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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Plano de lotaria para fundar o estabelecimento da filatura e organsinagem da seda em Trás-os-Montes, apresentado por Rodrigo de Sousa Coutinho (1786)

Freixo de Espada à Cinta,
vila onde ininterruptamente, desde o século XV,
se manteve a fiação e tecelagem da seda.
Seja-me lícito fazer chegar à augusta presença de s. m. debaixo dos auspícios de um grande ministro de Estado, igualmente respeitável pelas suas luzes e patriotismo, um plano para fundar solidamente a nova e necessária introdução da cultura da amoreira, e do modo de fiar e torcer a seda à piemontesa, sem a menor deterioração ou gasto da Real Fazenda, no momento em que este estabelecimento necessita de um grande capital avançado, o qual se poderá seguramente achar pelo meio da lotaria aqui exposta, e que é em tudo análoga àquelas que anualmente se publicam em Londres, e que se chamam English State Lotery. Mas antes que a exponha, seja-me lícito mostrar os fins para que eu proponho o benefício desta lotaria.
É inquestionável que enquanto em Portugal não adoptarmos o método de fiar e torcer a seda à piemontesa, hoje geralmente adoptado, jamais as nossas sedas poderão servir-nos, nem para boas tramas, nem para organsins, e sempre os estofos que delas resultarem serão de pouco valor, e não poderão sustentar a concorrência dos estofos estrangeiros. É igualmente certo que este método se não poderá adoptar sem o estabelecimento das filaturas e moinhos de organsinar, que são obras muito dispendiosas, principalmente nos países onde é necessário fundá-los de novo, e onde não existem nem arquitectos que as saibam construir. Finalmente, é infelizmente certo que nem a mesma cultura da amoreira, nem talvez as suas melhores espécies (sendo muitas as variedades destas árvores) são ainda conhecidas em Portugal; e consequentemente, tudo o mais que diz respeito à melhor criação do bicho da seda é perfeitamente ignorado. Para estabelecer consequentemente esta grande e nova fonte de riqueza nacional, é preciso principiar desde os primeiros alicerces do edifício, aproveitando todas as luzes do século em que vivemos, e tirando ao menos esta vantagem de sermos os últimos que abrimos os olhos sobre esta tão importante matéria.
Segundo os mesmos princípios que se acham expostos em uma anterior memória que escrevi sobre esta matéria, creio que seria melhor principiar a introduzir este método na província que tem já hoje alguma cultura de seda, que é a de Trás-os-Montes, para que uma vez experimentados os benefícios deste estabelecimento, possa servir de escola às outras províncias, que acharão ali artistas hábeis que lhe ensinem o modo de tirar um partido vantajoso de uma tão importante cultura, a qual neste país que é menor de 1/3 parte em extensão que o Portugal, excede anualmente o valor de 7 ou 8 milhões de cruzados.
Mas para este fim é indispensável que debaixo do regulamento do hábil negociante Arnaud, que Portugal hoje possui e que será um excelente director, se principiem ali a fazer plantações de amoreiras, segundo as regras que ele conhece perfeitamente; que ao mesmo tempo se construam os edifícios necessários, para cujo fim se poderia com outro pretexto fazer ir daqui um hábil arquitecto; que o mesmo director chame depois algumas fiadeiras para amestrarem as nossas, igualmente como alguns mestres de organsim, para vigiarem nos organsins debaixo da sua inspecção; e finalmente que tenha a soma do dinheiro necessária para a compra anual dos casulos, e para fazer trabalhar as filaturas e o moinho. De toda esta despesa, desejara eu que a nossa augusta ama se encarregasse somente dos ordenados do director e do arquitecto, que seriam fixos, deixando tudo o mais a cargo do benefício da lotaria que vou propor, devendo porém advertir que o mesmo benefício da lotaria, que se daria para este estabelecimento, se reputaria somente como avançado; e logo que a filatura e o moinho estivessem fundados, poderia em poucos anos a nossa augusta soberana reaver o mesmo capital avançado, deixando o edifício ao director fundador, logo que ele houvesse pago o capital avançado sem juros, ao que se reduziria a graça que s.m. lhe faria, e que não seria certamente indiferente, como ele mesmo o conhecerá, e a experiência o fará ver.
Avaliando cegamente as despesas já mencionadas, mas sempre de modo que nelas não haja erro em menos, creio que se poderia julgar um fundo suficiente o de 270 000 cruzados para levar este estabelecimento à maior perfeição, considerando que as despesas acima mencionadas fossem na seguinte proporção:
Para a despesa dos jardineiros, a quem se mostrasse o modo de estabelecer os viveiros das amoreiras: para a de algumas gratificações aos que nas suas fazendas seguissem este mesmo método de plantação. 
Para toda a despesa correspondente aos viveiros destas árvores, que ao princípio se dariam aos proprietários sem paga alguma - 15 000.
Para a despesa da viagem do arquitecto, das mulheres fiadeiras, dos mestres de organsim, seu entretenimento ao princípio, antes de poderem ganhar na Fábrica o seu salário - 10 000.
Para a despesa da construção de uma filatura de 150 ou 200 furneletes, e dos moinhos de filato e tosto correspondentes (em Piemonte custaria muito menos) - 90 000.
Para a compra anual dos casulos, que depois se converteriam em tramas e organsins - 155 000.
(Em Piemonte seria necessária uma maior soma de capital circulante; mas no princípio a província não tem sedas bastantes para uma só filatura desta força, e só parte dela trabalharia)
Total da avaliação: - 270 000
Este capital, que se tiraria por benefício da lotaria aqui junta, ficaria sempre pertencendo a s.m., que faria este avanço e só perderia os dois primeiros artigos, isto é, 25 000 cruzados; donde resultaria que sem perda considerável do benefício da mesma lotaria se tiraria o lucro da maior renda de toda aquela província, e de uma aumentação no que contribui para o soberano.
(D. Rodrigo de Souza Coutinho – Textos políticos, económicos e financeiros (1783-1811), Lisboa: Banco de Portugal, 1993, tomo I, onde Andrée Mansuy transcreve este plano, em anexo a um ofício de Souza Coutinho, datado de Turim, 25.10.1786)

História da Indústria das Sedas em Trás-os-Montes
Publicação da C.M.B.

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