«Confraria Gastronómica das Cascas e do Butelo»

Mais de meia centena de pessoas participaram num almoço, anteontem, em Pinelo, no concelho de Vimioso. Por ocasião do Carnaval, a «Confraria Gastronómica das Cascas e do Butelo» convidou a população a desfrutar de boa música, tocada ao som de bombos e gaita-de-foles e de uma excelente refeição. O almoço, confeccionado pelos sócios e compadres da confraria, foi recheado de produtos da terra, tipicamente regionais, como o enchido de carne com ossos, acompanhado por feijão seco na própria vagem.
“A confraria foi a forma que encontrámos de conseguir reunir os nossos sócios, porque metade deles estão fora, em cidades como Bragança, Lisboa ou Porto”, afirmou o presidente da direcção do Centro Cultural e Recreativo de Pinelo (CCRP), João Amado. Aliás, foi nesta colectividade que se integrou a Confraria, que funciona como motivo de convívio que se repete há três Invernos, apesar da Confraria só ter sido fundada há quatro anos. “Foi a anterior direcção, no seu último ano de mandato, que fundou a confraria e inseriu o butelo e as cascas, pelo facto de achar por bem fazer essa união dos sócios”, informou o responsável máximo. E nada melhor do que um delicioso butelo para reconfortar o estômago em pleno Entrudo transmontano.
O CCRP foi fundado em 1984, mas esteve parado entre 1991 a 1998, altura em que Carmina Amado Pires e as restantes colaboradoras o reactivaram. “O objectivo que me moveu, inicialmente, foi restaurar a escola da aldeia que estava em péssimo estado e que é, agora, a sede do Centro”, conta a aposentada professora do ensino básico.
Carmina explica aquilo que a motivou: «trata-se de manter os usos e costumes da nossa terra e não deixar que eles caiam no esquecimento. Hoje em dia já se faz menos, mas, antigamente, toda a gente criava o seu porco e fazia o seu fumeiro».
O butelo era, precisamente, considerado o elemento mais importante por causa da tradição do roubar do pote no Carnaval. Enquanto ia uma pessoa de cada casa, normalmente, um homem, a limpar caminhos ou a arranjar qualquer coisa que tivesse sido destruído durante esse Inverno, num dia de trabalho comunitário, as mulheres ficavam em casa a preparar o almoço. “Quando os homens chegavam, a pensar que iam comer um grande repasto, muitas vezes tinham no pote as coisas mais estapafúrdias que pudesse haver, desde tamancos velhos a cebola ou batatas com casca.
É uma tradição que já se perde no tempo, mas que, hoje, com menos frequência, ainda se faz”, conta Carmina, que esteve oito anos na direcção do CCRP e que é, actualmente, “uma” dos 12 confrades. “Tem tudo a ver com o butelo porque falamos do Domingo Gordo. A partir de agora não se pode comer carne. Então, aproveitava-se o dia de Carnaval para acabar orelhas, pés e butelos para as pessoas, depois, não terem a tentação, durante a Quaresma, de comer o fumeiro”, concluiu Carmina, que também foi uma das cozinheiras de serviço.
Bruno Filena:
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