Vista da cidadela de Bragança |
Procura o que visitar em Bragança? Pois bem, é sempre um prazer regressar a Trás-os-Montes, uma das minhas regiões preferidas em Portugal – a par com o Douro, a Costa Vicentina e os Açores. Nesse contexto, nunca me canso de visitar Bragança, terra de excelente gastronomia, paisagens naturais de ímpar beleza e artesãos que lutam para não deixar morrer o saber-fazer tradicional. Tudo somado, não falta o que fazer em Bragança, especialmente no seu centro histórico e nas históricas aldeias do concelho – como Montesinho ou Rio de Onor.
Corredor Verde do Fervença, em Bragança, ao final da tarde |
Não foi a primeira vez que visitei Bragança; mas há muito tempo que não o fazia com o atento olhar de viajante, dedicando tempo a explorar a malha urbana e não apenas o lado rural do concelho. E o que descobri, em apenas dois dias, foi uma cidade agradável e bem cuidada, com calor humano e uma intensa vida social.
Assim, partilho um pouco da minha experiência a visitar Bragança, com referências às principais atrações turísticas que conheci, incluindo toda a zona amuralhada, igrejas, museus, percursos pedestres, artesãos e, claro, bons restaurantes. Eis, pois, o que fazer em Bragança numa estadia de dois ou três dias. Vamos a isso.
O que fazer em Bragança (a minha experiência)
Antes de mais, convém dizer que uma das coisas mais prazeirosas de Bragança é explorar sem rumo o seu centro histórico, no triângulo entre a Praça da Sé, a Cidadela e o Corredor Verde do rio Fervença. Sem grandes planos. Dito isto, e sem prejuízo dessa liberdade vagabunda, há um conjunto de património arquitetónico e espaços ligados às artes que vale a pena incluir num eventual roteiro para uma escapadinha a Bragança. São estas as minhas sugestões sobre o que fazer em Bragança.
Explorar a Cidadela de Bragança
Entrada na Cidadela de Bragança |
Vista de cima, a Cidadela de Bragança tem a forma de um coração – facto que parece encher de orgulho os bragantinos. Tive a sorte de percorrer os céus do concelho a bordo de uma pequena avioneta e comprovar esse facto, mas a verdade é que, corações à parte, a zona amuralhada domina totalmente a paisagem urbana da cidade. É lá que fica o Castelo de Bragança e o Museu Ibérico da Máscara e do Traje, tido como um dos mais bem preservados castelos portugueses…
Fotografar o Domus Municipalis
Interior do edifício Domus Municipalis, em Bragança |
O Domus Municipalis é, nas palavras dos entendidos, um “singular espécime da arquitetura civil românica”. Ao que consta, o edifício terá tido a dupla função de cisterna subterrânea, e sede das reuniões municipais, numa ampla galeria superior com arcos de pedra a toda a volta, onde se tomariam decisões sobre assuntos de interesse local. É simples mas belíssimo e muito fotogénico, estando classificado como Monumento Nacional desde 1910.
Apreciar os tetos da Igreja de Santa Maria
Nave central da Igreja de Santa Maria, na zona alta de Bragança |
Apesar de não ser apaixonado por igrejas ou arte sacra, tenho por hábito espreitar uma ou outra igreja nas cidades que visito. Foi o que aconteceu com a Igreja de Santa Maria, localizada junto ao Castelo de Bragança e ao Domus Municipalis.
Ora, não sendo eu entendido na matéria, dificilmente poderei opinar sobre os elementos decorativos da frontaria, das “colunas salomónicas”, do retábulo barroco ou do altar-mor; mas posso pelo menos dizer que o teto da nave central me chamou a atenção. Entre e levante o pescoço.
Museu Ibérico da Máscara e do Traje
Pormenor de uma exposição temporária patente no Museu Ibérico da Máscara e do Traje |
Pequeno, mas muito interessante – assim classificaria o Museu Ibérico da Máscara e do Traje, que tem como objetivo “preservar e promover a identidade e a cultura dos povos desta região de fronteira”. Inaugurado em 2007, o museu alberga uma relevante coleção de trajes, máscaras e apetrechos usados em diversas aldeias de Trás-os-Montes, de Lazarim (Lamego) e da província espanhola de Zamora durante as chamadas Festas dos Rapazes ou dos Caretos.
Para tal, a exposição dá a conhecer uma grande variedade de personagens, usos e costumes que, a cada inverno, das Mascaradas às festas de Carnaval, ganham vida naqueles territórios. Eu adorei. Caso ainda não tenha definido o que fazer em Bragança durante uma escapadinha ou férias mais prolongadas, não deixe de incluir a visita ao Museu Ibérico da Máscara e do Traje.
Subir às muralhas
Caminhando ao longo das muralhas da cidadela de Bragança |
Antes de abandonar a cidadela e de se dedicar às ruelas do centro histórico, vale a pena subir às muralhas e caminhar pelo seu topo para desfrutar de vistas magníficas sobre a malha urbana dentro da zona amuralhada e, claro, sobre a cidade de Bragança. Não é possível circundar a cidadela na sua totalidade pelo topo das muralhas, mas nem por isso deixe de o fazer. Fica a sugestão.
Centro de Arte Contemporânea Graça Morais
Sala de exposições no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais |
Fora da zona amuralhada, não falta igualmente o que ver e fazer em Bragança. Comecemos, pois, pela chamada “Rua dos Museus” – nome pelo qual é normalmente conhecida a Rua Abílio Beça. É lá que ficam o Museu do Abade de Baçal; o Memorial e Centro de Documentação Bragança Sefardita; o Centro de Fotografia Georges Dussaud; o Centro de Interpretação da Cultura Sefardita do Nordeste Transmontano; e o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais.
Recordo este último com especial prazer, já que não me esqueço de uma extraordinária exposição a que ali assisti, da autoria da artista israelita Dvora Morag. Chamava-se Disruptive Order e, nas palavras dos responsáveis, era uma “instalação em arte têxtil contemporânea”.
Foi assim, com grandes expectativas, que regressei ao Centro de Arte Contemporânea Graça Morais e, apesar da exposição temporária ali patente não me ter despertado muita atenção, é sempre um prazer rever as obras de Graça Morais. Um lugar fundamental em qualquer passagem por Bragança!
Centro de Fotografia Georges Dussaud
Centro de Fotografia Georges Dussaud, em Bragança |
Para aqueles que, como eu, gostam muito de fotografia, uma visita ao Centro de Fotografia Georges Dussaud é imprescindível em qualquer passagem por Bragança.
Nomeado em honra do fotógrafo francês, Georges Dussaud, que na década de 1960 fotografou intensamente a dura realidade da vida rural de Trás-os-Montes, o museu está instalado na chamada Rua dos Museus, a meio caminho entre o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais e o Museu do Abade de Baçal, num edifício razoavelmente amplo e com o atrativo adicional de haver exposições temporárias que convidam a um regresso.
Além das suas fotografias sobre a ruralidade transmontana, desta feita estava em exibição um belíssimo conjunto de fotografias tiradas durante uma viagem de Georges Dussaud à Índia. Recomendo sem reservas a visita ao Centro de Fotografia Georges Dussaud.
Museu do Abade de Baçal
Lobby do Museu do Abade de Baçal, Bragança |
Quem acompanha as minhas viagens sabe que sou mais de mercados, ruas e gente do que de museus. Mas, estando em Bragança, resolvi passar pelo Museu do Abade de Baçal, porventura o mais famoso museu da cidade. “As principais coleções que integram o acervo do Museu do Abade de Baçal são Arqueologia, Epigrafia, Arte Sacra, Pintura, Ourivesaria, Numismática, Mobiliário e Etnografia. Destacam-se, na pintura, os quadros de José Malhoa, Abel Salazar e um conjunto de cerca de 70 desenhos de Almada Negreiros”. Para quem aprecia museus de arte, dará com toda a certeza por bem empregado o seu tempo.
Igreja de São Vicente
Pormenor da talha dourada no interior da Igreja de São Vicente, em Bragança |
Localizada em frente ao Monumento aos Combatentes da Grande Guerra, a Igreja de São Vicente é um pequeno templo religioso onde entrei por mera curiosidade – quando, ao passar à sua porta, integrada num exterior extremamente sóbrio, reparei que estava aberta e decidi espreitar. E ainda bem que o fiz.
Fica a nota para o trabalho em talha dourada da capela-mor, que, apesar de não gostar, sempre me fascinou. Ou, nas palavras de quem sabe: “No interior, importa salientar a capela-mor com abóbada estrelada, policromada com ornamentos vegetalistas, e o revestimento a talha dourada em estilo rocaille, que se repete no arco triunfal e nos retábulos laterais”. Fica a sugestão.
Corredor Verde do Fervença
Passadiços junto ao rio Fervença, um dos novos espaços públicos para usufruto dos bragantinos |
Também conhecido como Parque Urbano do Fervença, o Corredor Verde do Fervença é uma área urbana requalificada que, nas palavras da autarquia local, “veio dignificar e beneficiar o rio Fervença na sua passagem pela cidade, tornando-o mais visível e acessível a todos os cidadãos e, em particular, a todos os residentes da zona ribeirinha”.
Tem uns passadiços de madeira que convidam à prática de desporto ou passeios em família, promovendo um diálogo mais estreito entre os bragantinos e o seu rio. Mesmo não sendo daquelas coisas óbvias para incluir numa lista com o que fazer em Bragança, pareceu-me especialmente indicado para uma retemperadora caminhada ao final da tarde.
Arte urbana: obras de Bordalo II (Gineta, Camaleão e Javali)
Camaleão, uma das obras de Bordalo II que é possível observar em Bragança |
Já várias vezes escrevi que sou fã do brilhante trabalho criativo de Bordalo II. Ora, estando a visitar Bragança e tendo Bordalo II três obras na cidade da sua série Trash Animals, – a Gineta e o Camaleão, e ainda o Javali -, tinha mesmo de as ver de perto. São todas fantásticas.
De referir, a propósito, que Bragança tem apostado ao longo dos anos na arte urbana, nomeadamente através do festival SM’ARTE – Festival de Street Art de Bragança, que acontece de forma bienal no mês de junho e levou à cidade transmontana nomes como Bordalo II, Draw, Leon Keer, Mário Belém e muitos outros.
Hoje, Bragança conta com dezenas de intervenções artísticas espalhadas um pouco por todo o seu território. A não perder.
Artesãos de Aveleda (navalhas e máscaras tradicionais)
Gilberto Ferreira, fabricante de navalhas artesanais |
Por falar em artistas, a aldeia de Aveleda, localizada a apenas 15 km da cidade de Bragança, parece ser um viveiro de criativos. Isidro Rodrigues, por exemplo, ao perceber que já não havia na aldeia artesãos que fizessem as máscaras para o ritual da Festa dos Rapazes, decidiu pôr mãos à obra. Para não deixar morrer a tradição, pegou em modelos de máscaras antigas e começou a fazer máscaras com chapa zincada ou latão velho que encontra no lixo. São lindas!
Gilberto Ferreira, por seu turno, fabrica facas e navalhas artesanais numa pequena oficina em Aveleda. “O transmontano anda sempre com uma navalha no bolso, até porque quem não tem navalha não come presunto”, diz.
Eu gostei tanto que fiquei com muita vontade de voltar, com mais calma, para melhor documentar o trabalho destes homens.
Não deixem de conhecer Aveleda.
Visitar a aldeia de Montesinho
Ambiente tranquilo na aldeia de Montesinho |
Localizada em pleno Parque Natural de Montesinho, a cerca de mil metros de altitude, a aldeia de Montesinho é, provavelmente, a mais bela aldeia tipicamente transmontana situada no território bragantino. Terra de gente hospitaleira, as suas belas casas em granito, embelezadas com telhados em lousa e varandas floridas de madeira não deixam ninguém indiferente.
“Em qualquer estação do ano, é possível calcorrear as ruas e vielas, todas empedradas, respirar ar puro, visitar a Igreja, o Museu e o Núcleo Interpretativo, ouvir e ver a avifauna abundante e trocar impressões com os residentes que simpaticamente interagem e nos contam histórias típicas de outros tempos. Na noite tranquila, é possível sentir o silêncio e apreciar o intenso brilho das estrelas que parecem estar suspensas na imensidão de um céu límpido.”
in Câmara Municipal de Bragança
É tudo verdade; mas, infelizmente, não tive muito tempo para explorar Montesinho convenientemente. Fica a promessa de voltar em breve e fazer algum dos percursos pedestres da região; tal como fiz em Rio de Onor, outra das aldeias mais conhecidas de Bragança.
Visitar a aldeia de Rio de Onor
Rio de Onor, uma das aldeias mais especiais de Bragança |
Já tinha tido oportunidade de visitar Rio de Onor, passear pelas suas ruas, conhecer a Casa do Touro, o forno comunitário, a ponte romana, a igreja, as casas de xisto e os seus carabelhos. Deixar-me estar e absorver o ambiente ímpar desta aldeia comunitária para cujos habitantes a fronteira administrativa entre Portugal e Espanha pouco significado tem.
Já tinha feito isso tudo, é certo, mas não tinha ainda conhecido o emblemático Ti Mariano e ouvido da sua boca as histórias associadas à vara da justiça, que servia para registar as infrações às regras comunitárias e cujas multas eram pagas em vinho.
Sim, a lugares como Rio de Onor nunca me importo de voltar.
Dica: se possível, evite ir a Rio de Onor durante o verão ou em fins de semana prolongados, já que a aldeia enche-se de turistas portugueses e espanhóis e o ambiente fica pouco tranquilo. Tenha também bom senso e muito respeito na hora de fotografar os habitantes de Rio de Onor; alguns já não suportam que lhes apontem câmaras fotográficas.
Fazer o Percurso do Carvalho (Nove Passos)
Percorrendo o Trilho do Carvalho, nas proximidades de Rio de Onor |
Integrado no projeto Nove Passos, que visa promover um percurso pedestre em cada um dos concelhos que integram a Comunidade Intermunicipal das Terras de Trás-os-Montes (CIM-TTM), o Percurso do Carvalho é um percurso pedestre circular outrora denominado apenas como PR11 – O lado português de Rio de Onor, com início e fim na aldeia de Rio de Onor, e cujo nome se deve a um carvalho centenário que é possível observar durante a caminhada.
O Percurso do Carvalho, inserido no extremo nordeste do Parque Natural de Montesinho, foi especificamente selecionado por se situar num dos locais com maior abundância de veados em estado selvagem em Portugal, aumentando assim a probabilidade de observar estes majestosos e esquivos animais. Para o efeito, foi criteriosamente escolhido um local com excelente visibilidade sobre o vale, onde frequentemente se juntam dezenas de veados. Deste ponto elevado podem observar-se os animais, reduzindo ao mínimo a perturbação sobre esta e outras espécies selvagens.
Este percurso pode ser visitado ao longo de todo o ano, com boas possibilidades de observação de veados. Ainda assim, o período entre setembro e outubro, coincidente com a época da brama, é o período mais adequado para os observar em estado selvagem. A brama corresponde ao período de acasalamento da espécie, em que muitos animais se juntam em grupos, e os machos assinalam a sua presença através de fortes bramidos. Nessa altura, especialmente nos períodos do nascer e do pôr do sol, a probabilidade de ver e escutar animais desta espécie é mais elevada. Salienta-se ainda neste percurso a presença de uma árvore notável, um carvalho-negral (Quercus pyrenaica) centenário, de grandes dimensões, que inclusive está na base do nome do percurso.
in brochura do percurso (em PDF)
Pela minha parte, posso dizer que não avistei nenhum veado, mas a verdade é que não fiz a caminhada nem às primeiras horas da manhã nem ao final da tarde, alturas em que a probabilidade de isso acontecer teria sido bem maior. Sugere-se, além disso, que esta seja iniciada preferencialmente pela margem direita, seguindo no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio.
Existe uma app Nove Passos que fornece informações sobre os pontos de interesse do percurso, disponível tanto na App Store como no Google Play. Aconselho que a use durante o passeio.
Comer sopa de castanha no Solar Bragançano
Pátio exterior do restaurante Solar Bragançano |
Estou ciente de que esta referência é um pouco injusta. Não apenas porque no Solar Bragançano há outras iguarias deliciosas; mas, principalmente, porque o que não falta em Bragança são restaurantes de enorme qualidade. Dito isto, se há prato que me ficou na memória nesta passagem pelas terras quentes de Trás-os-Montes foi, precisamente, o creme de castanhas que provei no Solar Bragançano. Absolutamente divinal! Experimente à confiança.
Estando em Bragança, não deixe também de experimentar restaurantes com gastronomia criativa e saborosa, menos focada nos pratos tradicionais transmontanos, como é o caso do Alma Lusa e da Taberna do Javali (ver Gastronomia e Onde Comer, abaixo).
Comprar produtos locais na Marron – Oficina da Castanha
Interior da loja Marron, no centro de Bragança, onde se vendem produtos derivados da castanha |
Sendo a castanha uma matéria-prima cada vez mais valorizada em Trás-os-Montes, começam a surgir alguns projetos focados nesse fruto.
É o caso da loja Marron – Oficina da Castanha, onde é possível encontrar um leque variado de produtos derivados do castanheiro. Da pastelaria aos licores, passando por cervejas de castanha artesanais, mel de castanheiro, chá de folha de castanheiro e farinha de castanha – entre muitos outros produtos! -, não falta por onde escolher. A visitar.
Publicação original AQUI.
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