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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

“ EFÉMERA GLÓRIA D’EL REY SEM TRONO “

A Peça de Teatro, “EFÉMERA GLÓRIA D’EL REY SEM TRONO“ de autoria de António Afonso, é uma ficção dramática, que assentando em factos históricos verídicos, se desenvolve a partir da pretensão do Duque de Lencastre, John of Gaunt, ao trono de Castela e Leão, em que como aliado de Inglaterra por tratados antes celebrados, está envolvido D. João I de Portugal.
Intitulando-se já como Rei de Castela e Leão, como consta do texto do próprio Tratado de Babe, o nobre inglês abdicava de qualquer direito que no futuro viesse a ter sobre a Coroa de Portugal.
Sem efeitos políticos dignos de nota, mas por fazerem parte da história local, não poderão os factos ser desvalorizados ou ignorados.
Através do seu processo criativo e baseado em factos reais, a Ficção transporta-nos no Tempo e torna-se fisicamente presente, como ferramenta da nossa memória colectiva.
Sendo ainda a Ficção, um género literário complementar ao nosso imaginário, é a Arte Cénica um veículo da mesma por excelência, tornando-a em nosso entender, culturalmente legítima.
PREFÁCIO
Foi com alguma surpresa, que recebi o convite do meu ilustre amigo António Afonso para escrever o prefácio da sua peça de teatro: Efémera Glória d’El Rey Sem Trono - A História Atribulada do Tratado de Babe. Surpresa, porque nunca tinha escrito um prefácio para uma peça de teatro mas, alguma vez havia de ser a primeira... Depois de ler o supracitado texto da peça, fiquei muito mais à vontade, na medida em que o tema era inteiramente ligado à minha formação académica, ou seja, à História. Por isso, foi com toda a alegria e algum atrevimento, que aceitei tão honroso convite.
Tenho uma grande admiração e estima pelo meu grande amigo António Afonso, desde há muitos anos, por isso, não me é fácil falar dele. Como pessoa, para além de uma vasta cultura e erudição, tem aquela maneira de ser tão transmontana, que nos põe completamente à vontade, como se nos conhecesse-mos desde sempre. Espírito aberto, alma cristalina, coração sem reservas.
Como homem de Arte, este Bragançano é um criador multifacetado, fecundo, cria um pouco de tudo, à maneira dos intelectuais renascentistas: escreve poesia, é autor de várias peças de teatro e de prosa, pintor, participou (e participa), em incontáveis exposições (quer individuais, quer colectivas), pronunciou inúmeras conferências e palestras, enfim um artista completo, com um curriculum vastíssimo, que preenche várias folhas e que aqui referi muito sucintamente.   
A peça Efémera Glória d’El Rey Sem Trono - A História Atribulada do Tratado de Babe, para além de estar muito bem elaborada, escrita numa linguagem acessível quer aos intelectuais quer ao público em geral vale também pela valorização da História local, normalmente tão esquecida. Há muitos anos que vimos defendendo que, as nossas escolas deviam ter uma disciplina de História Local para que os nossos alunos conhecessem a História da sua terra e das suas gentes.
O texto fala-nos no célebre “Tratado de Babe”, do qual falaremos mais à frente. Devo confessar que visitei pela primeira vez Babe, aquando do Congresso “A Festa Popular em Trás-os-Montes”, decorrido entre 3 e 5 de Novembro de 1993, em Bragança e Miranda do Douro, em companhia sabedora do saudoso Senhor Padre Belarmino Afonso. Foi uma lição de História, que jamais esquecerei.
Mas voltemos ao contexto em que se desenvolve a supra referida peça. Decorria a guerra pela independência de Portugal, face a Castela. Eram tempos difíceis de guerra, com muitas incertezas sobre o futuro, sobretudo para Portugal.
Eleito nas Cortes de Coimbra, Regedor e Defensor do Reino, o Mestre de Aviz, era doravante Rei de Portugal, ou seja, era D. João I de Portugal. Haviam de se encontrar estratégias para defender e consolidar a nossa independência face a Castela. Assim, nesse sentido, em 1383, consegue-se um tratado de aliança entre Portugal e a Inglaterra e em 9 de Maio, pelo Tratado de Windsor novo tratado. Este Tratado determinava que entre estes dois reinos haveria «uma liga, amizade e confederação real e perpétua, de maneira que um seria obrigado a prestar auxílio ao outro contra todos os que tentassem destruir o Estado do outro». Este tratado servia perfeitamente quer os nossos objectivos quer os da Inglaterra. Portugal contava assim com um poderoso aliado contra Castela. Por sua vez, também servia perfeitamente os interesses ingleses na medida em que era importante para a pretensão do Duque de Lencastre, ao trono de Castela. É que o Duque de Lencastre, D. João de Gaunt, quarto filho do Rei Eduardo III de Inglaterra, após ter ficado viúvo de Blanche de Lancastrer (de quem teve D. Filipa de Lencastre, que nasceu em Inglaterra em 1359), casou em 1371, em segundas núpcias, com a Princesa Constança, filha do falecido Rei Pedro I de Castela, O Cruel, envolvendo-se assim, na política castelhana ao declarar-se pretendente da Coroa de Castela, rivalizando com Henrique de Trastâmara, na disputa do mesmo propósito. Muito inteligentemente, D. João I de Portugal, apercebeu-se que esta era a grande oportunidade para ter um aliado contra Castela, uma vez que iria não só dividir as tropas do inimigo, como também, viriam para a Península Ibérica muitos mais militares, gente que apoiava o Duque de Lencastre. Por isso enviou um emissário a Inglaterra, oferecendo auxílio ao Duque de Lancaster. O Duque inglês aceita a oferta e desembarca o seu exército na Corunha. O encontro entre os dois aliados dá-se em Ponte de Mouro, perto de Melgaço, onde subscrevem um novo Tratado de Aliança, contra o Rei de Castela. Como era costume na época, com a finalidade de reforçar essa aliança, ficou combinado o casamento de D. João I de Portugal, com D. Filipa de Lencastre, filha do Duque inglês.
Entretanto o Duque de Lencastre e as suas tropas seguem para Bragança, onde fica hospedado no Mosteiro de Castro de Avelãs. Após se ter solicitado a Roma a necessária dispensa do mestrado de Avis, veio D. Filipa, alojando-se no Porto, no Paço do Bispo. Na manhã do dia 2 de Fevereiro de 1387, na cidade do Porto, na Igreja de S. Francisco, realiza-se o referido casamento. D. João I de Portugal demorou-se bastante no Porto e o seu sogro, farto de esperar, parte com as suas tropas para Babe, povoação fronteiriça, perto da cidade de Bragança, onde os dois exércitos se iriam reunir. Aqui, em 26 de Março de 1387, era assinado um novo tratado, o Tratado de Babe. Por este Tratado, o Duque de Lancaster desistia de qualquer direito, que no futuro viesse a ter, sobre a coroa de Portugal. 
Após a assinatura deste Tratado, os dois exércitos aliados, atravessaram o Rio Maçãs e rumaram a Alcanices. Entretanto, D. João de Gaunt, chega a acordo com o rei de Castela e, para selar este acordo, casa outra sua filha, com o Rei de Castela, tendo o Duque de Lencastre regressado a Inglaterra. No entanto, a guerra entre Portugal e Castela, estava longe de ter acabado. Morto D. João I de Castela, o seu sucessor, D. Henrique III, reavivando a guerra, invadiria Trás-os-Montes, em 1397, não respeitando as pazes anteriormente assentes, entre os anteriores monarcas, dos dois reinos.
Conquista Bragança, Vinhais e Mogadouro, obrigando D. João I de Portugal, a entrar pela Galiza, para libertar estas terras transmontanas, em 4 de Maio de 1398.
A paz definitiva entre estes dois reinos, apenas seria alcançada em 1411.
Dentro do contexto de uma guerra tão prolongada, quero salientar alguns factos, relacionados com estas terras transmontanas. Assim em 16 de Maio de 1386, D. João I de Portugal, doou um Foral ao Azinhoso (renovado em 13 de Fevereiro de 1520 por D. Manuel I Rei de Portugal).
Segundo a História, D. Nuno Álvares Pereira, o Condestável de D. João I de Portugal, terá rezado junto ao altar de Nossa Senhora da Natividade, no ano de 1386, na centenária Igreja de Santa Maria do Azinhoso, pedindo protecção à Virgem, contra os Castelhanos. Também há uma grande polémica sobre o local onde se terá realizado o célebre Alardo da Vilariça (é que há duas povoações possíveis de ter ocorrido porque ambas se chamam Vilariça, uma no concelho de Torre de Moncorvo, outra, muito perto do Azinhoso, concelho de Mogadouro).
Para concluir, devo chamar a atenção para uma reprodução “fac-símile”, do Tratado de Babe, incluído neste livro. Como o pergaminho original, guardado na Torre do Tombo está em muito mau estado, a Associação Bragança Histórica, de que o António Afonso é membro fundador, tomou a notável iniciativa de o mandar restaurar, parabéns!
Só me resta desejar ao leitor uma boa leitura desta notável peça de teatro.      

António Pimenta de Castro
in:altm-academiadeletrasdetrasosmontes.blogspot.pt

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