segunda-feira, 1 de abril de 2024

Não há Páscoa sem sol, domingo sem missa nem segunda sem preguiça

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Domingo, 31 de Março, dia da Páscoa do Senhor do Ano de MMXXIV.
É-me difícil estar longe da minha terra nestas ocasiões maiores das festividades do nosso calendário que nos indica os dias que eu deveria ser mais diligente em cumprir com as obrigações que a Igreja nos impõe e a minha mãe e meu pai me ensinaram a cumprir. Mas onde vai esse tempo de moldagem e do acto de plasmar no mais fundo de mim os ensinamentos das regras de pertença que mantive sem que fizesse qualquer esforço físico ou psíquico para me sentir inteiramente católico. Talvez a idade opere em mim algumas mutações particularmente no acto de tentar compreender as concordâncias e a discordância que se me propõem em dias como este que aprendi em pequeno a não discordar, mas que hoje se me apresentam sob um prisma mais simples de analisar mesmo tendo em conta a complexidade de tal acto que me repõe exactamente no mesmo lugar analítico que é: porque são tão obscuros os sentimentos que a nossa mente tenta discernir e às vezes nos faz ver uma outra luz que seguidamente se apaga e nos deixa a sensação de impossibilidade de mudarmos em nós o que afinal esteve sempre lá.
Encontro-me fora de Bragança e este dia de Páscoa tão vazio que eu estava convicto que se passaria sem nada de importante, já que o cerimonial que dá vida e encanto a esta solenidade se passaria nas igrejas principais no centro da cidade ficando tudo muito dentro de portas. Mas, eis que chegando-me à janela voltada para a rua, vejo um "compasso" formado por gente de várias idades mas onde prevalecia a juventude e o Porta-bandeira sendo de meia idade era como que o catalisador de toda a comitiva, dando ordens, chamando a atenção para o dever de decoro a toda a outra comitiva que com um sorriso nos lábios acatava o reparo do maioral que transportava a cruz do Senhor e fazia com que o compasso parecesse de uma dignidade leve mas impressiva.
Da minha janela vi-os entrar na porta do edifício e pedi a Deus que os encaminhasse para o meu andar que eu estaria ali esperando-os para lhes dar as boas-vindas. Esperei à porta dentro do edifício para lhes pedir que entrassem dentro de minha casa pois eu estava seguro que o Senhor não negaria o gesto que se tornaria tão importante para mim e minha esposa, pois que minha filha e meu genro se haviam ausentado sem se aperceberem desta manobra. Para meu embaraço vejo o compasso sair a porta do edifício o que significava que a bênção tinha sido a um apartamento apenas. Corri para o elevador e quando cheguei à rua vi o grupo com o seu passo cadenciado quase ao cimo da rua. Gritei-lhes que esperassem e o grupo parou e esperou que eu dissesse da minha justiça. Cumprimentei-os desejando-lhes Boa Páscoa e pedi-lhes que, por favor, retrocedessem e entrassem em minha casa. O elemento que portava a Cruz respondeu-me com um sorriso nos lábios dizendo-me que com todo o prazer o faria.
Retrocedemos e depois de abrir a porta da rua entrámos nos elevadores e dirigimo-nos para os meus aposentos onde a minha mulher já nos esperava. Após a bênção, ditas as palavras de gáudio e com uma serenidade que sentimos todos que transcendeu o quotidiano despedimo-nos e senti em mim um júbilo que há décadas não me tocava nem sequer levemente.
Louvado seja o Senhor!
Agradeço ao Senhor toda a força e amor que transmitiu aos seus servos que ele fez encontrarem-se para O louvarem. 
Boa Páscoa para todos na Paz do Senhor.



Domingo 31/Março/2024, em Vila  Nova de Gaia
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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