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Mensageiro de Bragança: Como é que recebeu esta nomeação?
D. José Cordeiro: Disse já, na mensagem que dirigi à diocese, que a recebi com um misto de temor e tremor, mas, sobretudo, de esperança e confiança. Aceitei como um desafio, sei que é uma cruz. Hoje ser bispo não é uma honra, é um serviço e não fui eu que pedi, a Igreja entendeu que deveria ser eu. Mediante aquilo que me foi apresentado só poderia dizer que sim. Acredito que Deus fará o resto.
MB: Conhece bem a diocese, considera que isso poderá ser uma vantagem, já que foi a diocese onde se formou como sacerdote?
D. José Cordeiro: Sim, é uma vantagem, o conhecimento. É certo que já há 12 anos estou fora. Acompanhava a vida da diocese, tal como no início. Quando fui convidado para ficar em Roma pedi vir no Natal, na Páscoa e no Verão. Tinha essa oportunidade de colaboração pastoral directa com a diocese, com o Bispo e com os padres. Também acompanhava através do Mensageiro de Bragança que, desde há 12 anos, recebo semanalmente, e que me mantinha informado sobre a vida do distrito, da diocese e da região.
MB: Qual é que acha que é o seu maior desafio?
D. José Cordeiro: O maior desafio, que tenho como primeiro, é a escuta, o saber escutar, ouvir a realidade, para depois ver a melhor forma de a servir. No dia 18, ou melhor uns dias antes, quando me comunicaram, e depois de uma longa conversa, disseram-me que a diocese me era entregue como esposa. Esta metáfora ajudou-me, também, e ajuda, a viver estes dias, porque diz respeito a uma aliança, uma relação. Eu apresento-me de coração inteiro, com aquilo que sou, para o serviço desta poção do povo de Deus que é a diocese e acredito que será possível, porque esta cruz é uma cruz florida, é uma cruz da Páscoa, que é levada por todos.
MB: Mas é uma diocese grande, com más estradas. Freixo de Espada à Cinta, por exemplo, é longe. Como é que vai conseguir estar presente junto dessas comunidades?
D. José Cordeiro: Quando me comunicaram a nomeação também me referiram isso. Eu já o sabia, que era uma território grande, mas como era jovem, teria capacidade para o visitar. Tenho intenção de o fazer. Já o conheço, mas como Bispo, logo que seja possível, nessa mesma atitude, que referi, de escuta, em primeiro lugar de padres. É o meu primeiro desejo e espero que seja a primeira realização e acção, porque sem eles o Bispo não se concebe. Depois todas as outras pessoas que compõem esta diocese, as autoridades, os leigos, os religiosos, as instituições, associações, tudo aquilo que somos nestas terras de Bargança-Miranda.
MB: Numa diocese com uma população envelhecida e um clero, também, não muito jovem, pensa que a sua juventude será uma mais-valia?
D. José Cordeiro: Pode ser. Eu também não quero destacar isso em mim. Não quero assumir nenhum protagonismo em razão de ser o Bispo mais novo. Acho que isso ainda me traz uma maior responsabilidade. Quero aprender muito também com os outros que já são bispos e exercem esse ministério ao serviço das dioceses em Portugal, mas isso também não me intimida, porque eu não sou o dono da diocese, nem quero centrar o meu episcopado nem a minha acção pastoral em mim. Quero criar uma co-responsabilidade, e espero ter essa resposta da parte do presbitério, em primeiro lugar. Por isso é com muita esperança e também com coragem que enfrento estas realidades e dificuldades, mas olho para as dificuldades como novas oportunidades e acredito que aquele que me chamou, na perspectiva de fé, que é Deus, é muito maior do que essas dificuldades e essas realidades que estão entre nós. Há uma outra coisa que eu costumo dizer, já há muito tempo, no que se refere à realidade das estatísticas. Na Igreja, as estatísticas, são a nossa ruína. É bom termos isso como referência. É muito importante, sobretudo na área da sociologia, ajuda-nos muito. Mas nós não vivemos em função disso. O nosso caminho é outro, porque nós somos missionários no sítio em que estamos e a nossa missão é sermos capazes de transmitir aos outros os mistérios de Deus, de Cristo. É essa a minha primeira função, o serviço das pessoas. Não sou o salvador da pátria, não venho revolucionar as coisas. Na Igreja há uma continuidade na renovação. Acredito que sim e vejo que há muita esperança nesse sentido e muita expectativa e muitas vontades já manifestadas de renovar. Vamos ver o que é possível fazer, com prudência, com calma, com serenidade, com respeito profundo pela cultura e pelas pessoas, e com a determinação clara de ser este servidor da esperança. Desde o início, quando me foi pedido este ministério, que muda também a vida completamente, propus-me a ser isso, um servidor da esperança.
MB: Mas com o facto de haver muitos párocos já com alguma idade, será que os jovens que estão a sair do Seminário serão suficientes para depois repor as necessidades da diocese?
D. José Cordeiro: Eu ouço dizer que os padres que somos, somos suficientes para a realidade que é a diocese de Bragança-Miranda. Isso vai exigir de nós muita coisa, uma grande requalificação pastoral, certamente, ou outras que eu não sei quais são. Não trago soluções nem receitas. Espero, depois de ouvir, de escutar, podermos concretizar algumas delas. O que pudermos, porque a realidade é o que é e não vamos mudar de qualquer maneira e feitio, só porque pensamos de maneira diferente. Mas, mesmo esse envelhecimento, em relação a outras dioceses não é tanto como se diz, porque a média de idade dos padres de Bragança anda pelos 57, 58 anos. Não é assim tão alarmante.
MB: Mas não é essa a ideia que passa.
D. José Cordeiro: Passa, mas é a todos os níveis. Mas, nós que estamos cá, temos também de mostrar que não temos nenhum complexo de inferioridade e que somos tão bons ou melhores do que os outros, em todas as áreas, e é esta auto-estima que temos que criar em nós. E a verdadeira auto-estima, na Igreja, é a humildade. A humildade é andar na verdade e a nossa verdade é esta. Que contributo nós poderemos oferecer às outras igrejas, às outras dioceses, com as quais até já colaborámos, em nós próprios iremos descobrindo, à medida que formos caminhando. Nisso estou cheio de esperança, porque vejo que não é um projecto meu, não é uma minha missão, mas uma missão alargada, co-responsável, com todos aqueles que, de coração sincero, verdadeiro e autêntico desejem continuar a seguir o projecto que é o projecto de Cristo, que é o projecto da Igreja.
MB: O seu antecessor, o Sr. D. António Montes Moreira disse, recentemente, numa entrevista à imprensa, que o maior desafio que talvez o Senhor tivesse é o facto de para o cidadão comum a Igreja não ser prioritária. Ele deu como exemplo o facto de num casamento acabar por ser mais importante para os noivos a festa, do que propriamente a parte religiosa. Ele considera que é um desafio chamar as pessoas de volta.
D. José Cordeiro: Há muitos desafios. Hoje mesmo estive num encontro com o Sr. D. António Montes, agradeço-lhe todos os conselhos e todo o fruto da sua experiência ao longo destes anos, mas não quero colocar nenhum desafio em concreto e muito menos comentar as suas afirmações. Quero dizer que, em conjunto, vamos ao encontro dos desafios, enfrentá-los, não os ignorar, não os contornar e, naquilo que nos for possível, ultrapassá-los e dar um rosto cada vez mais belo e novo a esta Igreja que somos.
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