Até a chuva teve medo ao inferno de Vinhais. A tempestade parou só para a morte e os diabos saírem à rua, no sábado.
A tradição é bastante antiga e tornou-se num evento que tem vindo a crescer de ano para ano, com espetáculos de luz, som e teatro.
Guilherme Garcia tem 17 anos e sentiu na pele, pela primeira vez, o que é ser diabo. “Penso que deviam manter a tradição durante muitos anos, porque demonstra Vinhais e é um evento que junta muita gente”, disse.
Os Mil Diabos à Solta acontecem há 11 anos. O espetáculo começou no adro da Igreja de São Francisco, com muito fogo e teatro. Depois, os diabos soltaram-se para capturar as raparigas que estavam nas varandas.
Um grande boneco que simbolizava a morte era empurrado pelas raízes. Um trabalho feito pelos alunos do agrupamento de escolas, do qual Andreia Fernandes fez parte. “Faço também parte do desfile, sou um dos filhos da morte. Vamos ter de sofrer e gritar, meter medo às pessoas”, contou.
Em cima do carro de bois, onde eram colocadas as raparigas, estava o “Diabo de Vinhais”. O papel é representado pelo ator Silvano Magalhães desde a primeira edição. É ele quem comanda todos os diabos. “Nunca deixa de ser um ritual e torna-se muito sério quando temos milhares de pessoas todas viradas para o mesmo, a evocar o mesmo e a gritar pelo mesmo e torna-se uma energia, um microcosmos muito especial e muito interessante”, explicou.
O frio e o mau tempo não foram suficientes para afastar quem faz questão de assistir a tudo isto. Foi o caso do pequeno Lourenço de 7 anos. Vive no Porto, mas a sua avó está em Vinhais. A desculpa perfeita para não faltar à tradição. “Gosto muito do desfile. Gosto mais das máscaras, que são assustadoras”, disse.
O pai de Lourenço, Miguel Rodrigues, é natural do Porto e mesmo assim prefere os Mil Diabos ao São João. “Vivo isto, se calhar, mais do que uma pessoa natural de Vinhais. Sou muito ligado a tradições e é importante mantê-las”, afirmou.
Este ano, mais uma vez, o aluguer dos fatos de diabo esgotou. O vereador do município, Artur Marques, garante que a iniciativa está a crescer de ano para ano e serão precisos mais disfarces. “Estamos a falar de uma média de 700 fatos que se alugaram este ano, mais os que se adquiriram durante os outros anos, portanto temos mil e tal pessoas. Possivelmente para o ano vamos ter de comprar mais fatos”, vincou.
As moças foram capturadas ao longo da vila, que em cada canto tinha um espetáculo cénico. O desfile terminou com a queima da morte e “quem para o rosto da morte olhou, por mais um ano a afastou”. Depois, a festa continuou ao longo da noite, com os Galandum Galundaina e DJ’s.
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