Eça de Queirós |
A história de uma família portuguesa, em finais do século XIX, tornou-se uma das obras mais consagradas a nível mundial. Do punho de Eça de Queirós, numa escrita realista que apontava todos os "podres" dos protagonistas, seguimos os Maias. Nas figuras do patriarca Afonso, do traído Pedro e do diletante Carlos apresentam-se três gerações de uma família de elevado estatuto nas lides lisboetas.
O incesto também é um tema-chave do livro. O promissor Carlos, médico, de brilhante início de carreira, respeitado pelos seus pares, envolve-se com uma misteriosa dama casada. Depois de algumas peripécias (saber que Maria Eduarda afinal não era pertença de outro homem) e de, finalmente, poder viver livremente aquele amor tão "puro", Carlos da Maia vê o seu mundo ruir: ela era a sua irmã, levada de Portugal pela mãe, aquela Maria Monforte das histórias do avô, aquela que conduziu Pedro ao suicídio.
Eça de Queirós levou oito anos a compor esta saga familiar que, para lá das desventuras amorosas do membro mais novo (Carlos) e das tropelias do seu melhor amigo (João da Ega), também revela um Portugal de Fim-de-Século muito contemporâneo. Toda uma sociedade foi alvo do olhar atento, irónico e muito mordaz de Eça. Política, cultura, costumes e rotinas, nada escapou neste grande clássico da literatura.
Eça de Queirós, Biografia:
100 anos antes da passagem para o século XXI, Portugal perdia o seu romancista mais irónico, acutilante na crítica da "portugalidade" e uma das mentes mais activas da Geração de 70. Em Agosto de 1900 morria José Maria Eça de Queirós, autor (postumamente) consagrado d'Os Maias e d'O Crime do Padre Amaro.
Membro de um grupo de jovens reformadores que viam na literatura a autópsia da mente humana, na senda de um tal Realismo francês que surgira como reacção aos emocionados Românticos, compartilhou com Antero de Quental, Ramalho Ortigão e Oliveira Martins, entre outros, a mudança do paradigma literário.
Natural da Póvoa de Varzim, teve no Porto e em Coimbra a sua educação e a sua estreia nas lides literárias. Na Gazeta de Portugal publicaria os seus primeiros trabalhos e ficaria reputado na academia, com amizades entre os oponentes de Feliciano de Castilho e já com o projecto de mudança daquele Portugal em mente. Em Lisboa tomaria lugar nas Conferências do Casino, sempre atento à esfera social e apontando os podres que analisava através do seu monóculo. Mais tarde, sem conseguirem mudar a nação a que pertenciam, os jovens iriam ironicamente intitular-se de Vencidos da Vida.
Mas foi no estrangeiro que Eça passou grande parte da sua vida profissional. Primeiro no Egipto, como jornalista, dando conta da construção do Canal do Suez. Havana, Newcastle, Bristol, Paris e Neuilly, onde viria a falecer, sucedem-se na sua carreira de cônsul, enquanto desenvolvia a maioria dos seus romances realistas.
Á distância do país natal sentia uma maior acuidade na descrição dos "episódios" da vida portuguesa, da possibilidade de comparar os costumes nacionais com aqueles que, importados, eram adoptados pelas classes mais elevadas. E sempre com a mesma prosa fluida, cheia de humor ácido que, no fundo, faz das suas obras verdadeiras sátiras do ser-se português.
Por alguma razão se fala tanto de um tal João da Ega, personagem d'Os Maias que é considerado um alter-ego de quem o criou.
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