População revoltada com a intervenção levada a cabo pelo IGESPAR na Igreja, onde chove como na rua.
A população de Castro de Avelãs, no concelho de Bragança, está revoltada com o estado de abandono a que foi votada a Igreja do Mosteiro, um monumento classificado, onde «chove como na rua».
Quem nasceu e viveu nesta pacata aldeia situada às portas da capital de distrito aponta o dedo ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico (IGESPAR), pela má gestão dos recursos financeiros. Num placar colocado às portas do templo, populares e visitantes são informados de que ali foram gastos 300 mil euros, comparticipados em 225 mil euros por fundos comunitários, no âmbito de uma candidatura ao programa Interreg.
“Dizem que gastaram aqui 300 mil euros nas escavações. Se tivessem posto o telhado à igreja e tivessem limpo e pintado os altares, a população ainda lucrava alguma coisa, assim não temos nada”, lamenta Elisa Fernandes, a zeladora do templo.
É com tristeza estampada no rosto que esta habitante de 69 anos fala do mau estado em que se encontra este monumento. “É uma mágoa ver uma igreja destas ao abandono. A colocação de um telhado novo é uma prioridade”, salienta Elisa Fernandes.
Nos últimos dias de Verão, a zeladora pelo templo recorda a árdua tarefa que teve durante o Inverno. “Passei a vida a tirar latos cheios de água dos altares, a apanhar água do chão e a trocar as toalhas”, vinca a idosa.
Segundo os populares, quem visita Castro de Avelãs pela fama que lhe dá o mosteiro fica desiludido com o estado em que se encontra o património.
“Passaram por aqui uns senhores que vieram ver o mosteiro e disseram que é impossível terem gasto aqui o dinheiro que está na placa. Dizem que não se vê nada”, conta Lúcia Jorge, de 73 anos.
População de Castro de Avelãs reivindica o espólio encontrado nas escavações arqueológicas.
As escavações realizadas pelo IGESPAR para pôr a descoberto as ruínas do histórico Mosteiro Beneditino também deixaram a população descontente. “Disseram que os achados que aqui encontrassem que os levavam para limpar, mas que depois os traziam e mostravam à população. Já passaram três anos e ainda não vimos nada”, reclama Elisa Fernandes.
Quem tem raízes em Castro de Avelãs reivindica o espólio encontrado nas escavações e a criação de um espaço museológico para que quem visita esta aldeia possa conhecer um pouco da sua história.
Além disso, os populares alertam para a degradação das ruínas do mosteiro que foram postas a descoberto. “Deviam ter tapado isto. Os tijolos já se estão a desfazer. Agora vem o Inverno, a chuva e o gelo vai estragar tudo. Quando chegar a Primavera não temos nada”, lamenta a zeladora pelo templo.
O que vai deixando os habitantes de Castro de Avelãs com um sorriso no rosto foi a recuperação exterior da Casa Paroquial, um edifício histórico onde, segundo os populares, viveram os monges. As obras, que custaram cerca de 40 mil euros, foram apoiadas pela Câmara Municipal de Bragança e incidiram na recuperação das paredes, colocação do telhado, de portas e janelas e reconstrução da varanda.
Agora a população reclama o arranjo interior da Casa Paroquial. “ Tenho um desgosto por não conseguir dinheiro para arranjar a casa. Ainda morro sem ser composta. Não queremos cá luxos, mas gostava que estivesse arranjada por dentro”, desabafa Elisa Fernandes.
Rica em património histórico, esta aldeia espera, agora, que o IGESPAR invista na conservação dos monumentos que dão fama à localidade e a colocam nos roteiros dos monumentos mais emblemáticos.
(Teresa Batista, Jornal Nordeste, 2010-09-16)
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