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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

O meu jardim de sonho

Por: António Orlando dos Santos 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Há, na minha memória, imagens antigas que, mesmo sendo velhas de sessenta e tal anos, revejo como se tivessem sido registadas ontem. O tempo não as tornou nebulosas, mantêm-se nítidas e parecem intemporais, resistiram a toda a erosão que ele quis infringir-lhe e que regularmente consegue nas lembranças mais antigas. 
As que mantenho mais bem conservadas são as que pertencem ao álbum da minha rua. 
Puxo as memórias atrás e deparo-me com a gente que povoa ainda o meu imaginário. Quase sempre a recordação é amigável. Não há mal-estar entre as pessoas que fizerem parte da minha infância. 
É afável o semblante dos protagonistas e coloquial a linguagem. Há uma delas que me pertence e eu preservo com o sentido de posse apenas comparável ao de um colecionador que com a sua obsessão se haja tornado avaro. 
Passo a descrever. Há uma parede num quintal e ao centro dela está um nicho lavrado em granito sendo mais profundo dentro do caixilho. A água é contida ali vinda da encosta e queda-se límpida e cristalina. 
Em volta do nicho que emoldura a fonte há ervas várias que cobrem a parede e lhe dão um aspeto de frescura evidente, realçado pelo verde-escuro das azedas. Algumas flores espontâneas que salpicam o quadro: lírios roxos, amores-perfeitos, bocas de leão e bungavílias. São espontâneas porque não me recordo que alguém as plantasse ou mesmo cuidasse. Surgiam pelo tempo da Páscoa e mantinham-se até que, chegado Setembro, desapareciam para dar lugar às cores da horta em que se tinham transformado o quintal do meu fascínio. 
Da janela da minha casa, olhando em frente, o objeto do meu encanto enchia a minha imaginação de criança, o nicho que continha a fonte e que, pela sua beleza ali exposta, fazia do quintal da Albertina, da Dulce e da Madalena uma admiração que ainda hoje retenho! Não posso saber se os outros viam aquele espaço com os olhos com que eu o via. Quantas vezes, na minha meninice, me acercava da janela e, olhando em frente, via ou imaginava ver o jardim mais belo do universo. 
Já rapaz, era atrás da janela que lia os meus livros e, quando levantava o olhar, encontrava sempre essa beleza de pedra e flores. Ao progresso, que sem coração me levou o meu jardim imaginado, não perdoarei a ação vil e premeditada. Mantém-se a casa, danificada e descuidada, que, sempre que ali passo, me faz lembrar do meu jardim de ilusão e realidade, que tinha flores, virava horta e onde estavam a Albertina, a Dulce e a Madalena. Elas sorriam e eu sorria na fraternidade que só as crianças conseguem ter. 
O cancelo estava sempre fechado e, da rua, não se via o jardim, só da janela da minha casa se podia ver o encanto e a fantasia que o jardim possuía.

No jardim, que era, assim,
Pequeno, lindo, encantado,
Havia flores e uma fonte
E, quase sem ser cuidado,
Me prendia e fascinava
e, ainda hoje, me retém
n´aquele tempo passado.

As imagens, dizem os que sabem, valem mais que as palavras. As palavras, no entanto, podem reconstruir as imagens e, assim, com elas é possível voltarmos ao tempo que, já longínquo, ainda perdura na nossa memória e imaginação.
Foi afinal assim que eu consegui hoje reconstruir, aqui, tempo e ação da minha infância na nossa amada rua que o dito progresso destruiu.




Bragança, 24/02/2018
A.O. dos Santos 
(Bombadas)

1 comentário:

  1. Que linda e emocionante história!

    Abraços brasucas,

    Antônio Carlos Affonso dos Santos - ACAS

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