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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 3 de outubro de 2010

Fortaleza de Sagres


A Fortaleza de Sagres, também referida como Castelo de Sagres ou Forte de Sagres, localiza-se em posição dominante coroando a Ponta de Sagres, no sudoeste do Algarve, em Portugal.
Da sua falésia escarpada, constantemente batida pelo vento, o visitante usufrui uma deslumbrante panorâmica ao longo da costa, com destaque para as enseadas de Sagres, o cabo de São Vicente (extremo sudoeste do continente europeu) e a imensidão do Oceano Atlântico. A própria fortificação e as suas imediações, integradas no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, oferecem a possibilidade de um olhar próximo ao património natural da costa, especialmente no que se refere à flora, abrigando algumas das espécies mais representativas da região (como por exemplo a alquitura-do-algarve, o pampilho-marítimo, o zimbreiro, o Pólio vicentino, a erva-divina, o esparto, o narciso-das-areias, a salgadeira, o chorão, o porro-bravo, as malvas e o perrexil-do-mar).
História:
O "Promontorium Sacrum":
Não existe a certeza sobre qual seria a localização exacta deste "promontório sagrado" que em muito impregnou de história o local da fortificação, mas é possível identificar, em linhas gerais, uma área que se prolongaria da ponta da Piedade à Arrifana, compreendendo o cabo de São Vicente e a Ponta de Sagres. Este espaço, por muitos designado como o fim do mundo conhecido, onde se iniciavam as tormentas, até hoje integra uma das maiores áreas de menires e construções megalíticas da Europa. Visitado por navegadores oriundos do mar Mediterrâneo desde c. 4000 a.C., foi citado desde a Antiguidade clássica por Avieno, Estrabão e Plínio, como uma área de culto dedicada a Saturno ou Hércules, divindades de forte conotação com o mundo marítimo. Posteriormente, durante a ocupação islâmica da Península Ibérica acentuou-se o seu carácter de local de peregrinação, denominando-se então "Chakrach", muito tendo contribuído para tal a lenda das relíquias do mártir cristão São Vicente de Saragoça.
A Vila do Infante:
O promontório de Sagres, bem como as vilas adjacentes de São Vicente e Sagres, foram doadas em 27 de Outubro de 1443, pelo regente D. Pedro ao seu irmão, o Infante D. Henrique (1394-1460). A vila de Sagres, então abandonada e em ruínas em razão das razias dos piratas da Barbária, foi, a partir de então, reconstruída e repovoada, inclusive no tocante à sua defesa. Essa reedificação, por parte do Infante, obedeceu a alguns ditames essenciais:
- a necessidade que as embarcações da época tinham de se refugiar dos ventos nas enseadas vizinhas, aguardando por ventos favoráveis à navegação.
- os imperativos da logística (embarcações, mantimentos, marinheiros) da primeira fase da Era dos Descobrimentos.
- a comodidade do controle do tráfego marítimo, por ser ponto de passagem obrigatório das embarcações que cruzavam do Mar Mediterrâneo ao Oceano Atlântico, e vice-versa.
- a segurança e o isolamento necessários ao processamento das informações colectadas no início do projecto de expansão português que se estendia pelo norte de África ali fronteiro.
A fortificação da ponta do promontório foi determinada pela sua localização e forma, usufruindo da falésia como defesa natural em três dos seus quatro lados, intimamente ligada às suas excelentes possibilidades estratégicas que se integram aos ditames anteriormente citados.
Dessa forma, a Sagres da primeira metade do século XIV tornou-se o núcleo da expansão marítima portuguesa, recebendo estudiosos e navegantes de todas as nacionalidades, reunidos em torno do Infante na Escola de Sagres. Esta história foi contestada por Luís de Albuquerque, "Dúvidas e Certezas na História dos Descobrimentos Portugueses" (Lisboa, 1990, Páginas 15 a 27), que demonstrou tratar-se de um mito.
Após a morte do Infante (1460), deslocando-se o eixo da expansão para Lisboa, a povoação e sua fortificação perderam importância. Como resultado da distância entre a Vila do Infante e a Aldeia do Bispo, onde se celebravam os serviços religiosos, D. Manuel (1495-1521) determinou a criação da freguesia de Sagres e a edificação da igreja matriz (1512). Mais tarde, em 1573, D. Sebastião (1568-1578) adossou dois baluartes nos extremos da muralha já existente, elementos cruciais na arquitectura militar após o advento da artilharia, colocados estrategicamente em locais que optimizavam o tiro cruzado.
A Dinastia Filipina e a Restauração da Independência:
Dando prosseguimento às reformas iniciadas no reinado de D. Sebastião, à época da Dinastia Filipina, no reinado de Filipe I de Portugal (1580-1598), determinou-se a edificação de uma torre (ou Torreão central) no interior da fortificação, permitindo a ligação com a porta de entrada através de um túnel e apresentando, no topo, uma plataforma para artilharia, aumentando a capacidade defensiva da estrutura.
No contexto dos atritos entre as Coroas da Espanha e da Grã-Bretanha, no cenário internacional do final do século XVI, a armada do corsário Sir Francis Drake atacou a região de Sagres (1587), que foi violentamente saqueada e incendiada. Na ocasião, sofreram severos danos as fortificações da Baleeira, de Belixe e de São Vicente. Um desenho do ataque inglês, actualmente na Biblioteca do Museu Britânico, retrata as fortificações da região à época, evidenciando o seu carácter de transição da Idade Média, para a arquitectura militar moderna. No tocante à Fortaleza de Sagres, reconhecem-se, a partir do exterior:
- um pequeno bastião quadrangular de faxina, com a função de assegurar a primeira linha de defesa;
- uma muralha de alvenaria de pedra, com o formato dos dentes de uma serra e uma extensão aproximada de 180 metros, encimada por ameias, fechava o istmo de lado a lado;
- dois baluartes baixos, com ameias, posicionavam-se em cada extremidade da muralha;
- a meio da cortina abria-se uma pequena porta, dando acesso a dois pequenos pátios amuralhados e ameados, com portas alternadas, à maneira dos castelos medievais;
- no interior dispunha-se a Praça de Armas, rodeada por um conjunto de habitações ligado por uma cortina às muralhas laterais, conjunto esse dominado por um cubelo na extremidade oposta, e a antiga Igreja de Santa Maria.
Vista da Rosa dos Ventos
Após o assalto de Drake, cogitou-se a modernização da fortificação manuelina. Em 1621, Alexandre Massai, um engenheiro militar napolitano, apresentou um projecto para a construção de novos baluartes com maior capacidade defensiva, mas não foi concretizado. Só em 1631 é que reparos nas muralhas arruinadas foram determinados por Filipe III de Portugal (1621-1640). As obras foram iniciadas no ano seguinte, aproveitando-se trechos das antigas muralhas e levantando-se baterias renascentistas, obras que prosseguiram após a Restauração da Independência, no reinado de D. João IV (1640-1656). Entretanto, as novas muralhas exteriores permaneceram incompletas, coexistindo com as antigas muralhas henriquinas.
O século XVIII e o terramoto de 1755:
A fortaleza foi seriamente danificada pela tsunami imediatamente subsequente ao terramoto de 1755, quando a gigantesca onda galgou a altura do penhasco. O estado de ruína, provocado pelo tempo e pelos elementos, prolongou-se até ao reinado de D. Maria I (1777-1816), quando esta soberana ordenou a reconstrução da estrutura. Para tanto, foram demolidas as antigas muralhas medievais e, entre 1793-94, terminadas as obras do novo traçado de muralhas. Adequadas às necessidades de defesa da época, eram mais baixas e compactas empregando argamassa de reboco para melhor absorver o impacto dos projécteis da artilharia da época. Nas extremidades ergueram-se dois meio-baluartes, artilhados. No interior do terrapleno, um torreão central substituiu o antigo cubelo filipino.
Os continuados conflitos no século seguinte fizeram com que a fortificação de Sagres assumisse um importante papel de coordenação em toda a linha defensiva no oeste do litoral algarvio.
Os restauros do século XX:
Classificada como Monumento Nacional por Decreto de 16 de Junho de 1910, os trabalhos de restauro promovidos nas décadas de 1950 e 1960 descaracterizaram a estrutura ao procurar devolvê-la à configuração quinhentista original. As edificações do lado esquerdo foram reconstruídas conforme aquelas desenhadas na iconografia do ataque de Drake, com um piso térreo e uma chaminé por divisão. Foi colocada a descoberto, nesta fase, a chamada Rosa-dos-Ventos.
Na década de 1980, face à degradação do conjunto e visando adequar a utilização do sítio aos pressupostos da Carta de Veneza (possibilitando o acolhimento turístico), foi lançado um concurso para a recuperação da Fortaleza de Sagres. O projecto vencedor, do arquitecto João Carreira, apesar de uma década de polémica suscitada pela natureza da nova intervenção, introduziu em Portugal a discussão da reutilização dos monumentos, face à compatibilidade das novas estruturas com a memória do passado.
Actualmente, a Fortaleza de Sagres encontra-se aberta diariamente ao público. Além de se poder apreciar as estruturas anteriores ao século XVIII, recuperadas, modernas intervenções permitem visitar as diversas áreas do promontório, podendo usufruir ainda de um centro de exposições, um centro de multimédia, lojas de artigos culturais e de uma cafetaria.
Características:
Muralha:
De traçado poligonal abaluartado, compõe-se de uma cortina fechando o lado de terra e de um muro que se estende pelo flanco esquerdo. Nas duas extremidades da cortina, erguem-se os meio-baluartes de 1793, um sob a invocação de Santa Bárbara (padroeira da Artilharia) e outro de Santo António (patrono do Exército Português).
Portão monumental:
A meio da cortina abre-se o Portão Monumental da praça, em estilo neoclássico, encimado por um escudo de armas no frontão e uma placa epigráfica referindo o então governador do Algarve, D. Nuno José Fulgêncio João Nepomuceno de Mendonça e Moura (1793).
Pelo lado interno do portão pode ser vista uma lápide em memória do Infante D. Henrique, colocada por volta de 1840.
Terrapleno:
Igreja de Nossa Senhora da Graça
Estrategicamente distribuídos pelo terrapleno encontram-se seis baterias orientadas para o mar e guaritas. Isolado dos demais edifícios, ergue-se o Paiol da Pólvora provavelmente edificado em meados do século XVIII. Inserido no conjunto das edificações, encontra-se uma réplica de um Padrão de Descobrimento quinhentista, no qual se pode observar um escudo de armas do Infante D. Henrique. Destaca-se, entretanto, a Rosa-dos-Ventos, também denominada como rosa-dos-ventos do Infante D. Henrique, uma ampla estrutura que se considera remontar ao século XVI. Revelada casualmente em 1921, representa uma estrela com 32 raios, simbolizando os rumos, inscrita num círculo, traçada no solo por seixos irregulares e que alguns autores crêem tratar-se do gnômon de um relógio de sol.
Edifícios:
Várias edificações históricas podem ser observadas no terrapleno da fortaleza, como o torreão central, diversos quartéis e edificações como a torre cisterna - provavelmente fruto de projecto henriquino, presente em grande parte das representações da fortaleza após a incursão de Drake em 1587 -, as antigas casas da "correnteza" e a Casa do Governador, estruturas alvo de reaproveitamento turístico no projecto dos anos de 1990.
Igreja de Nossa Senhora da Graça:
A edificação do actual templo veio substituir, possivelmente em 1570, à época de D. Sebastião, a antiga ermida de Santa Maria mandada erigir em 1459 pelo Infante D. Henrique. Após o terramoto de 1755, em que ficou danificada, foram acrescentados a sacristia e o campanário.
Apresenta uma planta simples quadrangular de nave única, com pequenas janelas isoladas nas paredes e remate em abóbada de canhão. A cabeceira, com sacristia anexada, também apresenta planta quadrangular e é encimada por uma cúpula semi-esférica. A fachada principal é demarcada pela porta de entrada com lintel e telhado de duas águas. Ao campanário, erguido na localização do antigo ossário do cemitério, acede-se através de uma escada do lado este.
Aqui se encontra inserido, desde 1997, o retábulo em estilo barroco da Capela de Santa Catarina do Forte de Belixe.

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