segunda-feira, 14 de abril de 2014

Simbologia associada à Máscara

Baco
A máscara como um símbolo na procura de uma definição de identidade
Em Portugal, a máscara tem um carácter ritual, cultural e profano, e a ela se associam vários elementos, como peditórios, rituais, comportamentos obscenos, combates, danças, barulheira de chocalhos, roubos cerimoniais, etc.
Os mascarados, através da sua indumentária e atributos, assumem-se como seres sobrenaturais.
A máscara serviu desde sempre, na história do homem, como uma personificação divina usada em forma de rituais. Estes ritos existiram em todas as diferentes civilizações do planeta Terra, ou seja, tanto a máscara transmontana como a africana, das Antilhas à Polinésia, do Brasil à Ásia, todas tiveram origem em ritos. De entre outros, salientamos os ritos de fertilidade ou fecundidade, de iniciação, ou passagem à idade adulta, de passagem (estações do ano), culto dos mortos, religiosos, ciclos lunares, ciclos do Sol, ritos agrários (sementeiras e colheitas). Não podemos deixar de salientar que todos estes ritos remetem para os ciclos, ou seja, ciclos de renascimento, de vida nova. Veja-se, a este propósito, particularmente no respeitante aos ritos de iniciação e fecundidade, o que diz Caillois: “As cerimónias de fecundidade não são as únicas. (…) Existem outras que têm a finalidade de fazer entrar os jovens na sociedade dos homens e de os agregar assim à colectividade. São os ritos de iniciação. Podem ser comparados com grande exactidão às precedentes e fundam-se, tal como estas, na representação dos mitos relativos às origens das coisas e das instituições. (…) 
As cerimónias de fecundidade garantem o renascimento da natureza, as cerimónias de iniciação o da sociedade.” (1988: p. 108)
A máscara é um elemento que, temporal e espacialmente, conhece uma enorme representação e um universalismo que nenhum outro testemunho material da cultura humana iguala. Através dela, o mundo dos Deuses e dos mortos instala-se, temporariamente, entre os homens. Segundo Caillois. “Seja qual for a sua duração, este tempo vê confundirem-se o além e a vida terrena. Os antepassados ou os deuses, encarnados por dançadores mascarados, vêm misturar-se aos homens …” (1988: p. 111)
Na actividade humana, que é marcada pelo simbólico, a máscara faz sentir a presença oculta da transcendência, ao mesmo tempo que nos dá elementos para compreender o homem nas suas manifestações culturais, talvez porque ela própria é essa manifestação, escondendo-se no que figura, no que rejeita ou impõe.
Chegamos mesmo a pensar que ela nos faz participar num jogo dialéctico que nunca iremos conhecer, existindo sempre um distanciamento só comparável ao distanciamento para com as divindades de cada povo ou civilização.
A máscara representa ainda um papel sumamente importante nas sociedades fortemente integradas e fechadas nos seus próprios valores, operando-se por seu intermédio a corporização de modelos ideológicos e dos mitos explicativos da criação do mundo e sua organização, configurando e ajudando a fixar a sua estrutura, actualizando-os cíclica e ritualmente.
Karl Meuli, a propósito das raízes do Carnaval, assemelha as máscaras aos espíritos dos antepassados. E como utilidades principais, demarca os peditórios, as censuras, as bendições e oferendas: “Estas três actividades operam-se, em larga medida, segundo os ritos próprios dos espíritos. Eles pedem: não quer dizer que mendigam uma esmola; pelo contrário, eles exigem a oferenda como um direito que lhes é devido. Muitas vezes, a oferenda desaparece de maneira misteriosa e diz-se então que eles a roubaram. Esse género de “roubo” é muito espalhado e considerado como um direito “capital das máscaras”.(1967: p. 11).
Pan
Na opinião de Jean-Louis Bédouin, o cristianismo trocou os dados do enigma da máscara: “Até então, a máscara havia sido o instrumento mais ou menos perfeito, graças ao qual o homem havia tentado elevar-se acima da sua condição terrestre, de vir a tornar-se semelhante aos deuses. No momento em que o novo dogma prevalece e se admitiu que a identificação se devia efectuar no outro sentido, do divino ao humano, é claro que a máscara perdeu, pelo menos no Ocidente, a sua principal razão de ser. Contudo, ela continuou a desempenhar um certo papel na tradição popular. Esta, guarda durante muito tempo os vestígios das […] práticas herdadas dos antigos cultos agrários, como o prova abundantemente uma grande parte do folclore europeu. É no seio desta tradição particularmente viva em certas regiões do campo que as máscaras conservaram até aos nossos dias as suas antigas funções mágicas”.

Mariana Especiosa do Rosário
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

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