sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A economia de Bragança do ano 2000 à atualidade

Francisco Cepeda mantém, desde 1970, um observatório do Estado de Desenvolvimento dos Concelhos do País. À medida que são publicados os resultados definitivos dos diferentes censos, são recolhidas 25 variáveis concelhias, sempre as mesmas, representativas dos domínios económico, social, demográfico, cultural e ambiental.

São tidas em conta, obviamente, eventuais modificações levadas a cabo pelo INE – Instituto Nacional de Estatística, na forma de cálculo de algumas dessas variáveis. Posteriormente, através de um método estatístico, a análise fatorial, calcula-se o valor numérico, positivo ou negativo, do índice de desenvolvimento (ID) dos concelhos que se pretendem estudar.
A comparação desses índices, ao longo das décadas, permite-nos conhecer a forma como se vai processando a evolução do desenvolvimento nos diferentes concelhos. Em 2011, após efetuar os citados cálculos, cartografaram-se os IDs concelhios positivos, resultando a figura que apresentamos.

Como mostra a Figura n.º 6, o País, em termos de desenvolvimento, apresenta-se como um arquipélago onde é possível visualizar grandes ilhas, pequenas ilhas e ilhotas. Todos os concelhos não representados na figura tiveram, em 2011, índices de desenvolvimento negativos, na maioria das vezes piores do que os de 2001.
Mostra igualmente que, ao contrário do que é normal dizer-se, o desenvolvimento é difuso, não ocorrendo apenas no litoral. Se no interior há de facto uma predominância de subdesenvolvimento que levou ao despovoamento e à desertificação de toda esta faixa, também existem algumas ilhas de desenvolvimento.
Vejamos em pormenor a situação do Concelho de Bragança no que concerne ao desenvolvimento, comparando-o com as demais capitais de distrito do interior de Portugal Continental (Quadro n.º 52).
Em 1981, embora apresentando um índice de desenvolvimento negativo (-1,9), Bragança estava muito mais próxima de atingir o patamar de desenvolvimento do que os restantes concelhos capitais de distrito do interior, onde esse valor representava -2,5 na Guarda; -2,1 em Castelo Branco; -3,2 em Portalegre; e -3,6 em Beja.

Em 1991, como mostra o referido Quadro, todos os índices de desenvolvimento desses concelhos começaram a ser positivos. Contudo, e uma vez mais, o Concelho de Bragança sobressaiu dos demais, apresentando o índice de desenvolvimento mais elevado de todos (2,8).
Em 2001, embora se repita o cenário anterior, Bragança vê ainda mais reforçada a sua liderança no processo de desenvolvimento de todos os restantes concelhos analisados, apresentando um índice de desenvolvimento de 8,7, muito superior ao de Castelo Branco (5,9), da Guarda (4,3), de Beja (3,2) e de Portalegre (3,0). Perspetivava-se a possibilidade de vir a surgir um potencial eixo de desenvolvimento Bragança-Macedo-Mirandela, muito embora o índice de desenvolvimento de Mirandela fosse ainda muito pouco positivo (0,4) e o de Macedo continuasse negativo (-0,6), mas com tendência para melhorar.
Sede do NERBA – Núcleo Empresarial da Região de Bragança e parte da zona industrial da Cidade

Em 2011, devido à profunda crise que se instalou no País e no mundo, Bragança viu diminuir o seu índice de desenvolvimento, continuando no entanto a ser o melhor (6,4), contra os 4,8 de Castelo Branco, os 3,1 da Guarda, os 2,2 de Beja e os 2,1 de Portalegre.
O potencial eixo de desenvolvimento Bragança-Macedo-Mirandela, que se perspetivava em 2001, viu diminuir a probabilidade de ocorrer, uma vez que Mirandela voltou a um Índice de Desenvolvimento negativo (-1,2) e Macedo de Cavaleiros piorou ainda mais a sua situação com um Índice de Desenvolvimento de -6,4.
Nesta longa faixa de interioridade do País, onde os índices de desenvolvimento atingem valores cada vez mais negativos, o que estará por detrás da situação peculiar daqueles concelhos que se apresentam como autênticas ilhas de desenvolvimento?
Para além de outras, há uma explicação para tal fenómeno: em todos estes concelhos foram criadas instituições de Ensino Superior Politécnico, as quais, à medida que foram crescendo, criaram condições para uma melhoria progressiva da economia regional a todos os níveis. Aliás, e sem qualquer exagero, a única verdadeira política de desenvolvimento regional concebida nos últimos 35 anos foi a de levar o Ensino Superior Público a todas as cidades capitais de distrito.

Analisemos mais em profundidade o caso particular do Concelho de Bragança, através da leitura do Gráfico n.º 59. O Instituto Politécnico de Bragança (IPB) começou a sua atividade letiva no ano de 1986, com 135 alunos distribuídos pelas Escolas Superiores Agrária e de Educação. Em 1990, foi criada a Escola Superior de Tecnologia e Gestão, o que muito contribuiu para aumentar o número de alunos que ultrapassou a barreira simbólica dos 1 000 nesse mesmo ano. A viragem do século coincidiu com a entrada do IPB em velocidade de cruzeiro, sempre com mais de 5 000 alunos, chegando mesmo aos 7 447 em 2 010.
O IPB definiu, desde o início, como variável estratégica fundamental a aposta na formação do corpo docente, proporcionando a este as melhores condições para se poder valorizar através da obtenção dos graus de mestre e doutor. Só assim, pensava-se então, e bem, seria possível a uma instituição de ensino superior localizada no interior do País credibilizar-se e competir no meio académico nacional e internacional. Esta aposta, podemos hoje dizê-lo, foi inteiramente ganha como bem o demonstra o Gráfico n.º 60.

O IPB tinha 179 doutores em 2011, num universo de 383 docentes, o que dava um invejável rácio de 47%. Dos 179 doutores, sete tinham já efetuado provas públicas de agregação, últimas para chegar ao topo da carreira académica universitária. Não é menos significativo o facto de haver 158 docentes a prepararem os respetivos doutoramentos.
Se esta performance do corpo docente contribuiu decisivamente para a credibilização da instituição, não foi menos importante para a resolução de muitos dos problemas que afetavam a região, através de projetos de investigação aplicada, do empreendedorismo e da introdução de novas tecnologias nos diferentes domínios, o que muito contribuiu para o facto de o Concelho apresentar os IDs positivos que já aludimos.
Perspetiva aérea de parte do campus do IPB

Igualmente importante foi o contributo do IPB na formação da população do Concelho. Para além de fixar 
na região uma parte significativa dos alunos que completam o 12.º ano nos diferentes concelhos do Distrito, e aqui fazem as suas licenciaturas e mestrados, o Instituto Politécnico tem vindo a graduar uma parte significativa da população ativa com mais de 23 anos, a qual, por motivos vários, havia abandonado os cursos ou deixado simplesmente o sistema de ensino. Diga-se, a este respeito, que a grande maioria dos funcionários do IPB, que dispunham apenas do 12.º ano, concluíram, ou estão em vias de concluir, licenciaturas nos mais variados domínios.

O Gráfico n.º 61 mostra-nos de uma forma bastante impressiva os valores percentuais relativos aos residentes com licenciatura completa no Concelho de Bragança, no Distrito, na NUT III Alto Trás-os-Montes e na NUT II Norte.
No que respeita à percentagem dos residentes com licenciatura completa, o Concelho de Bragança evoluiu 8,5% de 2001 para 2011. Neste último ano ficou 4% acima da média do País, 5,6% acima da média da NUT II Norte, 6,5% acima da média da NUT III Alto Trás-os Montes e 5,98% acima da média do Distrito de Bragança. Ocupava, em 2011, o 13.º lugar entre os 308 concelhos do País, melhor do que o 15.º lugar que detinha em 2001.
Em termos relativos, os valores da população com licenciatura completa no Concelho de Bragança são maiores do que a média do País. E aqui está outra razão que explica o porquê dos valores positivos dos IDs a que já nos referimos.
O Gráfico n.º 62 demonstra, inequivocamente, a enorme influência que o Instituto Politécnico de Bragança vem exercendo em todos os domínios da economia concelhia. As principais ilações que o referido gráfico nos suscita têm a ver, fundamentalmente, com o seguinte:
• o IPB gerou, em 2007, um fluxo de 55 milhões de euros na atividade económica do Concelho;
• o valor local da propriedade comercial associada aos negócios relacionados com o IPB ascendeu, em 2007, a 3,8 milhões de euros;
• a expansão da base de crédito da banca local devido a depósitos relacionados com o IPB atingiu os 5,8 milhões de euros;
• as receitas obtidas pela Câmara Municipal relacionadas com o IPB subiram aos 240 milhares de euros;
• os custos operacionais dos serviços fornecidos pela autarquia local associados à presença do IPB chegaram aos 1,94 milhões de euros;
• os rendimentos das pessoas da região devido a empregos ou a negócios relacionados com o IPB atingiram os 30,6 milhões de euros;
• os bens duráveis procurados com rendimentos devidos a empregos ou a negócios relacionados com o IPB subiram aos 1,26 milhões de euros.

Tendo por base estes valores, verifica-se que “por cada euro de financiamento do Estado no IPB, este gera na região 2,46€ em atividade económica”170, o que explica igualmente o porquê do índice de desenvolvimento positivo do Concelho. A atividade económica de Bragança é animada pelo fluxo de despesa anual feita por docentes, funcionários, alunos e despesa de funcionamento do IPB (Gráfico n.º 63).

Trata-se de valores elevados que entram diretamente no circuito económico concelhio, com grandes implicações no desenvolvimento local. De salientar o montante despendido em 2007 pelos alunos (20,3 milhões de euros) e pelos docentes (4,3 milhões de euros). Um pouco menor a despesa dos funcionários (0,89 milhões de euros) e do IPB (0,74 milhões de euros) sem incluir salários. Eis uma outra explicação para os IDs positivos do Concelho.
Paralelamente à atividade do IPB, a Câmara Municipal de Bragança surge como promotora do desenvolvimento, assumindo ações geradoras de riqueza, de bem-estar material, ambiental e cultural, facilitadoras da fixação de mão-de-obra qualificada. Com a aposta numa ecocidade sustentável, com uma visão moderna de como tirar partido das magníficas condições ambientais do Concelho, o Município criou condições para atrair pessoas, o que se traduziu num aumento sustentado da sua população, como bem mostram os censos de 2001 e 2011.
Como corolário lógico deste aumento populacional, verificou-se um incremento significativo da indústria da construção civil, como demonstra o elevado número de licenças para construção emitidas pelos serviços de urbanismo da Câmara (Gráfico n.º 64).

De 1999 a 2011, a média das licenças para construção foi bastante elevada (263,3). A crise que assolou o mundo em 2007-2008 refletiu-se em Bragança em 2009, ano em que se verificou uma acentuada quebra na emissão de licenças para construção. Contudo, os anos de 2010 e 2011 foram já de uma certa recuperação, embora com valores ainda bastante abaixo da média, mas indicativos de uma tendência positiva.
Uma vez mais, encontramos outra explicação para o ID positivo do Concelho, agora fruto de uma considerável performance da indústria da construção civil, a qual, como se reconhece, é grande geradora de empregos diretos e indiretos a montante e a jusante do setor.
A investigação levada a efeito no IPB, sobretudo a investigação aplicada, tem tido repercussões significativas em várias fileiras de produção, que veem os seus produtos melhorar significativamente na cadeia de valor por força da incorporação de inovações. Mas não só no âmbito da produção se vê aumentar o valor acrescentado aos diferentes produtos. Também a nível dos processos, sobretudo no marketing e na comercialização, se fazem sentir as mais-valias originadas pela já aludida investigação aplicada feita no IPB.
Por sua vez, a ação permanente da Câmara no sentido de facilitar e catalisar o associativismo e ajudar a descobrir novos nichos de mercado que absorvam os produtos de excelência do Concelho, teve como reflexo lógico um aumento significativo e continuado das exportações.
Com os efeitos conjugados do IPB e da Câmara Municipal, conseguiu-se que na última década o tecido empresarial se tornasse mais inovador, mais competitivo, ganhando consequentemente uma assinalável dimensão exportadora (Gráfico n.º 65).

Em 2000, o Concelho de Bragança representava tão-só 0,14% das exportações da Região Norte de Portugal; em 2010, esse peso aumentou para 1,83%. De enfatizar, igualmente, o facto das exportações do Concelho representarem, em 2010, 85,5% do total das exportações da NUT III Alto Trás-os-Montes, quando esse valor tinha sido apenas de 46,7% em 2004 e de 39,7% em 2000. Aliás, o Concelho de Bragança exporta cerca de três vezes mais do que o conjunto dos municípios da NUT III Alto Trás-os-Montes. Em apenas dez anos, o volume de exportações aumentou de 16 para cerca de 120 milhões de euros.
Segundo o Presidente do NERBA – Núcleo Empresarial de Bragança, “para estes resultados económicos têm contribuído extraordinariamente um conjunto de empresas de Bragança viradas para o mercado externo, dotadas de tecnologia de ponta e de modelos organizacionais de excelência, das quais gostaria de destacar, entre outras, por se tratarem das principais unidades exportadoras da região, as seguintes empresas: Faurécia, Fepronor, Sortegel e Factory Play”.
“No caso concreto da Faurécia, a maior empresa da região, emprega atualmente 350 trabalhadores, 85% dos quais recrutados localmente, muitos deles do IPB, e registou um crescimento do seu volume de negócios de 117% em 2009 e de 43% em 2010. Diga-se também que é uma unidade industrial que tem uma vantagem de economização; aliás, o grupo emprega na sua área de cobertura um conjunto de mulheres que se destacam pelo seu profissionalismo, pela sua qualidade. Seria impensável que as mulheres entrassem neste mercado de metalomecânica pura e que tivessem um desempenho tão bom, por isso é que outras unidades do Grupo instaladas noutras regiões de Portugal, e também da Europa, estão a seguir exatamente este modelo da Faurécia”.
Bragança Shopping, primeiro centro comercial moderno estabelecido em Bragança

“Dez anos após a sua abertura atingiu uma das melhores performances do grupo, fabricando atualmente em simultâneo nove produtos diferentes para cinco das principais marcas de automóveis da Europa “Este é um caso de sucesso e diria até de estudo, uma vez que tanto os mercados de origem das matérias-primas que transforma essencialmente à base de aço, o qual é importado de Itália, como os mercados de destino dos seus produtos acabados se localizam maioritariamente fora de Portugal, vencendo assim a barreira da interioridade, dos custos de logística e ainda da falta de culturas industrial e de empreendedorismo existentes na nossa região”.
“A verdade é que não há milagres nem varinhas mágicas para combater o desemprego e as adversidades da Região e do País. Só replicando casos de sucesso empresarial como o da Faurécia, para o qual muito contribuiu o papel e a visão do Executivo da Câmara Municipal de Bragança, e aplicando as palavras mágicas ‘trabalho, trabalho, muito trabalho’ será possível vencer e seguir em frente”.
Todas estas transformações que se processaram a nível do Concelho refletiram-se no comportamento ao longo dos anos do denominado IPCC – Índice de Poder de Compra Concelhio. O Gráfico n.º 66 mostra-nos como evoluiu o IPCC de Bragança, da região norte e da NUT III Alto Trás-os-Montes, no período compreendido entre 1995 e 2009.
No ano de 2002, o índice de poder de compra do Concelho de Bragança era o 43.º mais alto a nível dos 308 concelhos portugueses, passando para 42.º em 2005, para 52.º em 2007 e para 54.º em 2009. Na década de 2000-2009 o poder de compra do Concelho aumentou 8,13%, enquanto na região Norte esse aumento se quedou nos 1,95%.
A partir do ano 2000, o poder de compra concelhio esteve sempre acima do verificado na Região Norte, chegando mesmo, em 2005, a ultrapassar a média do poder de compra nacional.
Como mostra o referido gráfico, é mais um indicador a explicar a posição privilegiada do Concelho de Bragança no que concerne ao desenvolvimento no contexto das regiões do interior.
Um último dado para reforçar a afirmação anterior: em 2009 o PIB per capita português representava 80% da média dos países da União Europeia, contra os 65% da Região Norte e os 71,3% do Concelho de Bragança.

Existindo, como vimos, um potencial científico e tecnológico relevante em áreas muito diversificadas, como as Ciências Biológicas, Ciências da Terra e do Espaço, Ciências Agrárias e Veterinárias, Ciência e Engenharia dos Materiais, Engenharia Electrotécnica, Mecânica e Informática, Economia, Gestão, entre outras, o Instituto Politécnico e a Câmara Municipal têm sabido tirar partido desse potencial em favor das empresas da região e de outras que se vão instalando, por saberem da existência de tão boas condições.
Tão relevante potencial científico e tecnológico, associado à excelência do ambiente existente no Concelho, permitiu perspetivar Bragança como ecocidade, tirando partido dos seus recursos endógenos e “alinhando-se com as mais recentes políticas comunitárias e nacionais sobre ambiente e energia”. Numa recente publicação da Câmara Municipal de Bragança, intitulada Bragança EcoCidade – Uma Terra de História, Cultura e Tradições, pode ler-se que “o Município de Bragança, desde há cerca de uma década, tem vindo a realizar estudos no sentido de identificar uma estratégia geral para o Concelho que visa tornar Bragança numa ecocidade moderna, capaz de atrair pessoas qualificadas e investimento. Neste contexto, promoveu a elaboração do Plano Estratégico para a EcoCidade de Bragança, no sentido de identificar e envolver os agentes locais, indicadores de sucesso e de uma carteira de projetos estruturantes a desenvolver ao nível do território concelhio, nas áreas do Eco-Turismo, Eco-Energia, Eco-Construção e Eco-Produtos”.
Iluminação cénica do castelo e zona envolvente, inserida no plano de recuperação da zona histórica

Após vários anos de estudos e de esforços, a Câmara Municipal consegue ver aprovado e financiado o Brigantia EcoPark, integrado no Parque de Ciência e Tecnologia de Trás-os-Montes e Alto Douro, que tem por missão “o acolhimento de empresas de base tecnológica e industriais, de baixo impacto ambiental, nos clusters da ecoenergia, da ecoconstrução, do ecoturismo e dos produtos tradicionais, disponibilizando serviços de elevada qualidade e apresentando condições favoráveis à criação de redes de colaboração entre as instituições nele instaladas”.
O Brigantia EcoPark está já em construção, muito havendo a esperar da sua entrada em funcionamento, sobretudo no incremento, modernização e inovação do setor industrial e turístico do Concelho, com reflexos evidentes na melhoria da agricultura através da transformação local dos seus produtos pelas agroindústrias.
Ao longo do período que medeia entre 2000 e 2012, o comércio e o turismo tiveram incrementos significativos devido a um conjunto de intervenções que a Câmara Municipal levou a efeito, tendo sido uma das pioneiras na utilização de programas de reabilitação urbana da União Europeia, entre 1999 e 2007.
Na base dessas intervenções estiveram recursos oriundos do PROCOM/URBCOM – Programa de Apoio à Modernização do Comércio/Sistema de Incentivos a Projetos de Urbanismo Comercial, respetivamente, entre os anos de 1999 e 2002, o POLIS (Programa de Requalificação Urbana e Valorização Ambiental das Cidades) entre os anos de 2001 e 2004, e por fim, o Programa de Incentivos à Recuperação de Fachadas e Coberturas de Imóveis Degradados situados na Cidadela de Bragança, entre 2005 e março de 2007.
Os programas PROCOM/URBCOM tiveram lugar na zona histórica da Cidade de Bragança. O programa POLIS permitiu não só a realização de projetos não terminados no âmbito dos programas anteriores, como ainda a intervenção ao longo das margens do Rio Fervença. Posteriormente, ocorreu a operação de recuperação de fachadas e coberturas, o que muito valorizou a Cidadela de Bragança. Foi visível a tentativa de complementaridade entre estes programas, no sentido de permitir a resolução de problemas existentes na malha urbana e, simultaneamente, garantir o desenvolvimento de potencialidades existentes.
Grupo de Bragançanos

No Congresso Construção 2007, Rui Calejo Rodrigues e Flora Silva apresentaram a avaliação de todos estes projetos, afirmando que, de uma forma geral, “os Projetos de Urbanismo Comercial para a Cidade de Bragança atingiram os objetivos definidos, tanto no que refere à obra realizada, mas também no que diz respeito aos custos e cumprimento de prazos, podendo por vezes ter existido uma ligeira diferença entre o inicial e o final provocada muitas vezes por trabalhos a mais e ainda as próprias características climatéricas da região… As ações e projetos definidos no âmbito deste programa POLIS foram cumpridos. No que respeita aos custos e a nível das intervenções diretas do programa Polis, estes ficaram abaixo do inicialmente previsto. Por sua vez, e no que refere ao cumprimento do prazo, a intervenção Polis foi realizada dentro do limite estabelecido… De uma forma geral, as intervenções previstas no âmbito do referido programa (Incentivos à Recuperação de Fachadas e Coberturas de Imóveis Degradados situados na Cidadela de Bragança) foram realizadas, não na sua totalidade, uma vez que dos trinta e seis imóveis alvo de intervenção, seis deles não foram intervencionados, aspeto este resultante do facto de os proprietários de tais imóveis não possuírem meios financeiros para conseguirem comparticipar na percentagem estabelecida pelo programa. No que respeita a custos, e uma vez que não foram intervencionados todos os imóveis, o valor final da obra ficou abaixo do inicialmente previsto. Em contrapartida, e no que refere ao cumprimento do prazo, este foi ultrapassado em cerca de um ano, devido a trabalhos a mais existentes no decorrer da intervenção”.
Podemos dizer que, em relação a estes projetos de reabilitação urbana de Bragança, a estratégia de desenvolvimento do espaço urbano que esteve na sua génese foi bem pensada, estruturada e implementada com sucesso, transformando e requalificando a zona histórica, que ficou muito mais apelativa a residentes e sobretudo a turistas, para além de curar as feridas profundas e antigas das margens do Fervença.
Um outro projeto que se realizou nesta época foi o Mercado Municipal. Inaugurado a 14 de dezembro de 2002, tem uma área total de 7 935 m2, com dois pisos de galerias comerciais e um parque de estacionamento com capacidade para 60 viaturas. No exterior, encontra-se ainda um espaço para comercialização de produtos agrícolas produzidos na região. Como diz o Mensageiro de Bragança na edição de 19 de dezembro de 2002, “trata-se de um mercado de nova geração, reconhecido como de elevada qualidade arquitetónica, que concilia o melhor do comércio tradicional com os serviços de proximidade, privilegiando a qualidade do espaço, o conforto e a higiene”.
A autoestrada que liga a fronteira de Quintanilha ao Porto está praticamente concluída, terminando desta forma o ciclo infernal do isolamento do Concelho de Bragança. Contudo, da parte espanhola, a ligação de Quintanilha a Zamora não está prevista no plano de investimentos rodoviários do país vizinho, ao contrário do que fora acordado entre os dois governos em diferentes Cimeiras Ibéricas. Tal facto, a dilatar-se no tempo, irá dificultar e prejudicar uma rápida ligação, não só de Bragança mas de todo o Norte de Portugal, à Europa.
A importância desta ligação a Zamora assume-se como vital para o desenvolvimento deste Concelho e de toda a província de Zamora. A este propósito, realizou-se, em 27 de março de 2011, uma Marcha Luso-Espanhola reivindicativa da construção da Autoestrada A11 Zamora-Quintanilha, “promovida pela Mancomunidad Tierras de Aliste e Câmara Municipal de Bragança, com presenças do Presidente da Diputación de Zamora, Alcaldesa de Zamora e alcaldes da zona de fronteira, deputados nacionais e deputados regionais de Espanha, Presidente e vereadores da Câmara Municipal de Bragança, deputados da Assembleia Municipal, presidentes de Junta de Freguesia, representantes de entidades, instituições e associações e cidadãos de Portugal e de Espanha, num número de cerca de três centenas e meia de pessoas. Esta Marcha visou alertar e sensibilizar as autoridades espanholas para a importância da construção da Autoestrada A11 Zamora Quintanilha, dando continuidade à Autoestrada Trasmontana – A4, tendo presente a importância desta infraestrutura para o desenvolvimento socioeconómico do Oeste provincial de Espanha e da Região Norte de Portugal, zona em que habitam mais de 3,5 milhões de pessoas de um lado e de outro da fronteira, como via estruturante deste território e essencial para o seu desenvolvimento económico”.
Os organizadores desta Marcha Luso-Espanhola enviaram um manifesto ao Presidente do Governo de Espanha e ao Primeiro-Ministro de Portugal com as seguintes recomendações:
• “que o Governo de Espanha considere o interesse internacional da Autoestrada A11, desde Zamora até à Fronteira com Portugal, visto integrar a Rede Europeia de Autoestradas (E82)”;
• “que o Governo de Espanha dê prioridade à construção desta Autoestrada dentro dos Planos de Infraestruturas do Ministério do Fomento”;
• “que a construção da Autoestrada A11 se inclua, sem escusas, na ordem do dia dos assuntos urgentes a tratar na próxima Cimeira Ibérica para que, durante o ano de 2011, se licitem e se adjudiquem os quatro lanços do traçado da Autoestrada A11 pela Província de Zamora”;
• “que o Governo de Portugal isente de pagamento de portagens a utilização da Autoestrada Trasmontana A4, entre Vila Real-Bragança-fronteira de Quintanilha, considerando que estamos em territórios muito fragilizados economicamente, necessitando de medidas de exceção até melhorarem os indicadores socioeconómicos”.
Como conclusão, e em síntese, diremos que as estruturas económicas do Concelho de Bragança sofreram, nos primeiros anos do século XXI, um forte incremento, ao contrário do que ocorrera nas décadas precedentes, em que o normal foi um lento peregrinar dessas mesmas estruturas. Assistiu-se a um conjunto de intervenções estruturantes e requalificantes nunca vistas até então. Foi a década de oiro de Bragança no que concerne ao desenvolvimento.
Praça da Sé

Para esta mudança de paradigma contribuíram, decisivamente, a ação individual e conjunta da Câmara 
Municipal e do Instituto Politécnico, o que originou sinergias que devem não só continuar a ocorrer, como terão de vir a ser potencializadas. Assim o continuem a querer estas e outras instituições concelhias.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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