Local: Felgar, TORRE DE MONCORVO, BRAGANÇA
No termo de Felgar, há uma fraga a que chamam a Fraga da Pindura. E então um senhor qualquer sonhou lá com uma moura encantada. E sonhou que ela lhe dava dinheiro. Resolveu, por isso, ir lá, e quando lá chegou apareceu-lhe uma cobra muito grande. O homem hesitou, e ia já a começar a fugir, quando ouve uma voz que lhe diz:
— Não fujas, senão dobras-me o encanto!
Ele enfrentou a cobra, a cobra beijou-o e logo se desfez na figura duma moura. E diz-lhe então:
— Olha, tu agora não precisas de trabalhar, nem de fazer nada. Quando quiseres dinheiro, vens aqui à Fraga da Pindura, metes a mão aqui nesta fincha, e, todas as vezes que cá vieres, sai-te sempre uma moeda, ou duas, ou três.
Não sei já a quantidade que era.
Então o gaijo assim fez. Quando precisava de dinheiro, ia lá e saíam-lhe sempre aquelas moedas que ela lhe tinha dito. E desde então ele fazia ali uma vida de lorde no Felgar. Jogava, comia, bebia, e não trabalhava. A gente estava ali toda abismada. De onde é que lhe viria o dinheiro?
Num dia qualquer, foi p’rá taberna a jogar o chincalhão. Lá bebeu um copito a mais, e, quando estava a perder, os outros disseram-lhe:
— Hoije em vez de ganhares, perdes. Já perdeste aqui umas c’roas boas!
E ele, enraivecido, ao ver sair-lhe um cinco de ouros, disse:
— Troco! Vale seis! Enquanto a Fraga da Pindura o der, não há problemas. Não falta dinheiro!
Ao outro dia, porque tinha perdido e precisava de dinheiro, foi lá à Fraga da Pindura. Meteu lá a mão e já não saiu moeda nenhuma. Como tinha descoberto tudo, nunca mais tirou lá dinheiro nenhum.
Fonte:PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.330-331
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