Por: António Pires
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Na sequência da minha última publicação no Memórias, sobre o “talho”/”motcho”/banquinho de lareira, termo que associei ao ditado popular “ Em Maio queima a velha o talho”, tive uma discussão saudável e muito proveitosa com o nosso amigo Armando Casimiro. O meu interlocutor referiu-se aos provérbios como “expressões que fazem sempre sentido”. Isto é, verdades universais, incontestáveis, quando eles, na maior parte dos casos, não sendo mais do que episódicos, e fruto dum contexto específico e duma determinada vivência temporal, se caracterizam por um elevado grau de exagero.
Tomando como exemplo o provérbio “peixe não puxa carroça”, vejamos a teoria capaz de refutar a ideia de que os ditos populares encerram inexoravelmente uma verdade.
“O peixe não puxa carroça” é uma bela metáfora, cuja comparação implícita é o esforço despendido por um animal de carga a puxar o veículo de tracção, e o trabalho braçal do homem numa jornada laboral, requerendo uma força considerável. Ou seja, comendo peixe, não ficamos com o estômago aconchegado, pelo que não temos energia/força para aguentar a exigência física que certas tarefas (do mundo rural) implicam.
A que se deve a falsa – crença de negar ao alimento Peixe as propriedades “energéticas” que se atribuem à Carne?! Sem qualquer rigor cientifico, aposto na seguinte teoria:
Em tempos muito recuados, nomeadamente nas zonas remotas de Portugal, no interior, o peixe era um alimento que raramente chegava à mesa das famílias pobres. Tanto a sardinha como os demais peixes, saíam da lota de Matosinhos e chegavam às nossas aldeias e vilas, com a “mediação” de vários intermediários, um mês depois, transportado, na ausência de aceitáveis condições higio – sanitárias, no lombo dos jumentos. Os mais abastados, porque recorriam a meios de transporte mais rápidos, conseguiam comer o pescado com uma certa regularidade e com a frescura possível. Os primeiros, que eram a larga maioria, quando tinham a sorte do dito lhes chegar à boca, a quantidade, sempre gourmet, era insuficiente para saciar o estômago, pelo não que tinham, naturalmente, força para “puxar a carroça”.
Estes dois aspectos (escassez e preço), como se pode calcular, são, genericamente, a razão pela qual os transmontanos gostam muito mais de carne do que de peixe, porque a galinha, a vitela, o cordeiro e o porco…estavam sempre ali à mão, porque criados em casa. E é desta forma que os colesteróis e os ácidos úricos se explicam através da relação directa com os hábitos alimentares cá da gente.
Aos que acreditam e defendem a consistência de tal axioma, costumo fazer a seguinte pergunta retórica:
- O bacalhau, o polvo, o pambo, a sardinha, o pregado, a corvina, o tamboril, o rodovalho, a lampreia, o cherne ….não puxam a carroça?!
Ao que eles, não tendo argumentos convincentes, respondem:
- Oh, mas esses não são bem peixe!
E eu, ironicamente, devolvo:
- Não, são seres vivos gastronomicamente não – binários!
Do outro lado, à falta de réplica, obtenho risos concordantes.
A nossa vida jamais será empolgante, se, perante ela, nos acomodarmos passiva e resignadamente na postura do “nem carne nem peixe”.
Tomando como exemplo o provérbio “peixe não puxa carroça”, vejamos a teoria capaz de refutar a ideia de que os ditos populares encerram inexoravelmente uma verdade.
“O peixe não puxa carroça” é uma bela metáfora, cuja comparação implícita é o esforço despendido por um animal de carga a puxar o veículo de tracção, e o trabalho braçal do homem numa jornada laboral, requerendo uma força considerável. Ou seja, comendo peixe, não ficamos com o estômago aconchegado, pelo que não temos energia/força para aguentar a exigência física que certas tarefas (do mundo rural) implicam.
A que se deve a falsa – crença de negar ao alimento Peixe as propriedades “energéticas” que se atribuem à Carne?! Sem qualquer rigor cientifico, aposto na seguinte teoria:
Em tempos muito recuados, nomeadamente nas zonas remotas de Portugal, no interior, o peixe era um alimento que raramente chegava à mesa das famílias pobres. Tanto a sardinha como os demais peixes, saíam da lota de Matosinhos e chegavam às nossas aldeias e vilas, com a “mediação” de vários intermediários, um mês depois, transportado, na ausência de aceitáveis condições higio – sanitárias, no lombo dos jumentos. Os mais abastados, porque recorriam a meios de transporte mais rápidos, conseguiam comer o pescado com uma certa regularidade e com a frescura possível. Os primeiros, que eram a larga maioria, quando tinham a sorte do dito lhes chegar à boca, a quantidade, sempre gourmet, era insuficiente para saciar o estômago, pelo não que tinham, naturalmente, força para “puxar a carroça”.
Estes dois aspectos (escassez e preço), como se pode calcular, são, genericamente, a razão pela qual os transmontanos gostam muito mais de carne do que de peixe, porque a galinha, a vitela, o cordeiro e o porco…estavam sempre ali à mão, porque criados em casa. E é desta forma que os colesteróis e os ácidos úricos se explicam através da relação directa com os hábitos alimentares cá da gente.
Aos que acreditam e defendem a consistência de tal axioma, costumo fazer a seguinte pergunta retórica:
- O bacalhau, o polvo, o pambo, a sardinha, o pregado, a corvina, o tamboril, o rodovalho, a lampreia, o cherne ….não puxam a carroça?!
Ao que eles, não tendo argumentos convincentes, respondem:
- Oh, mas esses não são bem peixe!
E eu, ironicamente, devolvo:
- Não, são seres vivos gastronomicamente não – binários!
Do outro lado, à falta de réplica, obtenho risos concordantes.
A nossa vida jamais será empolgante, se, perante ela, nos acomodarmos passiva e resignadamente na postura do “nem carne nem peixe”.
António Pires
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