Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Tradição de Cantar os Reis mantém-se viva

Apesar da televisão, de cada um viver mais “fechado no seu canto”, ainda há quem abra as portas às boas festas e aos desejos de um bom ano.
Cantar os Reis, evocando a adoração ao Menino Jesus, é uma tradição antiga, em todo o país, que ainda se mantém, assumindo novas formas. No Nordeste Transmontano era frequente, em muitas localidades, a partir do dia 26 até ao final do mês de Janeiro (razão pela qual também se chama a este cantar “As Janeiras”), constituírem-se grupos improvisados de cantadores que, à noite, percorriam aldeias, cidades e vilas, de porta em porta, cantado aos senhores de cada casa, desejando saúde, sorte ou prosperidade, para o ano que se inicia, e abençoando o nascimento do Menino Jesus.
Actualmente, esta tradição, de um modo mais espontâneo, só se mantém em certos lugares. Encerrados numa nova forma de vivência social, nem sempre os senhores das casas estão dispostos a abrir as portas e a dar algo em troca de uma canção. Antes deste tempo, normalmente o que se dava aos cantadores era uma peça de fumeiro. Segundo José Jecas, de Arcas, concelho de Macedo de Cavaleiros, nesta aldeia essa tradição não se perdeu. Ainda hoje cantam porta a porta e recebem, em troca da canção de boas festas, linguiças e alheiras. “Depois vamos para a patuscada. É espectacular, toda a gente adere, nem se deitam à espera que nós passemos”, referiu, acrescentando que, nesta aldeia, há ainda “muita rapaziada nova”. Contudo, grande parte destas tradições são mantidas através de iniciativas, muitas vezes organizadas por entidades externas, como as Câmaras Municipais. Foi isso que aconteceu, no passado dia nove em Macedo de Cavaleiros e Alfândega da Fé e, na noite anterior, em Miranda do Douro.
Cada um destes municípios promoveu um encontro de cantadores de Reis, nos quais participaram diversos grupos, alguns constituídos exclusivamente para o efeito, outros que vêm desenvolvendo actividades culturais diversificadas, ao longo do ano, sempre em prol da cultura tradicional. Segundo Sílvia Garcia, vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, desde que o município lançou esta iniciativa, há nove anos, tem-se notado um aumento da quantidade e da qualidade dos grupos presentes. A iniciativa é importante pelo convívio que proporciona, e também porque contribuiu para “manter uma tradição que ainda está viva no nosso concelho”, sublinhou a vereadora. António Baptista, presidente do Grupo de cantares de Castelãos, contou-nos que, naquela aldeia, a tradição de cantar os Reis estava praticamente perdida. A tradição foi retomada agora, a nível de grupo, que estava inactivo há cerca de dois anos e meio e foi agora reactivado, precisamente por causa desta iniciativa. “Estava bastante perdia, as pessoas já estavam desabituadas”. Contudo, agora “têm encarado isto com muita alegria, porque também como é uma aldeia desertificada, como todas as outras, já há pouca gente e quando há qualquer iniciativa destas as pessoas ficam satisfeitas e acompanham o grupo para todo o lado”, afirmou. É precisamente o convívio que havia, e não haverá, talvez, aquilo que Maria Teresa Espadanedo, de Morais, mais recorda com saudade. Contou-nos que, quando era pequena, ia com a mãe e a irmã, cantar os Reis e não era “por dinheiro, nem tão pouco chouriços”. Iam cantar aos amigos que, naqueles tempos, eram muitos. “Naquela altura, quase não havia inimigos, sabe porquê? Porque vivíamos todos ao mesmo nível, não havia pessoas mais ricas do que as outras, era um nível igual e como era igual, e as pessoas eram todas simples, ninguém andava a olhar de lado uns para os outros”. Também, o ambiente social, o facto de não existirem distracções vindas de fora da comunidade, proporcionava esse convívio, hoje já pouco habitual. “Havia mais alegria".
Não havia televisões... Eu lembro-me de não haver mesmo electricidade, e rádios não eram todos que os tinham! Então era bom passar estes bocados assim. Havia mais convívio. Não digo que não havia gente má, mas era em menos quantidade. Eu tenho saudades daquele tempo. Hoje andamos lá metidos no cantinho sempre. Mal nos vêem na rua, não há tempo para nada e eu digo: não é normal esta vida e não é normal...!”. Para manter talvez a vida, dentro de âmbitos mais normais, na sua aldeia, existe a Associação dos Amigos e Melhoramentos de Morais. Foi com este grupo que Maria Teresa esteve no Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros, a cantar os Reis. Segundo Alzira da Conceição, em Morais ainda existe esta tradição de cantar os Reis porta a porta, mantida sobretudo pelos mordomos da grande Festa anual, que vão angariar fundos, desta maneira, mas “já não é como antes”. Esse grupo de Morais apresentou, no final, um dos cantares mais diferentes, a “Canção da Manta”, chamemos-lhes assim, cuja letra Maria Teresa aprendeu com a sua avó, há muitos anos. Uma manta é segurada nas quatro pontas, sobe e desce, conforme a letra. Quando sobe alguém passa por baixo. Esta apresentação é apenas uma das iniciativas que o Grupo desenvolve. Nos últimos três anos, a Associação tem-se dedicado sobretudo ao teatro. Segundo Filipe Teles, presidente da Associação, trata-se de um grupo bastante animado que funciona. Este ano vai apresentar ao público em geral a sua terceira peça, no próximo dia 22. O grupo surgiu a partir de um workshop sobre teatro, promovido pela Câmara Municipal e, neste momento, conta com 20 participantes, além de “uma gata e um cão”, acrescentou Alzira com um sorriso satisfeito, lembrando que, nas peças, por vezes também participam animais de companhia. Diversificada é também a actividade cultural de grupos como o Grupo Cultural e Recreativo da Casa do Povo de Macedo de Cavaleiros, que conta já com 33 anos de idade.
Manuel Gomes, responsável pelo Grupo, contou-nos que começou por ser um grupo coral da Paróquia de São Pedro. Constituído como Grupo Coral e Recreativo da Casa do Povo, começou por dedicar-se primeiro teatro e mais tarde à etnografia e folclore. Actualmente, entre as actividades em que participa, destaca-se o folclore que, “desde os primeiros tempos tem alcançado bastante prestígio, tanto a nível nacional como internacional, com a participação, desde 1985, no Europe-arte, encontros de arte e cultura popular que, anualmente, se realizam na Europa”. Este encontro, que este ano se realiza na Estónia, conta com cerca de 200 grupos de toda a Europa, envolvendo um total de cerca de cinco mil participantes. “Este ano temos já o convite para estar na Estónia, na 48º Europe-arte. Vamos ver se conseguimos, sempre com o alto patrocínio do nosso município”. Sem essa ajuda, o Grupo, que conta com cerca de 50 pessoas, não teria possibilidade de se deslocar, o que já chegou a acontecer, em outros eventos para os quais foi convidado. Quanto às cantigas de Reis, Manuel Gomes referiu que há cerca de 25 anos começaram a dedicar-se a essa tradição, dando a volta às casas da então vila. Depois passaram a ir só a cafés, bares e restaurantes. Agora, com muitos dos membros do grupo a trabalhar ou a estudar, não existe muita disponibilidade para essas rondas nocturnas que, por vezes, podem ser prolongadas.
Na aldeia de Arcas, além do Grupo de Cantares e Músicas tradicionais, a Associação local orgulha-se ainda de ter um grupo de bombos, os “Toca a Bombar” e um grupo de “pândegos”, com concertinas, cavaquinho e violas. José Jecas, presidente da Associação, fundada em 1988, conta-nos que não estava activa. Há três anos, um grupo de amigos pôs mão à obra e resolveu reactivar esta que é uma envolvente Associação Cultural e Recreativa, constituída por jovens dos seis aos 50 anos de idade. No total, estão envolvidas cerca de 30 pessoas. Maria Helena é um dos membros deste grupo, que foi das Arcas cantar a Macedo. Disse-nos que se tratava de uma tradição “bonita e antiga”, que o grupo ia “representar”. Além dos Reis, há muitos anos, o grupo de cantares, canta na Missa do Galo, em Latim, uma tradição que nunca se perdeu e está a passar de geração em geração. De geração em geração, espera-se que passe também o grupo de Vale da porca. David Miranda, presidente da Associação cultural, Recreativa e Desportiva desta outra aldeia, explicou-nos que, além do Grupo de Cantares, a freguesia conta com uma Fanfarra, com cerca de 25 elementos. Menos optimista quanto à juventude, contou-nos que, por vezes, é preciso o impulso dos mais velhos para perpetuar estas tradições, porque muitas vezes os mais novos têm outros interesses. Ao todo, participaram neste evento de Cantares dos Reis, em Macedo de cavaleiros 14 grupos de cantadores, incluindo jovens de grupos de Escuteiros, do Centro D. Abílio Vaz das Neves, e grupos das aldeias de Sernadela, Olmos, Carrapatas e Cortiços, além dos já referidos.

(Por: Ana Preto )

Sem comentários:

Enviar um comentário