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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

FÉRIAS MERECIDAS - (Ficção)

O marido acabou de contar as últimas economias, depois de ter pago o empréstimo da casa, do automóvel e duma enciclopédia desnecessária mas que enfeita primorosa a estante da televisão. Depois, verificou com algum pesar que o subsídio de férias tinha sido absorvido pela conta ordenado que foi utilizando ao longo do ano. Contudo, a mulher e a filha reclamam férias na Figueira da Foz, onde o areal se perde de vista e a vizinha do lado, que esteve por essas paragens no ano passado, teceu louvores às belezas da natureza e à magia dum mar lânguido e reconfortante.
- Pois é, se a vizinha pode nos também podemos!
Diz a mulher, exibindo magnificamente os seios no descuido da camisola de trazer por casa.
O homem sem querer adivinhou a sua mulher deitada na praia, longe da privacidade, sujeita à cobiça daqueles seios, para regalo dos mirones que estão em todo o lado, numa bebedeira de pensamentos perversos.
A filha não sabia bem se queria ir para a praia, imaginando a seca da permanência constante com os pais, silenciosamente entristecidos por estarem a gastar o dinheiro tão necessário para a sobrevivência doméstica. A filha preferia as longas noites Bragançanas, mesmo as festas das aldeias, com baile e namorados recém-chegados das Faculdades, mas entendia o desejo da sua mãe de ser igual às outras mulheres e ir com o seu homem e a sua filha para a praia, mesmo que depois regresse pesarosa, inventando as maravilhas de umas férias de sonho.
Desanimado, mas convencido, o marido muda o óleo ao carro, verifica os calços dos travões e obtém o parecer do mecânico que pode ir à confiança, embora não deva puxar muito nas subidas por causa do aquecimento.
Finalmente partem, a vizinha ficou a cuidar dos canários, do peixe do aquário e da gata que dorme sonos infindos no sofá da marquise. A vizinha fez um longo adeus, como se os vizinhos fossem para o fim do mundo, garantindo sempre que iam gostar, pois ela, estava farta de fazer essas férias, anos seguidos.
A viagem correu bem, o marido só se enganou uma vez numa passagem desnivelada, mas chegaram à Figueira da Foz sem problemas, mas também sem grande alegria. A vizinha já tinha telefonado para casa duma senhora viúva que aluga quartos aos veraneantes e por isso, depois, de muito procurarem lá encontraram o seu quartinho, minúsculo, quente, com rendinhas na janela e uma colcha com passarinhos sobre a cama. A filha dormiria no sofá da casa, uma oferta da proprietária do quarto, que diga-se de passagem, também não tinha mais quartos para alugar.
No primeiro dia o casal e a filha ainda foram jantar fora a uma tasquinha airosa que vendia sardinhas assadas com pimentos e todos concordaram que aquelas sardinhas eram uma delícia, que não tinham nada a ver com as que se vendiam em Bragança.
Depois, resolveram comer no quarto, também estavam à boa vida, e por isso, umas sandes e uma fruta eram o suficiente, pois, o que eles queriam era mesmo estar o dia todo a secar ao sol, embora o vermelhão dos primeiros dias os tivesse deixado à morte, no maior desconforto.
As férias terminaram, quase num alívio. O regresso a casa foi doloroso, os malditos pensamentos do mês que se aproxima, na escassez do dinheiro, roubava o encanto de todos os sonhos que se arquitectavam para contar à vizinha.
Mas foram de férias...a vizinha recebeu-o no preito dos seus serviços prestados.
A mulher, no reconhecimento à sua vizinha, escondendo a custo a tristeza do regresso, exclama na maior descompostura:

- Que férias tão bonitas...gostamos tanto.

Fernando Calado

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