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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

SONDAGENS NA CIDADELA DE BRAGANÇA (BGRPIX.04)-SONDAGEM 4

Vestígios dos níveis romanos
por baixo da estrutura medieval
Os níveis mais profundos da sequência estratigráfica documentada na sondagem 4 associados, ao que parece, a vestígios de um pequeno muro, proporcionaram um pequeno conjunto cerâmico com características técnicas e morfológicas que remetem sem dúvidas para a época romana.
A presença exclusiva de material romano e a grande diferença existente entre as características físicas destes estratos relativamente aos imediatamente superiores, já de época medieval (finos e de natureza argilosa os primeiros, potentes e arenosos os segundos), permitem suspeitar de uma origem romana dos depósitos mais antigos.
Entre o conjunto cerâmico recuperado encontram-se alguns bordos de paredes finas pertencentes a diferentes vasos globulares, outro de cerâmica comum correspondente a uma caneca de bico trilobado, e outros de panelas de bordo extrovertido e lábio arredondado com superfícies dotadas de um intenso brunido. Linhas verticais brunidas, neste caso formando um motivo decorativo, aparecem também no interior de uma peça de cerâmica comum, sem dúvida de perfil extrovertido.
Encontram-se também materiais romanos nos estratos imediatamente superiores, correspondentes à ocupação de uma estrutura medieval datada do período que vai do século XIII aos começos do XV. A presença destes estratos testemunha uma intensa reforma urbanística na época baixomedieval, que alteraria os níveis preexistentes, neste caso romanos. Entre os materiais aqui localizados encontra-se, por exemplo, um fundo de Terra Sigillata Hispânica (T.S.H.) pertencente a uma forma lisa — provavelmente uma Drag. 24/25 ou Drag. 27 que, pelas suas características de pasta e verniz, pode ser datada da época altoimperial. Também aqui, como na fase romana, aparecem alguns bordos arredondados de panelas com superfícies muito brunidas. Finalmente, também foi recuperado um fundo de cerâmica correspondente a uma peça de pequenas dimensões em cujo exterior foi realizado um grafito inciso de difícil leitura.
Grafito sobre fundo de cerâmica cinzenta
Infelizmente, as cronologias sugeridas por estes fragmentos não são totalmente esclarecedoras. As datas correspondentes ao fundo de T.S.H., por exemplo, variam muito dependendo de se o fragmento pertence a uma Drag. 24/25, com datas da segunda metade do século I d.C. até começos da seguinte centúria, ou se trate de uma Drag. 27, com uma margem temporal muito mais ampla que chega até ao Baixo Império. No que diz respeito ao fragmento de paredes finas, um bordo curto e extrovertido correspondente a um pequeno copo de perfil em “S”, parece encaixar sem problemas dentro da forma I dos gobiletes produzidos no lugar de Melgar de Tera, em Zamora (Espanha). De acordo com a cronologia proposta para esta olaria (CARRETERO, 2000:550-552), esta forma começaria a ser produzida em meados do reinado de Nero, perdurando até um momento impreciso da segunda metade do século II d.C.
A jarra trilobada é datada no Noroeste peninsular desde a segunda metade do século I d.C. até ao século III d.C. (ALCORTA, 2001: 287-289), encontrando-se o paralelo mais próximo no acampamento militar de Petavonium (CARRETERO, 2000: Fig. 338, nº 113), concretamente no nível V da habitação “h” do edifício I, correspondente ao momento da destruição da estrutura em finais do século II d. C. ou começos do III d.C.
Finalmente, a peça com grafito corresponde, provavelmente, a um copo ovóide, cinzento, de superfícies muito brunidas. O grafito, pouco marcado, mostra uma linha vertical sobre a qual foi realizado um ângulo em sentido vertical e três linhas horizontais que parecem formar um “E” ligado ao braço direito do ângulo.
Por agora, e dado o carácter reduzido do conjunto e a sua moderada indefinição tipológica, deve-se com prudência propor uma cronologia ampla embora circunscrita ao período altoimperial.
Esta sondagem, aberta junto do lado Sul da muralha do castelo senhorial, proporcionou uma parca estratigrafia de apenas vinte centímetros de profundidade, na qual, contudo, foi possível diferenciar até sete níveis diferentes sobre os vestígios de uma estrutura da época romana. Embora seja certo que a orientação desta estrutura é coincidente com a correspondente à muralha medieval, a exclusiva presença de material romano no estrato que cobre a destruição da estrutura faz pensar que não seja possível estabelecer uma relação entre este muro e o castelo.
As características das escassas peças recuperadas neste nível (cerca de cinquenta) reforçam a hipótese de se tratar de uma estrutura da época romana. Entre estes materiais
encontravam-se, por exemplo, dois fragmentos de T.S.H., pertencentes a uma Drag. 18 e a uma Drag. 29 com vestígios de decoração de círculos segmentados e simples, e um pequeno fragmento de paredes finas de cor cinzenta, de superfícies finamente alisadas. Acompanham estas peças numerosos fragmentos de cerâmica comum romana: vários bordos extrovertidos com lábios arredondados correspondentes a diferentes tipos de panelas, fragmentos de cerâmicas cinzentas com superfícies brunidas por completo ou mostrando decorações de retícula brunida de clara tradição indígena, um par de fragmentos de paredes pertencentes a grandes peças de armazenamento decoradas com finas molduras triangulares ou caneluras muito leves, etc.
Restos da estrutura romana da sondagem 6/8 (BGRPIX.04)
Trata-se, desta forma, de um material que se poderia caracterizar, não sem certa prudência, como romano altoimperial, em que predominam as cerâmicas cinzentas brunidas e as comuns com as superfícies alisadas. A presença do fragmento de paredes finas, com características técnicas que o aproximam, sem dúvida, das produções de Melgar de Tera, fornece um marco cronológico entre finais do século I d.C. e quase todo o século seguinte, onde encaixam também as cerâmicas brunidas e as molduradas, denominadas “de tradição indígena” em Lucus Augusti (ALCORTA, 2001: 105), com datas que apontam para a segunda metade do século I d.C.

in: Bragança um olhar sobre a História
Publicação da C.M.B.

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