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Caríssimos irmãos e irmãs: Presbíteros, Diáconos, religiosos (as) e Leigos (as): A Quaresma, como indica a força expressiva do próprio nome, está programada para quarenta dias em ordem à preparação da solenidade da Páscoa.
Para a determinação da duração deste tempo, assumiu grande influência a tipologia bíblica dos quarenta dias, isto é, o jejum de quarenta dias de Jesus no deserto; os quarenta anos passados pelo povo de Deus na travessia do deserto; os quarenta dias de Moisés no monte Sinai; os quarenta dias em que Golias enfrentou Israel, até que David o derrubou; os quarenta dias que Elias precisou para subir ao monte de Deus, o Horeb; os quarenta dias da pregação de Jonas aos habitantes da cidade de Nínive.
Não se sabe, exactamente, quando se iniciou a celebração da Quaresma, mas sabemos que se foi desenvolvendo progressivamente. Todavia, o uso do jejum quaresmal remonta ao tempo dos Padres da Igreja em ordem à celebração do paschale sacramentum (= mistério pascal). A prática da Igreja antiga (séc. VI-VII), testemunha o início do jejum quaresmal a partir da Quarta-feira que precede o I Domingo da Quaresma, juntamente com o rito da imposição das cinzas. Actualmente, com a reforma litúrgica desapareceram os Domingos pré-quaresmais da septuagésima, sexagésima e quinquagésima.
O VI Domingo da Quaresma denomina-se o Domingo de Ramos na Paixão do Senhor. Por este motivo, o Tempo litúrgico da Quaresma decorre, então, desde a Quarta-feira de Cinzas até à Missa vespertina da Ceia do Senhor, exclusiva. O objectivo principal destes quarenta dias é a preparação da celebração da Páscoa, a síntese de todos os mistérios de Cristo. Na verdade, «a liturgia quaresmal prepara para a celebração do mistério pascal tanto os catecúmenos, através dos diversos graus da iniciação cristã, como os fiéis, por meio da recordação do Baptismo e das práticas de penitência» (Normas gerais sobre o ano litúrgico e o calendário 27).
Por conseguinte, a dupla característica da Quaresma consiste, por um lado, na introdução ao mistério pascal mediante a dimensão sacramental-baptismal e, por outro lado, na tensão moral da conversão. A perspectiva cristológico-pascal percorre todo este itinerário sacramental e penitencial. Segundo a tradição romana, para além da Eucaristia, o Baptismo é o sacramento pascal por excelência, como demonstra a admonição que precede a renovação das promessas baptismais na Vigília pascal: «Pelo mistério pascal, fomos sepultados com Cristo no Baptismo, para vivermos com Ele uma vida nova. Por isso, tendo terminado os exercícios da observância quaresmal, renovemos as promessas do santo Baptismo...». Conforme uma oração: «Fazei, Senhor, que os vossos fiéis se preparem convenientemente para o mistério pascal, de modo que a mortificação desta Quaresma a todos aproveite para bem das suas almas» (Colecta da Sexta-feira da I Semana da Quaresma), o contexto geral da Quaresma prepara convenientemente para o grande jejum pascal, a fim de que a mortificação do corpo progrida em todos para o bem dos centros vitais da vida humana: o coração, a mente e a alma.
Dois pensamentos percorriam a liturgia antiga do tempo quaresmal: a penitência dos penitentes públicos que, expulsos no dia de Quarta-feira de cinzas, eram admitidos à reconciliação na Quinta-feira Santa e a preparação dos catecúmenos para o Baptismo solene na Vigília pascal. À luz destes princípios percebem-se melhor os formulários deste Tempo, nos quais se inserem as leituras que oferecem os principais elementos da catequese pré-baptismal. O tempo da Quaresma é um admirável sinal (sacramento) da Igreja, cujo objectivo fundamental é a celebração do mistério pascal. Os dois elementos essenciais são a recordação ou preparação do Baptismo e a Penitência (cf. SC 109). A palavra conversão, escutada no contexto da Quaresma, recorda-nos, fundamentalmente, que precisamos de mudar o olhar e as atitudes do coração.
A Páscoa é Deus que passa, mas também é o homem que passa, numa relação harmoniosa entre a graça e a liberdade. A conversão não é só um dever, mas é, também, uma possibilidade para todos. Para todos existe a possibilidade da mudança, porque Cristo é a nossa Páscoa (cf. 1Cor 5,7). O tempo da Quaresma é «propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um caminho marcado pela oração e pela partilha, pelo silêncio e pelo jejum, com a esperança de viver a alegria pascal», lembra o Santo Padre na sua mensagem para este tempo e sublinha, ainda, o amor, qual cerne da vida cristã.
Caríssimos irmãos e irmãs, para esta Quaresma propomos que a Renúncia quaresmal se destine ao Instituto Diocesano do Clero em ordem à formação permanente dos Presbíteros e Diáconos e à reconstrução da parte central do edifício do Seminário Diocesano de S. José para a Casa Sacerdotal e centro diocesano de pastoral. Para realizar a tão urgente formação dos fiéis Leigos é absolutamente necessária a formação permanente do Presbitério. O ofertório da Renúncia quaresmal será coligido em todas as celebrações litúrgicas do Domingo de Ramos na Paixão do Senhor, ou noutro dia mais indicado, a juízo dos Reverendíssimos Párocos.
Bragança, 10 de Fevereiro de 2012, memória de Santa Escolástica +José Manuel Garcia Cordeiro Bispo de Bragança-Miranda
in:mdb.pt
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