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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 16 de maio de 2024

A Inconsistência Semântica de Certos Provérbios - I

 Por: António Pires 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Na sequência da minha última publicação no Memórias, sobre o “talho”/”motcho”/banquinho de lareira, termo que associei ao ditado popular “ Em Maio queima a velha o talho”, tive uma discussão saudável e muito proveitosa com o nosso amigo Armando Casimiro. O meu interlocutor referiu-se aos provérbios como “expressões que fazem sempre sentido”. Isto é, verdades universais, incontestáveis, quando eles, na maior parte dos casos, não sendo mais do que episódicos, e fruto dum contexto específico e duma determinada vivência temporal, se caracterizam por um elevado grau de exagero.  
Tomando como exemplo o provérbio “peixe não puxa carroça”, vejamos a teoria capaz de refutar a ideia de que os ditos populares encerram inexoravelmente uma verdade.
“O peixe não puxa carroça” é uma bela metáfora, cuja comparação implícita é o esforço despendido por um animal de carga a puxar o veículo de tracção, e o trabalho braçal do homem numa jornada laboral, requerendo uma força considerável. Ou seja, comendo peixe, não ficamos com o estômago aconchegado, pelo que não temos energia/força para aguentar a exigência física que certas tarefas (do mundo rural) implicam.
A que se deve a falsa – crença de negar ao alimento Peixe as propriedades “energéticas” que se atribuem à Carne?! Sem qualquer rigor cientifico, aposto na seguinte teoria:
Em tempos muito recuados, nomeadamente nas zonas remotas de Portugal, no interior, o peixe era um alimento que raramente chegava à mesa das famílias pobres. Tanto a sardinha como os demais peixes, saíam da lota de Matosinhos e chegavam às nossas aldeias e vilas, com a “mediação” de vários intermediários, um mês depois, transportado, na ausência de aceitáveis condições higio – sanitárias, no lombo dos jumentos. Os mais abastados, porque recorriam a meios de transporte mais rápidos, conseguiam comer o pescado com uma certa regularidade e com a frescura possível. Os primeiros, que eram a larga maioria, quando tinham a sorte do dito lhes chegar à boca, a quantidade, sempre gourmet, era insuficiente para saciar o estômago, pelo não que tinham, naturalmente, força para “puxar a carroça”.
Estes dois aspectos (escassez e preço), como se pode calcular, são, genericamente, a razão pela qual os transmontanos gostam muito mais de carne do que de peixe, porque a galinha, a vitela, o cordeiro e o porco…estavam sempre ali à mão, porque criados em casa.  E é desta forma que os colesteróis e os ácidos úricos se explicam através da relação directa com os hábitos alimentares cá da gente.  
Aos que acreditam e defendem a consistência de tal axioma, costumo fazer a seguinte pergunta retórica:
- O bacalhau, o polvo, o pambo, a sardinha, o pregado, a corvina, o tamboril, o rodovalho, a lampreia, o cherne ….não puxam a carroça?!
Ao que eles, não tendo argumentos convincentes, respondem:
- Oh, mas esses não são bem peixe!
E eu, ironicamente, devolvo:
- Não, são seres vivos gastronomicamente não – binários!
Do outro lado, à falta de réplica, obtenho risos concordantes.
A nossa vida jamais será empolgante, se, perante ela, nos acomodarmos passiva e resignadamente na postura do “nem carne nem peixe”.

António Pires


António Pires
, natural de Vale de Frades/S. Joanico, Vimioso. Residente em Bragança.
Liceu Nacional de Bragança, FLUP, DRAPN.

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