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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Nós Transmontanos, Sefarditas e Marranos - MANOEL CORTIÇOS DE VILLASANTE (1603 – 1650)

Esplendian Nunes é o primeiro que nos aparece com o sobrenome Cortiços possivelmente  por ter vivido  naquela vila medieval , hoje concelho de Macedo Cavaleiros, sendo filho   de Duarte Nunes,   que se dizia cavaleiro e “vivia de sua fazenda”,  natural de Cortiços, e de Leonor Nunes.  Segundo informação colhida no processo de Duarte Nunes Nogueira, o casal foi morador na Galiza. (1) Esplendián era casado com Beatriz Nunes de Castr, que lhe deu vários filhos, nomeadamente um Duarte Nunes Cortiços e um Gaspar Nunes Cortiços que, em data que desconhecemos, terão abalado para a Flandres, o primeiro deles fazendo carreira no exército de Flipe II de Espanha. (2)
Um terceiro filho chamou-se António Lopes Cortiços que, em finais do século de 500, casou com Luísa de Almeida, irmã de Manuel de Almeida Castro. O casal seguiu para Castela, fixando-se em Valhadolid onde Luísa tinha uma tia materna casada com o fidalgo D. Fernando Villasante. Isso permitiu a António Cortiços, por um lado, aproximar-se da Corte e consolidar uma empresa de importação de especiarias e pedras preciosas da Índia, açúcares do Brasil e telas da Flandres e, por outro, ascender à Ordem de Calatrava. (3)
Para ganhar mais consideração e respeito passou a usar o sobrenome Villasante, título que comprara a uma nobre família castelhana, já referida, por uma pensão mensal de 50 ducados, mais um fato de verão e outro de inverno. A condição essencial era que o reconhecessem como membro da família, e dessem público testemunho disso. Este facto seria fundamental para ele ascender à classe da nobreza, como se verá.
Vivendo na dependência da Corte, António Cortiços, com ela se mudou também para Madrid, instalando-se na “Calle  de Preciados”. Prova da sua ascensão no mundo empresarial foi a tomada das rendas da exportação das lãs e dos negócios dos portos secos, então já com a ajuda dos filhos, todos trabalhando em rede. De seus filhos, citamos:
1-Sebastião Lopes Cortiços, nascido em 20.11.1617, que casou com uma sobrinha, filha de seu irmão Manuel e, anos depois, ficou a dirigir as empresas da família.
2-Luísa Cortiços, que casou com seu primo Sebastião Lopes Ferro, futuro marquês de Castro Forte.
3-Manuel Cortiços, o grande construtor da chamada “Casa Cortiços”, uma das maiores casas empresariais naquele tempo. É sobre ele que vamos falar.
Andaria nos 25 anos quando o pai faleceu e Manuel tomou a direção das empresas da família. Era ainda solteiro mas o casamento estaria já apalavrado com sua prima Luísa Ferro, irmã de Sebastião Lopes Ferro.
Por 1634, Manuel Cortiços era tido como “assentista e factor d´el-rey”, significando isto que ele entrara na atividade bancária. Em breve ascenderia à posição de “banqueiro do rei”.
E como banqueiro de confiança, o rei delegou nele a nomeação de 16 capitães comandantes de outras tantas companhias de cavalaria empenhadas na guerra da Catalunha. Obviamente que os fornecimentos de géneros e ordenados, não apenas àquelas tropas, mas também aos destacamentos da Flandres eram assegurados pela Casa Cortiços, daí resultando bons lucros, naturalmente. (4)
Além de banqueiro, Manuel Cortiços Villasante revelou-se um cortesão exemplar, e foi, por Sua Alteza o rei Filipe IV, chamado à gestão do erário público, nomeando-o para o seu Conselho, com o cargo de “secretário da Contaduria Mayor de Cuentas y de las Cortes e Ayuntamientos de Castilla y León, escribano mayor y perpetuo de ellos, secretario de la comision y administración de millones y “factor” general de los servicios del reino”. (5)
A própria inquisição de Espanha fez questão de o contemplar com a nomeação de “Familiar do Santo Ofício”. E, no entanto, havia já denúncias de judaísmo contra ele!
Manuel Cortiços morreu de súbito, em 3 de setembro de 1650. Por sua alma foram dadas muitas esmolas a pessoas da nação hebreia, para que fizessem jejuns judaicos. E isso chegou ao conhecimento da inquisição, que lançou uma vaga de prisões entre familiares e amigos dos Cortiços, grandes mercadores e assentistas. Um verdadeiro terramoto social que abalou a burguesia cristã-nova portuguesa de Madrid. Curioso: sendo decretada a prisão da viúva, D. Luísa Cortiços, acusada por 32 testemunhas, ela acabou por não ser presa! E Sebastião Lopes Cortiços, seu irmão, igualmente acusado, também não foi preso!

Este último,  sucedeu ao irmão na direção da casa e, no que diz respeito a cargos honoríficos, Sebastião ultrapassou o  seu irmão Manuel  Cortiços. E, sem renunciar aos cargos que detinha nas Finanças do Estado, tomou para so o assento da exportação de lãs de Espanha para a Itália.
Segundo Federica Ruspio, os Cortiços Villasante detiveram aquele contrato de exportação da lã no anos 1621-1629 e 1631-1636. Cederam-no a Simão da Fonseca Pina que o administrou de 1637 a 1650. Obtiveram-no de novo entre 1682 e 1692. No decurso da sua carreira destingiram-se como compradores entre 1638 – 1652, e eram dos principais no que dizia respeito à lã de Segóvia. No que toca a Sebastião Cortiços, entre 1662 e 1665, ele foi responsável por 80% da lã exportada pelo porto  de Cartagena .
A mesma autora fala circunstanciadamente sobre a presença oficial de Sebastião Cortiços na cidade de Veneza, onde foi recebido  com toda a pompa e circunstância  pelas autoridades  da República, no ano de 1670, sendo homenageado com a representação de uma peça teatral da autoria do célebre Marco Boschini intitulada “La Regata único cimento  marítimo a l’ uso  venezian, rapresentà il presente ano sul Gran Canal de Venezia in honor  de l´ilustrissima ecelenza del sig.  cavalier don Sebastião  Cortizos de ordem de Calatrava  del  consegio dá azienda  de S. M.  Católica. (6)

De facto, sob a sua gerência e com Agostinho da Fonseca, seu parente e correspondente da Casa Cortiços naquela cidade, foram investidos por conta da empresa cerca de 190 000 ducados em imóveis na cidade lagunar e em Terraferma. Explica-se, assim a homenagem a este grande empresário, investidor estrangeiro.

À morte de Sebastião Lopes Cortiços, sucedeu-lhe, na direção da Casa, o seu sobrinho Manuel José Cortiços, filho do fundador Manuel Cortiços Villasante. Tal como o pai e o tio, também o Manuel José foi elevado à categoria de cavaleiro da Ordem de Calatrava, em 1668, e distinguido com o título de visconde de Valfuentes. Em 1674, ascenderia a marquês de Vila Flores.
Manuel José afirmava-se então como o assentista mais abastado e poderoso da corte de Carlos II. Contudo no ano de 1678, Manuel José foi constrangido a abandonar Madrid e “refugiar-se” em Nápoles  para escapar às disputas com coroa e os credores.
Da situação familiar de Manuel José, diremos que casou duas vezes. Primeiro com Mécia Ferro de Castro, sua prima e sobrinha, filha de Sebastião Ferro de Castro, seu tio, e de Luísa Cortiços, sua irmã. Deste matrimónio houve dois filhos: Sebastião Manuel Cortiços e Luísa Ferro Cortiços. 
Depois do falecimento de sua mulher, Manuel José voltou a casar, desta vez  com uma senhora da família dos condes de Vergheyth, de Bruxelas, da qual teve Giovanna.
No início dos anos 80, Manuel José foi estabelecer-se em Veneza, próximo da residência de Agostinho da Fonseca, falecido em 1681. (7) Ali morreu o seu único herdeiro masculino Sebastião Manuel Cortiços, em 1689,  e ele próprio  em 1691 .
Da família Cortiços Villasante restou Luísa Teresa Cortiços, que, em 1693, casou com Francesco de Galuzi mudando na ocasião a sua residência para Nápoles, e Giovanna Cortiços, que em 1705 , na  cidade lagunar  casou com Bartolomeu Santa Sofia. (8) 

NOTAS e BIBLIOGRAFIA
1- A.N.T.T. Inquisição de Lisboa  processo 10875 de Duarte Nunes Nogueira, solteiro , 50 anos  natural de Bragança,  morador  na vila de S. Paulo de Luanda, Angola, ouvidor  geral daquele reino, primo de Espledián. ANDRADE e GUIMARÃES, Nós transmontanos sefarditas e marranos, Duarte Nunes Nogueira  - Jornal Nordeste - 7 Fevereiro 2017.  

2- Andrade e Guimarães –Nós transmontanos sefarditas e marranos, Manuel de Almeida Castro  - Jornal Nordeste - 27 Dezembro 2016.  

3-ANDRADE e GUIMARÃES - Nas Rotas dos Marranos de Trás-os-Montes, pp. 41-77, Âncora editora, 2014.

4-AYÁN, Carmen Sanz – Consolidación y Destrucción de Patrimonios Financieros en la Edad Moderna. Los Cortiços (1630-1715), p. 2; SCHREIBER, Markus – Marranen in Madrid, 1600-1670, pp. 67-76.
BAROJA, Julio Caro – Los Judíos en la España moderna y Contemporânea, vol 2, p. 115: - …aprestó en varias ocasiones a los tércios de Flandres, adelantando 600 000 escudos en un momento.

5-BAROJA… ob. cit. P.115.

6- RUSPIO, Federica - Da Madrid  a Venezia : L’ ascesa  del mercante  nuovo cristiano  Agostino  Fonseca . Mélanges de L´Ecole  francaise de Rome  - Italie  et Mediterranée  modernes  et  comtemporaines (en ligne).

7- ANDRADE e GUIMARÃES, Agostinho da Fonseca, in: – Nós transmontanos sefarditas e marranos  - Jornal Nordeste, nº 1076, Bragança, 27.6.2017.

8- RUSPIO, Federica, ob. Cit.

António Júlio Andrade / Maria Fernanda Guimarães
in:jornalnordeste.com

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