São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)
Música caipira raiz, com a dupla Pingo D'água e Guarda-Chuva! Os alto falantes espalhados pela grande e maravilhosa praça, são ouvidos atentamente pelos jóvens citadinos, das fazendas do município, e até por visitantes de cidades próximas, tal a fama do "footing" de Cravinhos, "das meninas bonitas", que não tinha rivais quanto às possibilidades de suas paqueras, em se arranjar namoro. Ali, as moçoilas e os simpáticos rapazes, faziam suas paqueras, piscando os olhos, ou mesmo arregalando-os, para que a "outra pessoa", ficasse cientes de que estavam agradando. Cada gesto era um sinal; um deles era o "dar-o-pira", que significava sair do footing, lá no local da estátua do soldado. Acrescento que, o footing assim funcionava: as moças (muitas vezes com amigas, outras até com a avó, ou mãe, de braços dados, faziam o circuito maior da praça, no sentido horário, os moços, no sentido anti-horário. Ambos durante o footing, analisavam o (a) possível paquera! Uma vez localizado a pessoa que mais interessava, o(a) jovem, saía do footing, para sinalizar a saída do outro próximo da estátua do soldado. Então, se falavam e, caso entrassem em acordo, davam uma volta ao redor da praça, chamado de quadrado; se ainda estavam de acordo, começavam a namorar, e o rapaz deveria ir à casa da moça para pedir licença a seus pais para o namoro! Era assim, tal e qual!
...
E o locutor do serviço de alto falantes (sobrinho da modista Dona Dióla), dizia: ".......
- E o Toninho oferece essa música à menina morena, de vestido azul, de bolinhas brancas e sorriso encantador!
E a música oferecida é o sucesso de Rinaldo Calheiros e Silvana, e a música é a "Amor"!
Após esta gravação, a dupla Pingo D'água e Guarda Chuva, volta a se apresentar!
E a menina em questão, cheia de orgulho, sabia-se bonita e invejada pelas outras meninas,igualmente bonitas!
Agora, sua preocupação era uma só:
- Quem é o Toninho?
...
E o Toninho, do alto de seus treze anos, aguardava que a "menina de vestido azul com bolinhas brancas e de sorriso encantador", completasse o footing das moças; aguardando-a passar pela escultura do soldado da "Senta a Pua"(*); local onde as gurias saiam da formação do footing , dando o SIM, para o Toninho, já que ela também o aprovara!
O Toninho, nervoso, remexia os bolsos da camisa, para certificar-se de que os chicletes de canela e de hortelã e a caixinha de "jin-tan", aliestavam! Pensou: quem sabe ele poderia roubar um beijinho dela, com sabor de canela, hortelã ou de alcaçús (jin-tan).
.. .....
....e passou o tempo.......!
........
Diz a História, que ele realmente a beijou; só que, dois dias depois, seus pais, ele, e a irmã menor se mudaram para São Paulo. Para trás ficaram a menina de vestido azul com bolinhas brancas, as luzes de um céu de neôn e repleto de estrelas, os cafezais em flor, as danças dos cachos de arrozais dourados pelo sol, movidos pelos ventos mogianos, os córregos de água cristalinas e puros, onde viviam mandis dourados como o sol e lambaris, rápidos como o corisco e prateados como a lua cheia!!!!
Ah, caro leitor; o Toninho nunca mais viu tanta beleza nos últimos 65 anos!
(E SENTE SAUDADES)!
Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 9 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de cinco outros publicados em antologias junto a outros escritores.
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