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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Rebentamento do “Pai da Fartura” é o ponto alto do Carnaval em Carrazeda de Ansiães

 A sentença chega firme, extensa e implacável, encenada pelos Zíngaros de Carrazeda de Ansiães, representando o momento mais acutilante de exposição das políticas ou falta delas, que interferem diretamente com a vida dos cidadãos e causam a contestação.


Um Carnaval genuíno, que usa a sátira social para “expurgar” o descontentamento da comunidade, que culmina com o julgamento e condenação, com pena de morte, do “Pai da Fartura”, cujo rebentamento encerra os tempos de folia.

De ano para ano o Carnaval de Carrazeda de Ansiães conquista mais entusiastas, não apenas da terra, mas essencialmente de fora, que se deslocam a este concelho propositadamente para assistir a esta peculiar tradição.

A sátira social é usada para apresentar publicamente os motivos de insatisfação e discórdia da comunidade, incidindo com muita frequência nas políticas, locais, nacionais ou europeias que, direta ou indiretamente, prejudicam ou penalizam a população.

As atividades, promovidas pela Câmara Municipal, são organizadas em parceria com os Zíngaros de Carrazeda de Ansiães.

A festa começa ao início da tarde do dia de Carnaval, este ano 13 de fevereiro, numa merenda coletiva, seguindo-se o cortejo carnavalesco onde participam mais de 20 tratores com atrelados transformados em carros alegóricos, aos quais se juntam os Zíngaros e outras associações locais com gigantones, cabeçudos e músicos.

Os carros representam aldeias ou associações locais, que aproveitam o desfile pela sede de concelho para ironizar com a atualidade política económica e social, cada qual sublinhando o que considera mais caricato, descabido ou prejudicial. “Como é Carnaval ninguém leva a mal”, as mensagens vão passando e as alfinetadas deixadas, sem dó nem piedade.

Mas é ao início da noite que o espetáculo “aquece”. O povo arrasta o “Pai da Fartura”, a figura alegórica que representa os excessos, as mentiras e enganos, para um julgamento, junto ao Pelourinho da vila. Primeiro ouvem-se as lamúrias do “Pai da Fartura” que ainda tenta manipular a audiência e conseguir a misericórdia dos juízes.

A sentença chega firme, extensa e implacável, encenada pelos Zíngaros de Carrazeda de Ansiães, representando o momento mais acutilante de exposição das políticas ou falta delas, que interferem diretamente com a vida dos cidadãos e causam a contestação. Versos satíricos são lidos a alta voz, provocando riso e aplausos na comunidade, que acorre em massa para assistir ao evento.

Depressa se percebe que as lamúrias do “Pai da Fartura” de nada lhe valeram, a sentença já está (antecipadamente) decidida: pena de morte.

O método também: rebentamento do “Pai da Fartura”.

Não há recurso possível, as “esposas” do “pai da fartura”, que em breve serão viúvas, choram aos gritos, e vão carpindo durante todo o cortejo fúnebre, ao som dos tambores que marcam o compasso da marcha e das sirenes (agonizantes) dos carros dos bombeiros.

Literalmente o “pai da fartura”, envolto em explosivos, estoira, arde e desfaz-se em cinzas.

Os festejos seguintes já são comedidos, até porque o “pai da fartura” já se foi.

Apesar de se tratar de uma festa pagã, por vezes até com pitadas satânicas, este momento representa o fim de um ciclo, de fartura e de folia, e o início do período de Quaresma que, seguindo a religião católica, representa sacrifícios, jejum, abstinência, recolhimento e oração.

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