Coloridas e demoníacas. As máscaras que se «calçam» por toda a Península Ibérica têm ganho novas simpatias que lhes garantem vida nas aldeias do Norte de Portugal. Carnaval, Reis e Natal são épocas de transcendência com a máscara posta.
As artérias da cidade de Lisboa, António Alves conhece-as bem. A vida profissional passou-a como condutor da Carris, rede de transportes públicos na capital. Longe da terra natal, Varge, Bragança, é no burburinho da cidade que continua a fazer as máscaras que os homens solteiros «calçam» por altura das Festas dos Rapazes.
A origem das máscaras, elementos presentes em toda a Península Ibérica, perde-se no tempo. Certo é que se encontram associadas a um ritual pagão, «possivelmente um elemento de transição para falar com Deus, já que o Homem se sentia muito pequeno para Lhe falar», diz Hélder Ferreira.
O presidente da Progestur - Associação de desenvolvimento e gestão do turismo cultural continua a explicar: «a máscara é, normalmente, utilizada no Inverno. Possivelmente era colocada para pedir, a Deus, fertilidade na terra, saúde, prosperidade».
António Alves deixa de parte estas possíveis origens da máscara. Ao artesão de 60 anos interessam-lhe cores e formas. De dois em dois meses, ruma até à aldeia para ir buscar o material com que constrói as máscaras.
«Uso madeira e folha de Flandres, chapa», conta, enquanto tira de um saco dois exemplares das máscaras. O olhar ameaçador destes rostos recriados faz-nos endireitar na cadeira. António brinca: «Metem medo, não é! Quando era miúdo, com os meus cinco seis anos, tinham medo das máscaras. Sabia que eram rapazes que as levavam, mas mesmo assim fugia. Até aos 15 anos, quando comecei a entrar na brincadeira».
Retomemos o fabrico. De madeira ou de chapa, as expressões das máscaras de António Alves são evidência do seu quotidiano. «Se vejo alguém zangado na rua, chego a casa e tento recriar na máscara essa expressão zangada», diz o artesão.
A seguir a talhar a madeira ou moldar chapa, «dou-lhe uma base e só depois a maquilhagem, como costumo dizer». A maquilhagem para António Alves é a pintura com cores garridas, vermelhos, amarelos, mas também o preto.
As máscaras são usadas por rapazes solteiros e fazem parte de todo um traje. Por exemplo, em Podence, concelho de Macedo de Cavaleiros, as máscaras ganham o nome de caretos e usam-se no Carnaval. O traje dos caretos faz-se ainda com um fato com trapos desfiados e chocalhos. Há um ritual de acasalamento envolvido, tendo os rapazes mascarados que «chocalhar» a rapariga que gostaria de conquistar.
«Na minha aldeia, as máscaras usam-se no Natal acompanhadas de rituais», diz António. «Por exemplo, no 26 de Dezembro, pela manhã há uma alvorada. Os gaiteiros fazem uma ronda pela aldeia e vão bater na porta das casas de rapazes solteiros. Se estes ainda estiverem deitados, então tiram-nos como estão e deitam-nos no gelo. Na minha altura havia ainda penalizações se não estivesse pronto quando os gaiteiros chegassem. Tinha de pagar uns cigarros por exemplo».
por: Sara pelicano
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