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terça-feira, 21 de maio de 2024

EXPLICAÇÕES

 Eis-nos chegados ao fim do IV tomo das Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança após mais de vinte e cinco anos de pesquisas por arquivos públicos e particulares, revolvendo entulhos, pedras e cacos por montes e vales, registando os vestígios das civilizações extintas onde quer que deles tivemos notícia de forma a corresponder ao subtítulo desta obra, sacrificando a tal objectivo: os olhos, que pouco a pouco se ficaram na leitura de obliterados caracteres membranáceos; a saúde, da mesma forma esgotada em incessantes excursões, sem sossego, nem descanso por carregos e vias intransitáveis, sem temer as ardências do estio, os regelos hiemais; as parcas economias, roubadas quantas vezes, às mais urgentes necessidades da vida, na ânsia de pai estremoso, entesourando para terras bragançanas — nossos amores.
Como paga temos recolhido: o epíteto de maluco conferido pelos conterrâneos analfabetos; o riso compassivo-irónico dos analfabetos letrados, que acham pequena a vida para a gozar no sentido mais estreito do termo; o título de maçador junto à má-vontade de muitos em corresponder às nossas solicitações que tomam como impertinências descabidas; a indiferença do público que tem obrigação de ler e saber; a maior indiferença ainda das entidades oficiais que ronceiramente nos facultam o exame dos documentos que buscamos, quando não negam a sua existência; o desconhecimento por parte dos poderes públicos de um trabalho de incontestável valor — temos disso a consciência, não pelo que de nossa casa pomos, mas sim pela documentação que encerra; pelo que resgata do olvido prestes a desaparecer — trabalho que muito conviria animar, na vesania de patrioteiros falidos que atravessamos, como incude básica de sólido patriotismo regional; a dolente convicção de que marchamos sem remédio para o descalabro cívico e mental, resultante inevitável a um povo que não cultiva e estuda as suas tradições.
Para complemento; um alto burocrata, de que por caridade, talvez mal entendida, não dizemos o nome, reservando essa surpresa para os curiosos a constatarem em documentos autênticos no nosso espólio mortuário, com cinco a seis milhares de escudos de renda anual, desde que, com facilitações pecuniárias, nos meteu na empresa desta publicação e nos defraudou largamente deixando-nos a braços com um passivo de quase novecentos escudos — que de privações nos temos imposto para o solver — recusou cinicamente cumprir os contratos sacados vulpinamente à nossa ingenuidade.
Ainda mais; este volume vem oferecido ao senhor abade do Cicouro, oferta que damos como de nenhum efeito, por razões que ele e muita gente sabe, enquanto não voltar a ser o nosso primo muito caro de outros tempos, volta que a sua dignidade e pondenor urgentemente estão reclamando.
Como lenitivo à tristeza que estas recordações nos sugerem devemos constatar agradecidamente a boa vontade de Augusto César Dias de Lima, fanático regionalista, falecido em Miranda em Julho de 1912, que nos facilitou, por forma extremamente cativante a leitura dos documentos da Câmara Municipal de Miranda do Douro. E da mesma maneira: a do general de divisão Adolfo Ferreira Loureiro, presidente do Conselho Superior de Obras Públicas e Minas, falecido em Lisboa a 22 de Novembro de 1911; a não menor dos drs. Fortunato de Almeida, Fidelino de Figueiredo e Óscar de Pratt, todos bem conhecidos nos meios literários por suas publicações, que expontaneamente desceram à nossa pouquidade para sucessivamente nos fazerem eleger sócio da Associação dos Arqueológos Portugueses, de O Instituto de Coimbra, da Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos e da Academia de Ciências de Portugal.
Devendo igualmente memorar a penhorante lembrança da Academia de Ciências de Portugal em nos escolher para presidente do Instituto Científico Literário de Trás-os-Montes.
A forma elogiosa porque o brilhante escritor dr. Júlio Dantas, inspector das Bibliotecas Eruditas e Arquivos, sem nos consultar, nos propôs ao ministro para bibliotecário-arquivista da Biblioteca Erudita e Arquivo Distrital de Bragança, é das que jamais esquecem, bem como a intrigalhada pífia, continuação da anterior suscitada a respeito do museu, que pseudo -bragançanos urdiram em volta dessa proposta. Um dia faremos a história de tudo isso publicando na íntegra os documentos para que a posteridade saiba como homens, que têm obrigação de ser cultos e de pugnar pelo engrandecimento da terra, malbaratam o que pode nobilitá-la e abrir-lhe novas fontes de receita.
Também não esqueceremos o espontâneo interesse que o distinto engenheiro João Inácio de Meneses Pimentel, falecido em Abreiro a 30 de Dezembro de 1915, tomou atinente ao melhoramento da nossa situação e os esforços que nesse sentido empregou.
E que diremos de Francisco de Moura Coutinho e Paiva Cardoso de Almeida de Eça, director da Agência do Banco de Portugal em Bragança? Do nosso erudito genealogista Moura Coutinho, que tão desveladamente nos tem amparado, aconselhado e protegido? É amigo devotadíssimo sempre empenhado em esquadrinhar quanto pode ser-nos agradável e útil, e está dito tudo.
Também é com verdadeira comoção que consignamos aqui a profundeza do nosso reconhecimento ao clero da área da freguesia de Rebordãos, concelho de Bragança, que abriu por forma elogiosamente superior aos nossos merecimentos no Legionário Trasmontano, de 11 de Dezembro de 1916, uma subscrição para nos ofertar uma prenda em homenagem aos nossos trabalhos. A este propósito dizia a Pátria!, jornal do Porto, em seu número de 23 de Julho de 1917:
«O clero parochial, que costuma reunir-se na festividade de Nossa Senhora da Serra, decidiu testemunhar a este distincto arqueologo do bispado de Bragança e nosso presado assignante, a grande admiração que tem pelos seus trabalhos de investigação, abrindo para isso uma subscripção com que offerecer-lhe uma prenda de homenagem.
Achamos justissima a homenagem. O reverendo Francisco Manuel Alves, abbade de Baçal, freguezia do concelho de Bragança, é um dos primeiros archeologos e historiadores portuguezes.
É natural que o seu nome seja desconhecido do grande publico.
Não costumam gosar de grande popularidade estes obreiros do pensamento que, na solidão do seu gabinete, se dão ao trabalho de desenterrar do pó do esquecimento os documentos, sobre os quaes se constroe a historia das nacionalidades. É um trabalho de cabouqueiro que raro avulta á luz plena do sol. O que não quer dizer que a patria se não deva mostrar agradecida a quem o pratica.
Uma das obras do padre Francisco Alves — Memorias Archeologico- Historicas do Districto de Bragança — já estão publicados tres grossos volumes, basta, só por si, para, fazer a reputação do seu auctor.
É justíssima, repetimos, a consagração. E, se alguma pecha lhe notamos, é a de ser pequena para tamanho vulto. Nada de mais fariam as camaras municipaes do districto, se adherissem á ideia, e dessem á homenagem um caracter mais grandioso».
Deveríamos exarar nestas páginas o nome de todos os subscritores, o que não fazemos por brevidade e também porque eles se encontram nos números seguintes do primeiro jornal acima citado menos os dos iniciadores da subscrição e por isso os apontamos.
Foram eles: João António Martins, pároco de Gustei; João Inácio Rodrigues da Costa, abade de Rebordãos; Francisco Inácio Rodrigues, presbítero; António Inácio Afonso, presbítero; Rufino do Espírito Santo Afonso, pároco de Sortes; João Pedro de Sá, pároco de Selas; José António Pires, presbítero; António Pavão Madureira, pároco de S. Pedro dos Sarracenos; Filinto Elísio Afonso, pároco de Rebordainhos.
E de explicações, não mais, que a vida corre-nos já em declinação avançada e ainda faltam outros quatro volumes, prontos em grande parte, para completar a tarefa que nos impusemos — um consagrado à biobibliografia de bragançanos ilustres por virtude, letras, armas ou genealogia; dois à corografia antiga e moderna do distrito e o quarto que estuda a sua arqueologia, os seus elementos etnográficos e filtrações principalmente semíticas.
Seremos acaso tão feliz que a vida, a paciência, as economias, nos cheguem para ver realizado este preito de grata recordação votado à terra que tanto amamos e à qual temos sacrificado o melhor de nossas energias?
Feliz sim, porque então, dando de barato todas as contrariedades, repetiremos cônscios do bonum certamen certavi:

«A minha terra amei e a minha gente»

PESSOAS QUE NOS FAVORECERAM COM NOTÍCIAS

Francisco Ferreira Sarmento Calainho, coronel, residente no Porto.
Pe. Ernesto Augusto Pereira Sales, Lisboa.
Pe. José Firmino da Silva, professor complementar, Vinhais.
Dr. Gilberto Bessa de Aragão, advogado, Vinhais.
Manuel Mano Chamorro, professor de Ouzilhão.
José Manuel Miranda Lopes, prior de Argoselo.
Francisco de Moura Coutinho, douto genealogista.
Alfredo Menéres, conselheiro.
Diogo Pinto da Silva, capitalista, Lamalonga.
Francisco Manuel Afonso, pároco de Ervedosa, concelho de Vinhais.
António Augusto Martins, pároco do Vilar Seco, concelho do Vimioso.
António Maria Domingues, pároco de Penhas Juntas, concelho de Vinhais.
Francisco Manuel Roque, abade de Freixiel.
Dr. Amador Pegado, de Calvelhe.
Luís Aredo, prior de Fão.
Dr. Raúl Manuel Teixeira, delegado do procurador da República em Vinhais.
Manuel António Monteiro, pároco de Castro de Avelãs.
Carlos de Figueiredo, antigo oficial do exército.
Dr. Francisco Miranda da Costa Lobo, lente da Universidade de Coimbra.
João Almendra Machado da Costa, pároco de Candoso.
Francisco Augusto Afonso, pároco de Caçarelhos.
João Maria Teixeira Guedes, pároco de Suçães.
Adriano Bessa, coronel de infantaria.
José Manuel Diegues, abade da Sé, Bragança.
António dos Santos Ribeiro, cónego, pároco de Santa Maria de Bragança.
Francisco António Nogueira, ajudante do conservador do registo civil.
Abade José Cardoso Figueira, secretário da câmara eclesiástica.
José Joaquim, pároco de Mazagão e Parambos.
Firmino Martins, pároco de Travanca, concelho de Vinhais.
José Augusto Afonso, pároco de Paçó e Santa Cruz, concelho de Vinhais.
Cândido Sanches, pároco de Abreiro.

MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA

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