Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Então, e agora? Pois bem, valendo o que vale, no meu entendimento, agora restam apenas duas tarefas: entender o que se passou e agir em conformidade. Apesar do muito que já foi dito e escrito, não me parece que haja forma de escapar ao que se tornou evidente: o descontentamento, a indignação e a revolta dos mais fracos que, tradicionalmente alimentaram e fortaleceram os partidos de esquerda deixou de encontrar aí o abrigo e conforto e passou a ser magistralmente usado pela extrema-direita como adubo eficaz das sementes da intolerância plantadas na injustiça e enxertadas na imunidade de alguns poderes, assentando aí o seu programa de protesto para atacar o regime democrático, paradoxalmente, mais do que na organização e direitos políticos, querendo destruí-lo nas questões sociais, na solidariedade e na proteção dos mais desprotegidos. E a realidade deu-lhes uma ajuda. Paulo Raimundo e os dirigentes do PCP não podem estranhar terem perdido o apoio das dezenas de milhar dos trabalhadores desfavorecidos que a somar aos sacrifícios diários se tenham deparado com a infernização de uma greve dos transportes e que apenas a eles prejudica, organizada por um sindicado apoiado pela estrutura comunista que, inclusive, colocou nas listas para a Assembleia da república o seu mais destacado sindicalista.
Por idênticas razões, só por exagerada ingenuidade Maria Mortágua poderia esperar ter o voto daqueles que, oportunamente, acompanhou, de madrugada, na sua penosa jornada diária em busca da subsistência do dia a dia com enormes sacrifícios e abnegação mas a quem abandonou, nos dias da tal greve, atrás referida, sem uma única palavra de conforto e muito menos qualquer condenação, por mais tímida ou leve, para quem se recusou a transportá-los para os longínquos e necessários locais de trabalho.
E o que dizer de quem espera e desespera, nas urgências dos Hospitais, sobretudo aqueles que, fruto de competentes PPPs, funcionavam bem e agora não conseguem dar uma resposta satisfatória aos utentes quando, apenas por uma questão ideológica, voltaram a ter gestão pública? António Costa entendeu bem que, tendo-se apoiado à esquerda para ascender ao governo da Nação, a ideologia que lhe estava a ser imposta, de pouco valia se não se traduzisse em atuação prática e, sobretudo, pragmática. Por isso, logo que pode, começou a afastar-se da linha original e, com isso, alargou a base eleitoral chegando à maioria absoluta. Pedro Nuno, pelo contrário, entendeu que era altura de “fazer render” os créditos alcançados na bem-sucedida negociação da geringonça e… arrastou o seu partido para o conhecido descalabro.
Outros argumentos poderiam ser avocados para justificar (se mais justificações fossem necessárias) para entender a escolha do eleitorado no passado dia 18. Mas, entendê-la, não quer dizer que se tome como boa.
Respeitando, obviamente, a escolha eleitoral, é tempo de abrir trincheiras e combater, de forma democrática e racional as soluções que, alavancando-se no medo, na falsidade e na deturpação de realidade percetível, apelam ao ódio, à intolerância, ao xenofobismo e ao racismo, usando a demagogia e o endeusamento de quem, falsamente, a todos promete a esperada bem-aventurança.
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.


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