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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Entrouxes, Entrudos e Máscaras


País fora há ainda um Entrudo vestido com preceitos tradicionais. Rituais intemporais onde cabem diabos, caretos, entrouxes. Figuras que reavivam a chama de uma celebração imune aos martelinhos, aos corsos apoteóticos e aos calores tropicais.
Há uma renovação de vida que o Entrudo comemora. Finda o Inverno, desperta a Primavera. Um antagonismo entre estações personificado em rituais que encerram figuras turbulentas. Soam chocalhos e, nas aldeias, correm figuras demoníacas com máscaras. Tradições ancestrais, misto de pagão e religioso, exaltam um tempo que é de renovação, de transição entre o velho e o novo e também de iniciação à idade adulta. Manifestações que assentam, provavelmente, em celebrações primitivas associadas a festas de carácter orgíaco, como as bacanais gregas a Baco, deus do vinho e dos excessos, ou as saturnais, em honra a Saturno, divindade romana da agricultura. 
O Entrudo traduz-se, ainda hoje, em dias de excesso e de libertação antes da abstinência e privações da Quaresma. País fora persistem tradições associadas ao fim do Inverno, símbolo daquilo que passou. Daí os muitos enterros e sentenças à fogueira: do velho, do galo, do Entrudo, do bacalhau. Este último é afogado ou mesmo despedaçado a tiro. O tempo é, também, de combates. No caso vertente entre o Inverno e o Verão. Teatro que encena o estio com jovens floridos e a invernia com figuras andrajosas, demoníacas. Celebrações caóticas, pejadas de versos insultuosos, simulando batalhas entre sexos. A sátira é protagonista no Entrudo. Pula a coberto das máscaras, em palavras mordazes ou em letras compostas para o efeito, como acontece na ilha Terceira, Açores. Dias de crítica política e social de carácter regional e nacional. 
Entrudo é, também, mesa. Nas cozinhas preparam-se pratos à base de carne de porco. Consolo para espíritos e estômagos que entram, até à Páscoa, em 40 dias de abstinência.
Em jeito de périplo nacional fica o relato de algumas das manifestações genuínas do Entrudo português.
Os caretos de Podence:
O Inverno frio e silencioso das geografias transmontanas é quebrado com o Entrudo de Podence, concelho de Macedo de Cavaleiros. Nas ruas empedradas saltam figuras demoníacas com chocalhos à cintura. Vestindo a pele de caretos há homens. Carregam chocalhos que batem contra o corpo das mulheres. Um ritual do chocalhar «relacionado com a fertilidade», como explica António Carneiro coordenador do Grupo de Caretos de Podence. As mulheres, querendo fugir às investidas dos endiabrados caretos, vestem-se de homem durante o Entrudo. Os trajes dos caretos são elaborados com colchas franjadas de lã ou de linho, em teares caseiros. As máscaras são de latão. Depois de décadas de ausência, «os caretos tornaram-se um cartaz turístico. A nossa aldeia tem entre 300 a 400 habitantes. Nos três dias de Entrudo recebemos milhares de visitantes». O grupo tem um núcleo efectivo de 20 homens, que ao longo do ano aceitam convites para animar festas com os seus caretos.
Diabos em Vinhais:
O Entrudo em Vinhais, Trás-os-Montes, assume características muito próprias, estendendo-se até ao primeiro dia da Quaresma, a Quarta-Feira de Cinzas. A festa atrai elevado número de jovens que mantêm a tradição. Na Terça-Feira Gorda decorre o tradicional desfile com a figura do Rei Momo. Este, depois de transportado no esquife e acompanhado pelas numerosas viúvas que choram a sua morte, é queimado no Largo do Arrabalde. Isto depois de lido o testamento, uma sátira em jeito de crítica social.
Um dos momentos mais peculiares do Entrudo de Vinhais começa exactamente à meia-noite de terça para quarta-feira. Surgindo de esquinas e recantos, os temidos diabos, figuras vestidas com flanelas vermelhas, ameaçam e assustam os foliões que se mantiveram após as 12 badaladas. Isto porque o tempo é, depois da meia-noite, de Quaresma e de penitência.
Durante a Quarta-Feira de Cinzas, o ambiente em Vinhais é fortemente marcado pela presença de dezenas de diabos à solta pelas ruas, sequiosos de almas pecadoras, recriando, anualmente, um ritual ancestral denominado pelo povo como o Dia da Morte e dos Diabos.
Pai Velho em Lindoso:
O Entrudo, em Terras de Lindoso, concelho de Ponte da Barca faz-se com o cortejo próximo ao núcleo de espigueiros onde assome a figura do Pai Velho, uma representação do Inverno. Trata-se de um busto de madeira levado em carro de bois, antecedendo um outro carro, o das ervas, significando a Primavera. Os animais, com a cornadura ornada com braçadas de flores e carregados de campainhas, deslocam-se até à eira comunitária. A abrir o cortejo vai a lavadeira, enfeitada com os cordões de ouro dos avós. Atrás seguem as rusgas de concertinas, bombos, ferrinhos e castanholas. Não faltam as máscaras dos mais foliões. Com a chegada da meia-noite de terça-feira queima-se, finalmente, o Pai Velho. Ao boneco é então lido o testamento. O rosto em madeira e o vestuário ficarão guardados em local secreto, a cargo dos mais velhos da aldeia, até à festa do ano seguinte.
Comadres e compadres em Lazarim:
Em Lazarim, concelho de Lamego, o Entrudo é precedido pela Semana dos Compadres e das Comadres. Em segredo preparam-se as quadras destrutivas do testamento que será lido, mais tarde, na Terça-Feira Gorda. No Domingo Gordo à tarde começa a folia. Os caretos chegam. Tocam as bandas, reúnem-se os carros alegóricos, dançam os ranchos folclóricos, desfilam os gigantones. O epílogo ocorre na terça-feira quando o desfile atrai uma multidão às ruas de Lazarim. Ao início da tarde os mascarados surgem em pequenos grupos que se misturam com a população. Depois do desfile os compadres e as comadres iniciam uma luta verbal de rimas. Não falta a malandrice e as tiradas picantes. Depois, faz-se a leitura dos testamentos. Uma rapariga lê o testamento do compadre e o rapaz o da comadre. A rivalidade entre sexos traduz-se em liberdade nas palavras. Terminado o «ajuste de contas» e imolados bonecos que simbolizam os compadres e comadres, prossegue o cortejo até ao local onde o fogueteiro encerra o Entrudo. Depois, é altura de saborear o tradicional caldo de farinha, a feijoada e o vinho. 
Os caretos de Lagoa de Mira:
Perde-se no tempo a origem destes caretos. João Luís Pinho, responsável pelo grupo de caretos da vila do distrito de Coimbra, adianta que «os habitantes mais velhos, alguns com 90 anos de idade, recordam a presença destas figuras desde a infância e de histórias contadas pelos avós sobre estes seres carnavalescos». Caretos estes com semelhanças aos do nordeste do país. «Também aqui parece haver uma ligação a rituais pagãos relacionados com a iniciação dos rapazes na idade adulta», adianta João Pinho. De forma endiabrada, demoníaca, agitando chocalhos, os caretos metem-se com as raparigas, a quem está interdita a participação no ritual. Depois de assustarem e agarrarem as raparigas, os caretos tentam mimá-las, «as que deixam, claro», conta João Pinho. O traje é garrido. A saia do careto é vermelha numa alusão ao pecado, a camisa branca, símbolo de pureza. Nas máscaras sobressaem enormes chifres.
Trapalhões em Castelo de Vide:
Figuras representando tarefeiros, lavradores, classe operária deixam as muralhas do castelo e descem às ruas da vila alentejana. Vestidos com trapos velhos e com cortiça, os rapazes perseguem as raparigas de classe social idêntica. Em Castelo de Vide, no início do século XX surgem os primeiros registos das comemorações do entrouxes, palavra relacionada com o uso de trapos. Hoje a tradição mantém-se, mas mudou de nome. No Entrudo Trapalhão da vila alentejana, os rapazes colocam ainda nas costas pedaços de cortiça numa imitação de corcundas e lutam, entre eles, com paus. 
Bailinhos na Ilha Terceira:
O Entrudo da ilha Terceira está ligado ao teatro, à rima, à dança, à música. Uma festa com uma forte componente de crítica política e social. Em cada freguesia da ilha açoriana, um ou mais grupos, os bailinhos, compõem uma cantiga, com respectiva música, e ensaiam uma coreografia. Costuram ainda as suas roupas. Nos dias de folia saem às ruas animando as gentes com interpretações carregadas de comicidade.


in:Café Portugal; fotos - Progestur/ Festas de Inverno com máscaras

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