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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 14 de abril de 2013

Ambulâncias e táxis levam à escola alunos das aldeias de Bragança

Bragança é exemplar no transporte escolar gratuito. 292 crianças isoladas têm chofer à porta de casa

Gracinda tem 7 anos, sai a porta da escola com uns olhos ilimitados de azul, salta para o banco de trás do táxi e, antes ainda de estar afivelada, já pergunta e tu quem és e vais connosco e que vieste aqui fazer? O jornalista é de longe, veio ver a rede de transportes escolares a Bragança, parece-lhe muito bem, é muito boa, os meninos que vivem lá para cima, nas aldeias isoladas, já não ficam para trás nem vão sozinhos a pé para a escola, pelo monte, molhadinhos, à chuva, coitadinhos.
Agora há autocarros para todos, sim, são quentinhos, e há táxis e há carros de bombeiros. Há meninos que têm chofer, ele para à porta, às vezes até é um carro só para um menino, é um luxo, e não se paga nada por isso. Ela ouve arregalada, o sorriso rosado de gengivas, e continua a soltar a sua quota de porquês, incluindo um "ooh, e por que é que eu não tenho dentes?".
Gracinda, que vai no táxi de volta a casa, vai também o seu irmão Rúben, 14 anos, e o vizinho Tiago, já com 15, frequenta o 1.o ano do Centro Escolar de Santa Maria, no topo de um dos vales da Brigantia, fundada há 23 séculos pelos celtas, hoje Bragança, uma cidade montada em patamares, ou socalcos gigantes, e como mora a mais de 4 quilómetros do centro cívico tem transporte gratuito assegurado. Como não há autocarro até à sua casa na estrada que serpenteia de sobreiros, vai um táxi ter com ela.
São 292 as crianças neste regime de motorista particular, dispersas em 27 circuitos das aldeias, lugares e terras, todas frias, de frio bafo brigantino pela manhã. O regime, que custa meio milhão de euros por ano à Autarquia, inclui táxis e camionetas de operador privado, que levam no grupo maior 35 alunos, como a Rodonorte, que os apanha em Freixedelo, no alto da Parada, e os traz para os liceus da cidade, o Garcia, o Baçal e o Torga, este no sopé do castelo da princesa prometida porque de lá e daquela vista vê-se o reino maravilhoso.
Demora 10 minutos a viagem, conduz o plácido taxista José Vidal, lá fora venta mas o carro é caloroso e os três meninos chegam num sopro. Saem, saltam e acenam debaixo do céu e do cheiro fumado de pinho que sobe pelas antenas da casa, nos arredores das Quintas da Seara. Ficam à portinha, Rúben e Gracinda, ela parada no sorriso espantado e azul, até amanhã, às 8, ele a acompanhar Tiago a descer a rua com o olhar e atrás deles há um vale verde e o ar é límpido e tão definido que brilha de azul e branco em HD.
O céu entra pelos vidros adentro do táxi de Vidal, que já faz de volta os 8 quilómetros até à postura do Tribunal de Bragança onde vão aninhar-se ao entardecer, silenciosos e beges, táxis a mais para a procura da cidade.
A empresa de Vidal, 56 anos, vem de 2000, curioso nome, Táxis Porreiro. Ele sorri: "Todos se dão bem. É só um. Sou o meu patrão e o meu empregado". Vidal ganhou pelo 3.ºo ano o concurso público deste circuito, que vale 40 euros /dia e é o mais pequeno dos 27 rurais (o maior vai a 60 km) mantidos no serviço público camarário - o município tem 2050 crianças em escolaridade obrigatória e metade usa o Serviço de Transportes Urbanos de Bragança (STUB).
"É aqui que garanto rendimento fixo, porque o resto afrouxou muito, hoje vale um terço de há 5 anos", diz o taxista Vidal, conformado com o abrandamento da corrida e da baixa de Bragança, que àquela hora escurecia sem ver vivalma nas ruas coadas de luz gemada.

in:jn.pt

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