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Primeira fase do Inventário histórico-artístico concluída
Existem receios de que possa não haver financiamento para a segunda fase, que abrange os concelhos de Bragança, Vinhais, Miranda do Douro, Mogadouro e Mirandela .
Com 11 275 peças inventariadas em templos religiosos nos concelhos de Alfândega Fé, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Macedo de Cavaleiros, Torre de Moncorvo, Vila Flor e Vimioso, está concluída a primeira fase do inventário histórico-artítico da diocese de Bragança-Miranda. Para D. António Montes, Bispo diocesano, “é muito importante que fiquemos a conhecer melhor aquilo que temos. Isto é apenas uma pequena parte. Dos cálculos de um dos intervenientes, do professor Vítor Serrão, haverá umas 50 mil peças no distrito (que coincide com os limites da diocese), e estão inventariadas perto de 12 mil”, disse. Segundo Vítor Serrão, director do Instituto de História da Arte da Faculdades de Letras da Universidade de Lisboa, membro da equipa de inventariantes desde 2004, com este inventário a ideia de que esta região era periférica e pouco importante a nível de património religioso ficou completamente esbatida. “A quantidade e qualidade de patrimónios, desde a Idade Média, ao Gótico, ao Renascimento, Barroco, Rococó e outros períodos é tão importante, tão variada e com tanta qualidade de repertórios, que mostra que os mercados de arte que aqui actuaram” estavam perfeitamente a par “com o melhor que era feito em Lisboa, e noutras capitais importantes do tempo, nomeadamente com Valladolid”, referiu. Para o professor, “o inventário vai promover turismo, vai criar emprego, vai recolocar no mapa uma região depauperada, vai permitir que haja restauro, que haja medidas prevenidas, que haja outros cuidados”. Outra das razões pelas quais é importante proceder ao inventário é a criação de um catalogo detalhado de cada peça existente que permitirá poder recuperá-la mais facilmente, em caso de roubo. “Os antiquários têm por obrigação saber a proveniência da peça. Se essa peça não está inventariada, não se sabe sequer se houve roubo. A dificuldade que existe, neste momento, no Museu de Arte Sacra da Polícia Judiciária, em Loures, é que eles têm lá inúmeras peças recuperadas, mas não as podem devolver porque não sabem a que igreja pertencem, por falta de inventário”, explicou Carlos Mendes, da Associação Terras Quentes, entidade responsável pela inventariação. O inventário na diocese permitiu já a recuperação de peças roubadas no Santuário de Santo Antão da Barca, em Alfândega da Fé. Entretanto, em 2007 foram roubadas duas imagens da igreja de Grijó, e em Dezembro passado uma imagem da igreja matriz de Macedo de Cavaleiros que, apesar de inventariadas ainda não foram recuperadas. “Vê-se que são roubos cirúrgicos. Portanto, são roubos efectuados por gente que sabe daquilo que anda à procura. Juntando as peças de Macedo de Cavaleiros e da igreja de Grijó temos uma sagrada família, com as mesmas características, com a mesma cronologia”, referiu Carlos Mendes, acrescentado a Polícia Judiciária tem já suspeitos do primeiro furto, em Grijó.
Falta ainda assegurar a verba para a restante inventariação.
O inventário que agora foi concluído resultou de um protocolo estabelecido entre a diocese, o município de Macedo de Cavaleiros, a Universidade católica Portuguesa, através da sua Escola de Artes, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, através do Departamento de História, a Associação de Defesa do Património Terras Quentes e o Instituto Superior de Polícia Judiciária e Ciências Criminais. Ao município de Macedo de Cavaleiros juntaram-se os restantes seis, compreendidos nesta primeira fase. Essas câmaras municipais comparticiparam 45 por cento dos custo da inventariação, sendo os restantes 55 por cento resultantes de uma candidatura ao QREN. Para Carlos Mendes, a comparticipação de 55 por cento é uma discriminação negativa da região. “Há uma determinação da Conferência Episcopal Portuguesa, um acordo que foi feito com o Estado, em que todos os inventários das dioceses deste país seriam financiados a 75 por cento. Não compreendemos porque é que Bragança foi a única que foi financiada a 55 por cento”. Isto explica-se, talvez, porque esta Associação foi a única entidade privada a pegar no projecto, enquanto, no resto do país, tem sido a próprias dioceses a realizar o inventário. A somar a isto, regista-se uma atraso no pagamento da verba. “A candidatura tem um valor global de 560 mil euros, e do QREN, até ao momento, o que recebemos não chega a 18 mil”. Também alguns municípios não cumpriram os seus compromissos, com excepção de Macedo de Cavaleiros, Freixo de Espada à Cinta, Alfândega da Fé e Vimioso. Carlos Mendes, receia agora, que possa não haver verba para terminar o inventário, nos restantes concelhos. “Estamos em conversações com a diocese. Vamos ver se chegamos a bom termo. A Associação Terras Quentes, por si, não tem estrutura financeira para conseguir abalançar-se a uma segunda fase, perante estes pressupostos”. Espera-se que, através da diocese se possa conseguir uma comparticipação a 75 por cento e que os municípios que faltam possam vir a aderir a este projecto. Vítor Serrão sublinhou que este é um trabalho em aberto e demonstrou preocupação, tal como Carlos Mendes, pelo facto de, na sessão de apresentação do inventário, no passado dia 22, no centro Cultural de Macedo, não ter estado nenhum representante da gestão do QREN, tal como estava previsto no programa. D. António Montes fez votos para que “apesar da situação menos favorável do país, neste momento,” o inventário seja concluído, no conjunto da diocese.
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