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quarta-feira, 12 de junho de 2024

“A DÚVIDA DOS PASSOS E A CERTEZA DO CAMINHO”

 Hoje, ofereço-vos o meu testemunho sobre uma obra. 
Uma obra para aqueles que não apenas leem, mas que, acima de tudo, se permitem sentir a essência da poesia:


“A DÚVIDA DOS PASSOS E A CERTEZA DO CAMINHO”

Um livro recheado de “palavras insuspeitadas de verdade”, que põe a descoberto uma metamorfose, numa espécie de catarse que acompanha o autor. E que permite ao leitor, aquele que se deixa embalar, sem pressas, pelo fio condutor das palavras, uma experiência literária intensa e transformadora. 
Ali, o coração faz-nos seguir por uma viagem de quem se olha demoradamente ao espelho e percebe a dor de existir em consciência. Dor, porque ser consciente obriga à queda do sonho e da ilusão onde qualquer poeta, qualquer sensibilidade maior (qualquer ser humano, eu diria) gosta de morar. Afinal, como nos diz Luís Ochoa, “sentir a ternura da felicidade é o bem supremo da vida”. E, a verdade é que, às vezes, a felicidade só está ao alcance quando abraçada ao sonho.
Cada poema, cada texto, remete para uma carícia suave ou um golpe mais duro, que nos convida a mergulhar cada vez mais fundo e a desvendar as profundezas dos sentimentos, das suas e das nossas “águas íntimas”. E com aqueles, a sensação de navegarmos numa maré de ondas maiores e mais pequenas, que vêm e vão, e a impressão de que, se fechássemos os olhos, poderíamos viver, com nitidez, a experiência desse embalo: a lágrima e o sorriso, o solavanco e a pena leve a cair sobre as águas, para sucumbir depois a novo impacto. 
Aqui e ali atravessam-se raios de esperança e de alento que partem logo depois, para dar lugar à descrença, uma vez mais. É um adoecer por dentro com a realidade que se impõe, com o peso dessa realidade, de braços longos, que abafa e não permite escapatória. E creio que o autor nos diria, se pudesse ou se se lembrasse, tal como Pessoa, que “com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou, quando menos, os seus companheiros de espírito?”.
Antevemos, pois, um espectro de solidão a espreitar… É que onde os outros lhe encontram frio e distância, o autor sabe que é “a minha humanidade que vive somente comigo, calada, como uma verdade que ninguém vê”. E nem Angélica conseguiu compreendê-lo plenamente…
Mas há também o amor. A dualidade do amor. O amor carne e desejo e o amor de amante, numa ausência de corpo, que ama pelo pensamento, pela ideia. O amor que somente “sabe dos mistérios das coisas simples”. O homem e o trovador dentro de um só. E depois… o amor Único, o mais puro. Aquele para onde há sempre a vontade de um regresso impossível. A mulher mais fiel. A mãe.
Depois, chegada à ‘plenitude dos sentidos’, o encontro é com o diálogo entre a Alma e o Espírito (Eu… e Eu). Um passo no abraçar da coragem para a libertação, para a evolução interior. E “venço, porque a minha vitória é encontrar-me aqui”.
Mais além, ainda, um conjunto de ‘sentenças’. Verdades universais que, numa linguagem poética, poderiam ser post-it’s para cada dia. Páginas onde o autor nos mostra (e talvez, aqui, a voz do professor a falar mais alto…) que, se Deus criou o Homem, és tu (somos todos nós) quem tem a responsabilidade de se fazer Verbo. 
No fim, permanece-nos a ideia de que talvez seja este um “livro que se escreveu no fio da vida”, sobre essa vertente absolutamente lúcida da mente consciente de si. Só de si. E do seu espaço necessariamente inviolável, numa privacidade tão íntima mas que, ainda assim, nos permite a ousadia de lá entrarmos, através de uma poesia que é bailado de palavras, numa dança, não de corpos… mas de almas.
Uma obra que transcende a mera narrativa poética para se tornar uma experiência sensorial e intelectual completa e que nos mostra essa “superioridade dos sonhadores”, ainda que a expressão possa, por alguns, ser entendida como uma espécie de falta de modéstia. Mas seja, somente, a sã loucura que nos dá o sopro da vida: “E se vier por aí a verdade a acordar-me do sono, deixem-me dormir…”.

- Paula Freire -
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)

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“A dúvida dos Passos e a Certeza do Caminho - Poesia”
Luís Ochoa
Editorial Novembro, 2023

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