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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 18 de maio de 2024

A HISTÓRIA DAS TRÊS PRIMEIRAS RAINHAS DO SOL

Era uma vez um vendedor de azeite que percorria as aldeias com uma mula, mas um belo dia o homem teve um acidente com a mercadoria, rebentou-lhe uma das bilhas em que transportava o azeite. Como não podia fazer nada com o azeite derramado exclamou:
- Agora que o apanhe quem quiser que eu não o quero.
Vivia naquele lugar uma bruxa, ao saber o que tinha acontecido, pegou num ovo fez um furo retirando-lhe o interior, indo todos os dias encher o ovo de azeite acartando-o na cabeça. De regresso a casa passava sempre por um grupo de estudantes, ao verem que a cena se repetia, um estudante decidiu quebrar o ritual e disse:
- O raio da velha passa por aqui todas as manhãs com um ovo à cabeça, amanhã vou-lhe atirar uma pedra e deito-lhe o ovo ao chão. Assim fez, mas a bruxa voltou-se e praguejou:
- Oxalá Deus queira que não tenhas nem descanso nem sossego sem saber das três primeiras rainhas do sol.
O rapaz não mais teve descanso, passado um tempo pediu ao pai que lhe arranjasse um cavalo bravo para ir em busca das três primeiras rainhas do sol. O pai acedeu ao pedido e o rapaz andou a galope durante dias e noites seguidas, parando num alto monte onde nada se avistava, no entanto viu ao longe uma luz. O rapaz correu em direcção à luz e ao alcançá-la bateu à porta de uma casa, dela saiu uma senhora de idade (mãe da lua) que lhe perguntou:
- Então que faz por aqui um menino a esta hora?
- Ando à procura das três primeiras rainhas do sol.
- Oh! Isso não encontras sem falar primeiro com a minha filha.
- E quem é a tua filha?
- É a lua! Só que não podes estar aqui quando ela chegar, porque se ela cheira carne humana é capaz de te devorar. Mas deixa estar que vou ver se encontro um quarto escuro para lá ficares.
Quando a Lua chegou junta da mãe logo observou:
- Mamã, cheira-me muito a carne humana …!
- Ah filha! Foi um rapazinho que passou por aqui à procura das três primeiras rainhas do sol.
- Para isso ele tem de levar três papas minhas.
A Lua explicou, depois, tudo à mãe e quando esta compreendeu para que eram as papas apressou-se a dar-lhe de comer para obter dela o que o rapaz precisava.
Enquanto a filha comia a mãe perguntou:
- O que estás a comer minha filha?
Sem responder atirou-lhe uma papa para a cara, que mais tarde ela guardou. A mãe fez-lhe a mesma pergunta à noite e de manhã obtendo a mesma resposta das duas vezes, conseguindo, assim, a velhinha as três papas para o rapaz, explicando a este:
- Para atravessares o rio atiras uma papa, o rio seca e tu passas. Depois aparece-te um leão atiras-lhe outra papa e ele adormece, tu pegas nas chaves e abres o ouvido direito do leão tirando de lá as três caixinhas que lá estão. Para regressar secas novamente o rio com a última papa.
Andou no caminho de regresso e parou junto de uma fonte com curiosidade de abrir uma das caixas, ao abrir a caixa saiu de lá uma menina que lhe pediu:
- Dá-me pente e água ou eu morro.
O rapaz assim fez, mas enquanto a rapariga se penteava a fonte secou e ela morreu.
Ele seguiu caminho sentando-se num tanque de água, abrindo a segunda caixa de onde saiu outra menina fazendo o mesmo pedido. Ele deu-lhe o pente e a água, mas aconteceu com esta menina o mesmo que com a segunda e morreu. Mais adiante o rapaz parou à beira de um rio, ao abrir a última caixa saiu uma menina com o mesmo pedido:
- Dá-me um pente e água senão morro.
O rapaz assim fez e desta vez a rapariga preparou-se seguindo caminho com o rapaz. Passado muito tempo chegaram a casa do rapaz já com um filho no colo, mas ao outro dia o rapaz teve de sair deixando a mãe e o filho ao sol, ao passar a bruxa pediu para que a menina recostasse a cabeça no seu regaço e dormisse. Apesar da menina não querer obedecer, a bruxa insistiu e ela acedeu ao pedido, a bruxa picou-a com uma agulha e transformou-a numa pomba que logo levantou voo. A bruxa tomou, então, o lugar da menina e esperou que o rapaz regressasse. Ao chegar o rapaz ela apresentou-se como a sua mulher, mas o rapaz não queria acreditar que ela fosse a sua esposa, no entanto ela alegou que fora o sol que a tinha transformado, ele lá a aceitou e ficou com ela uns dias. Os criados andavam a lavrar uma propriedade e na hora da merenda vem uma pombinha que pousou no jugo dos animais e meteu conversa com eles:
- Boas tardes lavradores.
- Boas tardes pombinha.
- Então o papá e a mamã como andam?
- Bem!
- E então o menino canta ou chora?
- Umas vezes canta, outras chora!
A pomba bateu asas e exclamou:
- Pobre mãe por estes montes agora.
Os lavradores ao chegar a casa contaram ao patrão o que estava a acontecer há dois dias. Então, o patrão ordenou que levassem pez para espalhar no jugo, para apanharem a pomba viva. A velha quando a viu fez-se de doente dizendo que queria um bocadinho da pomba. Assim, o rapaz ordenou que matassem a pomba, mas ao irem-na matar acharam o alfinete que a bruxa lhe tinha espetado e deram o alarme. O marido retirou-lhe o alfinete o que a fez voltar a ser humana, perguntando-lhe o que se tinha passado com ela, ao que esta lhe explicou tudo o que a bruxa tinha feito:
- O que havemos de fazer agora com esta bruxa?
A menina respondeu:
- A carne rija-la em azeite e dos ossos faremos umas escadinhas para subirmos para a nossa cama.
Assim aconteceu e cada vez que ela subia para a cama os ossos chiavam, ao que a menina respondia:
- Padece que eu já padeci!!!

RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localização geográfica: PAÇO DAS MÓS – ORIGEM + 60 anos.

CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005

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