Aldeia Pedagógica recebe prémio Entregerações.
A Azimute (Associação de Desporto Aventura e Ambiente) foi premiada pela Fundação Calouste Gulbenkian com o projecto “Aldeia Pedagógica”, que se propõe transformar uma aldeia, Portela, no concelho de Bragança, num local onde se podem aprender saberes ancestrais, onde o trabalho artesanal é uma realidade, nomeadamente a confecção de pão, compotas, pequenas hortas, capoeiras, a produção manual de queijos segundo métodos tradicionais. A localidade está num processo acentuado de despovoamento, mas continua a ser residência de muitos idosos que ali nasceram e viveram. Muitos deles vivem sós e em situação de isolamento. A Azimute lançou-lhes um repto no sentido de transmitiram esses conhecimentos às gerações mais jovens e visitantes urbanos, transformando-se nos “professores da vida rural”. O contacto com a natureza, com a origem dos alimentos, a vida animal (domésticos e selvagens) e a floresta podem proporcionar às crianças aprendizagens concretizadoras dos conhecimentos adquiridos nos manuais escolares, para além de aprenderem a conhecer e a proteger a natureza. As visitas, que devem ser programadas, destinam-se sobretudo a escolas e a famílias.
O projecto foi bem aceite pela comunidade, que desta forma abre as suas portas aos forasteiros. Antes de avançar para o terreno a Azimute realizou um inquérito na aldeia para indagar a disponibilidade dos idosos para participar na iniciativa. Os seniores não só aceitaram o convite, como deixaram claro que a única coisa que desejam em troca “é carinho e atenção”, contou João Cameira, responsável pela associação.
Para a população, esta nova actividade “professores da vida rural”, trará mais-valias que poderão melhorar a sua qualidade de vida, aumentar a sua auto-estima, reduzir o sentimento de solidão. Os ‘professores da vida rural’ tiveram oportunidade para frequentar três workshops de fotografia ministrados pelo conhecido fotógrafo António Sá, que explicou as primeiras noções de fotografia a pessoas que na maioria nunca tinham pegado numa máquina. “Numa perspectiva de fazer um trabalho intergeracional e de uso das novas tecnologias, surgiu a ideia da fotografia digital”, referiu o fotógrafo. Pegando em algumas imagens feitas por todo o mundo, António Sá transmite o amor que tem pela imagem e dá dicas de como a câmara fotográfica se pode tornar num bom passatempo. “É o nós gozarmos a vida e registarmos as coisas de que gostamos através da fotografia. Os alunos são aplicados e acho que agora vão aplicar-se ainda mais”, sublinhou. João Cameira adiantou que vão ser realizados mais workshops, nomadamente de informática.
“É uma forma de os idosos fazerem uma reciclagem de conhecimentos e de tomarem conhecimento com temas que desconhecem, mas que os mais novos dominam. Desta maneira pode, comunicar mais facilmente”, afirmou. A Azimute conta com a colaboração de dois jovens estagiários, que ajudam a dinamizar as actividades. A “aldeia pedagógica” está pronta para receber as primeiras visitas. Foi tudo testado num ensaio “que correu muito bem”, garantiu João Cameira. Infância Gonçalves, quase a chegar aos 80 anos, é uma das “professoras da vida rural” que neste caso passou para o outro lado e aprendeu a mexer numa máquina fotográfica digital. “Vamos lá ver o que dá. Nunca tinha mexido numa máquina”, confessou. Perante a surpresa da captação e visualização rápida da imagem, a idosa fartou-se de rir de alegria. “Afinal nunca é tarde para aprender”, disse.
Quanto ao galardão que o projecto recebeu foi atribuído no âmbito do Programa Envelhecimento e Coesão Social. A Fundação Calouste Gulbenkian lançou o Prémio EntreGerações , em Portugal e no Reino Unido, com vista ao desenvolvimento de projectos-piloto intergeracionais para enfrentar um desafio do século XXI. Com este programa, a Fundação Calouste Gulbenkian pretende testar uma série de abordagens ao nível do trabalho intergeracional, através do apoio a projectos em Portugal e no Reino Unido, que serão acompanhados, monitorizados e avaliados em todas as etapas. Os resultados desta análise serão partilhados e disseminados a nível nacional e transnacional, para benefício das práticas de governos centrais e locais, do sector do voluntariado e das organizações locais. A primeira fase do concurso em Portugal terminou a 26 de Março de 2010, tendo sido recepcionadas mais de 300 candidaturas a nível nacional. Para a segunda fase foram seleccionadas 20 candidaturas.
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