Em Algoso, a festa do Ramo de São João voltou a celebrar-se no Domingo Gordo, dia 11 de fevereiro, com a eucaristia dominical, seguida da arrematação do ramo e a corrida da rosca, numa tarde que apesar da chuva, contou com a participação da população local, sobretudo dos jovens e foi animada por um trio de gaiteiros.
Presente em Algoso, o etnógrafo, Mário Correia, explicou que o ritual de oferenda dos ramos existe em muitas localidades do planalto mirandês e a origem destas celebrações está relacionada com os ciclos agrários.
“Os ramos são vistos como ofertas a Deus e fazem parte do culto divino, sendo mesmo benzidos pelos sacerdotes no decorrer da eucaristia”, explicou Mário Correia.
Em Algoso, a estrutura do ramo é tradicionalmente ornamentada com ramos de oliveira, dado que é uma das culturas predominantes na aldeia e ainda é fonte de rendimento para muitas famílias.
“O ramo de Algoso distingue-se dos outros pela presença dos ramos de oliveira. Esta árvore milenar faz parte da subsistência dos povos e o azeite desde sempre teve uma grande importância na alimentação”, explicou.
A estrutura do ramo é constituído por um suporte de madeira e pode assumir formas simples ou mais complexas. Na localidade de Algoso, os ramos de oliveira são ornamentados com os roscos, uns bolos feitos com farinha de trigo que simbolizam o pão, o alimento vital e garante da sobrevivência.
“O pão é o alimento primordial. Ao ornamentar o ramo com o pão, a comunidade está simultaneamente agradecer a Deus pela colheita e a pedir a sua intercessão para o novo ano agrícola ”, explicou.
Em Algoso, esta festividade é dedicada a São João Batista, já que os santos são exemplos de fé e considerados intermediários na relação com Deus.
A tradição da Festa do Ramo de São João, em Agoso, envolve toda a comunidade, desde o peditório dos mordomos pelas ruas da aldeia, a confeção dos roscos no forno comunitário, a celebração religiosa, até à festa e arrematação das componentes do ramo no largo da igreja.
José Alfredo Dias, veio de Pamplona (Espanha) com a sua família, para participar na festa do Ramo de São João, em Algoso.
“É uma tradição que não perdemos! Este ano e porque os roscos estão muito saborosos, comprámos 7 quilos!”, disse.
Outra tradição que ainda perdura em Algoso é a corrida da rosca. Trata-se de uma atividade lúdica e desportiva que desperta o sentido competitivo de toda a comunidade (crianças, jovens e adultos) e tem como prémios as roscas, uns roscos em forma de coroa, que no final são generosamente partilhados entre todos os participantes e o público.
No final, a representante da comissão de festas, Sónia Martins, estava muito satisfeita pelo modo como decorreram os preparativos para a festa, as vendas dos roscos e arrematação das várias partes do ramo.
“Foram quatros dias de intensa atividade e de muita entreajuda. Agradeço a generosidade da população no peditório, a participação das mulheres na confeção dos roscos e na ornamentação do ramo. E neste Domingo Gordo, agradeço de um modo especial aqueles que vieram de longe para participar na festa e assim preservarmos juntos esta bonita tradição”, resumiu e agradeceu.
De acordo com a comissão de festas, a receita angariada destina-se à organização da festa em honra de São João Batista, que Algoso celebra no dia 24 de junho, com a missa, uma sardinhada-convívio e um baile.
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