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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

O Bangladesh

Por: José Mário Leite
(Colaborador do Memórias...e outras coisas...)


 Recentemente apareceram uns cartazes com uma frase que causou grande polémica, não propriamente pelo que a mesma afirmava, pois tal é óbvio e indesmentível, “Portugal não é o Bangladesh” mas, no meu modesto entender pela ausência de uma palavra, como mais adiante explicarei. Entretanto, vamos lá ao Bangladesh.

Ouvi falar deste país asiático, pela primeira vez, no início dos anos setenta, a propósito de uma canção do ex-Beatle, George Harrison que haveria de promover o primeiro concerto solidário, precisamente o Concerto para o Bangladesh. Mesmo tendo, em termos financeiros, arrecadado substancialmente menos que o esperado, colocava aquele país nas primeiras páginas das notícias de então, despertando uma onda de solidariedade com o povo bengali vítima de um violento tufão que arrasou muitas povoações e matou meio milhão de pessoas e estava a ser massacrado pelas autoridades paquistanesas.

Porém, passado mais de meio século, não são visíveis grandes sinais de desenvolvimento. Segundo a Wikipédia continua a ser um território de grande pobreza.

A maioria dos habitantes é composta de agricultores pobres, que se esforçam para tentar sobreviver com o fraco rendimento de pequenas propriedades rurais. A maioria da população, com mais de 15 anos, não sabe ler nem escrever. Os maiores problemas nacionais são, a par com o analfabetismo, a corrupção, o autoritarismo e o claro desrespeito pelos direitos humanos. Muitos dos seus habitantes emigram para outras paragens com a esperança de, apesar dos sacrifícios e privações por que têm de passar, construir um futuro melhor para si e para os seus.

Curiosamente, há cinquenta anos, Portugal padecia de debilidades muito parecidas às que hoje assolam os bengalis:  o analfabetismo juntava-se à pobreza endémica que assolava todo o país, com especial incidência no interior onde a maioria da população se dedicava à agricultura sobrevivendo com os parcos recursos extraídos de pequenas courelas. A corrupção grassava e, mais do que tolerada, era promovida escorando-se no autoritarismo ditatorial, na repressão de qualquer manifestação de liberdade e na total violação dos direitos humanos.

Perante tais condições de vida, milhares e milhares de portugueses, para fugirem à miséria, à opressão, à ausência de futuro e, igualmente, muitas centenas de jovens, para evitarem a incorporação forçada na injusta e injustificada guerra colonial de onde tantos vieram estropiados, alucinados e em caixões de pinho, decidiram passar a fronteira a salto, com grande sacrifício, muitas privações e grandes dificuldades em busca de um futuro melhor, na Europa, tão perto e tão distante.

Perante a semelhança do que um é hoje e do que o outro foi no passado, a frase verdadeiramente representativa dessa realidade deveria ser: Portugal JÁ não é o Bangladesh.

Quando os portugueses tinham condições por que hoje passam os bengalis, o principal autor e responsável da situação era António de Oliveira Salazar. Ora, sendo pública a ideologia de quem mandou colocar os outdoors e a intenção de replicar não um, mas três Salazares, estou certo que a frase que evidenciaria tal situação seria: Portugal AINDA não é o Bangladesh!

Não, não é. E esperamos que não venha a ser.


José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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