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quinta-feira, 23 de maio de 2024

Dia Europeu da Rede Natura 2000: inaugurada jaula de aclimatação para abutres-pretos e apresentada app para explorar o território

 No Dia Europeu da Rede Natura 2000, a maior rede de áreas protegidas do mundo para a natureza, assinalado a 21 de maio, a organização não governamental de ambiente Palombar - Conservação da Natureza e do Património Rural, a Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino (AEPGA) e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) organizaram uma jornada comemorativa da data em diferentes locais do Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), área protegida que partilha os seus limites com a Zona de Proteção Especial (ZPE) e a Zona Especial de Conservação (ZEC) do Douro Internacional e Vale do Águeda da Rede Natura 2000.

Abutre-preto na jaula de aclimatação. Fotografia Leonor Carvalho/Palombar.

O dia comemorativo teve três momentos-chave: inauguração da jaula de aclimatação para reforço populacional da colónia reprodutora de abutre-preto (Aegypius monachus) no PNDI, no âmbito do projeto LIFE Aegypius Return; apresentação do projeto VISITEC|PNDI - visitar o Parque Natural do Douro Internacional com apoio tecnológico e lançamento da aplicação Passaporte Natura 2000 (PN2000) - valorizar o território através dos seus capitais natural e humano: biodiversidade, património e comunidades locais.

Jaula de aclimatação inaugurada recebe primeiros quatro abutres-pretos

A inauguração da jaula de aclimatação, construída ao abrigo do projeto LIFE Aegypius Return com o objetivo de aumentar a colónia de abutres-pretos no PNDI, a menor do país, ficou marcada pela entrada dos primeiros quatro indivíduos juvenis desta espécie na estrutura, três fêmeas e um macho. Estes abutres foram resgatados em Évora, Monte Junto e Belmonte, e, posteriormente, transferidos para o Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens (CERAS), localizado em Castelo Branco, onde estiveram a passar por um processo de recuperação prévio antes de serem transportados para a jaula. A introdução dos abutres na jaula foi acompanhada por equipas de veterinários do CERAS e do Centro de Recuperação de Animais Selvagens do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (CRAS/HV/UTAD).

A jaula começou a ser construída no outono de 2023 perto da localidade de Fornos, no concelho de Freixo de Espada à Cinta, no PNDI. Para a construção desta estação de aclimatação, foi escolhida uma área perto das arribas isolada e com baixa perturbação. A estrutura de grandes dimensões tem todas as condições de segurança e está equipada com um sistema de videovigilância para que os abutres-pretos possam ser monitorizados 24h sobre 24h. Ao redor da jaula, foram vedados cerca de 2 hectares de terreno, no qual funcionará também um Campo de Alimentação para Aves Necrófagas (CAAN).

Abutre-preto na jaula de aclimatação. Fotografia Leonor Carvalho/Palombar.

A jaula de aclimatação acolhe os indivíduos da espécie recuperados para que passem por um período de readaptação ao meio natural e de habituação à região, com vista a potenciar a sua fixação nesta área, quando regressarem ao seu habitat natural.

“A jaula de aclimatação é um método de soft release; permite manter abutres-pretos provenientes de centros de recuperação durante um tempo no seu interior, que pode ir dos cinco aos 12 meses, para que se possam adaptar ao local onde está instalada antes de serem devolvidos à natureza”, explicou Iván Gutiérrez, biólogo da Palombar e responsável pela monitorização da espécie.

Já “o CAAN vai possibilitar que os abutres-pretos interajam com outras aves necrófagas, entre os quais abutres-pretos já residentes na zona, em cada sessão de alimentação, favorecendo a transmissão de comportamentos intraespecíficos, de forma a aumentar a taxa de fixação e sobrevivência dos indivíduos que serão libertados”, acrescentou.

Análise biométrica de um dos abutres-pretos colocados na jaula de aclimatação.
Fotografia Leonor Carvalho/Palombar.

As arribas do Douro encontram-se no limite da distribuição do abutre-preto na Europa e albergam a colónia mais sensível da espécie em território nacional, contando apenas com quatro casais reprodutores. Esta, que é a segunda colónia mais antiga de Portugal, é também a mais isolada da península, o que dificulta a sua expansão natural. O projeto LIFE Aegypius Return prevê, até 2027, devolver à natureza nesta área 20 abutres-pretos provenientes de centros de recuperação de fauna silvestre.

Fotografia de grupo com membros da equipa do projeto LIFE Aegypius Return.
Fotografia Leonor Carvalho/Palombar.

App permite explorar biodiversidade, património e comunidades de áreas da Rede Natura 2000

Durante a jornada de comemoração da Rede Natura 2000, também foi apresentado o projeto VISITEC|PNDI – integrar a tecnologia na experiência dos visitantes das zonas protegidas. Este projeto teve como foco a criação da aplicação Passaporte Natura 2000 (PN2000), uma ferramenta digital que permite que os usuários explorem a biodiversidade, o património e as comunidades locais de maneira interativa, integrados em áreas da Rede Natura 2000. Pretende igualmente promover a educação ambiental e o desenvolvimento social e económico da região.

“As comunidades foram envolvidas através das suas artes e ofícios, tendo sido identificado um grupo de artesões que se ligou à aplicação”, destacou Rui Dias, um dos coordenadores do Passaporte Natura 2000. Um desses artesãos é Célio Pires, que, neste dia, nos abriu a porta da sua oficina em Constantim, no concelho de Miranda do Douro, onde há mais de 20 anos produz e toca instrumentos musicais típicos de Trás-os-Montes. Durante a visita, Célio Pires confessou que aprendeu a construir gaitas de fole porque, quando quis começar a tocar, não era fácil encontrar estes instrumentos com qualidade. Para além de as construir e tocar, é um explorador da sua arte e é impossível não sentir a sabedoria que guarda sobre a música mirandesa.

Foram ainda visitados locais deslumbrantes do PNDI incluídos na app PN2000: o Miradouro do Castrilhouço, onde pode ter a oportinidade de ver um milhafre-real, e o Miradouro de São João das Arribas, onde, no céu, poderá observar a imponente águia-real e descobrir mais sobre estas espécies com recurso à app.

Músico e artesão Célio Pires na sua oficina. Fotografia Leonor Carvalho/Palombar.

José Pereira, presidente da Palombar, destacou, nesta jornada, a necessidade de criar uma ponte sólida entre as comunidades e as associações ambientais, e sublinhou que ambos os projetos pretendem “criar atividade económica e social em volta deste património natural, cultural e arquitetónico único”.

Já Sandra Sarmento, diretora regional do ICNF Norte, frisou que “as ONG são verdadeiros agentes do desenvolvimento do território, sobretudo do rural, capazes de fixar e trazer tanta gente ao território protegendo e preservando a biodiversidade, um bem público que nos une e que nos orgulha”.

Sobre a Rede Natura 2000

A Rede Natura 2000 é a maior rede de áreas protegidas do mundo para a natureza, sendo o principal instrumento de conservação da natureza e da biodiversidade na União Europeia (UE). Com mais de 26 mil sítios, cobrindo 18% da área terrestre europeia e quase 9,5% da sua área marinha, representa um quinto do território europeu e gera 200 a 300 mil milhões de euros por ano (ou seja, 2% a 3% do Produto Interno Bruto da UE). Graças à Rede Natura 2000, a UE protege cerca de 1 400 espécies de animais e plantas selvagens e 460 espécies de aves. Foi criada ao abrigo de duas medidas legislativas europeias: Diretiva Aves, de 1979, que enquadra a criação das Zonas de Proteção Especial; e Diretiva Habitats, de 1992, que enquadra a criação dos Sítios de Importância Comunitária e a possibilidade de designar os SIC como Zonas Especiais de Conservação.

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