os tremoços numas sacas a um poço ou ribeiro para se curarem e cozê-los depois numas caldeiras, para dar “o patente” no Domingo a seguir à boda, numa ronda animada com concertinas e guitarras e os rapazes a cantar o fado, tudo bem regado com vinho, transportado em cântaros. Na praça da sua localidade punham-se os cântaros de vinho e os açafates (cestos de verga) cheios de tremoços para toda a gente comer. Também nos disse que ainda no passado dia 22 de Setembro houve um casamento na sua terra e a noiva fez questão de cumprir a tradição dos tremoços de antigamente.

A nossa espanhola, casada em Sacoias (Bragança), Afonsa (Fonsi), disse-nos que tem na sua horta tremoços semeados porque são um bom “abono” (adubo) vegetal e natural e que “desinfectam” a terra. Os tremoços são muito ricos em azoto e já mais tios nos contaram que quando querem renovar as terras, semeiam tremoços antes de semearem outra cultura.

Antigamente muita gente ganhava a vida com tremoços, mas agora já quase não se veem tremoceiras em Bragança, a não ser a tia Celeste, das Moreirinhas, que ainda vai ao estádio municipal, em Domingo de jogo, vender tremoços curados ao copo.

Tio João
in:jornalnordeste.com

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